22 de novembro de 2010

Casamento misto e a disparidade de cultos

Imagem de Destaque

O cônjuge católico tem uma missão particular
Em muitos países, a situação do casamento misto (entre católico e batizado não católico) se apresenta com muita frequência. Isso exige uma atenção particular dos cônjuges e pastores. O caso dos casamentos com disparidade de culto exige uma circunspecção maior ainda.

A diferença de confissão entre os cônjuges não constitui obstáculo insuperável para o casamento, desde que consigam colocar em comum o que cada um deles recebeu em sua comunidade, e aprender um do outro o modo de viver sua fidelidade a Cristo. Mas nem por isso, devem ser subestimadas as diferenças de casamentos mistos. Elas se devem ao fato de que a separação dos cristãos é ainda uma questão não resolvida.

Os esposos correm o risco de sentir o drama da desunião dos cristãos no seio do próprio lar. A disparidade de culto pode agravar mais ainda essas dificuldades. As divergências concernentes à fé, à própria concepção do casamento, como também mentalidades religiosas diferentes, podem constituir uma fonte de tensão no casamento, principalmente no que tange à educação dos filhos.

Uma tentação pode então se apresentar: a indiferença religiosa.

Conforme o direito em vigor na Igreja Latina, um casamento misto exige, para sua liceidade, a permissão expressa da autoridade eclesiástica (CDC, Can 1124). Em caso de disparidade de culto, requer-se uma dispensa expressa do impedimento para a validade do casamento (CDC, Can 1086). Essa permissão ou dispensa supõe que as duas partes conheçam e não excluam os fins e as propriedades essenciais do casamento, como também as obrigações contraídas pela parte católica no que diz respeito ao Batismo e à educação dos filhos na Igreja Católica (DCD, Can 1125).

Nos casamentos com disparidade de culto, o cônjuge católico tem uma missão particular: "Pois o marido não cristão é santificado pela esposa, e a esposa não cristã é santificada pelo marido cristão" (1 Cor 7,14).

Será uma grande alegria para o cônjuge cristão e para a Igreja se esta santificação levar o cônjuge à livre conversão à fé cristã (1 Cor 7,16). O amor conjugal sincero, a humildade e a paciência, assim como as práticas das virtudes familiares e a oração perseverante podem preparar o cônjuge não cristão a acolher a graça da conversão.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

19 de novembro de 2010

Os 30 'quês' de uma pessoa madura na fé

Imagem de Destaque

Estamos num mundo completamente pluralista
Estamos num mundo completamente pluralista, por isso precisamos nos tornar verdadeiros especialistas em matéria de fé e conversão. Se não for dessa forma, os cristãos "mais ou menos" não vão resistir; daí a necessidade de um amadurecimento real e concreto na fé.

O Projeto Nacional de Evangelização (2004 – 2007) diz que é preciso ter e levar os outros ao encontro pessoal com Jesus, pois só assim vamos nos tornando maduros na fé, que nada mais é do que sermos crianças nas mãos de Deus. Livres da maturidade somente humana que questiona tudo vamos a caminho de sermos verdadeiros cristãos com coluna vertebral.

Textos-base para um aprofundamento e um exame de consciência a respeito da nossa fé: 1 Cor 3, 1-9; Heb 5, 12-14; Ef 4, 11-15.

A pessoa que tem uma fé vivida de forma madura com Deus é uma pessoa:

01 – Que escolhe inteiramente por Deus.

02 – Que sabe discernir a Vontade de Deus.

03 – Que faz a Vontade de Deus até o fim.

04 – Que vive o Evangelho sem questionamentos.

05 – Que é livre em Deus.

06 – Que sabe obedecer.

07 – Que sabe reconhecer os sinais do tempo.

08 – Que vive uma individualidade e não um individualismo.

09 – Que é capaz de viver a alteridade.

10 – Que vive uma fé com obras.

A pessoa que tem uma fé vivida de forma madura com o próximo é uma pessoa:

01 – Que pergunta, sem duvidar do próximo.

02 – Que vive a fé com o próximo.

03 – Que consegue se adaptar com o diferente.

04 – Que se alegra com o crescimento do próximo.

05 – Que reconhece o outro por também ser um filho de Deus.

06 – Que sabe o seu papel na sociedade.

07 – Que contagia o próximo com a santidade.

08 – Que tem como única competição amar mais o próximo.

09 – Que ama com caridade.

10 – Que é original na fé e na opinião.

A pessoa que tem uma fé vivida de forma madura consigo é uma pessoa:

01 – Que tem autonomia na fé.

02 – Que é perseverante, mesmo no sofrimento.

03 – Que se engaja e se compromete.

04 – Que é especialista no que faz.

05 – Que é como para-raios na intercessão.

06 – Que conhece a própria verdade.

07 – Que assume as experiências vividas.

08 – Que sabe receber elogios e também as críticas.

09 – Que sabe falar, mas também escutar.

10 – Que se deixa trabalhar no temperamento pelo Espírito de Deus.

Padre Anderson Marçal
http://blog.cancaonova.com/padreanderson

16 de novembro de 2010

No sofrimento, onde está o amor?

Imagem de Destaque

Já ouvi dizer que o sofrimento é característica dos verdadeiros amantes
Muito me pergunto qual a verdadeira relação entre sofrimento e amor? Já ouvi dizer que o sofrimento é característica dos verdadeiros amantes, mas, ao mesmo tempo, no cotidiano percebemos que, muitas vezes, os sofrimentos que trazemos nos afastam de sentimentos e ações ligados ao amor. Existe alguma ligação entre essas duas realidades ou são completamente antagônicas?

Na maioria das ocasiões em que pensamos sobre o assunto [sofrimento], vêm à nossa mente emoções e sensações ligadas à dor, a frustrações ou à ausência de prazer. Com isso, somos propensos a pensar que o sofrimento não tem ligação com o amor. Exatamente porque, quando experimentamos alguma situação de dor, talvez não consigamos identificar nela a realidade do amor. Mas fazendo uma leitura cristã – e aqui eu apoio-me em uma reflexão de Bento XVI – o sofrimento se torna um trampolim, um degrau, uma característica de quem realmente ama.

Assim diz o Santo Padre em uma das suas alocuções: "Não há amor sem sofrimento, sem o sofrimento da renúncia a si mesmo, da transformação e purificação do eu para a verdadeira liberdade. Onde não houver algo pelo qual valha a pena sofrer, também a própria vida perde o seu valor". A partir dessa reflexão, podemos compreender que o sofrimento toma uma conotação positiva, exatamente porque ele é carregado de sentido. Dessa maneira, ele faz-nos perceber que determinada situação ou pessoa é carregada de significado para nós. Ao passo que identificamos que realmente existe o amor, temos a oportunidade de assumir as consequências dessa atitude de amar mesmo que ela traga, em determinado momento, o desafio do sofrer.

Mas esse sofrer que refletimos e que Bento XVI nos aponta, não é um sofrer passivo, pelo contrário, é um sofrer ativo. Não ficamos parados, inertes em nosso dia a dia esperando o sofrimento. É o movimento completamente diferente, a partir do momento em que caminhamos em direção a determinado objetivo, motivados pelo amor, deixamo-nos purificar pelos sofrimentos que a própria vida nos apresenta. Lembre-se: todos sofremos! Agora, depende somente de você a resposta a esse sofrimento; tenha coragem, não fuja. Esse degrau é importantíssimo para a sua felicidade. Lembre-se: sofrimentos podem se tornar degraus para o nosso crescimento.

Ao olharmos para o exemplo do Cristo percebemos que o suplício da Cruz e toda a sua humilhação só valeram a pena, só tiveram sentido porque no coração d'Ele o motor, a motivação era o amor, amor ao Pai, à Sua Vontade, amor àqueles a quem Ele foi enviado. No momento da suprema agonia podemos entender melhor essa relação entre sofrimento e amor. Jesus Cristo sofrera tanto que os Seus sentidos se fecharam em um movimento de autodefesa. Em uma súplica ao Pai, Nosso Senhor levanta a possibilidade de desistir. Mas nem de longe isso foi algo negativo, antes é uma revelação de como o sofrimento pode fechar-nos em nós mesmos, por causa do medo, algo próprio do ser humano. Apesar disso, o Senhor foi além. Aceitando a crucifixão como consequência de Sua missão, Ele ensina-nos que o coração do homem é capaz de responder de maneira responsável e consciente diante de qualquer tragédia. Cristo acolheu o Seu martírio tendo a convicção de que o mesmo amor que O levava a abraçar a morte Lhe traria novamente a Vida.

Na agonia e no mistério da Cruz conseguimos tocar no amor que dá sentido à nossa dor, à nossa agonia. Cristo Jesus amou-nos tanto que Ele passou amar a Sua Cruz, Sua Paixão.

Diante da afirmação de Bento XVI, posso perguntar a você: Deparando-se com a sua realidade hoje, pelo que vale a pena sofrer? Pelo que vale a pena encarar a dor, na esperançosa certeza de que por causa do AMOR vale a pena passar por isso?

Na certeza de que o Amor nunca decepciona e que ele é o grande sentido para as nossas vidas e nossas vocações, assumamos as consequências de amar, sabendo que, quando o sofrimento chegar, temos a oportunidade de responder de maneira positiva, usando dele (sofrimento) para sermos melhores e ajudarmos os outros a também serem, à imagem do Bom Pastor.

Luis Filipe Rigaud
cn.luisfilipe@gmail.com

13 de novembro de 2010

Como superar as tristezas

Imagem de Destaque

Com um rosto sorridente, o homem duplica as capacidades que possui
Esta é uma receita espiritual para quem quer vencer, em Deus, todas as suas tristezas; não guardá-las consigo, nenhuma, entregar todas a Deus, de verdade.

Se você quer ser feliz, então, proíba a si mesmo de cultivar a tristeza, se mostrar de rosto triste e mal-humorado.

Olhe para trás e veja quantos sofrem mais do que você, com câncer, numa cadeira de rodas, num leito de hospital,... e mude já este rosto triste, ainda que tenha de fazer violência a você mesmo. Cultive a alegria; ela espalha bênçãos; ela contagia os outros. Alimentar tristezas é criar um clima de intranquilidade que gera enfermidade. 

Seja feliz, porque muitos precisam de você para viver, muitos esperam o seu sorriso, muitos precisam se contagiar com a sua alegria. Lembre-se, viver é um privilégio, por isso, você precisa cultivar, diariamente, a planta preciosa da alegria. Você tem o direito de chorar, mas mesmo entre lágrimas nunca tem o direito de renunciar à alegria. Sorria, pois o sorriso é o idioma do amor universal: até as crianças o compreendem. Confúcio disse que "quando você nasceu todos sorriam, só você chorava. Faze por viver de tal modo que, à hora de sua morte, todos chorem, só você  sorria".

Aconteça o que acontecer, viva alegre. A alegria dissipa as nuvens mais negras. Para isso é preciso cuidar dos pensamentos; pois a nossa felicidade depende da índole dos nossos pensamentos. Quem souber dominar seus pensamentos, saberá governar a sua vida.

É saudável saber que nada é estável nas coisas humanas; portanto, é preciso saber evitar tanto a euforia na prosperidade quanto a depressão na adversidade. A imaginação é a alma da tristeza ou da alegria; ela precisa ser dominada; saiba que é mais fácil reprimir a primeira fantasia do que todas aquelas que a seguem.

O pensar bem é causa de saúde e de felicidade; muitas vezes, o contentamento torna os pobres ricos; o descontentamento torna os ricos pobres. Você sabe que "quem ama o feio, bonito lhe parece". Tristezas não pagam dívidas, portanto, de nada vale alimentá-las. Não se pode também ficar remoendo os  tristes acontecimentos  do passado,  pois sabemos  que "águas passadas não movem moinhos". Como dizem os ingleses: "não adianta chorar sobre o leite derramado"; é melhor ir logo em busca de outro.

Com um rosto sorridente, o homem duplica as capacidades que possui. Um coração alegre faz tanto bem quanto os remédios.

O povo diz sabiamente que quem canta seus males espanta. Quando você mergulha na tristeza, não consegue subir um degrau; mas se você se firma na alegria, consegue galgar montanhas.

Acho que você já ouviu a história daquele rapaz que andava triste porque não tinha sapatos, até que encontrou alguém que não tinha os pés... estancou as  lágrimas no mesmo instante. Certamente muitos estão em situação pior do que a nossa. O melhor remédio para a própria tristeza é procurar com presteza consolar a tristeza dos outros. Nada seca tão depressa como uma lágrima, quando enxugamos a lágrima alheia. A caridade produz a alegria; todas as pessoas e grupos que fazem o bem aos outros são alegres.

É fundamental manter o bom humor; ele é, em primeiro lugar, o melhor promotor da saúde. Um sorriso custa bem menos que a eletricidade e dá mais claridade. A alegria não está nas coisas, mas em nós, e ela é para o corpo humano o mesmo que o sol é para as plantas. Quem está contente jamais será arruinado. A vida não aprecia aqueles que se lamentam. Ela os coloca de lado. Ela ama aqueles que a amam.

Nas horas difíceis ou constrangedoras, saiba vencer a tristeza e o mau humor com uma brincadeira saudável, sem ofender aos outros. Certa vez o Papa João XXIII fez uma visita a uma paróquia de Roma; e ao passar pelo povo ouviu uma senhora dizer para outra: -  "Nossa, como ele é gordo!" O Papa ouviu, virou-se para a mulher e disse sorrindo: - "Minha senhora, o Conclave não é um concurso de beleza!" E continuou a caminhada.

Um casal viajava com os filhos; e de repente a esposa começou a se queixar para o marido: "Você não me abraça mais; não me faz mais aqueles carinhos gostosos que fazia quando a gente viajava junto..." E foi reclamando. Muito tranquilo e sem se ofender o marido virou para ela e disse: "Meu bem, naquele tempo a gente não viajava de Kombi com cinco crianças brigando nos bancos de trás!" E foi só risada! Saiba transformar um momento de tensão num momento de descontração, brincando.

A lamentação é uma das coisas mais tristes do relacionamento humano; nada resolve e cria um clima de pessimismo, acusação, tristeza e amargura.Estamos acostumados a reclamar das coisas que nos aborrecem, mas não vemos o lado bom que também existe em nossa vida.

Não fique se queixando tanto dos impostos que você paga, isso significa que você tem emprego, ou tem bens... Não posso reclamar da confusão que eu tenho de limpar após uma festa, pois isso significa que estive rodeado de amigos... Da mesma forma, não devo reclamar das paredes que precisam ser pintadas, da lâmpada que precisa ser trocada, porque isso significa que tenho minha moradia... Assim como não devo me lamentar porque eu não achei um lugar para estacionar o carro, pois isso significa que além de ter a felicidade de poder andar, tenho um carro que muitos não têm.

Não reclame da senhora que canta desafinado atrás de você, ao menos isso significa que você  pode ouvir. Não reclame do cansaço e dos músculos doloridos que você sente ao final do dia porque isso significa que você tem saúde para trabalhar...

E assim, eu e você poderíamos multiplicar esses exemplos.

Por mais difícil que esteja sua situação, tente sorrir, você verá que será mais fácil passar por mais essa prova... Se não resolver seu problema, agradeça a Deus por eles e peça coragem para enfrentá-los com dignidade. Não estrague o seu dia. A sua irritação não solucionará problema algum... As suas contrariedades não alteram a natureza das coisas... Assim como seus desapontamentos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar...   O seu mau humor não modifica a vida. A sua tristeza não iluminará os caminhos. O seu desânimo não edificará a ninguém. As suas reclamações, ainda mesmo afetivas, jamais acrescentarão nos outros um só grama de simpatia por você...

         

Se você acordou nesta manhã com mais saúde do que doença, você é mais abençoado do que um milhão que não sobreviverão nesta semana. Quantos por este mundo estão enfrentando os perigos das guerras, o horror das bombas, a solidão de uma prisão, ou as aflições da fome! Quantos não podem frequentar uma igreja sem o medo de molestamento, prisão, tortura, ou morte... Quantos não têm comida em casa, roupas, uma casa para morar... Tudo isso faz a gente concluir que é uma grande blasfêmia ficar reclamando da vida e da própria sorte.

"O que perturba os homens não são as coisas que acontecem, mas sim a opinião que eles têm delas", disse Demócrito (461-361 a.C). Uma pedra pode ser vista de muitas maneiras: O distraído nela tropeçou. O bruto a usou como projétil. O empreendedor, usando-a, construiu. O camponês, cansado, dela fez assento. Para meninos, foi brinquedo. Drummond a poetizou. Já, David matou Golias. Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura. E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem! Não existe "pedra" no seu caminho que você não possa aproveitá-la para o seu próprio crescimento.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

11 de novembro de 2010

Alimentar a esperança é dinamizar a vida

Imagem de Destaque

O sol só não nasce para quem não sai da cama
Deus nos quer cada vez melhores, seja como pedreiros, seja como médicos, garçons, advogados, cozinheiros, etc.. Todos têm seu espaço neste mundo, por isso não é preciso brigar para tomar o lugar do outro.

"O sol nasce para todos", diz o povo. Ele só não nasce para quem não sai da cama. Assim, temos que ser os melhores em tudo e dinamizar a nossa vida com a esperança em Deus. Não podemos ser como os bonecos infláveis que o vento sacode para todo lado, nem como avestruzes que enterram a cabeça na areia para fugir da tempestade. Não devemos fugir dos problemas, e sim, enfrentá-los e resolvê-los com a fé em Deus.

Além disso, é muito importante evitar pensamentos negativos, porque eles anulam os positivos e aniquilam a esperança e a felicidade, além de criarem um clima de desânimo e tristeza: "Nada dá certo para mim". Mais ainda: temos que observar e conviver com pessoas positivas, otimistas, pois elas fazem bem a nós.

Gosto, por exemplo, de me encontrar com o Frei Hans, da Fazenda Esperança, uma vez que, apesar dos muitos problemas, ele sempre está satisfeito com tudo. Ele abre casas de recuperação para drogados no mundo todo e sempre está feliz. Cada vez que o observo, digo para mim mesmo: "Eu não posso ser pior". Vale a pena estar com ele, porque ele transmite alegria e esperança a todos.

Não podemos ser uma Igreja de pessimistas quando o nosso Deus é o Deus das vitórias. Ele nos ama. Tudo o que nos acontece é para o nosso bem, diz a Palavra de Deus (cf. Rm 8,29); se não for para o nosso bem material, o será para o nosso bem espiritual; é essa questão que muitos não entendem.

Até mesmo a morte depende de como a encaramos. Para quem não tem o olhar da fé é uma tragédia, uma desgraça, um absurdo, um fim; mas para quem acredita na ressurreição para a vida eterna com Deus é diferente.

Se engatamos o carro na marcha à ré, nunca andaremos para frente. Esse é o problema de muitos: "engatam" a vida no pessimismo, na derrota, na lamúria, e ainda querem ser felizes, ir para frente, mas não vão de jeito nenhum, pois devem "engatar a primeira marcha". O pessimista só sabe olhar o passado. É incapaz de ter um olhar otimista para o futuro e se enche de medo, que é o microscópio ampliador do perigo: ele faz um formiguinha parecer um boi e nos assusta. Cultivamos tanto o mal que acabamos incapazes de fazer o bem. Ficamos paralisados, inertes.

Desse modo, devemos alimentar a esperança a todo custo e não nos render ao pessimismo e à tristeza de jeito nenhum. A vida também é assim: se acharmos que morreremos, morreremos mesmo, mas se lutarmos, encontraremos a vida, a solução.

Texto extraído do livro: .:
'Animados pela força de Deus'

Wellington Silva Jardim

9 de novembro de 2010

Amizade e felicidade

Imagem de Destaque

A fidelidade é a alma da verdadeira amizade
Malba Tahan contava uma história:

"Dois amigos caçadores estavam no mato, e eis que aparece um grande urso. Ficaram tão espantados que, em vez de atirar no bicho, começaram a correr. Acontece que um deles era gordo, e o urso o alcançava; percebendo que não podia escapar do bicho, deitou-se no chão e fingiu-se de morto, enquanto o outro amigo que era magro subiu numa árvore e ficou só olhando. O urso chegou perto do gordo, cheirou-lhe as orelhas e se foi. O magro desceu da árvore e perguntou ao gordo:

- 'O que foi que o urso falou no seu ouvido?' E este respondeu: - 'O urso me disse que um amigo que abandona o amigo na hora do perigo é um covarde!'".

A fidelidade é a alma da verdadeira amizade. Conta-se que dois amigos inseparáveis foram para uma guerra juntos. Em um combate terrível, um deles ficou ferido gravemente, e sem que o outro percebesse ficou caído. Quando o primeiro voltou para a trincheira, percebeu que o amigo não tinha voltado para o abrigo.

"- 'Meu amigo ainda não regressou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para ir buscá-lo' — disse o soldado a seu superior.

- 'Permissão negada', respondeu o oficial — 'Não quero que você arrisque a sua vida por um homem que provavelmente está morto'.

O soldado, desconsiderando a proibição, saiu, e uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo. O oficial ficou furioso.

- 'Eu te disse que ele já estava morto! Agora, por causa da sua indisciplina, eu perdi dois homens! Me diga, valeu a pena ir até lá para trazer um cadáver?'

E o soldado, moribundo, respondeu:

- 'Claro que sim, senhor! Quando encontrei o meu amigo, ele ainda estava vivo e pôde me dizer: 'Eu tinha certeza de que você viria!'"

"Um amigo é aquele que chega quando todo o mundo já se foi".

Você já percebeu a fidelidade de um cão a seu dono? É por isso que dizem que ele é o maior amigo do homem. Já observei que o dono pode ser pobre e miserável, mas o cão não o troca por outro em melhor situação. O dono pode até deixá-lo passar fome e frio, mas ele não o abandona; pode até surrá-lo e ele acaba voltando a seu lado. Isso não é incrível?

Nunca se pode falar mal de alguém, especialmente de um amigo.

Havia numa cidade um homem que tinha o costume de fazer um pequeno discurso de elogio aos mortos minutos antes de serem sepultados. Ele sempre estava no cemitério quando alguém ia ser sepultado e sempre o elogiava com suas palavras. Eis que certo dia morreu alguém que todos odiavam na cidade, porque tinha má fama de avarento, fofoqueiro, mal-agradecido, estúpido, etc.. De modo que na hora do seu sepultamento, muitos foram ao cemitério só para ver o que o homem dos elogios funerais iria dizer do falecido. Na hora do discurso o conhecido orador disse: "Coitado, ele assobiava tão bem!...".

Mesmo nesse infeliz ele soube encontrar uma pequena qualidade, e passou por cima de todos os seus defeitos. Não é bonito isso? Faça o mesmo e você será uma pessoa querida por muitos

O mundo está precisando urgentemente de gente assim. Ninguém gosta de uma pessoa cheia de presunção, autossuficiente, arrogante. Os jovens cunharam uma expressão para identificar uma pessoa assim: "Ele se acha"; se acha o bom, o melhor.

Se você quiser ter amigos, aprenda a elogiar os outros pelas suas menores qualidades em vez de os ficar criticando por seus defeitos. Saiba também que nós conquistamos as pessoas por aquilo que somos para elas, muito mais do que por aquilo que lhes damos.

É se dedicando ao outro que você vai conquistá-lo, seja ele um amigo, o pai, a mãe, o filho ou o empregado. Ofereça-lhe um pouco do seu tempo, de suas palavras, de sua ajuda; deixe-o contar sem pressa a sua história e os seus problemas e você verá como esta pessoa irá admirá-la.

 

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

7 de novembro de 2010

Juventude: Um estado de espírito

Imagem de Destaque

Fomos criados para ser felizes
A juventude é, realmente, um estado de espírito. Lembro-me da minha infância, quando, a partir dos sete anos, diariamente, ao ajudar a Santa Missa às 5h30min, no Santuário de Santo Antônio, escutava os idosos frades franciscanos, ao pé do altar, pronunciarem "Introíbo ad altare Dei, ad Deum qui laetificat iuventutem meam" - "Eu irei ao altar de Deus, ao Deus que dá alegria à minha juventude". Juventude de setenta, oitenta, noventa anos!

Deus nos criou, nos deu a vida! Dom Maravilhoso! Cada um de nós tem a sua história de origem. É sobre a aceitação real dessa história que devemos construir a nossa felicidade. Fomos criados para ser felizes. Talvez não estejamos percebendo plenamente o amor de Deus por nós ao nos criar e ao criar para nós tudo o que existe. O Papa Paulo VI, ao pressentir a proximidade da morte, exclamou: "Oh, superficialidade imperdoável! Não ter percebido a beleza de tudo o que Deus criou para mim, por amor!" E pede ao Senhor perdão por considerar esse sentimento um pecado. "Oh, beleza sempre antiga e sempre nova, quão tardiamente te amei!" (Santo Agostinho).

Realmente, a beleza da vida, da arte, de tudo o que Deus criou é reflexo d'Ele. O Todo-poderoso é a beleza absoluta, da qual deriva e participa toda beleza criada. A propósito da arte, o Papa João Paulo II, na Carta aos Artistas, por ocasião do Ano Santo, afirmou que ela é essencial para a evangelização.

Deus nos criou para si, e devemos estar sintonizados com Ele: pela oração formal, pela contemplação da natureza, pelo cultivo da arte, pela comunicação com nossos irmãos. Se fizermos assim, estaremos vinte e quatro horas por dia sintonizados com o Senhor, vivendo, cada momento presente, sem nos preocupar com o momento seguinte, sem estresse nem depressão.

E dessa forma, vamos acumulando juventude, alegria e, aos noventa anos, poderemos dizer: "Irei ao altar de Deus, do Deus que alegra a minha juventude."

Esperamos, um dia, pela graça de Deus Pai, tomar posse daquela morada à qual Jesus se refere no Evangelho: "Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós" (Jo 14, 1-4). Porque nós conhecemos o caminho, a verdade e a vida.

(Artigo produzido a partir da homilia de Dom Lélis em maio de 2006).

Dom Lélis Lara
Bispo emérito de Itabira - Cel. Fabriciano (MG)