12 de fevereiro de 2010

Direitos Humanos

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Quem defende o aborto nega sua condição de católico

O III Plano Nacional de Direitos Humanos ao falar da "autonomia" da mulher sobre seu próprio corpo e recomendar que o Congresso altere o Código Penal a fim de descriminalizar a prática do aborto recomenda um crime qualificado contra a humanidade e contra o próprio Brasil.

Ele quer outorgar legitimidade jurídica a um crime infamante, estabelecer como um direito democraticamente exigível o mais abominável dos delitos e o financiamento dele beneficiando os carrascos com dinheiro público.

Contra o povo brasileiro, povo apaixonado pela vida humana, tantas vezes comprovado em estatísticas da maior seriedade, a última deste mês em que não chega a um quarto de cidadãos brasileiros os que querem manchar de sangue de crianças o mapa do Brasil.

Em 2007, o Partido dos Trabalhadores aprovou, em seu programa, a luta pela implantação do aborto no Brasil. Isso não pode acontecer, pois é projeto revestido de fanatismo cruel contra o nascituro. Podemos dizer que é um dos projetos mais bárbaros de aborto conhecidos no mundo, que defende de modo obsessivo e neurótico a morte legal de inocentes.

Se o Governo atual aprova tal Plano torna-se o inimigo número um da sociedade e o primeiro elemento desestabilizador da ordem social. Os que deveriam ser construtores e defensores da vida tornaram-se de modo incompreensível uma enorme ameaça contra o Brasil todo.

A Igreja defende e defenderá sempre que a vida humana é sagrada e inviolável desde o momento da concepção até o final da sua existência. Dessa sacralidade e inviolabilidade nasce o direito de todo ser humano a ser respeitado, protegido e promovido no desenvolvimento de sua existência em qualquer momento ou situação. Sempre em nome da razão e da dignidade nativa do homem e não só da fé, a Igreja o defenderá quando estiver em pauta qualquer vida humana.

Estamos comprometidos, juntamente com todo o povo brasileiro, com uma cultura da vida e não da morte. "Quem defende o aborto nega sua condição de católico", proclamava bem alto o Papa João Paulo II (Ev.V 62). Como cristãos é impossível ficarmos calados e concordar com a decisão de aprovar tal projeto que nega o direito à vida.

Defender e promover a vida e posicionar-se contra o aborto provocado é uma questão de humanidade. Não há nada que possa justificá-lo porque nada pode justificar o assassinato frio e calculado de uma vida humana inocente.

Podemos usar um dos Dez Mandamentos para dizer: Dr. Vannucchi, Dr. Temporão, Presidente Lula e tantos órgãos responsáveis pela defesa da vida: "Não matarás!"

O evangelho da vida, o evangelho da dignidade humana e o evangelho do amor de Deus aos homens é um mesmo e único Evangelho. O homem não tem direito de destruí-lo.

Dom José Luis Azcona
Bispo da Prelazia de Marajó (PA)

Fonte: CNBB

10 de fevereiro de 2010

Procurando a alegria?

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Grandes multidões levadas pela euforia

Conscientes ou não, o certo é que todos nós andamos incansavelmente à procura da felicidade. Nascemos com este destino e embora as consequências de nossas escolhas, muitas vezes, nos façam pensar diferente, é inegável que Deus nos criou para a alegria; ser feliz é nossa vocação! Justamente por trazermos impressa na alma essa sede de felicidade é que andamos à procura desse bem; inclusive, muitas vezes, em lugares incertos.

Aproximam-se os dias de carnaval e nesta época é comum contemplarmos grandes multidões, levadas pela euforia, em busca da felicidade pelas avenidas da vida. Conheço gente que se programa o ano inteiro para "curtir" os dias carnavalescos. Alimentam a esperança de, ao menos por certos momentos, esquecer os problemas e "ser felizes". Desconhecem que Deus é a fonte da alegria plena e se afastam cada vez mais d'Ele, enquanto se deixam embalar pelo ritmo da euforia.

Não faz muito tempo, tive a oportunidade de entrevistar uma ex-passista da Portela. Fiquei surpresa com suas revelações, inclusive quando ela disse que não era tão feliz, como muitos imaginavam ao vê-la desfilar em grandes carros alegóricos no "Sambódromo". Segundo ela, muitas vezes, durante os desfiles, segurava um sorriso "congelado no rosto", enquanto seu coração era tomado de angústias. Quanto mais tomava consciência de que a alegria é algo mais que a euforia, tanto mais sentia o vazio tomar conta de si. Esperava, ansiosa, chegar a Quarta-feira de Cinzas para entrar em uma igreja e falar com Deus, que, aliás, naquela época, nem O reconhecia como Senhor. Revelou-me ainda que os dias após esse período eram sempre os piores do ano, pois sem o efeito do álcool e da adrenalina do ritmo, "caía na real" e sentia grande tristeza ao perceber que não era valorizada como pessoa, mas sim, como objeto.

Lembrando-me daquele depoimento, imagino quantos foliões passam por situações semelhantes nesses dias de carnaval! Quem dera poder levar uma palavra de ânimo a cada um, poder mostrar que existe uma alegria verdadeira e que todos nós somos capazes dela. A mídia não fala sobre isso, antes estimula a euforia liberal, afirmando que ser feliz é fazer tudo que se quer a qualquer hora. O que aliás, nem podemos chamar de liberdade, pois agir sem compromisso com a verdade e com a consciência, é libertinagem, e libertinagem não produz autêntica alegria!

Liberdade é fazer tudo o que é justo, bom e legítimo conforme a lei de Deus. Fora disso não seria escravidão?

O jovem Santo Agostinho é um exemplo claro de quem buscou a felicidade distante de Deus; ele mesmo confessa: "Tarde te amei beleza antiga e sempre nova... só em Ti encontrei a perfeita alegria que procurei distante de Ti". Acontece que fomos criados por Deus e é somente n'Ele nos sentimos plenos. Isso não é uma conclusão religiosa, é fato de vida! Se você procura a alegria, deve considerar também esta verdade. A alegria é um dom do Espírito Santo. É mais do que sentimento, é um estado de alma, fruto da confiança plena no amor do Criador.

Diz um provérbio inglês que: "O Cristão é a única Bíblia que ainda se lê neste mundo". Portanto, o carnaval é uma ótima oportunidade para testemunharmos nossa fé. Aliás, acredito que é mérito e dever de todo cristão iluminar este mundo com um testemunho de esperança.

É tempo de mostrar, com a vida, que a alegria plena tem endereço certo e, portanto, é possível encontrá-la. Lembre-se de que essa virtude [alegria] não é ausência de problemas; é expressão de confiança nos desígnios de felicidade que Deus tem para nossa vida. Desígnios são mais que simples desejo; são as disposições e projetos de Deus a nosso respeito. Ele tem desígnios de amor e felicidade para nossa vida, necessitamos entrar nos propósitos d'Ele para que sejamos plenamente felizes. O próprio Senhor nos garante em Sua Palavra: "Bem conheço os desígnios que mantenho para convosco – oráculo do Senhor – , são desígnios de prosperidade e não de calamidade, de vos garantir um futuro e uma esperança" (Jr 29,11).

Portanto, alegre-se! Deus o quer feliz, tem desígnios de felicidade para você! Não deixe para depois do carnaval... Aproveite estes dias para participar de um dos inúmeros retiros que a Igreja promove neste tempo e experimente abandonar-se nos projetos do Senhor. Eu fiz essa experiência e sou muito mais feliz hoje. "Quando caminhamos segundo a vontade do Criador, nossa vida segue como um rio: tortuoso sim, mas seguro em seu curso natural" (monsenhor Jonas Abib).

Fomos criados para a verdadeira alegria, deixemos que o Criador nos conduza a ela.

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

7 de fevereiro de 2010

A beleza da castidade

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A masculinidade e a feminilidade são dons de Deus

A castidade é um grande dom, que faz com que compreendamos a unicidade do nosso ser. A presença da castidade gera felicidade, dignidade, capacidade para amar, para se doar não por pedaços, mas para se doar por inteiro, como Jesus se deu na cruz. Hoje, vemos um mundo que despreza a beleza da castidade, por isso, as consequências são tão graves.

A castidade gera olhos transparentes, revela o próprio Cristo e aquela que é "toda bela", a Virgem Maria. Mas a ausência dessa virtude vai enfeando o homem. Aí a mulher precisa produzir-se cada vez mais e vai tornando a vida feia, vazia e infeliz.

Sem uma relação profunda de amizade no namoro não existe matrimônio verdadeiro e feliz. Mas como nós não priorizamos, no namoro, a amizade, temos matrimônios imaturos, inseguros, muitas vezes, gerados por relações sexuais pré-matrimoniais. Nós vemos os frutos disso na nossa casa, na nossa família. Temos visto uma sociedade que reivindica a regularização e a aceitação do adultério.

A sociedade nos diz o tempo todo que esse "negócio" de homem e mulher já era, que você é quem escolhe e, assim, vai negando a natureza e o dado inicial que Deus lhe deu. O Senhor o fez homem, não o fez outra coisa e você vai ser feliz sendo homem.

Rapazes, vocês são verdadeiramente homens! O mundo precisa de testemunho de virilidade, com a sua capacidade, com os seus dons, que complementam a mulher. A masculinidade de vocês é um dom de Deus. Vocês são verdadeiramente homens, inteiramente homens.

Pode ser que vocês tragam algumas feridas com vocês, mas não se deixem enganar pelo mundo! Não se arraste pelas modas que arrasam a masculinidade e a virilidade. Sejam homens por inteiro, como Cristo foi! Se há feridas em vocês, deixem que Ele, o Homem que é Cristo, pela Sua graça, pela castidade, os harmonize e os cure. Vocês serão felizes sendo quem vocês são. Quando, em Cristo, deixamo-nos ser aquilo que Deus nos criou, somos felizes.

Minhas queridas irmãs, quero lhes pedir em nome de Cristo, da Igreja e do mundo que vocês não percam o dom maior que Deus lhes deu: a feminilidade. A feminilidade de vocês nos torna mais homens. A feminilidade – não a sensualidade – torna seus esposos e seus filhos mais homens. A sensibilidade de vocês pode ser notada até quando um rosto muda. Vocês são capazes de fazer com que o mundo seja mais humano.

Não deixem de ser como Deus as fez: mulheres por inteiro, todas belas! Não caiam nas falácias do mundo de hoje, que querem que vocês entrem em competição com o homem. Não se deixem enganar pela sensualidade, pela negação da sua sexualidade como mulheres, como se pudessem ser outra coisa sem ser mulheres.

Mulher, que complementa o homem, que faz o mundo mais humano. Em vocês vejo minha mãe, minhas irmãs, minha cofundadora. Não deixem de ser o que vocês são pelas mentiras do mundo.

Onde começa essa deformação do mundo? Quando se despreza a castidade. Como podemos ser amigos da humanidade com uma sociedade que despreza a castidade? Como amigo de Deus e como amigo dos homens, eu sou chamado a testemunhar e a proclamar a beleza da castidade.

Trecho retirado da pregação de Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Católica Shalom, durante Acampamento PHN 2007

2 de fevereiro de 2010

O que falta para você dizer 'sim'?

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Ninguém erra por buscar a vontade de Deus!

É impressionante perceber como Deus quer se manifestar em nossa vida cada vez de forma mais surpreendente. Ele não mede limites para nos proclamar o Seu Amor "constrangedor" e vê nas nossas limitações e misérias uma oportunidade de nos surpreender a todos, demonstrando no instrumento incapaz a plenitude da Sua manifestação.

Deus tem uma fascinação especifica por aqueles que se demonstram mais limitados, mais pecadores e por isso os separa, os consagra e os lança para o Seu povo. É assim que um chamado, com um "sim" decisivo dado a cada dia, se torna vida e felicidade para quem segue a voz do Bom Pastor. Um "sim" dado para sempre, mas que se renova a cada momento, a cada passo que damos rumo à realização plena da vontade de Deus.

Há uma pedagogia própria do Senhor para atrair aqueles que foram escolhidos por Ele. Ele usa daquilo que faz parte da vida do homem e manifesta a Sua vontade. A alguns Ele chama em meio aos campos, nas "praias" da vida e a outros, em meio ao barulho das cidades de um mundo que grita, tentando impedir-nos de escutar a doce voz que nos elegeu. Basta estarmos atentos aos sinais e poderemos perceber há quanto tempo Ele vem esperando que lancemos um simples olhar em Sua direção, para que então possa nos revelar – pouco a pouco – a Sua vontade.

Deus Pai escolhe quem quer, por isso não adianta tentarmos demonstrar o quanto somos fracos para tão grande missão, escondendo e justificando os nossos medos atrás de nossas misérias, pois o Senhor nos conhece mais do que nós mesmos, por essa razão nos chamou. Assim a nossa vida passa a ser um reconhecimento de que nada somos, mas que n'Ele tudo é possível. Reconhecemos que não merecemos esse chamado, por isso mesmo transformamos a nossa vida em um ato de louvor ao Senhor, com uma gratidão eterna que precisa ser demonstrada em fidelidade concreta.

Se Deus não mede esforços para nos demonstrar isso, – e mais do que isso –, para nos convencer de que Ele nos escolheu, porque ainda estamos perdendo tempo? O que mais nos falta para dizermos "sim" e nos lançarmos na vontade do Senhor? Coragem? Decisão? Abandono? Confiança?

Não podemos negar que é muito difícil romper com toda a ideologia depositada em nossa consciência, a qual nos leva a querer seguranças e tranquilidade. Fomos formados em uma sociedade imediatista, que quer o agora e na qual tudo é para ontem. Por isso é tão difícil. Mas não é impossível!

A cada dia cresce o número de jovens, rapazes e moças, que abandonaram tudo e decidiram viver abandonados em um Amor muito maior do que eles mesmos. Mais do que seguranças é o olhar de plena felicidade e realização interior que testemunham como vale a pena seguir a voz do Amado. Jovens que tiveram a coragem de romper com tudo e se lançar na novidade que o Evangelho nos oferece a cada dia. Eles são, com suas vidas, a prova concreta de que vale a pena.

Por que você ainda continua perdendo tempo? Se for uma palavra direta ou um sinal concreto de que você precisava para dar o primeiro passo, ao ler esse texto você o encontrou. Deus, mais uma vez, está falando com você! Pode ser que o medo do "novo" seja grande, mas onde está a ousadia própria da juventude? Você já foi corajoso para fazer muita coisa que não prestava na sua vida, por que então não demonstrar toda essa coragem agora, entregando sua existência nas mãos d'Aquele que verdadeiramente o ama?

O que, uma vez, escrevi, eu reafirmo: ninguém erra por buscar a vontade de Deus! Nunca me arrependi de ter dado um passo na direção da vontade de Deus para a minha vida; pelo contrário, à medida que continuo dando passos mais realizado e mais feliz eu sou, porque mais perto do Senhor eu estou.

Antes de tudo é para isto que o Todo-poderoso nos chama: para sermos d'Ele. E nessa Divina Vontade está o segredo da felicidade de tantos homens e mulheres, sorridentes em meio a um mundo triste. Por essa razão, não tenha medo de entregar ao Senhor aquilo que Lhe é de direito: a sua vida. Experimente como é maravilhoso ser amado e ser instrumento desse Amor maior. Deus está gritando! O que falta para você dizer "sim"?

Seu irmão,

Foto Renan Félix
renan@geracaophn.com

30 de janeiro de 2010

Unção para anunciar

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É preciso executar a missão de levar vida e salvação aos outros

Derramar óleo de oliveira na cabeça de determinadas pessoas escolhidas para missões especiais era costume no meio dos judeus. Jesus lembra as palavras de Isaías, aplicando-as a si: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor" (Lc 4, 18-19; Is 61, 1s). Não basta a unção, que é sinal da consagração de Deus. É preciso executar a missão de levar vida e salvação aos outros.

Jesus é chamado Cristo. Quer dizer "ungido". Ele assume a missão, dada pelo Pai, de salvar a humanidade. Ele realiza a libertação no sentido horizontal, mas com o sentido da verticalidade, ou seja, da superação dos males terrenos, mas em vista de se conseguir a felicidade eterna. O Papa Bento XVI nos coloca, na encíclica "Caridade na Verdade", o tema "O Desenvolvimento Humano Integral na Caridade e na Verdade". Ele lembra: "Eliminar a fome no mundo tornou-se, na era da globalização, também um objetivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra" (nº. 27). Por outro lado, o Pontífice lembra que "sem Deus o homem não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja" (nº. 78).

Em termos de Igreja, precisamos valorizar, sem dúvida, a consagração das pessoas, mas sublinhando sua finalidade: a de dar vida ao mundo com os critérios de Deus. Para isso, a união ou comunhão eclesial é de suma importância para potencializarmos nossos instrumentos de evangelização. Só a sacramentalização não é suficiente. É preciso instruirmos, formarmos e darmos base de evangelização para se compreender e promover a libertação integral das pessoas. É preciso haver a superação de grupos fechados em si mesmos para ganharmos em comunhão e força de evangelização. Todos podem ter reta intenção, mas é preciso usar meios adequados para nos unir em função de transformar a sociedade com os critérios do Reino de Deus. Somos ungidos para evangelizar. Cumprimos essa missão em comunhão e mútua ajuda. Jesus mandou-nos ser luzes, indicando Seu caminho à sociedade. Na união, nossa luz fica forte e capaz de tirar as escuridões da vida das pessoas.

No mundo, cheio de propostas diferenciadas, somos instados a assumir a Boa Nova de Cristo, deixando-a impregnar nosso ser para testemunharmos sua verdade que salva. O ser humano sozinho, apesar de sua inteligência e seu desenvolvimento cultural, não é capaz de realizar um projeto de vida que o satisfaça plenamente. Só Deus preenche o vazio humano com a realidade de Seu amor. Por isso, recebendo a unção do batismo, temos a possibilidade de contribuir com a realização plena do ser humano, com os valores e os dons do Senhor deixados em Sua Igreja, depositária de Suas graças. Não se trata apenas de ritos, mas de realidade com o conteúdo dos dons de Deus, como Sua Palavra e Seus sacramentos.

Dom José Alberto Moura

26 de janeiro de 2010

Tristeza materna

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Um quadro clínico que requer atenção

No artigo anterior, comentei com você sobre a DPP - Depressão Pós-Parto, porém, é muito conhecido – entre a psicologia e a área médica – um outro quadro clínico chamado de "Tristeza Materna" (baby blues, post-partum blues).

O que muda entre um e outro é a intensidade dos sintomas e a gravidade do quadro e a forma como atinge a mulher, incapacitando-a, colocando em risco sua vida e a do bebê e a capacidade de fazer coisas, até mesmo as mais simples do dia a dia, como arrumar-se, fazer sua higiene pessoal, amamentar, dentre outras atividades.

Como já comentei, é muito importante que a mulher seja cuidada nesse período; é comum que o marido ou os parentes achem muito normal ou até mesmo uma fraqueza da mulher ou até "coisa de mãe e de grávida". O risco não é apenas materno, mas também da qualidade da saúde mental do recém-nascido, pois a mãe passa a destinar sentimentos negativos ao filho, muitas vezes, este passa a ser vítima de maus-tratos; em casos extremos ela sente vontade de eliminar a vida da criança. Isso não é apenas maldade ou falta de Deus. Trata-se, sim, de um quadro que requer atenção redobrada, acompanhamento materno e proximidade com ela.

A sociedade trata certas regras, quando falamos sobre depressão e gestação, como se a mulher necessariamente tivesse que transbordar de alegria diante do nascimento do filho. Isso é o socialmente esperado; porém, a estrutura emocional feminina reage de forma diferente a cada caso. Certamente, não é uma ingratidão pelo milagre de vida que lhe foi concedido, pelo milagre da maternidade. A tarefa de ser mãe, algo que pode inicialmente ser muito desejado, pode despertar sentimentos de incompetência, incapacidade, limitação nos papéis ocupados pela mulher na sociedade, na família, no casamento.

Gosto da leitura e complemento com um dos textos que busquei: "O processo de transformação psíquica que uma mulher precisa passar no ciclo gravídico-puerperal envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas de formas diferentes para cada sujeito. A transformação da filha em mãe, a transformação da autoimagem corporal e a relação entre a sexualidade e a maternidade. Cada um destes temas requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. A mentalidade de que a chegada de um filho é isenta de ambiguidade, tende a dificultar o auxílio que estas mães precisam receber. Algumas mulheres não conseguem admitir para si mesmas que merecem ajuda, escondendo dos cônjuges e da família seu estado" (IACONELLI, V. - Revista Pediatria Moderna, julho-agosto, 2005).

Os números mostram claramente esta realidade: a Tristeza Materna ("baby blues") acomete até 80% das mulheres, mas devido ao tabu mencionado pode se imaginar um índice até maior. "É um estado de humor depressivo que costuma acontecer a partir da primeira semana depois do parto. Este humor é coerente com a enorme tarefa de elaboração psíquica citada anteriormente (transformação da filha em mãe, a transformação da autoimagem corporal, a administração da relação entre a sexualidade e a maternidade). De forma geral, a mulher sente que perdeu o lugar de filha sem que tenha ainda segurança no papel de mãe; que o corpo está irreconhecível, pois se já não é mais de uma grávida tampouco retomou sua forma original; que entre ela e o marido encontra-se um terceiro elemento. O bebê emerge como um outro ser humano aos olhos desta mãe e precisa encontrar um espaço dentro desta configuração anterior (casal) de forma a deixar preservada a sexualidade dos pais. Forma-se o triângulo que remete o casal a suas próprias questões com seus pais" (idem).

O quadro é benigno, à medida que estas questões possam ser elaboradas e regridem por si só por volta do primeiro mês. Aparecem sintomas como irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê e outros.

Lembre-se: "A tarefa de uma mãe de bebê é monótona, desgastante e sem recompensas ou reconhecimento do bebê, a curto prazo. O bebê é impiedoso em suas necessidades e é difícil que a mãe possa atender-lhe se estiver num estado de comprometimento psíquico" (idem).

O conhecimento é essencial na percepção e até mesmo antecipação da existência potencial desta problemática que acomete tantas famílias.

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Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

22 de janeiro de 2010

Vocação para o casamento

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Para isso, é preciso orientação e formação

Vivemos num contexto social de muitas "éticas" até confrontantes. As desculpas para não se seguirem valores inerentes à natureza e a verdades objetivas são muitas. A título de ser moderno ou não retrógrado passa-se, não raro, por cima da verdade e do direito em função do modismo ou da satisfação pessoal. Compromissos com valores da dignidade humana, da família, do sexo, do respeito aos indefesos, do meio ambiente e do bem comum ficam para os que são formados e assumem a altivez de caráter como valor acima de outros interesses.

Na ordem afetiva, sentimental e sexual se fica muito à mercê da propaganda e dos desejos impulsionados pela libido e pela sensorialidade. Tais desejos nem sempre são canalizados por valores que orientam a pessoa à consecução da felicidade como conjugação do prazer momentâneo e aquele da realização de um ideal de vida. Fixando-se mais no animalesco do que no sentido da vida plenificado com valores éticos, morais e sociais, a pessoa está sujeita à irracionalidade do uso e da busca do prazer momentâneo como sendo isso absoluto. Nessa direção, a pessoa se torna insaciável e não encontra no prazer momentâneo um sentido mais elevado e realizador da vida.

Na trilha e na busca de sentido para a convivência matrimonial, pode haver ledo engano de realização humana, quando homem e mulher não se unirem em vista de uma real vocação conjugal. O impulso para o casamento, baseado unicamente no sensorial ou no desejo de os dois se gratificarem na complementaridade afetiva e sexual, frequentemente pode ser rompido com algum desequilíbrio de doação de um pelo outro. Havendo, porém, em ambos, a consciência e o pacto de mútua ajuda para conseguirem um ideal de vida por motivo de um sentido de vida maior, dá-se base de fecundidade na vocação matrimonial. Para isso, é preciso orientação e formação para o valor do casamento como verdadeira vocação. Preparação para tanto é fundamental.

Caso contrário, viveremos cada vez mais a panacéia de uniões que não levam à realização das pessoas que se casam, com as consequências muitas vezes danosas para tantos filhos! Não à toa Jesus Cristo fala da união para sempre do casamento entre homem e mulher, para a busca da felicidade, que está num ideal de vida buscado perenemente. A bênção divina está no bojo de tal encaminhamento. Mas é preciso, nessa direção, haver preparação, vontade e responsabilidade de construção da vida a dois para valer.

Nada, assim, vai tirar o casal do sério de uma vida de amor e doação autênticos. Meios coadjuvantes para isso encontramos na ordem natural e sobrenatural: diálogo, compreensão, boa vontade, colaboração, valorização do outro, perdão, oração, meditação na Palavra de Deus, sacramentos, aceitação das observações do outro, aconselhamento…

Muitos são os obstáculos para que o amor matrimonial corra nessa perspectiva. A influência do paganismo, da mediocridade, a falta de formação e influência de grandes meios de comunicação materialistas dificultam a juventude a se pautar na vida por valores acima apresentados. Aliás, na sociedade vemos duas vocações de fundamental importância: a família e a política. Justamente para as duas há muita falta de preparo! As consequências são óbvias!

A Palavra de Deus nos auxilia para valorizarmos a vocação matrimonial: "Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por Ela… Assim é que o marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo… Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne" (Ef 5, 25.28.31).

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros - MG