30 de janeiro de 2010

Unção para anunciar

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É preciso executar a missão de levar vida e salvação aos outros

Derramar óleo de oliveira na cabeça de determinadas pessoas escolhidas para missões especiais era costume no meio dos judeus. Jesus lembra as palavras de Isaías, aplicando-as a si: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor" (Lc 4, 18-19; Is 61, 1s). Não basta a unção, que é sinal da consagração de Deus. É preciso executar a missão de levar vida e salvação aos outros.

Jesus é chamado Cristo. Quer dizer "ungido". Ele assume a missão, dada pelo Pai, de salvar a humanidade. Ele realiza a libertação no sentido horizontal, mas com o sentido da verticalidade, ou seja, da superação dos males terrenos, mas em vista de se conseguir a felicidade eterna. O Papa Bento XVI nos coloca, na encíclica "Caridade na Verdade", o tema "O Desenvolvimento Humano Integral na Caridade e na Verdade". Ele lembra: "Eliminar a fome no mundo tornou-se, na era da globalização, também um objetivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra" (nº. 27). Por outro lado, o Pontífice lembra que "sem Deus o homem não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja" (nº. 78).

Em termos de Igreja, precisamos valorizar, sem dúvida, a consagração das pessoas, mas sublinhando sua finalidade: a de dar vida ao mundo com os critérios de Deus. Para isso, a união ou comunhão eclesial é de suma importância para potencializarmos nossos instrumentos de evangelização. Só a sacramentalização não é suficiente. É preciso instruirmos, formarmos e darmos base de evangelização para se compreender e promover a libertação integral das pessoas. É preciso haver a superação de grupos fechados em si mesmos para ganharmos em comunhão e força de evangelização. Todos podem ter reta intenção, mas é preciso usar meios adequados para nos unir em função de transformar a sociedade com os critérios do Reino de Deus. Somos ungidos para evangelizar. Cumprimos essa missão em comunhão e mútua ajuda. Jesus mandou-nos ser luzes, indicando Seu caminho à sociedade. Na união, nossa luz fica forte e capaz de tirar as escuridões da vida das pessoas.

No mundo, cheio de propostas diferenciadas, somos instados a assumir a Boa Nova de Cristo, deixando-a impregnar nosso ser para testemunharmos sua verdade que salva. O ser humano sozinho, apesar de sua inteligência e seu desenvolvimento cultural, não é capaz de realizar um projeto de vida que o satisfaça plenamente. Só Deus preenche o vazio humano com a realidade de Seu amor. Por isso, recebendo a unção do batismo, temos a possibilidade de contribuir com a realização plena do ser humano, com os valores e os dons do Senhor deixados em Sua Igreja, depositária de Suas graças. Não se trata apenas de ritos, mas de realidade com o conteúdo dos dons de Deus, como Sua Palavra e Seus sacramentos.

Dom José Alberto Moura

26 de janeiro de 2010

Tristeza materna

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Um quadro clínico que requer atenção

No artigo anterior, comentei com você sobre a DPP - Depressão Pós-Parto, porém, é muito conhecido – entre a psicologia e a área médica – um outro quadro clínico chamado de "Tristeza Materna" (baby blues, post-partum blues).

O que muda entre um e outro é a intensidade dos sintomas e a gravidade do quadro e a forma como atinge a mulher, incapacitando-a, colocando em risco sua vida e a do bebê e a capacidade de fazer coisas, até mesmo as mais simples do dia a dia, como arrumar-se, fazer sua higiene pessoal, amamentar, dentre outras atividades.

Como já comentei, é muito importante que a mulher seja cuidada nesse período; é comum que o marido ou os parentes achem muito normal ou até mesmo uma fraqueza da mulher ou até "coisa de mãe e de grávida". O risco não é apenas materno, mas também da qualidade da saúde mental do recém-nascido, pois a mãe passa a destinar sentimentos negativos ao filho, muitas vezes, este passa a ser vítima de maus-tratos; em casos extremos ela sente vontade de eliminar a vida da criança. Isso não é apenas maldade ou falta de Deus. Trata-se, sim, de um quadro que requer atenção redobrada, acompanhamento materno e proximidade com ela.

A sociedade trata certas regras, quando falamos sobre depressão e gestação, como se a mulher necessariamente tivesse que transbordar de alegria diante do nascimento do filho. Isso é o socialmente esperado; porém, a estrutura emocional feminina reage de forma diferente a cada caso. Certamente, não é uma ingratidão pelo milagre de vida que lhe foi concedido, pelo milagre da maternidade. A tarefa de ser mãe, algo que pode inicialmente ser muito desejado, pode despertar sentimentos de incompetência, incapacidade, limitação nos papéis ocupados pela mulher na sociedade, na família, no casamento.

Gosto da leitura e complemento com um dos textos que busquei: "O processo de transformação psíquica que uma mulher precisa passar no ciclo gravídico-puerperal envolve três grandes momentos que englobam pequenas etapas vividas de formas diferentes para cada sujeito. A transformação da filha em mãe, a transformação da autoimagem corporal e a relação entre a sexualidade e a maternidade. Cada um destes temas requer uma reordenação psíquica que incide sobre as vicissitudes de cada mulher. A mentalidade de que a chegada de um filho é isenta de ambiguidade, tende a dificultar o auxílio que estas mães precisam receber. Algumas mulheres não conseguem admitir para si mesmas que merecem ajuda, escondendo dos cônjuges e da família seu estado" (IACONELLI, V. - Revista Pediatria Moderna, julho-agosto, 2005).

Os números mostram claramente esta realidade: a Tristeza Materna ("baby blues") acomete até 80% das mulheres, mas devido ao tabu mencionado pode se imaginar um índice até maior. "É um estado de humor depressivo que costuma acontecer a partir da primeira semana depois do parto. Este humor é coerente com a enorme tarefa de elaboração psíquica citada anteriormente (transformação da filha em mãe, a transformação da autoimagem corporal, a administração da relação entre a sexualidade e a maternidade). De forma geral, a mulher sente que perdeu o lugar de filha sem que tenha ainda segurança no papel de mãe; que o corpo está irreconhecível, pois se já não é mais de uma grávida tampouco retomou sua forma original; que entre ela e o marido encontra-se um terceiro elemento. O bebê emerge como um outro ser humano aos olhos desta mãe e precisa encontrar um espaço dentro desta configuração anterior (casal) de forma a deixar preservada a sexualidade dos pais. Forma-se o triângulo que remete o casal a suas próprias questões com seus pais" (idem).

O quadro é benigno, à medida que estas questões possam ser elaboradas e regridem por si só por volta do primeiro mês. Aparecem sintomas como irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê e outros.

Lembre-se: "A tarefa de uma mãe de bebê é monótona, desgastante e sem recompensas ou reconhecimento do bebê, a curto prazo. O bebê é impiedoso em suas necessidades e é difícil que a mãe possa atender-lhe se estiver num estado de comprometimento psíquico" (idem).

O conhecimento é essencial na percepção e até mesmo antecipação da existência potencial desta problemática que acomete tantas famílias.

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Foto Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com

22 de janeiro de 2010

Vocação para o casamento

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Para isso, é preciso orientação e formação

Vivemos num contexto social de muitas "éticas" até confrontantes. As desculpas para não se seguirem valores inerentes à natureza e a verdades objetivas são muitas. A título de ser moderno ou não retrógrado passa-se, não raro, por cima da verdade e do direito em função do modismo ou da satisfação pessoal. Compromissos com valores da dignidade humana, da família, do sexo, do respeito aos indefesos, do meio ambiente e do bem comum ficam para os que são formados e assumem a altivez de caráter como valor acima de outros interesses.

Na ordem afetiva, sentimental e sexual se fica muito à mercê da propaganda e dos desejos impulsionados pela libido e pela sensorialidade. Tais desejos nem sempre são canalizados por valores que orientam a pessoa à consecução da felicidade como conjugação do prazer momentâneo e aquele da realização de um ideal de vida. Fixando-se mais no animalesco do que no sentido da vida plenificado com valores éticos, morais e sociais, a pessoa está sujeita à irracionalidade do uso e da busca do prazer momentâneo como sendo isso absoluto. Nessa direção, a pessoa se torna insaciável e não encontra no prazer momentâneo um sentido mais elevado e realizador da vida.

Na trilha e na busca de sentido para a convivência matrimonial, pode haver ledo engano de realização humana, quando homem e mulher não se unirem em vista de uma real vocação conjugal. O impulso para o casamento, baseado unicamente no sensorial ou no desejo de os dois se gratificarem na complementaridade afetiva e sexual, frequentemente pode ser rompido com algum desequilíbrio de doação de um pelo outro. Havendo, porém, em ambos, a consciência e o pacto de mútua ajuda para conseguirem um ideal de vida por motivo de um sentido de vida maior, dá-se base de fecundidade na vocação matrimonial. Para isso, é preciso orientação e formação para o valor do casamento como verdadeira vocação. Preparação para tanto é fundamental.

Caso contrário, viveremos cada vez mais a panacéia de uniões que não levam à realização das pessoas que se casam, com as consequências muitas vezes danosas para tantos filhos! Não à toa Jesus Cristo fala da união para sempre do casamento entre homem e mulher, para a busca da felicidade, que está num ideal de vida buscado perenemente. A bênção divina está no bojo de tal encaminhamento. Mas é preciso, nessa direção, haver preparação, vontade e responsabilidade de construção da vida a dois para valer.

Nada, assim, vai tirar o casal do sério de uma vida de amor e doação autênticos. Meios coadjuvantes para isso encontramos na ordem natural e sobrenatural: diálogo, compreensão, boa vontade, colaboração, valorização do outro, perdão, oração, meditação na Palavra de Deus, sacramentos, aceitação das observações do outro, aconselhamento…

Muitos são os obstáculos para que o amor matrimonial corra nessa perspectiva. A influência do paganismo, da mediocridade, a falta de formação e influência de grandes meios de comunicação materialistas dificultam a juventude a se pautar na vida por valores acima apresentados. Aliás, na sociedade vemos duas vocações de fundamental importância: a família e a política. Justamente para as duas há muita falta de preparo! As consequências são óbvias!

A Palavra de Deus nos auxilia para valorizarmos a vocação matrimonial: "Maridos, amai as vossas mulheres, como o Cristo amou a Igreja e se entregou por Ela… Assim é que o marido deve amar a sua mulher, como ao seu próprio corpo… Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne" (Ef 5, 25.28.31).

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros - MG

18 de janeiro de 2010

Passos para a conversão

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Nossa conversão é a ação do Espírito Santo em nós

Com São José, queremos aprender e nos deixar transformar pelo Senhor. Esses dias, eu fiquei meditando sobre a graça da conversão, que nos é dada . Hoje, eu vou falar sobre sete passos para a conversão:

1 - Onde acontece a minha conversão? Onde eu estou.

Aconteceu aquele problema, aquela surpresa, mas Deus estava e sempre estará com você em todos os momentos. O lugar da sua conversão é o lugar onde você está agora, porque a seu lado está o Senhor. Não importa o problema e a dificuldade pela qual você está passando com algumas pessoas. Nada disso pode atrapalhar a sua conversão. Esta se dá onde você está, aí neste lugar, neste problema, nesta situação. Não queria resolver situações pendentes, para só depois buscar se converter. Quem pensa assim, sempre arruma uma desculpa para deixar a sua conversão para depois.

Não queira fugir da sua realidade, pois é nela que Deus quer realizar uma obra em sua vida. O Senhor está na situação em que você se encontra. Ele está na sua realidade. Não despreze nada que possa ajudá-lo a se converter, nem a dor, nem pessoas, nem situações. Aproveite de tudo isso, pois não existe nada que não possa ser utilizado por Deus para sua conversão. Dessa forma, por causa dela [conversão], não fixe os olhos nas pessoas e nas situações. Para o seu bem, para que ela ocorra, não se fixe nas pessoas. Não olhe para elas, olhe "através" delas. Pois a meta é a conversão!

Não pergunte onde Deus está. Acredite e proclame que o Senhor está com você!

2 - Nossa conversão é a ação do Espírito Santo em nós.

O que devemos fazer é tornar nosso coração sensível às moções do Espírito. A missão d'Ele é nos santificar, mas nós temos o coração fechado para escutá-las [moções d'Ele]. Por isso, precisamos abrir o coração aos apelos d'Ele. É preciso ser obediente ao que Ele nos fala. É necessário entrar na "escola da sensibilidade e da obediência".

3 - Aceite que um caminho de transformação é uma "porta estreita".

"Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram" (Mt 7, 13-14).

O mundo oferece caminhos e portas largas e tem feito a sociedade se acostumar com isso. Contudo, você precisa passar pela "porta estreita", ela é o caminho que nos conduz à santidade. É necessário perceber "quem" ou "o que" é a "porta estreita da sua vida", que faz com que você seja mais misericordioso, mais paciente, mais corajoso, entre outros. Mas muitos de nós queremos nos ver livres desse "caminho apertado" e dessa "porta estreita". Jesus diz que poucos a encontrarão. E você? Já conheceu a sua?

4 - Quero realmente me converter? Quero realmente mudar de vida?

É preciso ter humildade para escutar o que pensam e o que falam de nós. Então, escute o que as pessoas têm a dizer sobre você e, diante de Nosso Senhor, pergunte: "O que há de verdade disso que estão dizendo sobre mim?" Pois, todos somos como um baú, que tem coisas boas e coisas ruins.

Quantas vezes, eu ouvi tantas coisas e voltei para casa chorando e, graças a Deus, chorei no colo da Eliana, minha esposa. Pessoas que me disseram, aqui, no pé da escada, que eu era autossuficiente, arrogante, etc. O que você escuta e o tira do sério é porque talvez possua um pouco de verdade. É tempo de mudança, e se você quiser mudar realmente, este é o tempo propício. Nosso Senhor espera de nós uma verdadeira conversão!

5 - Conversão é uma escolha que eu faço!

A sua conversão não é uma escolha de ninguém. É uma escolha muito pessoal. É você que quer mudar, que quer ser melhor, que quer ser de Deus. Portanto, a escolha é sua!

6 - O tempo da conversão é agora.

Nosso Senhor nos dá um tempo para a nossa conversão, e este tempo é agora. Neste momento, neste lugar. Aí onde você está, não existe outro lugar. Isso fundamenta o que eu lhe disse no começo da pregação: valer-se de tudo para a conversão.

7 - Converter-se pela oração. Retirar-se com Jesus.

Retire os olhos das pessoas, dos fatos. Você e eu precisamos aprender a ir mais para o "deserto" a fim de sermos transformados e abençoados. E assim nos converter com a oração e a meditação da Palavra de Deus.

Passe para outras pessoas esses sete passos. É tempo de conversão. Quem se converte, aproxima-se cada vez mais de Nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso oferecer ao seu coração o que mais ele deseja e necessita: Nosso Senhor.

(Artigo extraído da pregação de março de 2007)

Ricardo Sá
Missionário da Comunidade Canção Nova

14 de janeiro de 2010

A escolha do amor

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Pessoas que têm certezas absolutas erram mais

Todos os dias fazemos escolhas em nossas vidas. Algumas escolhas são simples; outras, mais complexas. Escolhemos a roupa, o sapato, a alimentação, o trajeto. Escolhemos a escola, o trabalho, as prioridades. Como não é possível resolver todos os problemas de uma única vez, vamos escolhendo aqueles que precisam ser solucionados antes. Escolhemos no supermercado, na loja, a forma de pagamento. Algumas escolhas simples ficam complicadas quando complicamos a vida. Fazer um almoço se torna um calvário para quem está angustiado. Ter de escolher o que fazer e que agrade às outras pessoas da família parece um trabalho insano.

Escolher a escola dos fihos. Escolher a mudança de emprego. Aos poucos as escolhas vão exigindo mais reflexão e o resultado da escolha vai ficando mais sério. Uma coisa é escolher a comida errada no cardápio e decidir que não vai pedir mais aquele prato. Outra coisa é perceber que casou com a pessoa errada. A escolha do casamento tem de ser mais demorada do que a do produto de uma prateleira em um supermercado.

Como somos imperfeitos, a dúvida sempre fará parte de nossas escolhas. E é diante da dúvida que amadurecemos. Pessoas que têm certezas absolutas erram mais e sofrem mais com isso.

A dúvida nos torna mais humildes, mais abertos ao diálogo. Nesses momentos é que percebemos nossa maturidade frente aos obstáculos. Os mais concretos ou os mais abstratos.

Neste início de ano, uma modesta sugestão:

Diante das dúvidas que surgirem, escolha o amor.

Diante de sentimentos mesquinhos, como a inveja, o ciúme, a vingança; escolha o amor. Antes de falar, pense. Mas pense com amor.

Antes de agredir, lembre-se de que o tempo da cicatriz é mais demorado do que o tempo do comedimento.

Antes de usar a palavra como instrumento de maldizer, lembre-se de que o silêncio é o grande amigo e de que, na dúvida, o outro deve receber a sua compaixão.

Diante do comodismo, da alienação, escolha o amor em ação. Assim fizeram os apóstolos, mesmo sabendo que seriam incompreendidos; assim fez Francisco de Assis quando ousou chamar a todos de irmãos; ou Dom Bosco com os jovens que só se aquietavam quando se sentiam amados. Assim fez Madre Tereza de Calcutá que fazia a escolha do amor diante de cada próximo que dela precisasse. Diante da boa dúvida, é bom pedir ajuda.

Para os irmãos e para Deus, a essência do Amor. Os desafios são muitos. É por isso que sozinho fica difícil. Como diz a canção: "Eu pensei que podia viver por mim mesmo. Eu pensei que as coisas do mundo não iriam me derrubar".

E a oração continua e, com ela, nossa certeza: "Tudo é do Pai. Toda honra e toda glória. É Dele a vitória alcançada em minha vida".

Que sejamos responsáveis em nossas escolhas simples ou mais complexas. Mais uma vez, com amor, tudo fica mais fácil e mais bonito!

Um grande abraço!

Gabriel Chalita
http://blog.cancaonova.com/gabrielchalita/

9 de janeiro de 2010

Por que a Igreja cobra espórtulas e taxas?

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A prática das espórtulas é inspirada no Novo Testamento

Espórtulas são os valores cobrados pela Igreja quando esta ministra alguns Sacramentos (Batismo, Crisma e Matrimônio), especialmente a Santa Missa por alguma intenção especial.

Em primeiro lugar é preciso deixar bem claro que esta medida longe está de querer cobrar pelo sacramento ministrado. Cada um deles é impagável porque custou o preço do Sangue precioso de Jesus para a nossa salvação. Os sete sacramentos brotaram do Coração de Jesus transpassado pela lança na Cruz. É através deles que as graças da salvação, conquistadas a nós por Cristo, chegam a nós, e isso é impagável.

Então, por que a Igreja cobra uma taxa para celebrar alguns deles?

A prática das espórtulas é inspirada no Novo Testamento e existe durante quase dois mil anos. Essa prática tem duplo sentido:

1) para quem oferece sua dádiva é uma forma de participar, de maneira mais íntima, da oblação Eucarística e dos frutos desta; é expressão da fé e do amor com que tem acesso ao Pai por Cristo no Espírito Santo. Assim as espórtulas se justificam como a expressão da fé e do amor dos fiéis que desejam participar mais intimamente dos frutos da Santa Missa.

2) para a Igreja é um meio de sustentação legítimo, baseado na tradição bíblica e que não se trata de simonia, isto é, de comércio com as coisas sagradas. Após o Concílio do Vaticano II (1962-1965), que fez um balanço da vida eclesial, considerando as suas necessidades, o Papa Paulo VI regulamentou as espórtulas da Missa, em 13/06/1974, quando publicou o Motu próprio "Firma in Traditione", em que dizia:

"É tradição firmemente estabelecida na Igreja que os fiéis, movidos por seu espírito religioso e seu senso eclesial, acrescentem ao sacrifício eucarístico um certo sacrifício pessoal, a fim de participar mais estritamente daquele. Atendem assim às necessidades da Igreja e, mais particularmente, à subsistência dos seus sacerdotes. Isto está de acordo com o espírito das palavras do Senhor: 'o trabalhador merece o seu salário' (Lc 10,7), palavras que São Paulo lembra em sua primeira carta a Timóteo (5,18) e na primeira aos Coríntios (9,7-14)".

"O clero que, por seu trabalho, merece receber o necessário para se sustentar, deveria ter sua subsistência garantida por um sistema de financiamento independente de ofertas feitas por particulares ou pelos fieis que peçam serviços religiosos".

Depois disso, o assunto foi regulamentado também pelo Papa João Paulo II em 22 de janeiro de 1991, no Decreto SOBRE AS ESPÓRTULAS, preparado pela Sagrada Congregação para o Clero. O Código de Direito Canônico, promulgado em 25/11/83, quando fala das espórtulas, diz, entre outras coisas:

Cânon 945 - § 1. "Segundo o costume aprovado pela Igreja, a qualquer sacerdote que celebra ou concelebra a Missa, é permitido receber a espórtula oferecida para que ele aplique a Missa segundo determinada intenção".

§ 2. Recomenda-se vivamente aos sacerdotes que, mesmo sem receber nenhuma espórtula, celebrem a Missa segundo a intenção dos fiéis, especialmente dos pobres.

Cânon 946 – "Os fiéis que oferecem espórtula para que a Missa seja aplicada segundo suas intenções concorrem, com essa oferta, para o bem da Igreja e participam de seu empenho no sustento de seus ministros e obras".

Cânon 947 – "Deve-se afastar completamente das espórtulas de Missas até mesmo qualquer aparência de negócio ou comércio."

No início da Igreja, os cristãos, ao participarem da Santa Missa, levavam consigo dons naturais (pão, vinho, leite, frutas, mel...). Depois passou a se fazer doações também em dinheiro por ser mais prático. A Igreja, como uma sociedade também humana e inserida neste mundo, precisa de dinheiro para exercer a missão de pregar o Evangelho, confiada a ela pelo próprio Cristo, desde os tempos d'Ele. Os doze Apóstolos tinham uma caixa comum (cf. Jo 12,6). Jesus aceitava que algumas mulheres os ajudassem com seus bens, entre elas, Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, Susana e várias outras (cf. Lc 8,1-3).

A primeira comunidade cristã em Jerusalém praticava a voluntária partilha de bens (cf. At 2,44; 5,1-6). Jesus elogiou a oblação da viúva no Tesouro do Templo: "Em verdade eu vos digo que esta viúva, que é pobre, lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhes sobrava; ela, porém, na sua penúria ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver" (Mc 12,42-44).

E aqueles que não têm dinheiro para mandar celebrar a Santa Missa?

A Igreja reza diariamente por todas as grandes intenções e necessidades da humanidade (os doentes, os moribundos, os encarcerados, os falecidos...), também pelas almas do Purgatório, em todas as Celebrações Eucarísticas. Assim, não há almas abandonadas no Purgatório por falta de dinheiro da parte dos familiares.

Quando todos os católicos pagarem o dízimo – que a Igreja não obriga que seja 10% do que a pessoa ganha, embora isso seja bom –, então, certamente não será mais preciso cobrar taxas para a celebração dos sacramentos, como o Batismo, Crisma e Matrimônio. Mas isso ainda não é comum; por isso a Igreja precisa das taxas para suas necessidades materiais.

O Código de Direito Canônico afirma:

Cânon 222 § 1. "Os fiéis têm obrigação de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros."

O que o Catecismo da Igreja Católica diz no §2043: " Os fiéis cristãos têm ainda a obrigação de atender, cada um segundo as suas capacidades, às necessidades materiais da Igreja".

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

4 de janeiro de 2010

Por que rezar?

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Quando não falamos com alguém, perdemos a intimidade

Muitos podem se perguntar por que devem rezar. Eu sempre digo: a oração não muda nada em Deus. Ele é Imenso, Todo-Poderoso, Todo-Misericordioso, continua sempre o mesmo. Mas nós, à medida que rezamos, sentimos tudo se transformar em nossa vida. Desde o mais íntimo do coração, a mudança se faz. Uma pessoa que ora, transforma a si, aos outros e o ambiente onde está cumprindo sua missão. Mas a vida de oração não é nada fácil. Estão aí os grandes mestres de todos os tempos em nossa Igreja para nos ajudar.

Muitas vezes, as "noites escuras" de São João da Cruz se fazem presentes. Quem é que nunca passou por um deserto espiritual? Quem é que nunca se sentiu árido na vida de oração? Tudo isso faz parte da caminhada. O importante é perseverar e saber esperar. Santo Ignácio de Loyola fala de tempos de desolação. Mas temos também os tempos de consolação, afirma o mesmo santo [Ignácio]. Estes nos servem como reservatórios de céu... São aqueles momentos marcantes, nos quais a presença de Deus foi "sensível", foi irrefutável... Esses momentos ficam na memória do coração e nos reabastece por uma vida! Com Deus, devemos conversar como com um amigo! Aliás, para mantermos uma amizade, o diálogo contínuo se faz necessário.

Quando deixamos de falar com alguém, deixamos o espaço de tempo sem encontro ser muito grande, perdemos a intimidade, perdemos o brilho da amizade. Da mesma forma, com o Senhor, temos que renovar nossa amizade e o carinho por Ele e pelos que são d'Ele todos os dias. O encontro diário deve ser agradável. Devemos "marcar encontros" efetivos e afetivos com Nosso Senhor e Amigo. Efetivos no sentido de cumprirmos verdadeiramente o horário e o lugar e, de preferência, sempre os mesmos.

Crie o seu tempo e espaço de oração. E afetivos, porque devem ser marcados pelo amor, acima de tudo, encontros de louvor e ação de graças. Essa experiência nos faz experimentar o céu, e mesmo quando as nuvens parecerem encobrir o brilho do Sol, no coração uma certeza permanecerá: o Sol sempre estará lá, com seu intenso brilho! A vida de oração nos faz perceber que onde parece não haver caminho para nós, Deus faz um. Quantos são os testemunhos neste sentido? "Orai sem cessar. Em todas as circunstâncias dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo" (1Ts 5,17-18).

Que Maria, Mulher do silêncio e Mestra de nossa vida espiritual, seja nossa companheira e guia!

Pe. Rinaldo Roberto de Rezende