22 de dezembro de 2009

Por que o Verbo se encarnou?

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O maior acontecimento da história

"E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós" (João 1, 14).

Deus se fez homem. Na Pessoa do Verbo, Ele assumiu a natureza humana sem abandonar a divina. Foi o maior acontecimento da história.

A fé na Encarnação verdadeira do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: "Nisto reconheceis o Espírito de Deus. Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus" (1 Jo 4,2). Esta é a alegre convicção da Igreja desde o seu começo, quando canta "o grande mistério da piedade": "Ele foi manifestado na carne" (1 Tm 3,16).

Mas por que Deus se fez homem? A Igreja nos responde:

1 - "O Verbo se fez carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus" (Catecismo da Igreja Católica – CIC § 457).

"Foi Ele que nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10). "O Pai enviou seu Filho como o Salvador do mundo" (1 Jo 4,14). "Este apareceu para tirar os pecados" (1 Jo 3,5).

O pecado de toda a humanidade ofendeu a Majestade Infinita de Deus Criador; e nenhum resgate humano seria suficiente para reparar a ofensa contra a Majestade divina. O Catecismo afirma que:

"Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência em Cristo da Pessoa Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo, abraça todas as pessoas humanas, e que o constitui Cabeça de toda a humanidade, torna possível seu sacrifício redentor por todos" (CIC § 616).

A morte de Cristo realizou a redenção definitiva dos homens pelo "Cordeiro que tira o pecado do mundo" e reconduziu o homem à comunhão com Deus, reconciliando-o com Ele pelo "Sangue derramado por muitos para remissão dos pecados". Este sacrifício de Cristo é único. Ele realiza e supera todos os sacrifícios. Ele é primeiro um dom do próprio Deus Pai: é o Pai que entrega seu Filho para reconciliar-nos com Ele. É, ao mesmo tempo, oferenda do Filho de Deus feito homem, o qual, livremente e por amor, oferece a vida ao Pai pelo Espírito Santo, para reparar nossa desobediência.

"Como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim, pela obediência de um só, todos se tornarão justos" (Rm 5,19). Por Sua obediência até a morte, Jesus realizou a substituição do Servo Sofredor que "oferece sua vida em sacrifício expiatório", "quando carregava o pecado das multidões", "que Ele justifica levando sobre si o pecado de muitos".

São Gregório de Nissa, Padre da Igreja (†340), explica:

"Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus a ponto de fazê-lo descer até nossa natureza humana para visita-la, uma vez que a humanidade se encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?" (Or. Catech. 15: PG 45,48B).

A Epístola aos Hebreus fala do mesmo mistério:

"Por isso, ao entrar no mundo, ele afirmou: Não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram de teu agrado. Por isso eu digo: Eis-me aqui... para fazer a tua vontade" (Hb 10,5-7, citando Sl 40,7-9 LXX).

2 – "O Verbo se fez carne para que conhecêssemos o amor de Deus" (CIC § 458).

"Nisto manifestou-se o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos por Ele" (1 Jo 4,9). "Pois Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho Único, a fim de que todo o que crer nele não pereça, mas tenha a Vida Eterna" (Jo 3,16).

Ninguém mais tem o direito de duvidar do amor de Deus por nós. O que mais o Senhor poderia ter feito por nós? Além de nascer como homem, sujeito às nossas fraquezas, ainda experimentou a morte na cruz.

São Paulo canta o mistério da Encarnação:

"Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!" (Fl 2,5-8).

3 – "O Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade" (CIC § 459).

"Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim..." (Mt 11,29).

"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim" (Jo 14,6). E o Pai, no monte da Transfiguração, ordena: "Ouvi-o" (Mc 9,7). Pois Ele é o modelo das Bem-aventuranças e a norma da Nova Lei: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Este amor implica a oferta efetiva de si mesmo em seu seguimento.

4 – "O Verbo se fez carne para tornar-nos "participantes da natureza divina" (II Pd 1,4). (CIC § 460).

Santo Irineu (†202) assim explicou essa verdade:

"Pois esta é a razão pela qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: é para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo, assim, a filiação divina, se torne filho de Deus" (Adv. Haer., 3,19,1).

São Tomás de Aquino disse: "O Filho Unigênito de Deus, querendo-nos participantes de sua divindade, assumiu nossa natureza para que aquele que se fez homem dos homens fizesse deuses" (Opusc. 57 in festo Corp. Chr.1).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

18 de dezembro de 2009

À espera do Natal

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Natal é tempo de receber o Presente

Mal começa a preparação de uma festa, qualquer que seja, a febre das compras e das vendas incendeia o comércio. Comprar, para quem tem um bom poder aquisitivo, é fonte de prazer; e vender, para quem comercia, é fonte de lucro. O comércio é o lugar da troca. O dinheiro é o documento que, desde tempos muito antigos, simplificou esta coisa admirável de cambiar serviços e bens.

O papel-moeda, ou simplesmente, a moeda, dá ao portador o direito de receber algum bem ou serviço por já ter oferecido a outros algum bem ou serviço. Que invenção bonita é o dinheiro! O pedreiro, que assentou tijolos, leva consigo a nota de cem reais que comprova ter ele colaborado para construir o abrigo de uma família. Com esse documento nas mãos ele entra no supermercado e volta para a casa com a sacola cheia do alimento que garante a vida de seus filhos.

A sociedade atual, tão complexa, seria um caos sem o dinheiro. Mas como tudo que é sagrado pode ser corrompido, também o dinheiro, símbolo do suor de quem luta para sobreviver com dignidade, deixou de ser o que é: um facilitador da troca amorosa de bens e de serviços, para se tornar, na expressão de Marx, um fetiche.

A idolatria do dinheiro, a voracidade de tudo possuir, a insegurança de não ter e o medo de ficar sem, paralisam o que de melhor existe no ser humano: a alegria da reciprocidade. Há os que acumulam por acumular e morrem sem ter colaborado para a construção do bem comum através do dinheiro que ganharam. Há ainda os que assaltam, carregando títulos de serviços prestados por outros. Há os que dilapidam e se apropriam indebitamente desta coisa bonita, chamada imposto, e que deveria ser oferecida com a alegria de quem se coloca a serviço do bem comum. Mas há pessoas generosas, empresas conscientes de sua importância na construção da paz social, há uma economia de comunhão em andamento no mundo. Nem tudo está perdido.

Mas o que pensar das compras e vendas por ocasião do Natal? E dos presentes? Admirável comércio este que celebramos no Natal. Que troca estupenda! "Ele se fez pobre para nos enriquecer com Sua pobreza". Seu presente é Sua Presença. Há filhos de pais ricos que ganham presentes, mas não recebem o mais desejado: a Presença, o diálogo, a troca amorosa. Natal é tempo de receber o Presente. Não precisa de dinheiro, basta preparar o coração. Ele veio a primeira vez na humildade, despojado de qualquer poder, em tudo igual a nós, – só não pecou e nem estava inclinado ao pecado –, para salvar-nos da desgraça que nós mesmos havíamos construído. Ele foi, desde a manjedoura, presença da infinita misericórdia de nosso Deus e Pai que n'Ele, seu Filho Unigênito, se curvou sobre nossa miséria e pequenez para envolver-nos em sua infinita ternura.

Os pastores, ao se abeirarem do Recém-Nascido, n'Ele viram uma pobre Criança como as que lhes nasciam em suas próprias casas. Leram-Lhe, entretanto, a infinita dignidade nos olhos enternecidos da mãe que, em profundo silêncio, contemplava no improvisado e pobre berço, envolto nos panos de nossa humana fragilidade, o mistério que lhe acontecera quando da anunciação do Anjo e que por nove meses ela abrigara em seu virginal ventre. Em tão adversas e inesperadas circunstâncias lhe nascera o Filho e sua alma continuou a cantar com igual alegria o hino de exultação pelo poder de seu Deus, que escolhera vir pobre entre os mais pobres. Dispersem-se os soberbos e caiam por terra os poderosos diante do mistério da onipotência amorosa de Deus, que vence todas as distâncias para mergulhar em nossa condição, – até a cruz – e deixar-se tomar pelas nossas trevas para iluminar-nos com Sua luz. Ele virá uma segunda vez para abolir definitivamente toda escravidão e instaurar o dia sem ocaso, só feito de luz, na justiça e na verdade, alegria eterna de um amor sem fim.

Entre a primeira e a segunda vinda estamos nós. Se acolhermos a mensagem da primeira, Ele faz morada em nós, com o Pai e com o Espírito, e nós poderemos já pré-gustar, no caminho, a felicidade da chegada e do encontro definitivo. Seja este Advento o tempo de meditar essas coisas e com Maria experimentar a verdade do Natal: encontro com o Deus que vem. Para isso, escutemos João Batista, pois ele é a "voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para ele.

Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas, as vias tortuosas serão endireitadas e os caminhos esburacados, aplanados. E todos verão a salvação que vem de Deus" (Lc 3,4-6). E João recomendava: "Quem tem duas túnicas, dê uma a quem não tem e quem tiver comida faça o mesmo..." E aos cobradores de impostos: "não cobreis mais do que foi estabelecido"...E aos soldados: "não maltrateis a ninguém, nem tomeis dinheiro à força..." (Lc 3, 10-14). Cada um de nós tem o que mudar na própria vida.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba

14 de dezembro de 2009

A feminilidade e a sensualidade

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Ser cristã não significa vestir-se de modo desleixado

Parece-me que os conceitos sobre "feminilidade" e "sensualidade" estão se misturando de tal forma em nossa sociedade, que as pessoas encontram dificuldades para diferenciá-las. Fui pesquisar em primeiro lugar como estão definidos no dicionário Aurélio e encontrei o seguinte:

Feminilidade = s.f. Qualidade, caráter, modo de ser, de viver, de pensar, próprio da mulher.

Sensualidade = s.f. Propriedade do que é sensual. / Inclinação pelos prazeres dos sentidos; amor das coisas ou qualidades sensíveis.

Sensual = adj. Relativo aos sentidos. / Que satisfaz os sentidos: prazeres sensuais.

A partir dessas definições, convido você para refletir comigo.

Gosto muito da definição dada pela Igreja sobre a sexualidade humana de acordo com o Conselho Pontifício para a Família: "Sexualidade humana: verdade e significado". Peço que leia com bastante atenção como a instituição criada por Cristo a vê: Há que salientar a importância e o sentido da diferença dos sexos como realidade profundamente inscrita no homem e na mulher: «a sexualidade caracteriza o homem e a mulher, não apenas no plano físico, mas também no psicológico e espiritual, marcando todas as suas expressões». Isto é, não se pode reduzir a sexualidade a um puro e insignificante dado biológico, mas, como nos diz a Igreja é «uma componente fundamental da personalidade, na sua maneira de ser, de se manifestar, de comunicar com os outros, de sentir, exprimir e viver o amor humano».

É importante entender que a resposta sexual não se limita ao comportamento sexual, mas a toda forma de sentir, pensar e desejar. Sexualidade envolve o homem total. Faz parte da constituição essencial da pessoa humana e é algo determinante, porque é a partir da sexualidade que nos relacionamos com o mundo.

Homens e mulheres pensam de forma diferente, agem de forma diferente, sentem de forma diferente. E como diz diácono Nelsinho Corrêa: "Diferenças não são barreiras, são riquezas". E isso é plena verdade. Homens e mulheres são diferentes porque são complementares, um não é melhor do que o outro. Homens e mulheres devem ser iguais no direito à oportunidade de desenvolver plenamente sua potencialidade, mas, definitivamente, não são idênticos na sua capacidade inata.

Ao mesmo tempo que a sexualidade é parte constitutiva da nossa essência, não se trata de algo pronto, mas que, como tudo em nós, precisa ser desenvolvido até o último dia de nossas vidas.

Quero falar especialmente para as mulheres e fazer-lhes um convite: não tenhamos medo de assumir a nossa essência, sendo cada dia mais femininas. Não gastem energia querendo e buscando ser melhores do que os homens, querendo e buscando provar o seu valor. Somos diferentes e cada um de nós tem valor e dignidade própria pelo simples fato de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus. Ser mulher é dom, é graça.

Uma coisa, no entanto, temos que entender: ser feminina e ser sensual são coisas distintas. Na sensualidade existe um contexto biológico. Especialmente no período fértil, nos sentimos mais bonitas, sentimos vontade de nos vestir e de nos arrumar melhor, e assim por diante. São reações hormonais que têm como objetivo a procriação, então, o corpo se prepara para conquistar o homem por estar pronto para gerar uma vida. Muitas vezes, agimos assim sem nos dar conta disso. Além disso, a nossa sociedade, que tanto banaliza a sexualidade humana, incentiva por todos os meios possíveis a sensualidade, e nisso há uma imensa indústria que visa apenas o lucro. Posso citar também o fato de que todo ser humano traz dentro de si um impulso natural para o prazer, e a sensualidade gera na mulher uma elevação na autoestima, a faz sentir-se mais bonita, mais "poderosa".

Por isso apresentei no início a visão da Igreja, para que possamos refletir sobre esse aspecto. Sexualidade não é algo apenas biológico, é bem mais do que isso. Quando nos deixamos levar por uma sexualidade sem sentido, como algo apenas biológico, o resultado quase sempre é o vazio. E a pessoa, geralmente, se torna prisioneira da sensualidade por uma necessidade de afirmação pessoal e, assim, o vazio tende a só aumentar.

É próprio da mulher o querer andar bem vestida, bem arrumada. Ser cristã não significa vestir-se de forma desleixada, por exemplo. Mas é ter consciência de que a verdadeira beleza vem do nosso interior. É ter consciência do nosso valor e dignidade de filhas de Deus e não nos deixar levar unicamente pelos sentidos, por nosso instinto sexual. Somos bem mais do que isso. Ser feminina não significa andar com roupas extremamente curtas, justas ou coisas semelhantes. Quanto mais o nosso exterior for um extravasamento do nosso interior, tanto mais bonitas e femininas seremos.

Com isso não estou negando a sexualidade nem a colocando como algo negativo, proibido. A nossa sexualidade faz parte do nosso ser, mas não somos apenas sexo. Nossa sexualidade, quando é vivida com dignidade, nos faz sentir plenos, completos, realizados.

O se deixar guiar e conduzir pela sensualidade, reflete, na maioria das vezes, a necessidade de afirmação pessoal, por um desconhecimento da beleza interior e até mesmo exterior que se tem. Muitas vezes, nos deixamos impregnar por uma imagem ideal: a transmitida pela mídia, mas que é uma beleza estereotipada, vazia.

Concluo reforçando o convite para todas as mulheres: não tenham medo de assumir a sua essência, e assim, ser cada dia mais femininas. Valorizem o dom que é ser mulher. Deixem fluir a beleza interior que vocês têm.

Foto Manuela Melo
psicologia@cancaonova.com

10 de dezembro de 2009

O caminho privilegiado do perdão

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Perdoar e se reconciliar é experimentar um pouco de Deus!

Pregar a reconciliação num mundo como o nosso, onde o rancor e a vingança vão ganhando espaço nos corações, é uma grande e difícil tarefa! Na maioria das vezes o gosto é amargo, mas não é impossível!

Reconciliação significa realizar um acordo entre as partes numa comum unidade e entendimento.

Porém, o verbo grego tem uma força de expressão maior: indica a passagem de um estado para outro. Apresento aqui duas formas de reconciliação: Com Deus e com os irmãos (pai, mãe, filhos, amigos, cônjuges, vizinhos…)

A reconciliação com Deus é sempre necessária e urgente. Reconciliar-se é deixar-se fazer novamente amigo de Deus! Experimentar a misericórdia de d'Ele, deixar que Ele exercite em nós a Sua misericórdia!

Na verdade, todos nós necessitamos de misericórdia. Necessitamos dela por causa das nossas grandes responsabilidades, assim como por causa da nossa fraqueza e miséria moral. Mal podemos dar três passos sem errar algum.

Aprendamos a usar o caminho privilegiado da reconciliação, que é o sacramento da confissão, como sinal sagrado instituído por Cristo para perdoar os pecados mortais e para incrementar a graça santificante. Também podemos falar a Deus quando nosso coração está pesado e sem motivação; quando estamos tristes ou preocupados.

São atos simples, que podem ser feitos em qualquer lugar e que mantêm a nossa alma orientada para Deus. Eles nos preparam para uma boa e sincera recepção do sacramento da Penitência.

A reconciliação com nossos irmãos também é essencial. É a oração do Pai-Nosso: "Perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".

Com certeza, não haveria verdadeira reconciliação com Deus se não houvesse um perdão sincero pelas faltas dos nossos próximos. Olhando para a Parábola do Filho Pródigo (cf. Lc 15, 1ss), a atitude do filho mais velho é altamente significativa. Ele também tinha necessidade de se reconciliar com o coração de seu pai. Apesar de estar fisicamente próximo, espiritualmente estava muito longe e precisava da misericórdia do Pai. Podemos dizer que o filho mais velho descobre a misericórdia do Pai vendo a misericórdia deste para com seu irmão. Faz-se, por assim dizer, participante da misericórdia do Pai.

Se hoje você enfrenta este grande desafio interior de perdoar, creia e dê o passo. Perdoar e se reconciliar é experimentar um pouco de Deus! Sentir o gosto bom da presença d'Ele em nós! É a sensação de vitória, de bem-estar por ter vencido um obstáculo…É vivência de uma obra nova dentro de nós!

Tenha a disposição interior de perdoar e depois disso dê um passo, faça um gesto concreto. Perdoar é libertação para o coração, para a alma. Não tenha medo!

Paulo Vitor
http://blog.cancaonova.com/paulovictor/

8 de dezembro de 2009

Casais que não conseguem ter filhos

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O que a Igreja ensina nesses casos

Muitos casais, infelizmente, não conseguem ter filhos por alguma causa de infertilidade do marido ou da esposa. Sabemos que é grande esse sofrimento:

"Que me darás?", pergunta Abrão a Deus. "Continuo sem filho..." (cf. Gn 15,2). "Faze-me ter filhos também, ou eu morro", disse Raquel a seu marido Jacó (cf. Gn 30,1).

Mas esses casais não devem desanimar; a Igreja recomenda que valorizem o seu matrimônio. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) lhes ensina:

"Os esposos a quem Deus não concedeu ter filhos podem, no entanto, ter uma vida conjugal cheia de sentido, humana e cristãmente. Seu Matrimônio pode irradiar uma fecundidade de caridade, acolhimento e sacrifício" (CIC § 1654).

Esses casais podem e devem buscar os legítimos recursos da medicina para conseguir os filhos desejados. A Igreja ensina que:

"As pesquisas que visam a diminuir a esterilidade humana devem ser estimuladas, sob a condição de serem colocadas 'a serviço da pessoa humana, de seus direitos inalienáveis, de seu bem verdadeiro e integral, de acordo com o projeto e a vontade de Deus'" (Instrução Donum vitae, CDF, intr. 2).

A Igreja não aceita a inseminação artificial, nem homóloga nem heteróloga. E ela expõe as razões disso:

"As técnicas que provocam uma dissociação do parentesco, pela intervenção de uma pessoa estranha ao casal (doação de esperma ou de óvulo, empréstimo de útero), são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificiais heterólogas) lesam o direito da criança de nascer de um pai e uma mãe conhecidos dela e ligados entre si pelo casamento. Elas traem "o direito exclusivo de se tornar pai e mãe somente um por meio do outro" (CIC § 2376).

"Praticadas entre o casal, estas técnicas (inseminação e fecundação artificiais homólogas) são talvez menos claras a um juízo imediato, mas continuam moralmente inaceitáveis. Dissociam o ato sexual do ato procriador. O ato fundante da existência dos filhos já não é um ato pelo qual duas pessoas se doam uma à outra, mas um ato que remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos, e instaura um domínio da técnica sobre a origem e a destinação da pessoa humana. Tal relação de dominação é por si contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos". "A procriação é moralmente privada de sua perfeição própria quando não é querida como o fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos... Somente o respeito ao vínculo que existe entre os significados do ato conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação de acordo com a dignidade da pessoa" (§2377).

A Igreja aproveita esse assunto, para nos lembrar que ninguém tem o direito a um filho.

"O filho não é algo devido, mas um dom. O "dom mais excelente do matrimônio" e uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado corno objeto de propriedade, a que conduziria o reconhecimento de um pretenso "direito ao filho". Nesse campo, somente o filho possui verdadeiros direitos: o "de ser o fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção" (CIC § 2378).

Por fim, a Igreja recomenda aos casais inférteis unirem o seu sofrimento, corajosamente, à cruz de Cristo.

"O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de terem esgotado os recursos legítimos da medicina, sofrerem de infertilidade unir-se-ão à Cruz do Senhor, fonte de toda fecundidade espiritual. Podem mostrar sua generosidade adotando crianças desamparadas ou prestando relevantes serviços em favor do próximo" (CIC § 2379).

Nossa fé nos ensina que só os egoístas desperdiçam a vida; portanto, mesmo que os casais inférteis não possam ter seus filhos naturais, poderão ter seus filhos "do coração"; que não deixam de ser menos filhos. Quantos filhos adotados dão mais alegria a seus pais que os filhos naturais! Jesus não teve um pai natural na terra; mas teve um grande pai adotivo: São José.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

3 de dezembro de 2009

Como retomar a vida de oração?

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Cuidado para não buscar alimentos e remédios errados

A oração é o oxigênio da alma. "Para mim a oração é um impulso do coração, é um olhar dirigido ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria" (Santa Teresinha do Menino Jesus).

Então, vamos começar pela oração, nós precisamos orar, rezar, conversar com Deus sempre, como nos ensinou Jesus, que orava sem cessar buscando ocasiões para entrar em profunda intimidade com o Pai. Reze com o que está no seu coração, quer seja bom ou ruim, pois na oração nada se perde, tudo se transforma em matéria-prima para Deus, que nos ama, realizar o milagre de que necessitamos. "Tudo pode ser mudado pelo poder da Oração".

Por isso, escolha todos os dias um horário para fazer sua oração pessoal ou ore o dia todo fazendo o que estiver fazendo; é a oração ao ritmo da nossa vida. Isso nos coloca o tempo todo na presença do Senhor, alimento forte e substancioso. É necessário que essa prática seja fiel e perseverante para se tornar uma coisa normal e habitual em nossa vida, como se alimentar todo dia e várias vezes por dia. A oração com a Palavra de Deus nos manterá de pé e reconheceremos melhor o Senhor e Sua promessa de salvação; Sua Palavra forma nossa mentalidade nos moldes do Reino de Deus.

A Eucaristia, a Santa Missa é o alimento mais forte, pois comungamos o próprio Jesus, nossa vida. Muitas vezes, trabalhamos demais, temos tempo para tudo, para o lazer, para conversar, ver televisão, passear no shopping, mas para parar um pouquinho para repor as "energias" espirituais não damos muita importância. Por isso, existem pessoas morrendo no pecado e numa vida vazia, pois estão "anêmicas" de Deus, com anemia espiritual. Nessa hora, é preciso buscar a ajuda certa, como fez aquela senhora: buscou no Sacramento da Confissão o diagnóstico e o remédio para ser curada e liberta do males da alma.

Cuidado para não buscar alimentos e remédios em falsas doutrinas. Eles são como um alimento falso, que não resolve, pode ser até um paliativo, que engana, mas não cura e pode até levar à morte. Você vai perdendo energia e sangue sem perceber, como nos diz São Paulo: "Enfim fortalecei-vos no Senhor, no poder de sua força, revesti-vos da armadura de Deus, pra que possais resistir às ciladas do diabo. Pois nossa luta não é contra homens de carne e sangue, mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos espalhados pelos ares. Por isso, protegei-vos com a armadura de Deus" (cf. Efésios 6, 10-13). Neste caso, o melhor é buscar uma direção espiritual, um sacerdote ou uma pessoa mais madura na fé de sua comunidade para ouvi-lo e rezar por você, pois alimento ou medicamento errado pode matar.

Sem disciplina não se chega a lugar nenhum em tudo que a gente se propõe fazer, quer seja no trabalho, quer seja nos estudos e também na vida de oração: "Sem disciplina não há santidade".

Portanto, o primeiro passo é começar a rezar, reconhecer que está com anemia espiritual e acreditar que acima de tudo Deus me ama e me espera de braços abertos na confissão, na Eucaristia, no grupo de oração, na partilha, na direção espiritual e no simples terço com Maria. Deus me vê, não é indiferente à minha dor, Deus me entende, quer me envolver de amor.

Rezemos juntos: Pai santo, Pai amado, livrai-me de toda doença espiritual, psicológica ou física e derramai sobre mim o Vosso Espírito Santo, para encher-me de força e de vida, para me ensinar a rezar, vem e curai-me, libertai-me, pois eu quero viver. Dai-me o dom da fortaleza, para me libertar de toda tibieza, abatimento, sentimento de derrota e frieza espiritual, quero vencer através da oração e do louvor. Amém.

Conte sempre com minhas orações.

blog.cancaonova.com/padreluizinho

Pe. Luizinho - Comunidade Canção Nova

30 de novembro de 2009

Advento, o tempo da esperança

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O tempo favorável para a preparação do nosso coração

O Ano Litúrgico gira em torno das duas grandes festas do mistério de nossa salvação: o Natal e a Páscoa. A fim de nos prepararmos bem para essas duas solenidades de máxima importância, a Santa Igreja, com seu amor de mãe e sua sabedoria de mestra, instituiu o Advento, que nos predispõe para o Natal e a Quaresma, que nos prepara para a Páscoa. Praticamente um mês e meio de Advento-Natal e três meses de Quaresma-Páscoa. O tempo chamado "Comum", durante o ano, ajuda-nos a caminhar com a Igreja nas estradas da história, iluminados por esses mistérios de nossa fé e conduzidos pelo Espírito Santo.

Iniciamos o tempo do Advento, que assinala também o início de um novo Ano Litúrgico. Proclamaremos, aos domingos principalmente, o Evangelho de Lucas. Um novo ano que queremos que seja um aprofundamento de nossa vida cristã na história como discípulos missionários. Iniciamos com a expectativa da vinda do Messias até o anúncio que o Senhor Jesus é Rei.

Neste tempo é que a Igreja nos incentiva a colaborar com a Coleta pela Evangelização no terceiro domingo do Advento, preparada nos domingos anteriores. É a nossa corresponsabilidade de levar adiante a encarnação da Boa Notícia no tempo que chamamos hoje. O tema deste ano: "Ele se fez pobre para nos enriquecer", já aponta para as reflexões que iremos ter durante a próxima Quaresma, pois a Iniciamos o tempo do Campanha da Fraternidade de 2010 falará sobre economia.

No decurso dos quatro domingos do Advento, o povo cristão é convidado para preparar os caminhos para a vinda do Rei da Paz. O Cristo Senhor, que há dois mil anos nasceu como homem numa manjedoura em Belém da Judéia, deseja ardentemente nascer em nossos corações, conforme as santas palavras da Escritura: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo" (Ap 3, 20).

No Advento temos a oportunidade de nos aprofundar na expectativa do "Senhor que virá para julgar os vivos e os mortos" e na semana que antecede a festa natalina a preparação próxima para celebrar o "Senhor que nasceu pobre no Oriente". Entre essas duas vindas, o cristão celebra, a cada dia, o seu coração que se abre para o "Senhor que vem" em sua vida e renova a sua existência.

Celebrar o Natal é reconhecer que "Deus visitou o seu povo" (cf. Lc 7, 16). Tal reconhecimento não se pode efetivar somente com nossas palavras. A visita de Deus quer atingir o nosso coração e transformar-nos desde dentro. A tão desejada transformação do mundo, a superação da fome, a vitória da paz e a efetiva fraternidade entre os homens dependem, na verdade, da renovação dos corações. Somos convidados, em primeiro lugar, a aprender a "estar com Jesus", e então nossa vida em sociedade verá nascer o Sol da Justiça. Nesse sentido, o Santo Padre Bento XVI chamou a atenção para a relevância social da comunhão pessoal com Cristo: "O fato de estarmos em comunhão com Jesus Cristo envolve-nos no seu ser « para todos », fazendo disso o nosso modo de ser. Ele compromete-nos a ser para os outros, mas só na comunhão com Ele é que se torna possível sermos verdadeiramente para os outros, para a comunidade" (Carta encíclica Spe Salvi, n. 28).

Enquanto todos se voltam para o lucro comercial neste tempo que antecede o Natal, os católicos se preparam para que em seu coração haja espaço para o Verbo Encarnado, que veio para salvar a todos. O festival de presépios feitos por artistas e espalhados pela cidade e os presépios das paróquias querem ajudar a cidade a ter um novo olhar e a repensar sobre o que exatamente celebramos no Natal. Dependerão do encontro com "Ele" as mudanças sonhadas para a sociedade hodierna!

O Advento constitui precisamente o tempo favorável para a preparação do nosso coração. Deixemo-nos transformar por Cristo, que mais uma vez quer nascer em nossa vida neste Natal. Celebrar bem a solenidade do Natal do Senhor requer que saibamos apresentar a Deus um coração bem disposto, pois "não desprezas, ó Deus, um coração contrito e humilhado" (Sl 51, 19). Um coração que busca com sinceridade a conversão é fonte de inestimável comunhão com o Senhor e com os irmãos. Por isso mesmo, a oportunidade das celebrações penitenciais se multiplicam pelas paróquias, dando a todos a oportunidade de uma renovação interior. Neste tempo de Advento não tenhamos medo de Cristo. "Ele não tira nada, Ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira" (Bento XVI, homilia da Missa de início do ministério petrino, 24/4/2005).

Como servidor do rebanho de Cristo que me foi confiado, não poderia deixar de insistir nisso: a vida verdadeira, que todos desejamos, só o Amor no-la pode dar. "O ser humano necessita do amor incondicional. Precisa daquela certeza que o faz exclamar: « Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor » (Rom 8,38-39)" (Carta encíclica Spe Salvi, n. 26).

Que o tempo do Advento predisponha nossos corações a acolher com intensidade o "Amor que move o sol e as outras estrelas" (Dante, Divina Comédia, Paraíso, XXXIII, 145), e que, por pura bondade, manifestou-se com inigualável força no nascimento do frágil Menino de Belém para também mover com suavidade e força a nossa vontade para o Bem.

Dom Orani João Tempesta