19 de novembro de 2009

Padre, delicadeza do Coração de Jesus

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Evangelizando com a alegria da Páscoa e a coragem de Pentecostes

Antes de tudo, caro (a) leitor (a), quero dizer-lhe que o sacerdote existe porque Deus ama você. O padre é ponte entre Deus e o povo. A palavra "padre" quer dizer "pai". Sim, pai da comunidade, amigo de Jesus, irmão dos seus colegas padres, diácono do povo. A todos os padres nossos cumprimentos, parabéns e agradecimentos. Se o Papa João Paulo já pediu 94 perdões em seu pontificado, não tenho nenhuma dificuldade em pedir perdão e perdoar nossos padres. Eles não precisam tanto dos nossos elogios, mas da nossa compreensão e colaboração. Sem eles, os bispos nada são, dizia um bispo francês no Concílio Vaticano II.

Que você padre seja o melhor audiovisual do amor do Pai, especialmente para os mais pequeninos. No dia de sua ordenação o bispo rezou para você "carregar o fardo do povo". É a vocação do "padre-Cirineu", um padre carregador de fardos, um "padre povoado". Todos sabemos que a ordenação não suprime as fragilidades e limitações do ordenado. O sacerdote continua após a ordenação sob o peso da fragilidade humana, mas a graça sacramental o sustenta e o torna imagem do Bom Pastor, que dá a vida pelo rebanho. O padre não deve esquecer que ele é um "médico ferido" diz B. Haring. Mas, pela oração, a fraqueza humana se transforma em força. Carregamos o mistério em vasos de barro (cf. IICor 4, 7).

Deus deposita em seus padres um voto de confiança. Por isso os presbíteros serão os primeiros a carregar a tocha da luz, da vida e do calor que emanam do coração de Deus, rumo ao novo milênio. Sejamos homens de esperança e de alegria, sabendo que a inautenticidade prejudica a fé do rebanho. O padre não pode viver uma heresia vital, dizer uma coisa e fazer outra. O mundo hoje, não acredita nos mestres mas nas testemunhas.

O padre é um "homem matinal", profeta da vida, peregrino em busca da verdade, pois dos lábios do sacerdote esperamos a ciência. Homem caminhante, homem sempre em partida, "homem exodal" que vai ao encontro dos fiéis, evangelizando com a "alegria da Páscoa e a coragem de Pentecostes", construindo a sociedade nova. O padre constrói mais pelo que ele é, do que pelo que faz.

Em nossos dias a pessoa do padre é muito controvertida. Para uns, o sacerdote é um anjo, para outros um demônio. Nem anjos nem demônios, nossos padres são pessoas humanas nas quais Deus apostou e mesmo quando estes erram Deus não os desautoriza, mas, em Seu amor sempre fiel, continua apostando na conversão de seus escolhidos. Bem escreveu São Francisco de Assis: "Quero temer, honrar e amar os sacerdotes como meus senhores, pois neles está o Filho de Deus. Não levo em consideração os seus pecados porque reconheço neles o Filho de Deus e eles são os meus senhores."

O padre é uma delicadeza do Coração de Jesus. "Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração" (Jo 3, 15). Nossos sacerdotes não precisam tanto de nossos elogios, mas do nosso perdão, da nossa compreensão e colaboração. O padre é uma invenção do amor trinitário em favor do povo. Você criança, você jovem, você adulto ouça a voz de Deus que o chama para a vocação. Ser padre não é uma dignidade só para os santos e justos, nem é uma degradação para quem não alcançou outros ideais na vida. O padre é um pai, um pastor, um profeta, um homem de Deus e se você conhece padres que não são assim, ajude-os a serem fiéis, porque o padre não existe para si, mas para o povo.

O apóstolo Paulo define o sacerdote como "administrador dos mistérios de Deus" (I Cor. 4, 1), mas é em "vaso de argila" que ele carrega esta dignidade e responsabilidade. Não é pois a pessoa humana do padre que nos encanta e inquieta, mas a missão que lhe foi confiada. Ser padre não é uma honra, mas uma responsabilidade. O padre é uma chave que abre o acesso a Deus, é uma escada que conduz ao céu, é um sinalizador do amor de Deus, é uma ponte que liga o céu e a terra. Em nossos dias a Igreja deseja padres animadores de comunidades, comprometidos com a causa dos excluídos, construtores de uma sociedade nova, justa e fraterna, lugar do reino de Deus.

fonte: CNBB

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina - PR

16 de novembro de 2009

O poder de um super-homem

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O apoio o faz sentir-se convicto de seus propósitos

No convívio do nosso dia-a-dia percebemos que, ao contrário das mulheres, são poucos os homens que se dispõem a elogiar o desempenho ou a atitude de um colega de trabalho. Quando estes ousam reconhecer o feito do outro, quase sempre se limitam a fazê-lo por meio de poucas palavras, tais como: "Parabéns!" ou "Foi um bom trabalho!". Talvez resistam tanto em consequência de uma disputa inconsciente e ainda primitiva – herança de seus ancestrais – disputa esta que os obrigava a garantir a supremacia dentro de seu grupo. Ao depararem com um amigo que se encontra aborrecido com alguma coisa, também reagem de maneira superficial com as palavras. Eles mal se oferecem para escutar o companheiro, mas, tentam ajudá-lo com uma outra atitude na tentativa de desviar a preocupação do colega a respeito do problema

A decisão e a responsabilidade de cuidarem de todas as necessidades da casa como provedores, de dirigirem e gerenciarem seus empreendimentos, geralmente recaem sobre eles. Na vida familiar, diante de um impasse, quase sempre, ficará por conta do homem da casa o "Voto de Minerva". Mas nem por isso essa atitude deve torná-lo alguém absolutista! A flexibilidade para acolher a derrota é ainda um exercício a ser aprendido ou, quem sabe, mais bem trabalhado por esses aspirantes a "super-homens".

Embora manifestem autoconfiança, senso de proteção e austeridade, ao vivenciarem suas falhas e limitações o mundo parece ruir sobre suas cabeças. Diante dos acontecimentos malsucedidos, quando se sentem esmorecidos pelas circunstâncias, a grande maioria dos homens raramente se dispõe a partilhar suas dificuldades. Muitos preferem tentar encontrar a solução de seus problemas por conta própria. Uma simples mudança de planos parece mudar toda a ordem e o equilíbrio natural do universo masculino. Basta que alguma coisa aconteça fora do que havia sido anteriormente planejado para que a autoestima destes caia por terra. O estresse e o medo de se sentir perdedor afligem, com grande facilidade, boa parte da população masculina.

Que palavras poderiam fazer um homem se sentir melhor diante do envolvimento numa leve colisão no trânsito? Ninguém é perfeito o bastante, tampouco está livre dos contratempos impostos pela vida. Embora, nessa circunstância, ele possa se sentir o pior dos motoristas, a imprudência momentânea no volante não o destitui de suas capacidades.

Diante da derrota, não importa se se é um grande empresário ou um modesto pai de família desempregado, muitos homens enveredam pelos caminhos da depressão ao reconhecerem que não eram tão bons quanto pensavam para um determinado empreendimento.

Todas as mudanças são possíveis ao ser humano quando estas acontecem por meio da valorização daquilo que trazemos como positivo.

Assim, cabe às mulheres perceberem que as boas palavras e o voto de confiança manifestados a eles agem tal como adrenalina e parecem ajudar a reafirmá-los naquilo que buscam ser. O apreço às suas capacidades de reação diante dos embates e às suas conquistas, ainda que pequenas, tem o poder de reanimar seus espíritos. Esses estímulos podem ser expressos por meio das recordações de acontecimentos anteriores que também lhes pareciam intransponíveis, contudo, foram superados.

Alguns homens, mesmo sabendo do poder robustecedor de um elogio, ainda relutam em assimilar uma palavra estimuladora diante de suas falhas e dificuldades. Para uma parcela desse grupo, tem-se a impressão de que se deixar acolher por gestos mais sensíveis lhes tiraria um pouco do seu "ser homem". Há outros que, embora gostem de ser reconhecidos, se sentem meio desconcertados e encabulam-se quando recebem tal manifestação de afeto.

Não há poder maior de revitalização para os homens do que perceber o apoio incondicional daqueles pelos quais são responsáveis. Isso os faz se sentirem mais fortes e convictos de seus propósitos.

Se há confiança e aprovação naquilo que estão empreendendo, seja na idealização de um novo sonho ou na realização de um novo projeto, os laços existentes dentro de seus relacionamentos tendem a se fortalecer. Consequentemente, o crescimento não deixará de acontecer, tanto em relação àquilo que diz respeito ao seu lado profissional como em relação às mudanças necessárias para o crescimento da vida do casal. Ainda que possam parecer "durões", esses super-homens adquirem poderes especiais quando experimentam a sensação de não enfrentarem sozinhos os desafios.

Deus abençoe a todos.

Um abraço,

Foto Dado Moura
contato@dadomoura.com

13 de novembro de 2009

Coragem, a força do coração

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Nossos medos podem nos paralisar

Gostaria de começar este artigo cantando uma música da Irmã Clenda, que a Adriana gravou em um de seus Cds:

Porque tenho medo se nada é impossível para ti / porque tenho medo se nada é impossível para ti?Nada é impossível para ti / nada é impossível para ti /Venceste a morte, pois nada é impossível para ti/Venceste a morte, pois nada é impossível para ti?Nada é impossível para ti / Nada é impossível para ti...

Essa música animou o meu ouvido hoje de manhã ao ouvir o Evangelho da tempestade acalmada por Jesus: "Soprava um vento forte e o mar estava agitado..." (João 6,18). Apesar de serem pescadores e de terem anos de experiência no mar, principalmente, pescando à noite, eles tiveram medo. Diz o Evangelho que eles remaram uns cinco quilômetros, ou seja, não estavam muito longe da praia. Mas do que será que os Apóstolos de Jesus tinham medo? Por que era noite ou por que o vento agitava o barco e eles temiam morrer? Acredito que a maior tempestade estava no interior deles, e era essa agitação que Cristo queria acalmar. O Senhor quer acalmar os corações, porque o medo é uma ameaça que começa a destruir por dentro, mesmo que haja situações muito concretas no exterior, o medo nos destrói de dentro para fora.

Quantas situações nos aprisionam as mãos e os pés, colocando em nossas mãos algemas e nos pés correntes, mas quando isso acontece é porque o nosso coração já está cativo, a aparente calmaria externa pode revelar um turbilhão de tempestade dentro de nós e enquanto não fizermos como Pedro: estendermos nossa mão para dizer: "Senhor, socorra-me, estou perecendo". Pois o medo tem a capacidade de nos paralisar; esse mal é a prisão do coração. E quem vive com medo não caminha, anda se esbarrando nas esquinas dos seus sentimentos e tenta completar-se no vazio dos seus sentimentos e dos outros. Quando temos medo de perder, somos aprisionados pelo sentimento de posse, pois onde há temor não há amor verdadeiro.

Quando temos muito medo de morrer é porque ainda não sabemos viver bem a vida; ou quando vivemos com medo de doenças, não experimentamos ainda o sabor de uma vida saudável. Da mesma forma, quando sentimos medo de nós mesmos, do que seremos capazes de fazer, é porque ainda não nos possuímos, porque não nos conhecemos o suficiente para respeitar os nossos limites e fraquezas. Quanto mais eu me conhecer, tanto menos medo eu terei de mim e daquilo que eu vou encontrar nos lugares escuros do meu interior. Quando temos medo dos outros, das pessoas, talvez ainda não experimentemos o verdadeiro amor por alguém e a capacidade de liberdade que o amor é capaz de nos dar. "O amor lança fora todo temor".

Mas Jesus diz: "Sou eu. Não tenhais medo". Aqui o Senhor revela para nós que a coragem, a força do coração, é capaz de mudar o exterior, mas principalmente nos libertar dos labirintos do temor, da escravidão de nós mesmos, dos outros e das coisas. Pois Deus nos criou para sermos livres e vivermos em busca do desconhecido; a força que existe dentro de nós, que se chama Deus, mas que é muito maior do que nós. "Eu te buscava fora e estavas dentro de mim" dizia Santo Agostinho sobre essa força, essa graça de felicidade e vida, que está dentro de cada ser humano, a coragem, a força de Deus, que vence todo medo.

Agora é preciso remar para dentro de mim e de DEUS, onde eu encontrarei a calmaria do conhecimento e da verdade. Aí eu serei livre, livre de todos os medos. De onde eu ouvirei duplamente essa voz de dentro de mim e do coração de Deus: "Sou eu. Não tenhais medo!".

Minha bênção fraterna.

Padre Luizinho - Comunidade Canção Nova

9 de novembro de 2009

O Evangelho precisa nos transformar

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A palavra profética tem o poder de acordar os surdos

É tão fácil a gente cair na religião do mito. O tempo todo Jesus já nos alertava sobre o risco aos ídolos, pois a idolatria é um dos principais problemas religiosos no mundo. Esse é um risco que todos nós corremos, quando a nossa admiração por alguém ou por uma pessoa se torna essencial, colocada acima, em termos de importância, d'Aquele a quem anunciamos. Decepcione-se comigo, mas que a sua decepção comigo não seja uma decepção com Aquele a quem eu anuncio.

Temos de viver uma religião que seja capaz de mexer com as estruturas da nossa consciência a ponto de nos fazer acordar para tudo aquilo para o qual nós dormíamos e não sabíamos que existia dentro de nós. Já estávamos inconscientes e acostumados com o nosso jeito ciumento de amar, com nosso jeito ciumento de possuir as pessoas, achando que isso era amor. Muitos de nós já éramos desonestos nas pequenas coisas e já estávamos acostumados com isso também. Até que um dia uma palavra profética varou as estruturas da nossa vida e nos incomodou.

Uma palavra profética tem o poder de acordar os surdos e aqueles que estão dormindo e que já não escutam mais nada, num sono letárgico ou até mesmo num cumprimento de rituais inférteis, que já não servem de nada para a nossa salvação.

É a continuidade da Santa Missa que nos salva, é a história que fica diferente em cada comunhão comungada, em cada mesa partilhada, em cada confissão realizada, é o que se segue a partir daí que nos salva. O sacramento não é a mágica de um momento, mas é a continuidade da vida que vai sendo incorporada, porque o sacramento aconteceu em nós.

É disso que Jesus fala: "Não venha me dizer o que você fazia antes, não me importa o que você fazia. Importa-me o que você era. O que faz diferença para mim é o quanto a minha Palavra conseguiu transformar o seu coração a ponto de transformá-lo numa pessoa melhor". De você olhar para trás e dizer: "Antes eu era assim, e pela força da Eucaristia, do Evangelho, do terço, eu mudei" – todas as manifestações religiosas que você pode ter e viver. Você percebe que a sua vida não é mais a mesma, porque você mudou o seu jeito de pensar, modificou o seu jeito de ser.

Humanidade é isto: é trazer a luz do Ressuscitado para nós e ver que há muito para ser limpo em nosso interior. O anúncio do Evangelho é para aprendermos que não temos de ficar com as nossas poeiras e impurezas. A religião que Jesus quer de nós é esta: que fixemos os olhos no céu, que busquemos o céu. Religião que só nos mostra a cruz é uma religião infértil, porque eu não sou filho do Calvário; eu sou filho do Ressuscitado! E quem eu anuncio sempre é o Ressuscitado.

Você não pode ficar parado no "calvário da sua vida"; todos nós passamos todos os dias por ele. Você acha que a gente vai ser santo sem sacrifício? A semente passa por todo um processo de crescimento, mas ela sabe que se não deixar de ser o que é, não atingirá seu objetivo.

A dor é o preparo. A sua dor não pode ser em vão. O que você faz com o seu sofrimento? Faz um quadro? Faz música? A genialidade está em transformar a lata velha em ouro. Ou a dor me destrói ou eu a transformo em processo de ressurreição.

Nossa vida é um desafio diário e não há tréguas. É um "lapidar" constante, tirando tudo o que é excesso em nós. Se eu não tivesse sofrido do jeito que sofri, se eu não tivesse amado do jeito que amei, eu não teria nada para contar a vocês.

Não sinta vergonha de nada que você sofreu, porque depois que passou por aquele momento, você sabe o que você sofreu para chegar aonde chegou.

Foto Padre Fábio de Melo

5 de novembro de 2009

Mais íntimo do que o “eu”

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Em coisas evidentes nós temos certeza absoluta

O Deus inefável realiza o ser humano. Não realiza da mesma forma o animal, porque nele nada existe que possa perceber o transcendental. Eis o motivo pelo qual os animais não são religiosos. Até a cabeça deles (voltada para baixo) indica que suas ocupações são terrestres. Mas o "homo sapiens" percebe o Ser por excelência. Seu conhecimento é a partir da inteligência. "Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós" (Tg 4,8). Sua cabeça é ereta (aberta para as coisas do alto). Nesta situação terrestre, a inteligência é a única forma normal de conhecer o Criador. Mas não é um conhecimento evidente, como percebemos, sem sombra de dúvidas, que o boi anda e a andorinha voa. Quando nos voltamos a Deus, a par de nossas certezas, sempre sobra alguma coisa mal explicada, alguma dúvida. Caso contrário, acabaria a fé. Em coisas evidentes nós temos certeza absoluta. Não podemos depositar fé. Só podemos crer, por um ato livre de vontade, em coisas ou pessoas que não conhecemos pela evidência dos sentidos.

Um prócer da literatura mundial, português, com enorme desdém, exclama que Deus só existe na cabeça das pessoas. Ainda bem que nos sentimos honrados com isso. Pois a nossa fé no Eterno, realmente provém da iluminação da inteligência. Agora, o ateísmo vem do coração (das paixões, da rebeldia). A descrença não vem de argumentos da inteligência. Os enganadores argumentos contra o Ser Supremo são uma ginástica posterior à decisão de não querer crer. O reconhecimento do único ser necessário, como todos podem sentir, se enquadra perfeitamente na nossa psicologia. Ele é o convexo que se encaixa no nosso côncavo. Encontra-se no centro do nosso "eu". É a resposta para nossos anseios mais profundos. "Por ti, ó Deus, suspira a minha alma" (Sl 42, 1). Mesmo a organização social, para não ser um tortura de erros, deve derivar dos princípios do Autor de nossa natureza. A humanidade tem o direito de elaborar as leis sociais, de organizar a justiça da boa convivência. Ela tem o dever de descobrir o sentido da nossa existência. Mas seu coração não deve perder, por um momento, a sintonia com o Criador, que sabe para que finalidade nos criou. Caso contrário daremos "magni passus, sed extra viam". Executaremos largos passos, mas fora do caminho (Santo Agostinho).

Dom Aloisio Roque Oppermann

3 de novembro de 2009

Filhos tornam o casamento mais feliz

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A tarefa fundamental da família é o serviço à vida

Isso é o que prova uma pesquisa feita por cientistas de Glasgow, no Reino Unido

O que deixa você feliz - pensar no sorriso do seu filho, passar horas

brincando com ele ou vendo aquele DVD no sofá pela 10ª vez? Pois uma

pesquisa realizada em na Universidade de Glasgow, no Reino Unido, acaba de comprovar: casais que têm filhos são mais felizes. E quanto maior o número de filhos, maior é a satisfação.

O coordenador da pesquisa, Luis Angeles, acredita que o resultado é simples de entender: quando responderam sobre as coisas mais importantes de suas vidas, a maioria das pessoas casadas colocou os filhos no topo da lista. E a influência das crianças na satisfação dos pais está relacionada à maneira com que a família passa as horas de lazer e a satisfação da família com a vida social. Confirma-se o ensinamento de Deus e da Igreja:

 

"A tarefa  fundamental da família é o serviço à vida. É realizar, através da história, a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela geração de homem a homem.  Fecundidade é o fruto e o sinal do amor conjugal, o testemunho vivo da plena doação recíproca dos esposos" (Familiaris Consortio, 28).

"O amor conjugal deve ser plenamente humano, exclusivo e aberto à nova vida" (GS, 50; HV, 11; FC, 29).

"Vede, os filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas.  

Tais como as flechas nas mãos do guerreiro, assim são os filhos gerados na juventude.  

Feliz o homem que assim encheu sua aljava: não será confundido quando defender a sua causa contra seus inimigos à porta da cidade".  (Sl 126,3-5)

"A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais". (Cat.§ 2373).

 "Os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e constituem um benefício máximo para os próprios pais" (§ 2378).

O Papa João Paulo II disse: 

"Alguns perguntam-se se viver é bom ou se não teria sido melhor nem sequer ter nascido. Duvidam, portanto, da liceidade de chamar outros à vida, que talvez amaldiçoarão a sua existência num mundo cruel, cujos temores nem sequer são previsíveis. Outros pensam que são os únicos destinatários da técnica e excluem os demais, impondo-lhes meios contraceptivos ou técnicas ainda piores.

"Nasceu assim uma mentalidade contra a vida (anti-life mentality), como emerge de muitas questões atuais: pense-se, por exemplo, num certo pânico derivado dos estudos dos ecólogos e dos futurólogos sobre a demografia, que exageram, às vezes, o perigo do incremento demográfico para a qualidade da vida.

"Mas a Igreja crê firmemente que a vida humana, mesmo se débil e com sofrimento, é sempre um esplêndido dom do Deus da bondade. Contra o pessimismo e o egoísmo que obscurecem o mundo, a Igreja está do lado da vida" (Familiaris Consórtio, 30).

"Naõ tenham medo da vida". (João Paulo II)

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

29 de outubro de 2009

O Individualismo

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Os conflitos da independência começam em casa

Hoje confundimos pessoa, indivíduo, personalismo e individualismo. Nossa cultura está marcada pela supremacia do individualismo em detrimento do altruísmo e do personalismo. O outro, o próximo, o semelhante, o irmão, o diferente, o necessitado são colocados em segundo lugar e até descartados. O individualismo globalizado se expressa na absolutização do ter, do poder e do prazer. Os outros são perdedores, descartáveis, sobrantes, excluídos. Vejamos alguns aspectos do individualismo:

1. A arbitrariedade. O individualismo se manifesta na arbitrariedade que é uma atitude de poder, de julgamento, de superioridade, centralidade e dominação. Quando a arbitrariedade significa desobediência, rebeldia, orgulho, entram em crise valores éticos, religiosos, sociais e a justificação dos interesses pessoais, caem as instituições, a objetividade, o bom senso e o respeito pela verdade.

2. O bem material. A pessoa individualista desvaloriza o bem comum, a justiça social, a compaixão. O dinheiro, a ambição, a ganância, o lucro é o que interessa. O "ter mais" vence o "ser mais". Cresce a indiferença pelo outro. A competição, a corrupção, a concentração dos bens aumenta a desigualdade social. Quem cai no individualismo torna-se insensível, cego, escravo de cálculos e ambições. Não se pergunta se os outros estão bem e não se interessa em ser bom para os outros.

3. A satisfação erótica. O erotismo é filho legítimo do egoísmo individualista, do amor desordenado de si mesmo, do prazer imediato e sem compromisso que, hoje, se caracteriza pela orgasmomania e orgasmolatria, balbúrdia sexual. O machismo tem muito de egoísmo e erotismo. Acontece no erotismo a centralização do ego e a subjugação do outro, afirmação de si e a negação do outro. A espiral do erotismo abre as portas ao alcoolismo, às drogas e ao vazio existencial.

4. A legitimação dos desejos. O consumismo, através da propaganda, trabalha com os desejos. Ora cria desejos, ora os aguça. Somos escravos de desejos desordenados. O mercado excita os desejos das crianças, jovens e adultos e os legitima como felicidade, bem-estar, autorrealização e autoprojeção. Promete mundos maravilhosos, messiânicos, efêmeros e eficazes. A vida é vivida como um espetáculo, uma satisfação de desejos, sensações e curtições.

5. A imposição dos direitos individuais. Eu quero, eu sei, eu desejo, eu tenho direito, eu decido, eu mando. É a defesa arbitrária de direitos individuais sem compromisso ético, religioso, jurídico, social. Não podemos ser prisioneiros das modas do momento e ferir a verdade, o bem e a justiça; defendendo direitos individuais de modo arbitrário como o aborto, a eutanásia, a clonagem etc. Quem quer ser o único produtor de si mesmo acaba degradando-se.

6. A autossuficiência. Consiste em viver sem Deus, sem mandamentos, sem família, sem matrimônio e sem a comunhão com os outros e os valores objetivos. É a indiferença pelos outros, pelas instituições, pelas normas, num narcisismo sem limites. O autossuficiente é folgado, agressivo, independente, onipotente com grande risco de tornar-se delinquente.

7. A independência. O individualismo é egolatria, autonomia, solidão, rebeldia. Os conflitos da independência começam em casa, no namoro, na escola e no estilo de vida liberal, independente, permissivo. A pessoa pautada pela independência, assume atitudes de arrogância, arbritariedade, indiferença, antipatia e agressividade. Chega a ser antissocial e contestadora das realidades objetivas da vida.

8. O egoísmo. A centralização de si, o egocentrismo é um dos piores recalques da humanidade. Quando socializado, o egoísmo tem o nome de lucro, sucesso, consumismo, livre escolha. O que vem primeiro são as diversões, a curtição, o imediato, a estética, a dimensão lúdica da vida. O importante é o agora, o espetáculo, as distrações, o corpo.

O egoísmo globalizado gera "povos da opulência e povos da indigência", alarga as desigualdades entre ricos e pobres, o império do mercado e a iniquidade social. O egoísmo é o caminho do abismo.

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina (PR)