2 de outubro de 2009

Anjos de Deus, nossos defensores

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Deus nos dá a ajuda necessária por intermédio dos anjos

Quantas dificuldades para que os anjos nos guardem no caminho. Como não dizer que os desafios não vão chegar nem que nada vai nos acontecer? Isso não existe e não é por isso que eles [anjos] existem, mas sim, para guardar o nosso caminho para o lugar prometido de Deus.

Que os anjos nos guiem pelo caminho, não retirando as coisas difíceis, mas para irmos ao lugar a nós preparado por Deus: o céu. Isso também não significa que devamos aceitar ajuda de qualquer "anjo". Hoje há revistas sobre muitos anjos, mas não é desse tipo de "anjo" que estamos falando (anjos em forma de menino com asas, os quais flecham alguém para o amor). Como não havia como explicar o amor, então criaram o cupido para encher as pessoas de sentimentos. Mas os cupidos não são os santos anjos. Há também os anjos malvados que "ficam nos nossos ouvidos" e até o anjo da morte. Enfim, surgiu uma infinidade de anjos pelo mundo, mas não os santos anjos.

Os santos anjos foram criados para nos guiar para o céu. Existem os anjos enviados por Deus e há também os que combatem a nosso favor. Assim como o Senhor nos fala: o anjo que habita sobre a proteção do Altíssimo. Eles são os "carteiros divinos", os que trazem uma mensagem que não é deles, mas do Senhor.

Arcanjo Miguel tem autoridade e é conhecido pela Palavra: "Quem como Deus". Ele guardará com a própria proteção da Palavra. "Mas se diligentemente ouvires a sua voz, e fizeres tudo o que eu disser, então serei inimigo dos teus inimigos, e adversário dos teus adversários" (Êxodo 23, 22). Quantas vezes cometemos o erro de tentar resolver nós mesmos as coisas. A Palavra nos convida a dar atenção à proteção que Deus nos deu. Como a proteção divina (e o nosso inimigo, que não são pessoas, mas realidades espalhadas pelo ar, porque é o único inimigo que temos), os anjos colocam Deus entre nós e eles.

Quantas vezes chamamos as pessoas que são nossas amigas com a palavra "anjo", não é assim? Quando digo que alguém é um anjo é porque é uma boa pessoa e uma boa amiga, alguém que me ajuda a crescer. É isso: a amizade que temos tem de transformar diversos caminhos da vida. Não seja mole demais, pois a vida não facilitará as coisas! Um dos frutos do Espírito Santo é a paciência, porque as coisas não são fáceis.

Os anjos são aqueles que contemplam Deus face a face. Contemplam-No porque a partir da contemplação aprendem a louvar. Eles lutam com a ação de graças ao Todo-poderoso, essa é a arma deles. Quando nos colocamos diante de alguém maravilhoso, dizemos que estamos "com o queixo caído", e naturalmente soltamos uma palavra de admiração e de louvor. Imaginem a face de Deus?

Fomos criados para o serviço dos homens e para adorar ao Senhor. Os anjos, ao verem ao Altíssimo, vivem o louvor e a adoração sem fim. É algo muito poderoso, e podemos fazer o mesmo; e fazendo isso, expulsamos os que não querem contemplá-Lo. Fomos criados para o serviço dos homens e para adorar a Deus. Os anjos decaídos se aproveitam de nossa fraqueza para nos derrubar; – e nós que não somos resistentes – precisamos do auxílio desses seres enviados por Deus.

O Senhor nos apresenta a criança como modelo, como a maior no Reino do Céu, pois essa santa inocência é que nos leva ao céu. Do desejo de depender somente do Todo-poderoso, assim como as crianças dependem dos pais, esse é o desejo do Senhor. Quando dependemos de alguém que é capaz de realizar o que promete, então, ficamos tranquilos. E quem não quer depender do Senhor entra no desespero.

Sabemos que dependemos do Senhor, mas não tem como saber do tempo de Deus. Quantas vezes temos nossas vontades e nosso próprio tempo? Mas, sem reconhecer a dependência do Senhor, nós nos revoltamos e nos desesperamos. Nesses momentos, os anjos que disseram "sim" a Deus vêm em nosso auxílio.

Ainda dá tempo de voltar atrás e de recomeçar. Não se entregue! A resposta de Deus: "Porque o meu anjo irá adiante de ti, e te levará aos amorreus, e aos heteus, e aos perizeus, e aos cananeus, heveus e jebuseus; e eu os destruirei" (Êxodo 23,23). Quando acaba a nossa força, o Senhor nos dá a ajuda necessária por intermédio desses seres celestes. Mas é preciso confiar. Tenha fé e olhe que a vida não acabou e estamos caminhando.

Quantas vezes encontramos, nas Sagradas Escrituras, os anjos que vêm em nosso auxílio, como, por exemplo, ao soltarem Pedro e Paulo, pois estão presentes o tempo todo. E como no Salmo 90, 1: "Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei."

Não tenha medo!

Padre Xavier
Comunidade Canção Nova

30 de setembro de 2009

O auxílio dos anjos

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A Igreja confessa a sua fé nos anjos da guarda

O Papa Bento XVI disse que: "Eliminaríamos uma parte do Evangelho se deixássemos fora esses seres enviados por Deus, que anunciaram sua presença entre nós e que são um sinal dela". E pediu a intercessão dos anjos "para que nos sustenham no empenho de seguir Jesus até nos identificarmos com Ele" (Zenit.org, março 2009).

A Bíblia e a Tradição da Igreja mostram amplamente que os anjos têm participação ativa na história da salvação dos homens, nos momentos em que Deus quer.

"Não são eles todos espíritos ao serviço de Deus, enviados a fim de exercerem um ministério a favor daqueles que hão de herdar a salvação?", pergunta o autor da Carta aos Hebreus, capítulo1, versículo 14.

E nisso crê e isso ensina a Igreja; sabemos que é tarefa desses seres celestes bons a proteção dos homens e a sua salvação. Diz o Salmo: "Mandou aos seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra" (Sl 90/91,11-12).

O próprio Jesus, falando das crianças e recomendando que não se lhes desse escândalo, faz referência aos "seus anjos" (cf. Mt 18,10). Ele atribui também aos anjos a função de testemunhas no supremo juízo divino sobre a sorte de quem reconheceu ou negou Cristo: "Todo aquele que se declarar por Mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus. Aquele, porém, que Me tiver negado diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus" (Lc 12,8-9; cf. Ap 3,5).

Se os esses seres celestes tomam parte no juízo de Deus, logo, estão interessados pela vida do homem. Isso se pode ver também no discurso escatológico em que Jesus os faz intervir em Sua vinda definitiva no fim da história (cf. Mt 24,31; 25,31-41).

Muitas vezes, a Bíblia fala da ação dos anjos pela defesa do homem e sua salvação: o Anjo de Deus liberta os Apóstolos da prisão (cf. At 5,18-20) e antes de tudo Pedro, que estava ameaçado de morte por parte de Herodes (cf. At 12, 15-10). Guia a atividade deste a respeito do centurião Cornélio, o primeiro pagão convertido (cf. At 10,3-8. 12-13), e a atividade do diácono Filipe no caminho de Jerusalém para Gaza (cf. At 8,26-29).

Foi um anjo que encontrou Agar no deserto (cf. Gn 16); os anjos tiraram Lot de Sodoma; assim como foi um anjo que anunciou a Gedeão que devia salvar o seu povo; um anjo anunciou o nascimento de Sansão (cf. Jz 13); e o anjo Gabriel instruiu a Daniel (cf. 8,16). Este mesmo anjo anunciou o nascimento de São João Batista e a encarnação de Jesus; esses seres enviados por Deus também anunciaram a mensagem aos pastores (cf. Lc 2,9) e a missão mais gloriosa de todas, a de fortalecer o Rei dos Anjos em Sua Agonia no Horto das Oliveiras (cf. Lc 22, 43).

Os anjos estão presentes na história da humanidade desde a criação do mundo (cf. Jó 38,7); são eles que fecham o paraíso terrestre (cf. Gn 3, 24); seguram a mão de Abraão para não imolar Isaac (cf. Gen 22,11); a Lei é comunicada a Moisés e ao povo por ministério deles (cf. At 7,53); são eles que conduzem o povo de Deus (cf. Ex 23, 20-23); eles anunciam nascimentos célebres (cf. Jz 13); indicam vocações importantes (cf. Jz 6, 11-24; cf. Is 6,6); são eles que assistem aos profetas (cf. 1 Rs 19,5).

Da mesma forma que os anjos acompanharam a vida de Jesus, acompanharam também a vida da Igreja, beneficiando-a com a sua ajuda poderosa e misteriosa (cf. At 5, 18-20; 8,26-29; 10,3-8; 12,6-11; 27,23-25). Eles abrem as portas da prisão (cf. At 5, 19); encorajam Paulo (cf. At 27,23 s); levam Filipe ao carro do etíope (cf. At 8,26s), entre outros.

A Igreja confessa a sua fé nos anjos da guarda, venerando-os na liturgia com uma festa própria e recomendando o recurso à sua proteção com uma oração frequente, como na invocação do "Anjo de Deus". São Basílio Magno, doutor da Igreja, escreveu: "Cada fiel tem ao seu lado um anjo como tutor e pastor, para o levar à vida" (cf. 5. Basilius, Adv. Eunonium, III, 1; cf.Sto. Tomas, Summa Theol. 1, q. II, a.3).

São Jerônimo, doutor da Igreja, afirmou que: "A dignidade de uma alma é tão grande, que cada um tem um anjo guardião desde seu nascimento".

A Igreja honra com culto litúrgico três anjos. O primeiro é Miguel Arcanjo (cf. Dn 10,13-20; Ap 12,7; Jd 9). O seu nome exprime a atitude essencial dos espíritos bons. "Mica-El" significa, de fato: "Quem como Deus?". O segundo é Gabriel: figura ligada sobretudo ao mistério da encarnação do Filho de Deus (cf. Lc 1,19-26). O seu nome significa: "O meu poder é Deus" ou "poder de Deus". O terceiro arcanjo chama-se Rafael. "Rafa-El" significa: "Deus cura"; o conhecemos pela história de Tobias (cf. Tb 12,15-20), entre outros.

O famoso Bossuet dizia que: "Os anjos oferecem a Deus as nossas esmolas, recolhem até os nossos desejos, fazem valer também diante de Deus os nossos pensamentos... Sejamos felizes de ter amigos tão prestativos, intercessores tão fiéis, intérpretes tão caridosos".

Os santos todos foram devotos desses seres celestes. Os anjos assistem a Igreja que nasce e os Apóstolos, prepararão o Juízo Final e separarão os bons dos maus. São eles que protegem Jesus na infância (cf. Mt 1, 20; 2, 13.19); são eles que O servem no deserto (cf. Mc 1, 12); e O reconfortam na agonia mortal (cf. Lc 22, 43); eles poderiam salvar o Senhor das mãos dos malfeitores se assim Cristo quisesse (cf. Mt 26, 53).

Toda a vida de Jesus Cristo foi cercada da adoração e do serviço dos anjos. Desde a Encarnação até a Ascensão eles O acompanharam. A Sagrada Escritura diz que quando Deus "introduziu o Primogênito no mundo afirmou: "Adorem-no todos os Anjos de Deus" (cf. Hb 1, 6). Alguns teólogos acham que isso motivou a queda dos anjos maus, por não aceitarem adorar a Deus Encarnado na forma humana.

A Igreja continua a repetir o canto de louvor que eles entoaram quando Jesus nasceu: "Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência divina" (cf. Lc 2, 14).

A Bíblia não só os apresenta como nossos guardiães, mas também como nossos intercessores. O anjo Rafael diz: "Ofereci orações ao Senhor por ti" (Tob 12, 12). "A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus" (Ap 8,4).

Santo Ambrósio, doutor da Igreja, declarou: "Devemos rezar aos anjos que nos são dados como guardiães" (De Viduis, IX); (cf. S. Agostinho, Contra Fausto, XX, 21).

A Igreja acredita que, no dia do batismo, cada cristão é confiado a um anjo que o acompanha e o guarda em sua caminhada para Deus, iluminando-o e inspirando-o.

Na Festa do Anjo da Guarda (2 de outubro), a Igreja põe diante dos nossos olhos o texto do Êxodo que diz:

"Assim diz o Senhor: Vou enviar um anjo que vá à tua frente, que te guarde pelo caminho e te conduza ao lugar que te preparei. Respeita-o e ouve a sua voz. Não lhe sejas rebelde, porque não suportará as vossas transgressões e nele está o meu nome. Se ouvires a sua voz e fizeres tudo o que eu disser, serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários. O meu anjo irá à tua frente e te conduzirá à terra dos amorreus, dos hititas, dos ferezeus, dos cananeus, dos heveus e dos jebuzeus, e eu os exterminareis" (Ex 23,20-23).

Além de tudo isso, a Bíblia frequentemente mostra os poderes dos anjos na natureza, e afirma São Jerônimo que eles manifestam a onipotência de Deus (cf. S. Jerônimo, En Mich., VI, 1, 2; P. L., IV, col. 1206).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

18 de setembro de 2009

Coração de Jesus, uma porta aberta

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Refúgio e abrigo para todos os pecadores

"Chegando, porém, a vez de Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água" (João 19, 33-34).

Jesus foi transpassado quando já estava morto. Seu Corpo estava frio e rígido. Diferente de um corpo que está vivo. Tocando nosso corpo percebemos o calor que dele sai e que não está rígido. Quando se corta um cadáver ele não volta a "colar-se". Os cortes "não fecham". O que foi aberto, assim fica. Se são forçadas, as partes até se encostam, mas não "colam" mais. Cadáver aberto fica aberto para sempre.

Jesus quis que Seu Coração fosse aberto, justamente, depois que Ele estava morto. Assim não poderia fechar-se mais. Depois de transpassado pela lança continuou e continuará para sempre aberto. É uma porta aberta. Casa com porta aberta é como se não tivesse porta. Quem quiser entra e sai na hora que bem entender. Casa com porta aberta passa a ser casa de todos, indistintamente.

Qualquer pessoa pode ir a uma praia. São tantas! A praia é uma "porta aberta". Vai quem quer e quando quer. Assim também é o Coração de Jesus: praia de todos. Está aberto para todos, indistintamente. Porta aberta que nunca mais se fechou. Refúgio e abrigo para todos os pecadores.

Nossa sociedade, a cada dia, ergue muros mais altos e reforça a segurança para que não entrem "pessoas de má índole". Jesus adotou outra "política": "Quando eu for levantado da terra, atraírei todos os homens a mim" (João 12, 32). E disse mais "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores" (Mateus 9,13).

Que bom que esta é a "estratégia" de Jesus Cristo: "Olharão para aquele que transpassaram" (cf. João 19, 37). Ele nos manda olhar para o Transpassado. No perigo, na chuva, na agonia, na aflição, no desespero… que bom encontrar uma porta aberta. Melhor ainda: a porta de um Amigo. Ainda melhor se a porta é a do Coração do próprio Deus, que morreu na cruz por todos nós.

"Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno" (Hebreus 4, 16). Entremos como miseráveis pecadores nesta casa e sairemos de lá com a graça de termos cada dia mais um coração semelhante ao de Jesus. Quem entra e permanece nessa casa, certamente tem seu coração curado e renova as suas forças para amar sempre mais intensa e efetivamente aos irmãos.

Coragem, adentremos! A porta está aberta. O Dono está nos convidando e atraindo!

Foto Padre Alir Sanagiotto, SCJ

Pe. Alir Sanagiotto Ordenado sacerdote em 19/09/87, é membro da Congregação dos padres do Sagrado Coração de Jesus. Dedica-se de forma preferencial na escuta, no aconselhamento e no trabalho psicoespiritual dos fiéis. blog: http://blog.cancaonova.com/padrealir

17 de setembro de 2009

Símbolos Religiosos

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Quem se atreveria a tirar o Cristo do alto do Corcovado?

O dia 14 de setembro, no calendário eclesial, é dedicado à memória da cruz de Cristo. A recente polêmica em torno da presença de símbolos religiosos em locais públicos, suscitada por um promotor no Estado de São Paulo, oferece ensejo para abordar esta questão, com os enfoques que lhe são inerentes. A cruz serve de bom exemplo para nos alertar sobre a importância do equilíbrio a ser observado nesta questão.

Como sabemos, a história registra episódios lamentáveis, decorrentes do mau uso do símbolo da cruz.  Ela foi indevidamente empregada para justificar uma pretensa "guerra santa", por ocasião das "Cruzadas" empreendidas para conquistar o domínio dos lugares onde Cristo tinha vivido.

As consequências disso duram até hoje. A cruz ainda é malvista no mundo muçulmano. Há episódios históricos que deixam feridas profundas, difíceis de cicatrizar. Neste contexto, tanto maior deve ser a discrição no uso de símbolos religiosos, para não reacender polêmicas ou desencadear reações violentas.

As próprias Nações Unidas dão exemplo desta discrição, chegando a mudar o símbolo de uma obra com evidentes intenções humanitárias, como é a organização da "Cruz Vermelha".  No mundo muçulmano, a "Cruz Vermelha"  é substituída pela meia lua identificada como "Crescente Vermelho"!.

Pois bem, deste episódio resulta um duplo alerta. Tanto de moderação do uso, como de tolerância diante de quem utiliza símbolos religiosos.

Os preconceitos também podem ter dupla procedência. Podem estar presentes no ato de usar, como igualmente no abster-se de usar. E são mais sutis quando se pretende que os outros adotem o mesmo critério que usamos pessoalmente. Como parece ser o caso do referido promotor. Ele acabou dando um péssimo exemplo de intolerância ao propor que se proíba o uso público de símbolos religiosos. Se tivesse se limitado a não dar importância aos símbolos, teria ficado dentro do seu direito. Mas querer que todos tenham a mesma atitude, aí começa o preconceito, que pode se revestir de prepotência ao invocar a ação do Estado para impor o seu ponto de vista.

Acresce outra constatação importante a ser trazida para iluminar esta questão e oferecer critérios adequados para o uso de símbolos religiosos. Acontece que eles acabam se inserindo na vida através da história e, sobretudo, através da arte. E se tornam portadores de sentido e de valores evidentes, independentemente da procedência religiosa que possam ter.

Quem se atreveria a tirar o Cristo do alto do Corcovado? No contexto maravilhoso da Baía da Guanabara, ele se tornou componente indispensável para o panorama da cidade. Se alguém fica intrigado ao olhar para o Corcovado, que olhe um pouco para dentro de si mesmo e tente remover o entulho preconceituoso que pode ter se aninhado no seu subconsciente.

Acresce também que cenas religiosas servem de inspiração para os artistas, que têm o dom de captar seu simbolismo e traduzi-lo em obras de arte dos mais diversos gêneros. Diante da imagem da "Pietà", de Michelangelo, ou diante do famoso quadro de Rembrandt, retratando o Filho Pródigo, quem tem a palavra é a força da arte, e seria mesquinho demais achar que estas obras, por terem inspiração religiosa, não devam ser expostas em público.

Trazida a questão para o nosso cotidiano, na região da Diocese de Jales as cidades tiveram seu início na plantação do seu cruzeiro de fundação. Preservar estes cruzeiros é respeitar a história e demonstrar abertura de espírito para a sadia convivência humana.

Dom Luiz Demétrio Valentinni
Bispo Diocesano de Jales

14 de setembro de 2009

Exaltação à Santa Cruz

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A cruz tornou-se motivo de glória

A Festa da Exaltação da Santa Cruz é celebrada no dia 14 de setembro, recordando a doação definitiva de Jesus Cristo. A Cruz de Jesus é um mistério de Deus desde toda a eternidade e já foi manifestada a nós. A cruz, antes de tudo, é uma manifestação de amor, o grande mistério do derramamento do Espírito Santo. Quando o fiel olha para a Cruz de Cristo, ele vê o sacrifício. Não compare sacrifício com tristeza; o sacrifício é reflexo de Cristo.

A Festa da Exaltação da Santa Cruz é a Festa da Exaltação do Cristo vencedor. Para nós cristãos, o lenho sagrado é o maior símbolo de nossa fé. Quando somos apresentados à comunidade cristã, na cerimônia batismal, o primeiro sinal de acolhida é o sinal da cruz traçado em nossa fronte pelo ministro, pais e padrinhos, sinalando-nos para sempre com Cristo.

Celebrando a Festa da Santa Cruz, juntamente com o Crucificado somos elevados para o alto. Tão grande é o valor do madeiro sagrado, que quem o possui, possui um tesouro. Eu chamo-o justamente de tesouro, porque é, na verdade, de nome e de fato, o mais precioso de todos os bens. Nele está a plenitude da nossa salvação e por ele regressamos à dignidade original.

Foi na Cruz que Jesus Cristo ofereceu ao Pai o Seu Sacrifício. Por isso, é justo que veneremos o sinal e o instrumento da nossa libertação. Objeto de desprezo, patíbulo de infâmia, até o momento em que Jesus, obediente até a morte, nela foi suspenso. A Cruz tornou-se, desde então, motivo de glória, pólo de atração para todos os homens.

Ao celebrarmos essa festa, nós queremos proclamar que é da Cruz, sinal do amor universal de Deus, fonte de toda a graça (N.A., 4) que deriva toda a vida de Igreja. Queremos também manifestar o nosso desejo de colaborar com Cristo na salvação dos homens, aceitando a Cruz, que a carne e o mundo fizeram pesar sobre nós (G.S. 38).

A lenho sagrado não é uma divindade, um ídolo, feito de madeira, barro, bronze, mas ele é para nós santo e sagrado, porque dele pendeu o Salvador do mundo. Ele é o símbolo universal do cristão. Com orgulho e devoção ele é a nossa marca, o sinal de nossa identidade, vocação e missão. Traçando o sinal da cruz em nossa fronte, a todo o momento, nós louvamos e bendizemos a Santíssima Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo, agradecendo o tão grande bem e amor que, pela Cruz, o Senhor continua a derramar sobre nós.

A Cruz é também a exaltação de Cristo; leia o que Ele próprio diz: "Quando Eu for exaltado, então atrairei todos a Mim" (João 12,32). Como você vê, o madeiro sagrado é a glória e a exaltação de Cristo. Celebrando a Festa da Exaltação da Santa Cruz, celebramos a vitória de Cristo, que nos possibilita desde agora celebrar a nossa futura glória no céu. Pois, se morremos com Cristo, cremos também que viveremos com Ele (cf. Romanos 6,9).

Eduardo Rocha Quintella - Bacharel em Teologia
www.eduardoquintella.com.br

9 de setembro de 2009

Idoso, quando tudo parece conspirar

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Qualquer coisa que se faça parece estar errado

Todos têm algo para oferecer, independentemente da idade. As crianças, ainda que não cooperem com sua força física, contribuem com a alegria em uma casa. E com o passar dos dias, os nossos pequenos irão fazer novas descobertas, adquirindo uma nova percepção a respeito do mundo. Após alguns anos, eles passarão pela puberdade, entrarão na vida adulta e, pouco a pouco, a presença deles se tornará mais participativa na sociedade.

No ciclo da vida, como todas as coisas, aquelas crianças, que um dia encantaram a família com sua destreza, também vão adentrar na terceira fase da vida e já não chamarão mais a atenção como antes. Por terem se tornado pessoas "velhas", nem o conhecimento absorvido ao longo dos anos as tirará do "exílio" social.

Vivemos numa sociedade utilitarista, na qual aquele que não produz parece não ter direito de participação. E, assim, a importância da pessoa mais vivida, experiente, para a sociedade, começa a se inverter. Dessa forma, por conta de mais um aniversário, o censo transfere alguém, que antes pertencia ao quadro das estatísticas dos indivíduos economicamente ativos, para o quadro da população improdutiva.

A parcela mais insensata da sociedade acredita que a presença dos idosos em lugares públicos esteja "roubando" a vez de alguém que tem uma agenda repleta de compromissos; a lentidão dos seus passos, mesmo que eles [os idosos] tentem caminhar um pouco mais rápido, também lhes parece obstruir a passagem nas calçadas. Essas pessoas, ao depararem com a debilidade de nossos velhos, realizando uma atividade simples, como a de atravessar a rua, os condenam à morte social.

Por mais importante que seja o que eles têm a falar, poucos se detêm para ouvi-los. Pois, invariavelmente, em meio à conversa, a memória, já não tão eficaz, faz com que repitam o mesmo assunto várias vezes ou se percam em meio ao raciocínio… Tudo parece conspirar contra aqueles que já viveram mais da metade dos anos de seu ciclo de vida. O peso dos anos coopera para que seus olhos já não enxerguem tão bem, mesmo com a ajuda de óculos e as doenças já não são curadas com a mesma rapidez com que aparecem… Como se tudo isso não fosse o suficiente, qualquer coisa que façam parece estar errado diante do mundo.

Sabemos que, como consequência natural do tempo, o envelhecimento faz com que todas as pessoas sofram com a deterioração da saúde. Todavia, não precisamos retirar ou diminuir a dignidade daqueles que abriram e facilitaram o nosso acesso para um mundo melhor. Fazer uma sociedade mais justa para os mais idosos é um compromisso que exige de cada um de nós a coragem de derrubar os padrões estereotipados, os quais classificam o valor de uma pessoa de acordo com sua eficiência e vitalidade física.

(*) Dia 01 de outubro - Dia internacional do idoso

Um abraço

Foto Dado Moura
contato@dadomoura.com

8 de setembro de 2009

Não basta escolher

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É preciso mais para renovar e exigir a ética na política

Denúncias, investigações, excessos de discursos e bate-bocas; abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito, as CPI's, e seus legisladores inquisidores de depoentes convidados, sabatinadores de réus. São alguns dos ingredientes que fazem o nauseante cardápio da mídia nacional, que imprime uma avalanche de notícias "nervosas" sobre todos os envolvidos, o que só faz acentuar – equivocadamente – a convicção de cada cidadão acerca de suas verdades, especialmente quando se trata de política.

A pouco mais de um ano para as eleições presidenciais, em que o povo terá, novamente, a oportunidade de escolher, além do presidente, governadores, senadores e deputados, o horizonte político está cinzento, apesar de alguns avanços positivos na detecção de irregularidades, e o tempo em Brasília nublado com as inúmeras delações e acusações entre os "atores", que se projetam negativamente na superfície midiática, o que é profunda e tristemente lamentável.

Com tudo isso acontecendo, precisamos questionar o papel da imprensa neste processo, observando como os meios de comunicação noticiam tais temas.

Estamos mesmo bem informados acerca dos fatos e das ocorrências no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto?

Como cidadãos, por que muitos se acomodaram? Será omissão ou conivência?

Obviamente, sem a efetiva participação dos indivíduos e a necessária perseverança na busca pela verdade dos acontecimentos e a exigência – de nossa parte – com "o bom uso do dinheiro público" não há conquistas nem direitos!

Por que muitos afirmam que, infelizmente, as coisas são assim mesmo e, à menor dificuldade, não agem para transformar o mundo à sua volta?

Sob inúmeros escândalos, vergonhosamente proporcionados por aqueles em quem confiamos o voto para nos representar, a população brasileira se vê, de novo, às margens da verdade sobre as decisões políticas que ocorrem nos bastidores do Planalto, do parlamento na capital federal e em muitos palácios estaduais.

Em 2010, teremos de escolher candidatos para ocupar cargos que exigem preparo, bem como a perspicácia dos eleitores, sobretudo, queremos retidão de caráter daqueles que se propõem a ocupar um lugar no Executivo ou Legislativo. As eleições do próximo ano serão um duro teste que teremos (outra vez!) de enfrentar com coragem, sem desanimar!

O pensador Reitor Inge nos ensina que "fazer o que está certo não é o problema; o problema é saber o que está certo". Definir exatamente o que é certo e errado nos dias atuais, em que a contradição humana torna-se cada vez mais evidente, é árdua e complexa tarefa destinada a nós, até mesmo para os especialistas. Entretanto, necessitamos repensar nossa vida, nossa realidade, para imprimirmos a ousadia e a audácia a fim de buscar as transformações que a sociedade almeja.

Durante toda a vida percorremos caminhos sinuosos e buscamos com todas as forças acertar nas nossas escolhas, visto que é preciso decidir para seguir e enfrentar os desafios que a caminhada nos oferece. Todavia, é preciso agir positivamente, a fim de promovermos transformações na estrutura sociopolítico-econômica em favor da solidez da democracia e o consequente resgate da eticidade e da moralidade no parlamento.

E não nos esqueçamos de cobrar a reforma política – sobre a qual tanto se comenta e nada foi feito –, que certamente vai oxigenar a mentalidade de nosso povo para a construção de uma nova realidade.

Que este tempo de tantas incertezas nos inspire vigorosamente a uma busca incansável pela edificação de uma política possível e viável, isto é, a um exercício pela equidade na política em que a prevalência ético-moral se manifeste positivamente nas pessoas, nos cidadãos de bem, para que as árvores não deixem secar suas folhas e as flores no futuro não murchem nem apodreçam.

E não citar Santo Agostinho quando afirma que "o dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros" seria omitir o bom exemplo de quem optou pela verdade e a quem todas as pessoas – especialmente aqueles revestidos de poder e autoridade – deveriam imitar.

Não basta escolher, é preciso exercer a cidadania em plenitude, participando com disposição para restaurar a consciência, quebrar a rigidez mental que alimenta o pessimismo, para exigir a ética na política e, consequentemente, em todos os demais segmentos institucionais.

Reinaldo Cesar
http://blog.cancaonova.com/jornalistareinaldo