19 de agosto de 2009

Vida religiosa: imitação e seguimento de Cristo

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O tesouro do religioso é justamente este: viver em união com Deus

A vida religiosa tem sua identidade e missão expressa como forma de existência firmada no seguimento radical de Cristo. Porém, fica evidente na história da Igreja e na Sagrada Escritura que o seguimento não é privilégio de ninguém; este é para todos que se abrem ao mistério da graça que efetua o chamado na liberdade. Contudo, ao longo da história constata-se também que o Espírito Santo suscitou na Igreja uma forma concreta de seguimento, na radicalidade existencial, através da vivência dos conselhos evangélicos: pobreza, castidade e obediência, por meio dos quais a experiência de discipulado pessoal torna-se algo fundamental.

"... Os religiosos devem transmitir o Evangelho com suas vidas, comprometendo-se a unir duas realidades: o cuidado pela vida interior e o esforço da missão apostólica" (Papa Bento XVI). A afirmação do Santo Padre expressa algo de essencial na vida religiosa: a correspondência profunda e total da vocação à vida consagrada na Igreja. Ser inteiramente de Jesus para ser inteiro da missão e para a missão. A primeira e fundamental tarefa da vida consagrada é tornar visíveis as maravilhas de Deus, algo possível apenas a partir de uma íntima, profunda e contínua comunhão com Aquele que chama, elege e consagra: o Cristo casto, pobre e obediente. O tesouro do religioso é justamente este: viver em união com Deus na totalidade de vida, estar reunido numa comunidade de amor e gratuidade, na qual se estabelece a cada dia o primado do Absoluto (Deus).

No mistério da vida religiosa nós encontramos essa pedagogia extraordinária do Todo-poderoso, que não escolhe os capacitados, mas capacita os pequeninos chamados por Ele. Tal constatação nos centraliza na eleição misericordiosa de Deus, que revela o primado da Sua iniciativa e a necessidade do ser humano de acolher o mistério divino na obediência.

Maria Santíssima é para todos nós modelo desse acolhimento, mestra de seguimento incondicional e de serviço assíduo a Deus. A Virgem Maria não só disse: "Faça-se em mim segundo a sua Palavra", como também viveu esse mistério na sublime, perfeita e total pertença a Deus, assumindo, assim, todas as consequências do seu "sim" ao Senhor.

A verdadeira profecia e a vida profética da vida consagrada nascem de Deus, da amizade com Ele e da escuta atenta da Sua Palavra, nas diversas circunstâncias da nossa existência. O testemunho profético exige e requer uma busca constante e apaixonada da vontade de Deus; a comunhão eclesial generosa é imprescindível para que o exercício do amor na verdade possa acontecer de forma efetiva e eficaz. Pois, ninguém vive uma consagração no isolamento, ou seja, fora do mistério do ser Igreja de Cristo.

Ter esse compromisso decidido de vida espiritual, de espiritualidade sólida e profunda, constitui exigência prioritária para que o sentido da vida consagrada não se esvazie. Tendo em vista que tal exigência encontra-se inscrita na própria essência da vida consagrada. Negligenciar essa realidade significa tornar-se um consagrado morto, que semeia morte onde quer que se encontre, ou seja, significa deixar de ser aquele que torna visíveis as maravilhas de Deus.

O religioso, na vivência autêntica da sua consagração, torna-se manifestação visível do Amor de Deus. Por isso, a raiz de cada ação e o critério de cada opção do religioso devem ter por objetivo expressar esse amor, num gesto eficaz de gratuidade evangélica. O Evangelho de Mateus, capítulo 21, versículos 18-22, nos fornece este exemplo que o próprio Jesus utilizou para formar Seus discípulos: a pobre viúva que fazia sua oferta no cofre do templo. Nessa ocasião, o Senhor observou que as pessoas ofereciam grandes quantias e num dado momento aproximou-se essa viúva, que entregou apenas duas moedas. Vendo esse gesto Cristo chamou os discípulos e afirmou que aquela mulher havia ofertado mais do que todos os demais.

Qual a intenção de Jesus ao fazer essa afirmação? O que o Senhor deseja apresentar é que a doação maior e melhor é justamente aquela que se faz com qualidade e gratuidade, e não aquela feita com quantidade. A viúva entregou tudo, não viveu uma relação com Deus parcial, foi sincera e transparente na sua opção de vida, pois, não firmou sua vida no fazer quantitativo, mas no ser qualitativo.

Que o Senhor nos ensine a também fazermos nossas opções por Ele com essa dimensão, respondendo com sabedoria ao chamado universal à santidade.

Que Deus vos abençoe e vos guarde! Amém!

Pe. Eliano Luiz Gonçalves, sjs
Prior Local da Missão Salvista presente na Com. Canção Nova

17 de agosto de 2009

Viver a sexualidade na luz

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O autoerotismo acaba se tornando um tipo de droga

A sexualidade é a obra culminante da criação. Por isso, precisamos aprender a administrá-la. Deus é perfeito e fez cada pessoa diferente, pessoas que nunca se repetirão.

Nós precisamos estar firmes no Senhor, pois existiu um anjo que não suportou nossa criação por Deus Pai: satanás. Este quer destruir o amor, quer destruir a nossa família. Ele, que não pôde atacar a sexualidade de Maria e José, então ataca a nossa. Ele ataca na raiz da nossa vida: no amor.

Para agredir a vida, o maligno tenta fazer com que entremos em transgressão com tudo aquilo que o amor traz. Dessa forma, o que é mais lindo na vida vira contra o próprio homem. A mesma coisa acontece com a sexualidade, pois o homem a está reduzindo apenas ao desejo carnal, esvaziando o coração, o sentimento. O resultado são as muitas "mortes" que acontecem, como a pornografia, teoria que leva à prática.

Há um comércio abominável de crianças e adolescentes na área sexual. Existe um número expressivo desse público [infanto-juvenil] que morre infectado por várias doenças por ano por conta disso. Não podemos nos calar diante disso!

Só há duas armas para sermos vitoriosos: A castidade e a fidelidade. Em Uganda, baixaram a taxa de contaminação de enfermidades sexualmente transmissíveis, porque a política viu que não havia outro meio ao não ser a castidade.

O autoerotismo, que é a masturbação, quando se torna um hábito e não conseguimos fugir dele, acaba se tornando um tipo de droga, uma obsessão, e faz com que nos fechemos em nós mesmos; e humanamente não conseguimos sair dele. Se você estiver passando por esse problema, sentindo-se escravo, dominado por ele, só Jesus pode curá-lo. Porque, quando pedimos perdão para o Senhor, Ele fica maravilhado com a pureza de nossa alma. Pois, dessa forma, nós mostramos que sofremos com isso, revelando assim que temos um coração puro. Peçamos perdão ao Senhor. Que Maria nos ajude e que nunca percamos a coragem de tomar essa decisão!

Eu conheci homens e mulheres que embora tenham se prostituído durante muitos anos receberam do Senhor a graça de uma "virgindade espiritual" e conseguiram um casamento maravilhoso. A castidade é uma grande liberdade, é o que protege o amor. Como a estratosfera nos protege contra o sol, e nos protege da luz, é justamente assim que acontece com a castidade, ela permite o aprofundamento do amor tornando-nos jovens. Já a impureza nos torna velhos. Basta olhar para moças que são prostituídas, elas têm o olhar envelhecido.

Vou mostrar para vocês as vantagens da castidade, de preservar a sua pureza para o casamento. Pois o pecado contra essa virtude é como uma flor arrancada, que morre facilmente, porque não teve a chance de ter sua raiz aprofundada.

Recusar-se a manter relacionamento sexual com o namorado, antes do casamento, é o maior teste de autenticidade do amor: "Eu quero algo profundo e verdadeiro! Quero que realmente nos conheçamos e esperemos esse momento [relação sexual] até o casamento". Se seu (sua) namorado (a) deixá-la (o) é a prova de que ele (a) não a (o) ama. Mas, se ele (a) respeitar essa exigência é porque realmente a (o) ama. Algumas moças também querem ir logo ir para a cama com o namorado para segurá-lo, pois são inseguras.

O respeito mútuo protege um ao outro e fortalece a linguagem do amor. O amor para com o outro deve ser delicado e puro. O casal deve procurar viver a transparência. Para que, dessa forma, no dia casamento, você possa dizer: "Eu trago para você o mais puro dos sentimentos, me guardei só para você. Eu decidi que a minha primeira relação sexual seria com meu cônjuge".

É preciso ter muito cuidado e se proteger, cuidado para não cair em situações de risco, pois caímos muito facilmente. Precisamos, sobretudo, ter cuidado de não cair nas pornografias. E assim você terá muita harmonia em sua casa quando casar. E poderá viver a "liturgia do casamento", pois, é uma escola de descoberta um do outro, de respeito e amor.

Precisamos construir a base do relacionamento. A união sexual é o telhado, por isso não podemos construir a casa pelo telhado. Ele é a "coroa" do casamento. 99% da alegria no ato sexual é a confiança um no outro e não o ato em si. Esses são uns pequenos conselhos para que os seus futuros filhos não sofram a consequência de uma família desajustada.

Louvado seja Deus. Ele os abençoe!

(*) Fundador da Escola "Jeunesse-Lumiére" (Juventude-Luz), um trabalho voltado para a juventude, localizada no sul da França.

Padre Daniel Ange (*)

13 de agosto de 2009

Amar, o verdadeiro martírio

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A atitude de amar é cada vez mais rara

Muitas vezes, deparamos com coisas que nos sentimos incapazes de fazer por conta de nossas misérias. Jesus, no "testamento" d'Ele, nos deixa uma ordem que é o grande desafio da vida de qualquer ser humano: "Amai-vos uns aos outros" (João 15,12). O mandamento do amor, muito mais que uma simples ordem, é um projeto de vida que perpassa a existência de todo homem.

Como imagem e semelhança de Deus, que é amor, o homem tem por vocação amar. Por isso se não a [vocação] cumpre, não encontra em sua vida a verdadeira realização e a felicidade. Amar é a vida do ser humano. Alguém que não ama já está morto.

Mas quem disse que amar é fácil? Quem disse que felicidade e realização são palavras opostas a sacrifício e a sofrimento? Em meio a um mundo hedonista, impregnaram em nossa consciência que felicidade é fazer e viver tudo o que, de alguma forma, não nos custe nada. É por isso que cada vez mais o mundo se torna individualista e a atitude de amar é cada vez mais rara. Amar exige sofrimento, renúncia, martírio.

Se amar é muito mais do que um simples sentimento, é uma decisão e uma atitude de vida, logicamente vai exigir um sacrifício próprio. Muita gente projeta a vida a partir de um desejo, às vezes, um carro, uma casa e sacrifica muita coisa em função disso. Se o projeto próprio dos filhos de Deus é amar, precisamos nos dispor a acolher os sacrifícios próprios dessa decisão.

Somos acostumados a desejar que as pessoas nos amem muito, incondicionalmente, sem olhar para as nossas misérias e limitações. Mas quando chega a hora de amar o outro, colocamos uma série de condições. E o amor incondicional? E o amor oblação? E a alegria maior de dar do que receber? E a verdade que o amor que me cura é o que dou e não o que recebo? Não são simples perguntas, mas uma verdadeira revisão de vida para a qual somos convidados por Deus.

Jesus afirma que se a semente, na terra, não morrer ela não gerará frutos. Amar é morrer! Morrer para as minhas vontades e minhas carências e me decidir em traduzir em ato a vocação que Deus destinou para a minha existência. Não há nenhum ato de amor que não exija de nós o derramar do nosso sangue, um martírio constante que nos leva à oblação e à doação. O amor acarreta sofrimento, cruz, morte. Mas traz consigo redenção, ressurreição, alegria!

Martírio é testemunho. Mártir é aquele que derramou o seu sangue para testemunhar ao mundo um amor maior. É aquele que cumpriu, com excelência, a sua vocação de amar. Em um mundo, que não mais acredita em muitas verdades essenciais, há a extrema necessidade de pessoas capazes de suportar todas as tribulações, de forma a testemunhar que o mandamento do Senhor não é uma utopia. Deus nos chama a sermos hoje mártires do amor, em meio a um povo que esqueceu a sua vocação de amar.

Talvez você esteja sofrendo muito por ter se decidido a amar alguém concretamente e sem esperar nada em troca. Pode ser que a decisão de amar o esteja levando a chorar ao se deitar e a perder noites de sono. Ou então, sua vida se tornou um verdadeiro calvário a partir do momento em que você saiu da teoria e foi colocar a sua vocação de filho de Deus em prática. Louvado seja Deus! Você está se aproximando cada vez mais da meta, da plenitude do verdadeiro projeto de vida que Jesus nos deixou : "Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo" (João 15, 12).

Quando os nossos sofrimentos são causados por atos verdadeiros de amor, eles nos trazem dor, mas trazem também um sentimento de felicidade inigualável. Não uma felicidade aos moldes mundanos, mas a verdadeira felicidade, a verdadeira paz no coração daqueles que realizaram, com aquele sacrifício, a vontade de Deus para a sua vida.

Jesus nos deixou o exemplo da cruz. A cruz é o modelo de amor. Ele nos amou até o fim e nos mostrou que, por amor, somos capazes de levar a nossa decisão até as últimas consequências. Até o derramamento de sangue. Dando literalmente a vida. "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos" (João 15, 13).

É hora de pararmos de ficar lambendo as nossas feridas e transformá-las em chagas de amor. Se amar o tem machucado e ferido, você agora tem mais coisas em comum com Jesus. Quando chegar à vida eterna, Ele vai olhar para essas chagas e vai lhe dizer: "Como você é parecido comigo!". Por isso: não desista de amar! Não desista de testemunhar ao mundo que o amor não é uma utopia, mas uma verdade. Seja onde for que Deus o coloque, seja um mártir do amor. Dê a sua vida pela simples, mas inigualável e heroica decisão de amar sem condições, sem medidas.

Seu irmão,

renan@geracaophn.com

Foto Renan Félix
renan@geracaophn.com

10 de agosto de 2009

Paternidade Espiritual

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Quer um filho bom? Gaste tempo com ele!

Todos nós precisamos de um pai e de uma mãe espiritual. A mãe tem uma disponibilidade afetiva, está sempre com os braços abertos. A figura paterna está necessariamente ligada à lei. E isso é fácil para a gente entender. A mãe e a criança estão ligadas, primeiro ela tem de segurar a criança no útero, depois, mantê-la em casa. É natural que a criança tenha mais cumplicidade com quem lhe deu à luz, porque elas viveram juntas nove meses. E o pai põe um limite na ligação entre ambas, sem quebrar essa união.

Muitas vezes, pensamos que o genitor entra para separar o filho da mãe, mas o papel dele é o equilíbrio; isso faz com que os nossos filhos cresçam nessa virtude [equilíbrio].

No entanto, acontece hoje na sociedade uma crise, pois ninguém mais quer ser pai e ninguém quer ser controlado. Mas alguém precisa assumir o encargo de colocar limites; e sabemos o quanto isso é necessário. É importante para você que é pai assumir essa missão de ser "lei", ou seja, de ser limite em ser lar.

Outra coisa importante: mesmo onde não exista um pai biológico, alguém precisa assumir o papel paterno e deve ser alguém do sexo masculino. Faz parte do desígnio de Deus, dentro da família real, que a figura masculina seja aquele que estabeleça esse limite; e alguém precisa assumir a realidade de pai.

E como colocar esses limites?

É importante compreender esse limite, para isso o pai precisa de uma virtude fundamental: a magnanimidade, que quer dizer "alma grande". O genitor precisa ser magnânimo: "A águia não se alimenta de mosca", essa ave de alma grande não come animais pequenos, somente os grandes.

Uma dica aos pais. Um excelente educador disse: "Não dê mais de uma ordem por mês nem explique muito". O pai não deve se preocupar com pequenos defeitos, mas sim, com os grandes. Você não deve encher a vida do seu filho de regrinhas, porque as regrinhas desgastam a autoridade paterna. Não mande demais; faça-o somente para coisas importantes. Existe aí uma sabedoria de não gastar a autoridade do pai. É como uma faca: se você a usamos demais, ela gasta; e quando você precisar ela não vai funcionar.

Talvez você não tenha planejado ter filho naquele momento, mas Deus planejou o nascimento deste e você agora o tem. Então saiba que desse momento em diante sua vida está mudada. Você precisa dedicar tempo a ele. Quer um filho bom? Gaste tempo com ele. Todo o mundo quer abraço, mas ninguém quer fazer gol. Vá ao cinema com seu filho, ao parque, você precisa investir tempo com ele. Se você não tem tempo, então, é porque colocou outras prioridades na frente dele.

A tendência dos filhos é querer a liberdade dos adultos, mas não querem as responsabilidades dos destes. Se o seu pai não lhe impuser as regras, a sociedade lhe colocará limites. É preciso também ir dando aos poucos responsabilidades para ele. Se o filho quer liberdade de adulto e responsabilidade de criança algo está errado; enquanto ele estiver dentro de casa será preciso assumir responsabilidades.

Você foi criado na lei de Deus; o filho quando se revolta na adolescência, sai de casa. Muitas vezes, aqueles que não têm coragem de fazer isso concretamente, o fazem espiritualmente, vivem de cara emburrada. Porque querem liberdade, mas não querem responsabilidades.

Quanto à formação espiritual: seu filho diz não querer ir à Santa Missa, por exemplo. Como pai e como mãe como é que vão educá-lo? Veja o que acontece: seu filho nasceu e você não diz: "Não vou ensinar língua nenhuma, nem português, nem inglês, quando ele crescer ele resolve se quer falar português ou inglês ou a língua que ele quiser". Ninguém faz isso, você mora no Brasil, todos falam português, então, todos aprendemos a falar português naturalmente. Da mesma forma, enquanto o seu filho estiver na sua casa ele vai ser católico. Quando ele crescer, for um jovem adulto, se ele quiser mudar, ele muda [de religião]. Então, você que é pai: saiba recuperar sua autoridade e isso se faz obedecendo a Deus, pois, quando as pessoas perceberem que você é o primeiro a obedecer o Senhor, então elas vão começar a respeitá-lo como autoridade.

Padre Paulo Ricardo
Consultor da Congregação do Clero em assuntos de Catequese

8 de agosto de 2009

Pai, expressão de heroísmo

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Toda criança deseja ter orgulho do pai e falar dos seus feitos

Nas fantasias de nossa infância, alguns personagens fazem-se presentes por atos extraordinários de bravura. Atraem a admiração e transformam o imaginário no comum das brincadeiras. Homens com superpoderes, que não conhecem as fragilidades dos mortais e são capazes de proteger a paz e a ordem do universo. Têm o ofício de vencer o mal, com o qual travam épicas batalhas. Eles são os super-heróis. Esses seres estimulam as crianças a quererem imitá-los em seus trajes e em seus feitos. Por tudo isso se tornam um marco na primeira etapa de nossas vidas.

Nós associamos heroísmo com um ato incomum e grandioso; a definição de herói é: "Aquele que se distingue por seu valor ou por suas ações extraordinárias" e também: "Quem arrisca a própria vida ou morre por um ato nobre."

Há, no cotidiano, alguém que, desde nossa tenra idade, diferente de feitos grandiosos e ilusórios, torna-se herói pelo comum de gestos concretos e que, mesmo com seus limites, livra-nos dos perigos. Chamamos essa pessoa de "pai".

Pai é a pessoa do sexo masculino que participa da geração de uma vida. Mas o ser paterno vai além de doar sua genética à gestação do um novo rebento. Pais são heróis que formam pessoas. São aqueles que, na ausência de forças sobre-humanas, são capazes de agregar valores ao coração dos filhos e entregar suas vidas por amor a eles.

No simples exercício do dom da paternidade, o genitor vai tomando feições de um homem incomum, atraindo a admiração dos filhos e tornando-se referência para a vida destes. É o exemplo a ser alcançado na forma como desenvolve seu profissionalismo, no trato com a esposa, nas direções da condução do lar, no sustento que provê, mas principalmente no amor que inspira suas ações.

Toda criança deseja ter orgulho do pai. Falar dos seus feitos para os amigos. Com o passar dos anos, vamos nos esquecendo das capas voadoras, dos artifícios e habilidades fantásticas que embalaram nossos sonhos infantis.

Aquele homem, herói comum do dia a dia, pode não ter mais o mesmo vigor, mas, nos traços do rosto ou no grisalho dos cabelos existe um sinal de luz, sabedoria adquirida da experiência, ao qual o filho pode ainda recorrer e, como no início, saber que esse seu poderoso aliado está sempre pronto a perpetuar o carinho e o amor até os dias do seu ser adulto.

Neste Dia dos Pais, demonstre a gratidão de quem teve uma experiência com um verdadeiro ser heroico. Afinal, o amor paterno recebido prepara o filho para vencer desafios e conquistar o mundo inteiro.

Feliz Dia dos Pais!

Deus abençoe a todos.

Sandro Ap. Arquejada - Comunidade Canção Nova
sandroarq@geracaophn.com

3 de agosto de 2009

Vocações que nascem do amor para servir no amor

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Rezemos por todas as vocações

Agosto é mês vocacional. De fato:

1) - No dia 4, celebramos São João Maria Vianney, o Cura d'Ars, Patrono dos Presbíteros. Ganha destaque a vocação sacerdotal.

2) - No segundo domingo, dia 9, comemora-se o Dia dos Pais. Com eles, lembramos as famílias.

3) – Nos dias 15 e 16, Festa da Assunção de Nossa Senhora, comemoramos a vocação à Vida Religiosas.

4) - No domingo, dia 30, comemora-se o Dia Nacional do Catequista.

Presbíteros, pais e família, religiosos (as) e catequistas são vocações que nascem do amor e se realizam no amor. Nascem do amor de Jesus Cristo que se doa à humanidade para restabelecer o contato amoroso com o Pai, na força do Espírito Santo. Todos são convidados para a doação, isto é, para a santidade! Jesus chamou os Apóstolos para colaborarem em Sua Missão. Hoje continua chamando com amor e para servir no amor. "Deus nos ama, nos chama e nos envia em missão. Há várias formas de responder com amor a esse amor de Deus. Neste mês vocacional queremos ter presentes em nossas comunidades e paróquias as diversas vocações".

Sobre a vocação e a vida dos presbíteros, eis como se pode visualizar o conteúdo do livro de Dom Rafael Llano Cifuentes – Sacerdotes para o Terceiro Milênio, Ed. Santuário: O sacerdote é chamado à santidade sacerdotal, a viver o celibato como afirmação jubilosa e fecunda, a buscar a maturidade afetiva, a ser livre na pobreza; a viver na humildade e sinceridade aceitando a si mesmo com coerência, autenticidade, transparência e amor humilde; a cultivar a vida de oração, a ter o amor como paixão. Assim será como o Bom Pastor! "O sacerdócio está gravado, de forma indissolúvel, no nosso ser. E parece que grita: "Sacerdos in Aeternum!".

Podemos ficar desanimados... Nesse momento delicado, temos de descer até nossas raízes mais íntimas e encontrar força no chamado divino pessoal: "O Senhor escolheu a mim, pessoalmente, antes da constituição do mundo. Sou sacerdote para sempre!... Maria Santíssima trouxe para a Terra o Filho de Deus uma vez na história. Eu, com a força da minha palavra sacerdotal, posso trazê-Lo todos os dias na Santa Missa..." (pg. 14-15). "Como é bom perceber o amor e dedicação dos nossos padres nas comunidades e paróquias! Rezemos para que eles possam com amor seguir a Jesus Cristo nessa vocação", escreve uma religiosa que atua em nossa Diocese.

No Ano Sacerdotal proposto pelo Santo Padre, é importante o lema: "Fidelidade de Cristo, Fidelidade do Sacerdote". "Deixar-se conquistar totalmente por Cristo! Este foi o objetivo de toda a vida de São Paulo; esta foi a meta de todo o ministério do Santo Cura de A'rs, a quem invocaremos particularmente durante o Ano Sacerdotal" (Bento XVI, Homilia de Abertura do Ano Sacerdotal).

Vocação Matrimonial na Família: As pessoas que se unem em matrimônio por amor, expressam o amor de Deus na família: pais, mães, avós, tias, tios, filhos e filhas. Vivem no dia a dia o amor. O casal e a família são uma "pequena Igreja". Cristo está presente porque há um pacto de amor entre eles, uma verdadeira "aliança" – no sentido bíblico.

Como é importante pensar na família que começa e persevera no amor; que gera filhos e os faz crescer no amor! Este fato é capaz de reverter a violência e o desrespeito pela vida que grassam na sociedade de hoje. Não é com prisões que se supera a violência. Elas também são necessárias – infelizmente! Mas que o sejam para os casos extremos, que, por sinal diminuiriam, se as famílias vivessem sua vocação de amor e de educadoras para o amor. Procuremos incentivar a Pastoral Familiar, a Comissão em defesa da Vida e o CENPLAFLAM, entre outras iniciativas pastorais.

O Documento de Aparecida recomenda: "Visto que a família é o valor mais querido por nossos povos, cremos que se deve assumir a preocupação por ela como um dos eixos transversais de toda a ação evangelizadora da Igreja. Em toda diocese se requer uma pastoral familiar "intensa e vigorosa" para proclamar o evangelho da família, promover a cultura da vida, e trabalhar para que os direitos das famílias sejam reconhecidos e respeitados" (n. 435)

Vocação consagrada das religiosas e religiosos - Com alegria vemos em nossa diocese 26 comunidades de religiosas e 13 comunidades de religiosos, que por amor seguem a Jesus Cristo numa vida de oração e dedicação ao próximo. "A partir do seu ser, a vida consagrada é chamada a ser especialista em comunhão, no interior tanto da Igreja quanto da sociedade" (DA, 218). Rezemos por todos e por novas vocações por amor.

Catequistas: É também uma vocação por amor. Quem se doa como catequista é porque segue a Jesus Cristo e por isso transmite Seus ensinamentos. "É hora de despertarmos para a consciência de que a catequese é uma dimensão intrínseca de toda ação evangelizadora e que toda a Igreja assuma uma nova concepção de catequese como processo formativo, sistemático, progressivo e permanente de educação da fé, da esperança e do amor" (Diretório Nacional de Catequese). Estamos em pleno ano catequético, com intensa programação também em nossa Diocese (cfr. Pág. 5 do Presença Diocesana de julho 2009). Acolhamos a chama catequética que percorrerá nossas cidades, em setembro e outubro.

Que Nossa Senhora Aparecida abençoe as vocações. Em nossa Romaria a Aparecida rezamos pelos sacerdotes, pelo Ano Sacerdotal, pelo Seminário São José e por todas as vocações. Rezamos também pela família, pelos jovens e pela catequese!

Dom Jacyr Francisco Braido
Bispo de Santos - SP

31 de julho de 2009

O pregador padre Leo




Na última conversa que tivemos pedi a ele que vivesse, porque eu sentiria falta das nossas brigas. Éramos amigos de um dizer ao outro o que tinha que dizer. Foi meu aluno e eu permitia avaliação da minha comunicação nos minutos finais de 90 minutos de aulas. No futuro seriam avaliados a cada sermão. Um dia, ele me deu nota 6. Achou que vim despreparado. No dia em que ele improvisou uma resposta que não tinha porque não lera a matéria dei-lhe a mesma nota. Mas foi coisa de professor e aluno. Ele e eu sabíamos que minha tarefa era ajudá-lo a situar o seu talento. E frater Leo Tarcisio Pereira, mais tarde Padre Leo scj era um pregador-ator. Ele sabia dar vida a tudo o que narrava. Era desses iguais a quem não se verá em décadas.

Não há pregadores perfeitos. Padre Leo sabia que não era. Eu sabia e sei que não sou. Por isso, embora me admirasse muito, às vezes ele me criticava. Às vezes eu, que tenho o costume de gravar as pregações religiosas para meus estudos e para as aulas de "Prática e Crítica de Comunicação das Igrejas", mostrava a ele trechos de suas pregações que considerava inadequadas ou em falta. Ele esperneava, mas acaba agradecendo. Padre Leo nunca esqueceu que tive algo a ver com sua trajetória. Apostei no seu talento de pregador-ator. Era assim desde Itajubá. E seu talento era tal que, às vezes, fazia vôos perigosamente rasantes. Os vocábulos poderiam ser um pouco mais nobres... Dizia eu. De fala em fala, de correção fraterna em correção fraterna, acabávamos no entendendo. Éramos dehonianos e supostamente padre de pregação cordial. Aquela cruz e aquele "scj" que levamos nos dava esse direito.

Depois de ouvir sua palestra para família, felizmente registrada com o título "Restaurar a vida familiar" entendi que deveria mostrá-la em aula aos futuros pregadores. Ali o Padre Leo mostra todo o seu talento quase completo, -se é que isso existe-, de padre-pregador-contador de histórias-comediante-homem-sério-e- contundente, imitador e orador com um tema forte e um objetivo. É um exemplo das muitas pregações do Padre Leo, que considero um dos melhores pregadores que já vi atuar na mídia nos últimos 30 anos.



Nós dehonianos somos gratos ao Monsenhor Jonas Abib e à Canção Nova que deram a ele o púlpito que Padre Leão não teria entre nós. Onde estamos e atuamos, ele não repercutiria como repercutiu no Brasil e no mundo. Digamos que nós o preparamos e Monsenhor Jonas lhe deu os instrumentos. Ma ele já vinha dos inícios da RCC, da qual era admirador entusiasta, mas que nunca deixou de analisar com isenção. Amava-a e lutava por ela como fez pela congregação, mas tinha o hábito de falar o que pensava. Era uma de suas muitas qualidades.
Mas o pregador-ator, com uma simples e pequena história levava o povo a rir e a chorar e em cinco minutos conseguia trazer à luz alguma passagem bíblica marcante. Sobre ela desenvolvia sua catequese que parecia zigue-zague, mas na verdade era sólida, linear e transversal. Ele brincava e arrancava risos, mas ia ao ponto. Brinquei algumas vezes dizendo-lhe que ele nunca seria um Padre Antônio Vieira porque seu português não era nada rebuscado e escorreito, embora dele fosse capaz se o quisesse. Mas fiz ver que ele se tornara um pregador atualíssimo que sabia por que estava na mídia e compreendia o que significa enfrentar duas ou três câmeras sobre o seu púlpito. Padre Leo entendeu como ninguém a importância do púlpito eletrônico.


Optou conscientemente pela fala de mineiro para chegar ao povo e chegou. Escolheu aquela linguagem. E a exerceu muito bem, com algum eventual exagero que ele mesmo reconhecia.
Esses dias vi meu vídeo, gravado na TV Século XXI, perto do Padre Eduardo Daugherty sj : "A cura da minha família". Logo a seguir, liguei a do Padre Leo: Restaurar a vida familiar. Mesmo estilo, conteúdo semelhante, mesmas idéias, jeito peculiar de cada um. Mas percebi seus recursos. Eu tenho a canção, e ele tinha seu jeito de contador de "causos", estilo compadre mineiro.


Vindos da mesma região há coincidências de conteúdo e de estilo entre professor e aluno, mas tínhamos, em comum, a marca "dehonianos". Assim como consigo ver o estilo franciscano, jesuíta , dominicano, redentorista, percebo que há, sim, um jeito que, entre nós, passa de um para o outro. Nunca haverá um outro Padre Vitor, mas haverá outros redentoristas com a mesma força de chegar ao povo. É marca da congregação. Por idade, eu, ele, Padre Joãozinho, Padre Fábio que estudou 16 anos entre nós, Padre Marcial, e pelo menos vinte outros colegas bebemos do mesmo poço. Mas entre nós todos, Padre Leo foi quem mais assimilou a linguagem midiática. Dominava o palco e o púlpito, mas não era ele quem brilhava. Conseguia fazer o púlpito e a Bíblia brilhar. Tornava-a interessante. Seus ouvintes sentiam a curiosidade de ler o que Ele contava de maneira tão viça e atual. Era uma das coisas que eu mais elogiava nele. Não há pregadores perfeitos, mas se alguém quiser saber como se postar diante de câmeras e microfones, e como criar o clima para chegar ao cerne da pregação, recomendo o saudoso Padre Leo. Sua última fala terminou com a canção da minha autoria "Alô, Meu Deus". Ele gostava dela. A letra fala da volta ao ninho da fé. No caso dele, o ninho era o céu.

Achei que deveria prestar-lhe este tributo. Dizem que minhas canções ainda serão atuais muitos anos depois que morrer. Bondade dos amigos, porque nem todos pensam o mesmo. Mas digo isso de seus sermões e palestras. Continuam marcadamente atuais. Graças ao milagre da mídia, Padre Leo não passará tão cedo. Ele não se repetia. Mesmice não era com ele. Eu diria que sei por que. Do seu jeito de padre mineiro engraçado, mas sério, Padre Leo descobriu a linguagem da grande maioria dos brasileiros. Entre uma e outra lembrança, ainda me surpreendo a rir com ele.

Padre Zezinho, scj
José Fenandes de Oliveira