18 de março de 2009

Ausência: frustração ou possibilidade?

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O vazio insere o ser do homem no nada

É duro digerir o sabor de uma ausência. Alguém que parte, vai embora, deixando apenas o silêncio, o barulho do seu silêncio.

Uma presença tem o poder de ocupar um espaço – lugar definido e cheio de significação – no coração, um pedaço que se encaixa com tudo aquilo que é próprio dessa presença.

A ausência sempre dói, deixa um vazio. Mesmo quando não se percebe.

Ninguém constrói a vida com o intuito de ser abandonado, deixado para trás, de ser impossibilitado de contemplar aquilo que seu coração amou. No entanto, a ausência é uma linha que sempre perpassará a trama da existência, e em algum momento – voluntaria ou involuntariamente – ela se fará presença em nossa história. Inúmeras são as ausências: olhares, histórias, palavras que exercem o ofício de passar...

Existem ausências eternas – a morte, por exemplo –, e ausências circunstanciais, tecidas pelo abandono ou pela distância daqueles que se que amam.

A experiência de perder alguém para a eternidade gera uma enorme dor no coração. Contudo, a experiência de perder uma presença em uma ausência ainda presente na existência desinstala profundamente o coração, deixando um gosto de desamparo e frustração. O abandono traduz com maestria um dos maiores desejos da vida: o desejo da presença.

O vazio insere o ser do homem no nada, na náusea da mais profunda descaracterização daquilo que se é. Diante disso, em muitos corações ecoa a silenciosa pergunta: Por quê? Porque agora estou na companhia da solidão e não restou nenhuma palavra para explicar: "Sinto falta da sua voz. Não a ouço, mas ela continua falando dentro de mim...".

O vazio – ausência que configura a real desconfiguração – coloca o homem diante de sua verdade, revelando a ele sua necessidade de uma Presença que não passe. "Presença que não passe?" – diriam aqueles que jazem sufocados sob o peso da frustração – "Isso é possível? Visto que o abandono é companhia constante, que em algum momento baterá à nossa porta?" A isso responderia: "Não sei. Não quero ter a pretensão de dar pequenas respostas a grandes vazios". Entretanto, com ousadia, desejo devolver a pergunta: É possível dar "Sentido" a vazios que nasceram em virtude da presença de uma ausência?

Acredito que essa resposta mora em cada um. O coração sempre soube – mesmo que inconscientemente – que a vida nasceu para ser mais que seus próprios limites. Esse é um pressentimento inerente.

Um vazio sempre gerará a frustração, mas esta precisa ser enfrentada e "resignificada". Amar é uma maneira concreta de fazer isso. Amor: capacidade de guardar o que é bom, de superar distâncias e de superar – até mesmo – o fato de não mais ser querido e acompanhado por alguém.

As ausências se tornam suportáveis e até mesmo aprendizado se o coração consegue descobrir essa "Presença", que não passa, e n'Ela consegue se ancorar.

Essa Presença é real. Ela acompanha a existência e dá sentido a qualquer vazio, pois tem o amor como essência. Ela nunca vai embora... Quando o olhar descobre tal realidade, ele tem a chance de não mais se entrelaçar apenas no que passa, mas pode descobrir, a partir da ausência, "tijolos" que constroem eternidade, pois provocam o olhar para a busca do Eterno e daquilo que O compõe.

Que o coração possa se enxergar sem ilusões diante das perdas e do real e, assim, possa encontrar – mesmo na ausência – forças para emoldurar com esperança suas dores e sua história.

Foto Adriano Zandoná
artigos@cancaonova.com

10 de março de 2009

Penitência? Para quê?

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Começamos bem este tempo, mas depois parece que fica tão difícil

Não comer carne, não tomar refrigerante, chocolate nem pensar e não abusar das mensagens do celular. Vídeo game só daqui a 40 dias! Mas do que vale tudo isso?

Será que não estou me privando de coisas tão boas que não têm nada de mau?

Poxa! Ao me preparar para viver esta Quaresma vejo que, às vezes, erro pensando que esse é um tempo de privação!

Não!

Mas é de buscar o sentido que falta!

Vejo que, muitas vezes, começamos bem esse tempo, mas depois parece que fica tão difícil...

Lembro-me dos anos que fiz penitência de não beber refrigerante. Nossa! A quantidade de festas que fui... e lá estando... quem eu encontrava?

Ele – o refrigerante!

Bebia e pronto.

Vejo que propósito eu tinha, o que me faltava era a motivação, e esta faltava, pois faltava o sentido!

E assim a Quaresma se tornou um tempo chato para mim!

Mas hoje vejo que a finalidade do tempo quaresmal é de preparação: se preparar!

Preparar para quê?

Para a Misericórdia de Deus!

E essa preparação consiste em receber o dom de Sua misericórdia — dom que recebemos à medida que abrimos o coração para Ele, lançando fora o que não pode conviver com a misericórdia.

Hoje vivo diferente minha Quaresma!

Em minha casa temos uma penitência comum a todos! Pois, enquanto casa, temos uma parcela de misericórdia que a nós está reservada.

Eu e minha namorada temos uma prática de oração comum neste tempo que nos prepara! Pois junto a ela quero e tenho reservado uma parcela da misericórdia!

Vejo que assim vou colocando sentido em cada prática e em cada penitência! E porque encontrei sentido, tenho motivação e se tenho motivação, vou a cada dia estando mais "de boa" para viver em todas as esferas de minha vida o tempo de preparar!

Lendo sobre o significado de conversão encontrei: "Processo através do qual as emoções se transformam em manifestações físicas".

Sair das emoções e partir para ações! Isso gera sentido. Isso abre espaço para misericórdia!

Então, mais que deixar de fazer isso ou aquilo! Por que você não faz isso?

Faça! Faça com sua família, faça com seus amigos, faça com sua (seu) namorada (o)!

A Quaresma então é para todos!

"Tamu junto"

Foto Adriano Gonçalves
adriano@geracaophn.com

5 de março de 2009

Meta Alcançada


4 de março de 2009

Internet, fonte de conhecimento

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Testemunhamos, a cada minuto, as transformações do mundo

Há pouco tempo, quando se pensava em uma mídia capaz de movimentar as massas, tínhamos como detentora dessa categoria a televisão. Longe da interatividade, os telespectadores estavam privados de opinar sobre aquilo que estava sendo apresentado.

Atualmente esse reinado tem se dividido com a internet, cuja qualidade mais marcante é a vantagem de concentrar em um mesmo dispositivo as principais características da rádio, da TV e da mídia escrita, além de favorecer a interatividade entre aqueles que fazem as notícias e o público.


Com a popularização da rede mundial de computadores, testemunhamos, minuto a minuto, as transformações do mundo no modo de pensar, de agir e de reagir por intermédio das notícias cada vez mais imediatas. A democratização dessa mídia estendeu ao público comum, que até então apenas recebia passivamente as informações, a oportunidade de também viver a experiência de ser repórter ao expressar seus pensamentos, formar opiniões ou apenas partilhar comentários por meio de muitos dispositivos oferecidos por ela, como blogs, comunidades de relacionamentos, entre outros.

De certa maneira, estamos sempre buscando aprender alguma coisa, dispostos a partilhar experiências e a contar histórias. Não hesitamos em viver – ainda que num ambiente virtual – a interação com pessoas que jamais imaginaríamos encontrar. Aquela formalidade de antes conhecer alguém para posteriormente partilhar ideias ou contar fatos, na Web acontece de modo inverso, ou seja, a importância do conteúdo apresentado abre oportunidade de contato entre os internautas, assim como com o próprio autor da matéria.

Participar com comentários em um post faz de cada leitor um coprodutor de um artigo ou notícia, especialmente, quando este reage de maneira inteligente ao fazer valer sua opinião. Por outro lado, alguém que interage de maneira apelativa, ao se aproveitar do anonimato, abusa do seu direito com atitudes de extrema provocação. Tais pessoas deixam assim transparecer que de alguma maneira o conteúdo apresentado atingiu sua verdade, por vezes, difícil de ser enfrentada, além de também manifestarem que ainda não estão capacitadas para conviver com tamanha liberdade de expressão oferecida pela internet.

Sem a participação ativa e direta de cada leitor, a Web seria apenas um grande estande com muitos sites, criado apenas para o deleite do próprio autor. Mas tenho a certeza de que, para a grande maioria, o desejo é de sempre aproveitar dessa ferramenta como fonte de aprendizado, crescimento e interação.

Obrigado aos coprodutores deste site.

Um abraço

Foto Dado Moura
dado@dadomoura.com

20 de fevereiro de 2009

É hora de decisão

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Mesmo que a decisão seja só nossa, podemos ser ajudados


Perdas a ganhos se entrelaçam na arte de viver. A cada dia surgem novas descobertas e sempre deparamos com a oportunidade de nos decidirmos por algo.

Tomar uma decisão nunca foi fácil, afinal, decidir implica escolher e escolher uma coisa é inevitavelmente abrir mão de outra. O fato é que, alguma vez na vida, todos nós tivemos que tomar uma decisão e é sobre isso que vou falar.

Lembro-me de tantas vezes em que precisei tomar sérias decisões em minha vida... Mudar de emprego, entrar na Comunidade Canção Nova, fazer certo curso, terminar um relacionamento, fazer uma viagem, silenciar ou falar naquela hora... e por aí segue uma série de decisões tomadas ao longo de minha história. Fico pensando o que seria de mim se não tivesse tomado cada decisão, e recordo-me, com gratidão, das pessoas que me ajudaram a dar os passos necessários.

Acredito que diante das situações, quase sempre tensas, nas quais precisamos nos decidir por algo, a primeira atitude que devemos tomar é pedir ajuda a quem nos ama; de preferência que essa pessoa não esteja envolvida no caso. Mesmo que a decisão seja só nossa, podemos ser ajudados no sentido de avaliar bem "os dois lados da moeda". É que quando a situação nos pressiona a nos decidirmos, corremos o sério risco de agirmos guiados por sentimentos, pela razão ou por impulsos.

A pressa também pode ser nossa inimiga nessa hora; então, calma! Esperar um momento, deixar a poeira baixar pode ser muito proveitoso. Dizem que depois de uma noite de sono muita coisa pode mudar. Mas, atenção! Também não podemos deixar passar a hora da graça e nos acostumarmos à falta de decisão, e ao começar a conviver com o problema adiar o momento de agir. Atitudes assim corroem o coração, ofuscam o brilho da vida, roubam os sonhos e enfraquecem a vontade. É preciso coragem para dar os passos certos na hora certa!

Hoje, talvez seja o dia de uma grande decisão em sua vida! Portanto, não tenha medo de dar os passos que devem ser dados. Partilhe isso com alguém de sua confiança e tenha a coragem de passar pelo processo necessário da mudança. Pode ser mais fácil do que você imagina, mas só o saberá agindo.

A natureza nos ensina muito sobre renovação e mudanças. Basta contemplarmos a mesma árvore em cada estação do ano, e ficaremos impressionados como sua vida vai se entrelaçando entre perdas e ganhos. Conosco não é diferente e saber perder para ganhar é questão de sobrevivência.

A Palavra de Deus diz em Deuteronômio 31,6: "Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis, porque o Senhor vosso Deus é quem vai convosco. Não vos deixará nem vos desamparará".

Essa é promessa do Senhor e Ele é fiel. Posso testemunhar que sou uma pessoa feliz e o meio pelo qual Deus me forma, a cada dia, é dando-me a liberdade de fazer escolhas. Minha contribuição é fazer uso dessa liberdade e tentar fazer sempre a melhor escolha. Desejo que você também faça essa experiência, e confiando seguramente no Senhor, escolha hoje para sua vida o que é nobre e digno diante de Deus. Não tenha medo de abrir mão do que já não lhe pertence... Perdas e ganhos se entrelaçam na arte de viver bem e a natureza nos ensina essa lição, no silêncio.

Eu sou aprendiz. E você?

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com

16 de fevereiro de 2009

A arte da convivência familiar!

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Alguém único e irrepetível foi confiado a mim

Inspirado em algumas leituras e meditações feitas no dia a dia pastoral, passando por diversas comunidades, resolvi colocar em síntese algumas ideias, que vejo como importantes como reflexão para o enriquecimento da vida conjugal e familiar. Em primeiro lugar, é importante ter consciência de que o casamento é o encontro de duas pessoas que são diferentes, que se amam porque diferentes, e que permanecerão diferentes. Um se abre ao outro com suas diferenças, para enriquecer a vida e a história do outro.

Tem gente que passa a vida inteira querendo que o seu cônjuge seja como ele (a). Na convivência existem alguns pormenores que fazem a diferença. Existe um sinal inconfundível entre os que se amam de verdade: a dedicação de um ao outro. Alguém único e irrepetível foi confiado a mim. A esta pessoa devo dedicar minha vida, meus esforços, meu ser. Partilharemos um destino em comum, formaremos uma família, um tem de produzir vida no outro para que a plenitude da vida aconteça em seu lar. Existem atitudes que se tornam como que combustíveis do amor, alimentam-no e o fazem crescer. Estas se traduzem nas palavras, nos afetos e nas delicadezas. Um carinho a mais, uma atenção maior em determinados momentos, um gesto de delicadeza.

Tudo isso conta e muito! Já o inimigo principal do amor é o egoísmo. Uma pessoa centrada em si, individualista, que só pensa nos seus afazeres e satisfações, impossibilita a felicidade dos outros e, por tabela, se torna infeliz. Nossa vida é um chamado à comunhão e não ao isolamento. Fazer aos outros felizes é dever de todos.

Outras duas palavras que não poderão faltar na arte de amar são paciência e perdão!

A convivência humana exige isso.

Nós somos mistério para nós mesmos, como conhecer o outro sem restrições?

Surpreendemo-nos com nossos pensamentos e ações. Todos estamos em busca de um equilíbrio perfeito. Mas, isso não quer dizer que as imperfeições estejam superadas. A paciência é sinal de força e poder. Esperar diante de toda desesperança é sinal de sabedoria. Além disso, ser misericordioso é carregar em si o distintivo do discípulo de Cristo. Não perdoar é, como dizem por aí, "beber veneno achando que o outro é que vai morrer"! Como bem diz uma canção: "O lar é um lugar de se viver e dialogar".

Não tenho dúvida de que o casal é o lugar do Amor no mundo, e se é o lugar do Amor, é o lugar de Deus!

Precisamos honrar isso na prática de nossa vida, para a transformação de nossa história. Queridos casais, queridas famílias, estas palavras nascem do meu coração de pastor.

Desejo muito que o amor seja visto em cada lar de nossas paróquias.

Que Maria, Mãe do Divino Amor, interceda por nós!

Pe. Reinaldo R. Rezende é assessor diocesano da Pastoral Familiar e da Comissão Diocesana em Defesa da Vida.

Pe.Reinaldo Roberto de Rezende
Pároco da Catedral de São Dimas - S. José dos Campos - SP

12 de fevereiro de 2009

As diversas faces do ódio

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Odiar é viver na tristeza

Muitas vezes, podemos viver no ódio sem saber, o sinal de sua presença se manifesta de maneira clara, mas, por vezes, também sutil. Convido você para meditar sobre o sentido do ódio, sobre como ele se manifesta e sobre os efeitos dele. É claro que o contrário do ódio é o amor; mas quando estamos de fato no amor?

Jesus disse:

«Ouvistes o que foi dito aos antigos: "Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo". Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão, será réu perante o tribunal» (Mt 5, 21-22).

O que significa não matar? A primeira resposta que nos vem à mente é não tirar a vida de alguém. Por que qualquer pessoa, independentemente se é religiosa ou não, sabe que matar é errado? Mas por que manifestações de ódio, como brigas, desentendimentos, acidentes e violência têm tanta audiência?

Sem dúvida, há dentro de cada pessoa o desejo de estar próximo ou longe de alguém que talvez nunca lhe tenha feito mal algum. Assim como existem pessoas que nunca vimos e sentimos como se fôssemos amigos há muito tempo. Já outras só de vê-las nos dá o desejo de ficar longe delas. O primeiro exemplo fala do amor cuja essência é a união com o outro. O segundo exemplo nos revela o ódio, cuja essência é a separação, o querer estar distante do outro. Essas duas realidades nos indicam que dentro de nós convivem dois lados: o amor e o ódio.

Quando amamos colhemos imediatamente os frutos da alegria, da leveza interior, da satisfação e do desejo de proximidade com o amado. Por outro lado, quando odiamos colhemos imediatamente os frutos da tristeza, ficamos deprimidos, nos sentimos mal, com uma agitação contínua e não conseguimos ser nós mesmos porque o sentimento de aversão, de mágoa e de ressentimento podem até tomar conta de nós.

O que vimos até agora nos deixa claro que amar é ser feliz, ao passo que odiar é viver na tristeza. E quando estamos no amor e quando estamos no ódio? Como permanecer no amor e como vencer o ódio?

Quando estamos unidos a alguém, em paz uns com os outros, buscando sempre dar o melhor de nós para todos – seja para com os que são simpáticos, seja para os que nos são antipáticos – encontramos um caminho árduo, mas muito proveitoso para nossa vida terrena e para nossa salvação. Amar, portanto, é um vencer a si mesmo, é questão de inteligência e de decisão.

O ódio se manifesta na indiferença, no querer estar longe daqueles que nos fazem mal ou que não nos trazem prazer nem nenhuma satisfação pessoal. Ele surge quando escolhemos agir conforme o sentimento de querer estar distante de alguém, com ou sem motivo. Enfrentar os sentimentos de aversão, raiva, rancor profundo, antipatia, repulsa com gestos de amor é o único remédio para nos levar a vencê-lo [ódio].

Amar e odiar é uma questão de liberdade. A decisão por uma ação ou por outra depende de cada um de nós. Cabe a você escolher em cada momento. Deus não faz acepção de pessoas. Na Canção Nova aprendemos uma receita para viver o que Jesus nos ensinou: "Pensar bem de todos, falar bem de todos, querer bem a todos" (São João Bosco).

Leandro Pereira
leandrocesarcn@gmail.com