25 de agosto de 2008

A vocação profissional

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'Ser santo é cumprir bem os deveres e ser alegre'

Acredito que toda criança escuta a famosa pergunta: "O que você vai ser quando crescer?" E assim, mesmo sem entendermos bem, crescemos com um questionamento vocacional dentro de nós. A palavra "vocação" vem do latim "vocatione" (substantivo) e significa "chamado", "escolha", "talento", "aptidão" ou "vocare" (verbo), que significa "chamar".

Podemos dizer que existem dois tipos de chamado: um humano e outro divino. O que chamamos de humano consiste na possibilidade de realização de todas as nossas capacidades ou talentos. A dimensão divina consiste no chamado a termos uma relação pessoal com Deus. As duas dimensões são igualmente importantes.

Hoje, no entanto, falaremos um pouco da primeira dimensão, ou seja, da humana. Na escolha por uma profissão é importante levarmos em conta a realização pessoal e o serviço ao próximo. Para descobrirmos a nossa vocação precisamos responder a perguntas como: Do que eu gosto? Quais são as minhas aptidões naturais? O que fala mais alto em mim quando penso em uma vocação? Responder essas perguntas é o primeiro passo para a descoberta de nossa vocação.

Entretanto, precisamos salientar que precisamos perceber em que temos uma maior habilidade e adaptar o nosso talento natural à realidade, pois o trabalho também possui uma outra dimensão que é a de prover a subsistência de cada um de nós.

Victor Frankl afirma que: "O trabalho pode representar o campo em que o 'caráter de algo único' do indivíduo se relaciona com a comunidade, recebendo assim o seu sentido e o seu valor. Contudo, este sentido e valor é inerente em cada caso, à realização (à realização com que se contribui para a comunidade) e não a profissão concreta como tal. Não é, por conseguinte, um determinado tipo de profissão que oferece ao homem a possibilidade de atingir a plenitude. Neste sentido, pode-se dizer que nenhuma profissão faz o homem feliz. A profissão, em si, não é ainda suficiente para tornar o homem insubstituível; o que a profissão faz é simplesmente dar-lhe a oportunidade para vir a sê-lo".

A nossa profissão constitui-se numa possibilidade de nos colocarmos a serviço do outro, e é nessa possibilidade que o nosso trabalho ganha importância e significado, permitindo-nos a descoberta de quem realmente somos. A realização que vem do trabalho tem relação com o que há de mais específico e original em cada um de nós.

No exercício profissional podemos expressar, de forma única, quem somos e, assim, oferecer uma contribuição para a sociedade que somente nós podemos dar. Isso independentemente do que fazemos. Portanto, a questão não está no que fazemos, e sim, em como fazemos. Claro, precisamos estar atentos à realidade em que vivemos e as oportunidades que por um acaso possam surgir para bem aproveitá-las. Mas o mais importante é entendemos que não é uma profissão que faz o homem feliz; uma profissão apenas oferece oportunidade para sermos feliz. A verdadeira felicidade está em servimos ao outro e a Deus.

São Domingos Sávio dizia que: "Ser santo é cumprir bem os deveres e ser alegre". Ele nos deixou a lição de que "trabalhar com alegria" é um bom caminho que podemos seguir rumo à santidade e, dessa forma, podemos unir as duas dimensões vocacionais: a humana e a divina.

Façamos tudo com alegria, na certeza de que independente da nossa profissão, independente do que nós fazemos, podemos contribuir para o bem de outros, podemos deixar a marca da nossa singularidade, pois somos "únicos e irrepetíveis" como bem dizia Victor Frankl. Procuremos viver a cada dia o princípio deixado por São Paulo: "Quer comais ou bebais ou façais qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus" (1Cor 10,31).

22 de agosto de 2008

O 'sim' da conversão

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Converter-se é deixar de viver na mentira

Converter-se é deixar de viver longe de Deus. Sair do estado de perdição, deixar o pecado. Não somente o ato mau em si, mas deste resulta no estado da perda da salvação e o sentimento de inimizade contra Deus. Conversão consiste em voltar para o Senhor com todo coração, retomar o caminho das suas veredas.

A conversão é um conceito complexo, que significa uma profunda mudança de coração sob o influxo da Palavra de Deus. Essa transformação interior exprime-se nas obras e, por conseguinte, na vida inteira do cristão. A conversão significa a vitória sobre o "homem velho" que está enraizado (a existência carnal) e o começo de uma vida nova (a vida no Espírito) criada e governada pelo Espírito Santo de Deus. É um fato que na História da Salvação, após o pecado original, cada vez que Deus vai ao encontro do homem para com ele dialogar. Faz isso para provocar no mesmo ser humano a conversão do coração.

Não basta renunciar somente a um ato mau nem a um hábito pecaminoso. Precisa-se ir ao centro da existência; todo coração e todo o procedimento devem ser mudados. O afastamento de Deus somente termina quando o próprio Deus se achega pessoalmente ao homem.

A conversão como saída do estado de pecado, de ausência de Deus e de perda da salvação está unida à aceitação incondicional da soberania divina. Reconhecer que praticou o mal, que tem necessidade de redenção e de uma transformação completa.

Quem realmente se converte, submete-se de boa vontade à lei divina. Renuncia à vida de ilegalidade.

Converter-se é deixar de viver na injustiça. Quem se converte reconhece o quanto deve a Deus e esforça-se por Lhe dar a devida honra. Todo pecado cria um estado permanente de sonegação de justiça para com Deus. É uma inimizade habitual, uma injustiça. É uma recusa permanente de dar ao Senhor a glória que Lhe pertence e de prestar ao Pai a obediência e o amor filial. A conversão tira-nos deste mísero estado. Supõe uma renovação integral do coração.

Converter-se é deixar de viver na mentira. Quem se converte afasta-se da mentira. O pecado é mentira. Por isso, a conversão requer uma mudança total de mentalidade, um espírito novo, o Espírito da Verdade. A conversão é um 'sim' à verdade.

Conversão é a volta à casa do Pai e a entrada no Reino. É a passagem das trevas do pecado para a luz da Graça. O caminho que Deus aponta conduz a uma conversão séria e autêntica do coração. Deus apela para a liberdade humana e que a íntima conversão desta liberdade é obra Sua.

A conversão se inicia no momento em que Deus se digna de derramar "o espírito de graça e de preces" (Zac 12, 10). Porém, nossa conversão não se realizará sem o 'sim' de nossa liberdade.

A conversão culmina - é próprio da sua essência - em um novo nascimento, num renascimento do alto, de Deus. A volta à casa do Pai é a reintegração nos direitos de filho. Não é algo que se processa unicamente no exterior, mas é uma ação interior, uma modificação vital, um nascimento pelo Espírito. Para o homem, a conversão é, pois, infinitamente mais que o simples fato negativo de se livrar da escravidão do pecado, porque, para Deus, converter-se é infinitamente mais que perdoar pecados, é fazer o dom de uma vida nova. O homem torna-se filho de Deus.

O único modo efetivo de descobrir sempre mais a própria identidade é árduo, mas consolador, caminho da conversão sincera e pessoal, com um humilde reconhecimento das próprias imperfeições e pecados; e a confiança na força da ressurreição de Cristo. Essa transformação interior exprime-se nas obras e, por conseguinte, na vida inteira do cristão.

Pe. Reinaldo

19 de agosto de 2008

Vocação ao Matrimônio

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Quem assume o celibato, não o faz por falta de vocação ao matrimônio

O termo "vocação" vem da língua latina e se traduz por "chamado". Esse termo é usado em diversos sentidos, pois seu significado se abre como as muitas e diferentes palhetas de um belo leque.

Em sentido amplo, pode-se falar em "vocação para o matrimônio", para a "paternidade" ou para a "maternidade". Essas são vocações implícitas na própria natureza criada. Pelo fato de alguém ser criado "homem", em sua natureza está "embutido" o chamado ao matrimônio e à paternidade.

Da mesma forma, aquela que é gerada "mulher" traz em si mesma a vocação ao matrimônio e à maternidade. As exceções são muito raras, e quase sempre determinadas por algum tipo de problema pessoal.

É preciso afirmar de imediato que aqueles que são chamados ao sacerdócio e à vida consagrada, quer masculina quer feminina, trazem, sim, em sua natureza, essa vocação ao matrimônio, à paternidade e à maternidade. Se estes todos assumem o celibato, não é por falta da vocação ao matrimônio, mas sim, por uma "opção positiva" diante do chamado de Jesus para uma vida celibatária. Estes todos podem afirmar: "Eu não renunciei ao matrimônio!... Eu aceitei o convite de Jesus, optei e escolhi livre, voluntária e positivamente viver esse tipo de vida para a qual Ele me chamou!"

Na verdade, a família é tão importante para o ser humano que o matrimônio, a paternidade e a maternidade deveriam ser sempre assumidos "como uma vocação personalizada" do Pai celeste. O conhecimento da responsabilidade, da importância e da grandeza de formar um lar deveria ser tão profundo que induzisse os jovens a se prepararem para o matrimônio com todo cuidado, esmero e honestidade. Aliás, deveria ser exatamente com a mesma seriedade que um jovem se prepara para o sacerdócio ou uma jovem para a vida consagrada.

Para os jovens poderem se preparar muito bem para o matrimônio, precisam possuir um conhecimento claro e profundo do "projeto divino da procriação humana". Esse conhecimento lhes mostrará o verdadeiro significado do "masculino e do feminino", da "genitalidade" masculina e feminina, do sentido da "mútua atração" entre o homem e a mulher, do significado do namoro, do noivado e do casamento, bem como da importância de formar um lar que seja "ninho de amor", para a realização e felicidade do casal e dos filhos.

Pe. Alírio José Pedrini, SCJ

13 de agosto de 2008

Testemunho - Chamado a Servir



Em minha caminhada de Cristão dentro da Igreja Católica, tudo começa com a igreja doméstica onde aprendi a rezar junto com minha saudosa mãe Aparecida de Fátima da Silva, teve-se o fato curioso, quando ainda menino, fui a Missa e comunguei mesmo sem tem a preparação para a Comunhão, mas tudo isso na inocência, pois não sabia, nesta mesma igreja teve o momento de encontro com Arcebispo Emérito de Goiânia Dom Antônio Ribeiro de Oliveira que com o seu cajado bateu em minha cabeça num gesto simples para descontrair, houve ainda os momentos de reza do terço juntamente com a Dona Suzana no período em que morei em São Sebastião-DF, quando todas as crianças da rua se reuniam para lembrar-se de Nossa Senhora, passei por algumas pastorais e movimentos, desde a Pastoral do Batismo a Pastoral da Juventude, sempre atuante dentro da comunidade. No ano de 2001 junto com a juventude conheci a Sociedade de São Vicente de Paulo-SSVP através do convite de minha amiga Maria de Lourdes a conhecer uma Conferência Vicentina de jovens que estava sendo formada aqui no centro da cidade de Trindade, seu nome era Conferência Santo Afonso, eu estando com a idade de 19 anos, vindo de um momento muito triste da minha vida, quando perdi minha mãe. Mesmo que esta conferência não tenha continuado o seu trabalho, senti o chamado a caminhar nesta espiritualidade, depois comecei a participar da Conferência São Miguel Arcanjo, que tem como local de reuniões semanais a Capela de São Vicente de Paulo, no Jardim das Tamareiras, aqui mesmo em Trindade. Local onde fiz grande amigos como Cfd. Sandro Garcia, Cfd. Thiago Martins entre muitos outros.
Com o caminhar fui conhecendo mais sobre a SSVP e toda sua história, em 2003 fui proclamado vicentino e me senti mais comprometido a participar e, isso me motivou muito, neste mesmo ano fui aclamado vicentino na Assembleia em Louvor a Imaculada Conceição de Maria, realizada anualmente pelo Conselho Metropolitano de Goiânia. Nos anos seguintes fui conhecendo e participando da hierarquia da SSVP, em 2004 tivemos uma eleição para o Conselho Particular Divino Pai Eterno, fui convocado para o encargo da ECAFO (Escola de Capacitação Antônio Frederico Ozanam), me senti assustado no começo, mas todos me deram apoio, neste mesmo ano junto com a ECAFO e Comissão de Jovens do Conselho Central Nossa Senhora de Fátima, formamos a Equipe de Formação Vicentina (coordenada pelo Cfd. Célio Alves Rocha), com a missão de levar aos vicentinos de nosso conselho mais formação e espiritualidade vicentina.
Em 2005, já havíamos realizado vários encontros de formação pelas cidades que fazem parte do nosso Conselho Central Nossa Senhora de Fátima, isso foi muito gratificante, pois saíamos de nossas casas e viajávamos longas distâncias para levar e buscar um pouco mais de conhecimento sobre a história SSVP além do privilégio de participar dos momentos de oração, e sermos tratados como filhos em cada casa que ficávamos. Como o trabalho de um cristão nunca acaba um novo desafio surgiu: Fui convidado para participar da Equipe do programa Voz Vicentina no Centro-Oeste pela rádio Difusora de Goiânia AM 640, onde até hoje dou minha contribuição, ajudando o Departamento de Comunicação do Conselho Metropolitano de Goiânia. Neste mesmo ano tivemos eleições em nossa conferência, fui candidato, mas não fui eleito, entretanto, ajudei como vice-presidente, ao lado de um grande amigo, o Cfd. Thiago Martins.
Foi no ano de 2006, que surgiu o maior desafio dentro de minha vida, pois prestei vestibular e passei, a agora veio o momento de maior provação, conciliar família, trabalho cristão e estudos, pensei muito sobre isso, pois nestes anos de caminhada vi muitos jovens sumirem da Igreja por estarem vivendo está mesma situação, mas decidi ficar e caminhar, pois sempre tive e tenho fé de que Deus não nos abandona mesmo em momentos de dificuldade; hoje mesmo não podendo agir de maneira tão dedicada a SSVP, continuo meus trabalhos dentro da Conferência São Miguel Arcanjo (pois ela é à base de toda a SSVP), atualmente como secretário, e de acordo com as minhas possibilidades ajudo o DECOM do Conselho Metropolitano de Goiânia, pois o tempo à gente faz.
E como a missão continua no ano de 2008 foi realizada nova eleição para o Conselho Particular Divino Pai Eterno, com o apoio de nossos confrades e consocias, e também vendo a realidade de nossa cidade, lancei candidatura e fui eleito, mas não para o meu engrandecimento e sim para poder manter vivo o espírito vicentino em nossa cidade e espalhar mais ainda a chama de caridade aos corações das pessoas.
No ano de 2010, São Vicente de Paulo e Frederico Ozanam queriam de mim mais uma missão. Eis que estava encerrando o mandato da Csa. Doranice Martins Lopes diante do Conselho Central Nossa Senhora de Fátima, tínhamos um candidato já formado pra assumir, mas por motivos internos o mesmo não pode concorrer ao pleito, meu nome foi citado somente para que ocorresse a eleição daquele ano, e juntamente com meu amigo Cfd. Dorival de Souza Gonçalves; mas Deus age de forma a capacitar os seus escolhidos e com toda situação ocorrida fui eleito a guiar mais de 500 vicentinos em 8 cidades, parte de Goiânia a Novo Brasil. Missão enorme e de muita responsabilidade, mas com oração e união vamos fazendo o melhor para todos que contam conosco. Neste mesmo ano conheci Gizelle Oliveira Vaz, uma pessoa especial e de caminhada na Igreja; com as bênçãos de Deus recebemos o sacramento do Matrimônio em 10/12/2011. Formar uma família é um passo agraciado na vida do Cristão.
Em 2012 recebi a noticia que mudou toda minha vida, Miguel Oliveira Vaz Silva veio para nos trazer muita alegria. Ter um filho faz a gente ver tudo com novos olhares e a cada dia ser mais feliz.
 Diante de tudo que se passou em minha vida, perca precoce de minha mãe, aumento da responsabilidade familiar, compromisso vicentino e estudos aprendi que não devemos nos curvar diante das nossas dificuldades e sim enfrentá-las contando sempre com o apoio de nosso eterno Pai e seu único filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, um jovem cheio do Espírito Santo que dedicou a sua vida a mostrar as pessoas que tudo pode ser diferente se você tem fé e perseverança, essa lição de vida inspirou nosso patrono São Vicente de Paulo, e mais tarde inspirou um jovem chamado Frederico Ozanam a fundar a maior obra de caridade leiga da nossa Igreja Católica, a Sociedade de São Vicente de Paulo. Muitos ainda me perguntam por que mesmo com tantas coisas e afazeres pessoais, dedico a minha vida a SSVP, e sempre respondo: "Estou fazendo a minha parte, para que o mundo possa ser um pouco diferente, ser mais humano". Agradeço também a minha esposa e filho, família e amigos que sempre estão ao meu lado dando muito apoio.
Aos jovens digo: "Não percam a fé e jamais desistam dos seus sonhos mesmo que hoje a vida seja bem diferente da vida que nossos pais levavam, com mais responsabilidade e dificuldades, se temos fé e acreditamos em nosso potencial podemos sim realizar milagres e obras em honra de nosso Deus, um Deus que nos ama imensamente e que nunca nos abandona". Hoje a juventude pode e deve fazer a diferença, pois amanhã nossos filhos vão nos perguntar: "Porque devemos ajudar as pessoas?" E nós devemos ter nossa vida como exemplo para podermos dar a eles uma reposta concreta e firme. Agradeço a Deus toda a capacidade que ele me dá de continuar a caminhar, mas peço sempre em minhas orações mais força, pois a caminhada é longa e jamais devemos desistir.














Eder Silva
Cristão Vicentino

Os furacões em nossas vidas

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Precisamos perseverar, porque as paredes podem cair de novo

O Furacão Katrina foi uma das mais fortes tormentas tropicais que atingiu a região do Golfo americano. Com ventos de até 240 km por hora, o furacão deixou um rastro de mortes muito elevado e um prejuízo imenso para as seguradoras americanas devido à destruição dos lugares onde passou.

Desabamentos com inúmeras vítimas, pessoas ilhadas tentando fugir das águas são imagens que vão ficar gravadas em nossas mentes.

E os furacões que assolam as nossas vidas, os furacões das decepções, traições, calúnias, doenças graves na família, que conseqüências eles trazem à nossa alma, à nossa psique e até ao nosso físico? Uma imensa sensação de estar perdido, abandonado até por Deus, um imenso desânimo, uma dor lancinante de angústia no peito latejam diariamente sem cessar. Uma falta de esperança que tudo pode mudar e voltar a ter cor de novo são sintomas quando vivemos essas experiências dolorosas. A ausência de vontade de rezar é maior que tudo, mas a necessidade é estimulada pelas fortes dores na alma.

Correr para Deus, correr para Aquele que faz com que o furacão pare e rogar para a ressurreição chegar é essencial. A pedagogia divina não é paternalista, mas paternal, ela exige que nos levantemos, dando os passos para começar a reconstrução da alma e das outras áreas da nossa humanidade que estão destruídas ou bem danificadas.

E que passos são esses? O perdão renovado às pessoas que nos fizeram mal, demonstrado em atitudes de bondade para com elas.

Pequenas atitudes, um sorriso, um "como vai?", perguntar sobre o dia da pessoa, sobre o que é importante para ela.

Acredite que ser bom para as pessoas será excelente para nós. E parte daquilo que foi destruído pelo furacão começa a ser

reconstruída lentamente.

Muitas vezes, vamos entrar no ciclo de relembrar as coisas ruins, mas precisamos pedir o Sangue de Jesus para lavar a nossa memória, as nossas lembranças.

Não podemos parar quando não somos correspondidos com amabilidade nas tentativas de reconstrução, pois o terreno depois de um furacão não é favorável para a implantação de um novo alicerce.

Precisamos perseverar, porque, muitas vezes, as paredes podem cair de novo, e precisamos recomeçar. E acredite: a cura para a reconstrução da alma, da psique e até do nosso corpo físico vem da oração e da atitude amável.

Você não está só! Deus o convida para reconstruir tudo com Ele.

Maria Elizabete S. Albuquerque

11 de agosto de 2008

Vida religiosa

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Muitos estão sendo vencidos pelo medo de seguir, até o fim, o projeto de Jesus

"O hábito não faz o monge", diz o provérbio, mas, sem dúvida, chama um pouco, ou muita, atenção. Talvez uma criança curiosa tenha nos incomodado com perguntas inocentes querendo saber: "Por que aquela pessoa estava vestida daquele jeito?" Claro que podemos sair da pergunta com uma resposta curta e grossa: "É uma freira" ou "É um frei". E se a criança insistir, querendo saber mais, saberíamos responder à altura e com gosto? Ou nos esconderíamos atrás do banal "deixa pra lá", equivalente a não saber ou ao não querer responder?

Tenho certeza: digam o que quiserem, finjam não ver, ignorem a presença deles e delas, mas os religiosos e as religiosas chamam atenção. Não porque queiram isso. Mas - ou por usarem o hábito ou pelo jeito - obrigam-nos a perguntar por que eles e elas escolheram aquela forma de viver. Por quê?

Insisto sobre os questionamentos pelo fato de a vida religiosa também ter mudado. A freira que anda pelas casas do bairro pobre é formada em Pedagogia e está estudando Ciências Sociais. O monge, que abre a porta do convento e acolhe os mendigos é mestre em Letras pela PUC de São Paulo. O frei que anda de bicicleta, evitando os buracos e a lama da periferia, é advogado. A irmãzinha que cuida da creche é enfermeira diplomada e continua estudando Medicina de noite. O irmão que está no acampamento dos sem-terra é doutor em Teologia. E assim poderíamos continuar.

Quem tem uma imagem dos irmãos e das irmãs como de "coitadinhos" meio perdidos e fora do tempo está muito enganado. Não somente porque eles e elas, hoje, estudam mais, mas porque continuam sabendo muito bem o que querem. Eles têm um grande projeto de vida. Querem ser felizes vivendo o Evangelho. Querem contribuir com a sociedade de hoje seguindo as pegadas de Jesus Cristo.

Se a vida religiosa podia parecer, no passado, um refúgio para ter uma "certa" tranqüilidade, ou uma fuga por medo das coisas perigosas do mundo, hoje é exatamente o contrário. Vida religiosa não é para pessoas fracas. É cada vez mais exigente. Dizem que o celibato para o Reino de Deus e a virgindade consagrada são coisas para sexualmente frustrados. A pobreza é considerada excesso de loucura e inaptidão administrativa. A obediência, uma inútil inibição dos projetos pessoais, uma afronta à liberdade individual. Essas coisas são bobagens, claro, mas só para os acomodados, os que ficam alucinados e iludidos pelas coisas do mundo, para os que adoram encontrar defeitos nos outros e só sabem criticar. Por isso, a vida religiosa sempre será questionada e sempre chamará atenção. O caminho é difícil e a porta estreita. É preciso empurrá-la para entrar, não é para todos.

Se não entendemos tudo isso, ou não sabemos responder bem às perguntas acima, tenhamos ao menos o bom senso de não falar à toa e, quem sabe, aprendamos a agradecer a essas pessoas, que pagam com a própria vida as suas escolhas. Se não fosse assim, a Irmã Dorothy Stang não teria morrido. O padre Bossi, do PIME, não teria sido seqüestrado lá nas Filipinas. Os religiosos e as religiosas podem ter muitos defeitos, como todos, mas não são nem bobos nem ingênuos.

A chamada crise da vida religiosa pode ser pela quantidade; mas com certeza não o é pela qualidade. Talvez aos jovens, hoje, falte coragem. Estão sendo vencidos pelo medo de seguir, até o fim, o projeto de Jesus. Sentem medo de parecer diferentes ou de incomodar aos outros; de começar a mudar a história, mudando a própria vida. Por isso Jesus repetiu tantas vezes aos discípulos: não tenham medo… E o repete ainda em nossos dias. Para nós todos.

Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

7 de agosto de 2008

Pai, uma missão sem fim

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Aquilo que não foi semeado não poderá ser colhido

A missão confiada aos pais não é assegurada somente quando nossos filhos são apenas crianças. Precisamos ser bons mestres tanto nos ensinamentos como em atitudes, e isso não cabe a nenhuma escola. Muitas vezes, o acúmulo de coisas e outras preocupações pertinentes aos genitores fazem passar despercebido o fato de que a formação do caráter dos filhos depende deles.

Numa casa, nos finais de semana, sempre há muitas coisas para ser resolvidas; outras para ser consertadas, entre outros. E quase sempre, na tagarelice de criança, estará o filho rodeando o pai simplesmente para estar junto dele, ou para espalhar suas ferramentas. O filho – sem ter conhecimento - dispõe ao pai uma oportunidade de fortalecer vínculos e de fazer de uma simples tarefa doméstica uma experiência inesquecível para ambos; mesmo quando ele [o filho] inventa brincadeiras no mesmo local onde o pai está trabalhando.

São esses momentos que propiciam maior intimidade entre pais e filhos, por mais breve que sejam eles. Certamente, em pouco tempo, já não estarão mais interessados em ajudar a apoiar uma escada, nem a lavar o carro ou arrumar uma antena...

Nossas crianças não crescem já conhecendo sobre o que é certo e errado, tampouco têm idéia sobre a necessidade de se esperar o momento adequado para ganhar o presente que desejam ou ainda fazer aquilo que bem entendem como se o mundo girasse ao redor delas. Por outro lado, a missão de pai não termina com a chegada da juventude do filho. Rapidamente outras atividades vão tomar parte da vida de nossos jovens e não permanecerão eternamente sob as sombras dos pais. Dentre as novas ocupações, também vão estar o "compromisso" de responder e-mails, atualizar seus contatos em sites de relacionamentos, entre outras coisas.

Lembro-me de que na minha adolescência, pouco a pouco, fui estimulado a buscar trabalho, me fazendo assim conquistar o próprio dinheiro. Isso me permitiu experimentar a sensação de alcançar a minha "independência financeira" e de aprender como controlar meus próprios gastos. A sensação de ser dono do "próprio nariz", ainda que não tivesse maturidade suficiente para enfrentar as próprias responsabilidades, já me estimulava a firmar meus propósitos naquilo que achava estar correto.

Na atitude natural daqueles que procuram proteger e defender seus objetivos e diante do parecer contrário dos pais a respeito de seus interesses, o jovem pode replicar questionando: "Por que não?". Certamente, uma simples resposta de "porque sim" ou "porque eu quero assim" já não mais será suficiente para convencer o filho. De outro modo, abrir mão da responsabilidade e das regras estabelecidas em casa, deixando o jovem viver segundo seu bel-prazer, não deverá ser o caminho mais fácil para se evitar conflitos.

Podemos enfrentar algumas dificuldades para assimilar as possíveis diferenças de opiniões e de comportamento de nossos filhos. Mas a constância nas observações das normas e a perseverança na vivência das virtudes não permitirão que os laços de amizade e de confiança da família se tornem infecundos. Assim, o respeito mútuo será o sustentáculo que permitirá o diálogo, no qual, poderão encontrar - juntos - a melhor maneira para se equacionar possíveis impasses.

Lembremos que aquilo que não foi semeado não poderá ser colhido, nem sob a condição de uma autoridade opressora.

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Deus abençoe a todos que abraçaram essa missão.

Foto José Eduardo Moura
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