27 de maio de 2008

Abandonar a ociosidade

Imagem de Destaque
Um mau trabalhador é também um mau cristão

"O trabalho é pois um dever: 'Quem não trabalhar , também não há de comer'(2Ts3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Suportando a pena do trabalho, unido a Jesus, o artesão de Nazaré e o crucificado do Calvário. O homem colabora de certa maneira com o Filho de Deus na sua obra redentora. Mostra-se discípulo de Cristo carregando a cruz de cada dia, na atividade que está chamado a realizar.

O trabalho pode ser um meio de santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo" (Catecismo da Igreja Católica, n. 2427). Esse ensinamento da Igreja mostra bem o valor sobrenatural do trabalho do homem; e portanto, diz aos pais o quanto é importante introduzir os filhos no mundo do trabalho com uma correta mentalidade que lhes acompanhe a vida toda. O mundo da oficina deve ser tão sagrado quanto o seio da igreja onde entramos para celebrar o Santo Sacrifício.

Não podemos dividir a nossa vida numa parte profana e outra religiosa; o mesmo Deus é o autor da fé e do trabalho, e quer, que através de ambos cheguemos à santidade. São Domingos Sávio, modelo de santidade jovem, dizia que ser santo "é cumprir bem os deveres e ser alegre". Que receita simples, nascida no coração de uma criança santa!

Nós leigos somos chamados a santificar o mundo através do trabalho. Um mau trabalhador, preguiçoso, negligente, displicente, é também um mau cristão.

Temos de ensinar aos nossos filhos que o trabalho não deve ser bem realizado só quando o patrão está perto, ou quando o salário é gratificante. Em qualquer circunstância ele deve ser bem feito, para a maior glória de Deus. São Paulo, ao escrever aos colossenses, disse: "Tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai" (Col 3,17). "Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo" (Col 3,21).

Esses ensinamentos do Apóstolo mostram que "tudo" o que fazemos deve ser bem feito, por amor a Deus e para Deus; e, é d'Ele, de Suas Mãos que vamos receber o prêmio da fidelidade de ter trabalhado bem, por mais simples que seja o nosso ofício. Portanto, é preciso ensinar o filho a trabalhar como se o Senhor fosse o Patrão; e, na verdade, Ele é o grande Chefe desta oficina que é o mundo.

Não permitam que os filhos caminhem na ociosidade, para que não cheguem às moradas dos vícios.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com
Prof. Felipe Aquino, casado, 5 fihos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de Aprofundamentos no país e no exterior, já escreveu 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando Idéias". Conheça mais em www.cleofas.com.br

17 de maio de 2008

Namorados que nasceram para ser amigos

Imagem de Destaque


Namoros não são muletas para evitar solidão

Muitos namoros, por terem assumido propósitos diferentes, não conseguem fluir ou atingir o amadurecimento que deveriam ao longo dos anos, conforme o desejado. Talvez, sem perceber ou por falta de coragem em admitir a insatisfação diante do outro, alguns casais, no tempo em que estão juntos, limitam-se a poucas palavras ou até mesmo mal manifestam interesse pelo outro.

A insatisfação gera descontentamento e este pode ser refletido nas atitudes de grosseria, rispidez nas palavras e até de isolamento por parte dessas pessoas que não conseguem se encontrar no relacionamento. Quando isso acontece, como se costuma dizer, quem "paga o pato" são as pessoas mais próximas, neste caso: familiares e amigos.

Diante de alguma dificuldade ou quando os nossos projetos não estão se desenvolvendo como gostaríamos, pouco a pouco, a falta de estímulo e o ardor para assumir novas atitudes desaparece. Pode-se até admitir que foi diferente a maneira como se iniciou o relacionamento ou que a pessoa não seja tão romântico(a) como se gostaria que ele(a) fosse.

Quando os namoros começam a patinar, entrando numa rotina sem progresso, muitos acabam se limitando à superficialidade de uma amizade. Muitas vezes, seja por comodismo ou por alguma liberdade que se acredita ter adquirido no convívio, os namorados podem correr o risco de preferir continuar arrastando o relacionamento em vez de definir a situação, mesmo que os sinais vitais deste indiquem "falências múltiplas". Ainda que os casais se esforcem em simular uma alegria com este relacionamento, o olhar contesta com a falta do brilho de vigor. A situação se agrava ainda mais quando ambos caem na tentação de buscar a frieza do isolamento, evitando partilhar com alguém que possa oferecer ajuda sensata sobre aquilo que estão vivendo. Talvez a falta de coragem para definir o rompimento dessa relação débil é adiada pelo medo de não encontrarem outra pessoa por quem possam novamente se apaixonar.

Infelizmente, muitas pessoas tentando remediar a situação – e por julgarem que o sexo poderia mudar alguma coisa na relação –, acabam se complicando ainda mais com uma gravidez. Se o namoro já manifestava sinais de fraqueza, poderia o casal ser forte o bastante para suportar uma responsabilidade que o acompanhará por toda uma vida? Ou se a pessoa com quem estamos nos relacionando não parece ser o homem ou a mulher ideal, que se esperava encontrar, poderia ser agora uma muleta somente para não se ficar sozinho(a)?

Se entendemos que a nossa vida é composta de etapas, as quais vamos vencendo e aprendendo com cada uma delas, não podemos insistir na direção errada ao percebermos que as placas de nossa "estrada" indicam outra direção. Da mesma forma, se depois de algum tempo, percebemos que o namoro não corresponde com o que desejávamos, por que então insistir em "malhar em ferro frio"?

Deixar de acreditar na sua própria capacidade de decisão e escolha é fechar as portas das oportunidades para a felicidade que se almejava alcançar.

Que o Espírito Santo venha em auxílio de nossas fraquezas, e abrindo nossos olhos não corramos o risco de subestimar os toques d'Aquele que caminha conosco.


Foto José Eduardo Moura
webenglish@cancaonova.com
Missionário da Comunidade Canção Nova, trabalhando atualmente na na Fundação João Paulo II no Portal Canção Nova.
Ouça comentários em MP3 de outros artigos em meu podcast

16 de maio de 2008

A Missa explicada por padre Pio

Imagem de Destaque


Do sinal da cruz inicial até o ofertório, é preciso encontrar Jesus

Padre Pio era o modelo de cada padre... Não se podia assistir "à sua Missa", sem que nos tornássemos, quase sem perceber, "participantes" desse drama que se vivia a cada manhã sobre o altar. Crucificado com o Crucificado, o Padre revivia a Paixão de Jesus com grande dor, da qual fui testemunha privilegiada, pois lhe ajudava, na Missa.

Ele nos ensinava que nossa Salvação só se poderia obter se, em primeiro lugar, a cruz fosse plantada na nossa vida. Dizia: "Creio que a Santíssima Eucaristia é o grande meio para aspirar à Santa Perfeição, mas é preciso recebê-La com o desejo e o engajamento de arrancar, do próprio coração, tudo o que desagrada Àquele que queremos ter em nós".(27 de julho 1917).

Pouco depois da minha ordenação sacerdotal, explicou-me ele que, durante a celebração da Eucaristia, era preciso colocar em paralelo a cronologia da Missa e a da Paixão. Trata-se, antes de tudo, de compreender e de realizar que o Padre no altar É Jesus Cristo. Desde então, Jesus, em seu Padre, revive indefinidamente a mesma Paixão.

Do sinal da cruz inicial até o Ofertório, é preciso ir encontrar Jesus no Getsemani, é preciso seguir Jesus na Sua agonia, sofrendo diante deste "mar de lama" do pecado. É preciso unir-se a Jesus em sua dor de ver que a Palavra do Pai, que Ele veio nos trazer, não é recebida pelos homens, nem bem nem mal. E, a partir desta visão, é preciso escutar as leituras da Missa como sendo dirigidas a nós, pessoalmente .

O Ofertório: É a prisão, chegou a hora...

O Prefácio: É o canto de louvor e de agradecimento que Jesus dirige ao Pai, e que Lhe permitiu, enfim, chegar a esta "Hora".

Desde o início da oração Eucarística até a Consagração : Nós nos unimos (rapidamente!...) a Jesus em Seu aprisionamento, em Sua atroz flagelação, na Sua coroação de espinhos e Seu caminhar com a cruz nas costas, pelas ruelas de Jerusalém e, no "Memento", olhando todos os presentes e aqueles pelos quais rezamos especialmente.

A Consagração nos dá o Corpo entregue agora, o Sangue derramado agora. Misticamente, é a própria crucifixão do Senhor. E é por isso que Padre Pio sofria atrozmente neste momento da Missa.

Nós nos uníamos em seguida a Jesus na cruz, oferecendo ao Pai, desde esse instante, o Sacrifício Redentor. Este é o sentido da oração litúrgica que segue imediatamente à consagração.

"Por Cristo com Cristo e em Cristo" corresponde ao grito de Jesus: "Pai, nas Tuas Mãos entrego o Meu Espírito!" Desde então, o sacrifício é consumado pelo Cristo e aceito pelo Pai. Daqui por diante, os homens não mais estão separados de Deus e se encontram de novo unidos. É a razão pela qual, nesse instante, recita-se a oração de todos os filhos: "Pai Nosso...".

A fração da hóstia indica a Morte de Jesus...

A Intinção, instante em que o Padre, tendo partido a hóstia (símbolo da morte...), deixa cair uma parcela do Corpo de Cristo no cálice do Precioso Sangue, marca o momento da Ressurreição, pois o Corpo e o Sangue estão de novo reunidos e é ao Cristo Vivo que vamos comungar.

A Bênção do Padre marca os fiéis com a cruz, ao mesmo tempo como um extraordinário distintivo e como um escudo protetor contra os assaltos do Maligno...

Depois de ter escutado uma tal explicação dos lábios do próprio Padre e sabendo bem que ele vivia dolorosamente tudo aquilo, compreende-se que me tenha pedido segui-lo neste caminho... o que eu fazia cada dia... E com que alegria!

Pe. Jean Derobert

Palavras do padre Pio

Jesus me consolou. Em 18 de abril de 1912, depois de uma luta terrível contra o inferno, a consolação do Senhor me veio depois da Missa: "Ao final da missa, conversei com Jesus para a ação de graças. Oh quanto foi suave o colóquio mantido com o paraíso nessa manhã!... O coração de Jesus e o meu se fundiram. Não eram mais dois que batiam, mas um só. Meu coração tinha desaparecido como uma gota de água se dissolve no mar... - Padre Pio chorava de alegria.- Quando o paraíso invade um coração, esse coração aflito, exilado, fraco e mortal não pode suporta-lo sem chorar...".

Ao Pe Agostinho, 18/04/1912, em "Padre Pio, Transparent de Dieu", J.Derobert.

Confidências a seus filhos espirituais

"Minha missa é uma mistura sagrada com a Paixão de Jesus. Minha responsabilidade é única no mundo", disse ele chorando.

"Na Paixão de Jesus, encontrarão também a minha".

"Não desejo o sofrimento por ele mesmo, não; mas pelos frutos que me dá. Ele dá glória a Deus e salva meus irmãos, que mais posso desejar?".

"A que momento do Divino Sacrifício mais sofreis?". - Da consagração à comunhão." "Durante o ofertório?. - É neste momento que a alma é separada das coisas profanas."

"A consagração?". - É verdadeiramente aí que advém uma nova admirável destruição e criação."

"A Comunhão? Na comunhão, sofreis a morte? - Misticamente, sim. - Por veemência de amor ou de dor? - Por uma e outra: mas mais por amor."

"Sofreis toda e sempre a Paixão de Jesus?". - Sim, por Sua bondade e Sua condescendência, tanto quanto é possível a uma criatura humana. - E como podeis trabalhar com tanta dor? - Encontro o meu repouso sobre a cruz."

"Como nós devemos ouvir a Santa Missa?". - Como a assistiam a Santa Virgem Maria e as Santas mulheres. Como São João assistiu ao Sacrifício Eucarístico e ao Sacrificio sangrento da cruz "". Pe. Tarcísio, Congresso de Udine, 1972.

Filhos são sempre uma bênção

Imagem de Destaque


...e quando a vida sexual se inicia irresponsavelmente na adolescência

A cada dia mais é freqüente vermos jovens grávidas e pais muito jovens. A meu ver, isso nega a lógica das campanhas ministeriais de prevenção da gravidez, as quais, muitas vezes, estão a favor do sexo livre. Com isso, constatamos que o que falta não é informação, como muitos defendem, mas maturidade psicológica dos jovens que iniciam sua vida sexual muito precocemente, sem se dar conta das conseqüências de seus atos. Possuem informações sim, mas não sabem aplicá-las para suas vidas, pois com uma visão centrada neles mesmos e nos prazeres imediatistas, acham que nada vai acontecer com eles: é a visão mágica de ser imune a toda conseqüência negativa de seus atos.

A gravidez faz com que a jovem e também o jovem pai façam de maneira brusca a passagem de filho/a para pai/mãe. Muitas vezes pulando a etapa esposo/esposa. Seu mundo adolescente se rompe e vem a obrigação de adulto. Obrigações estas, que a meu ver, não devem ser transferidas e assumidas pelos pais deles. Os progenitores, muitas vezes, caem no erro de ficar com pena dos filhos por estes terem de assumir precocemente uma família, e por se sentirem culpados ou por terem vivido a mesma situação, acabam os superprotegendo mais uma vez, não permitindo que façam essa passagem, mesmo que de forma abrupta e precoce. Dessa forma, eles os condenam a ser eternamente adolescentes inconseqüentes.

Vejo que o adequado seria tratarmos os assuntos de forma preventiva em nossas famílias e na sociedade, formando nossos jovens para viver cada etapa de seu desenvolvimento: a criança brinca e aprende a ser sociável; o adolescente dedica-se aos estudos e à prática das relações sociais, preparando-se para assumir a vida a dois e a família; e o adulto, sim, pode viver plenamente sua sexualidade de forma responsável. Mas quando isso não acontece e a vida sexual se inicia irresponsavelmente na adolescência, o bom seria que a gravidez indesejada fosse motivo para se repensar no proceder de todos os envolvidos e se chegasse à conclusão de que esta criança é a coisa mais importante no momento, pois é uma vida que está chegando, é uma bênção e a bem-vinda. Pois um filho é sempre uma bênção, é fonte de alegria e prazer, venha ele quando e como vier.

Foto Mara S. Martins Lourenço
maralourenco@geracaophn.com
Psicóloga e Membro da Comunidade de Aliança Canção Nova

Fátima, escola na arte de orar, crer e amar

Imagem de Destaque


Um mistério de fé após 91 anos

"Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ergueu Ela a sua Cátedra para ensinar aos pequenos videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar. Na atitude de alunos que necessitam de aprender a lição, confiem-se diariamente, a Mestra tão insigne e Mãe do Cristo". Essas são palavras do Papa Bento XVI dirigidas aos Bispos Portugueses durante a visita "Ad limina".

Certamente, o discurso apresenta muitos outros pontos que merecem destaques, mas chamou-me atenção o fato de o Pontífice observar a escolha de Maria por fazer de Fátima a sua Cátedra. Sendo Ela Mestra da simplicidade, não é de se admirar que tenha escolhido as crianças como seus primeiros alunos e mensageiros. E que crianças! São tão puras e sedentas de Deus que me embaraço todas as vezes em que tento entrar no mundo delas para entender melhor o que viveram.

Existe um misto de fé, pureza e amor a Deus encontrado nelas, o qual tem o poder de nos afastar dos ruídos e das ofertas deste mundo e nos fazer tocar – nem que seja por instantes – na alegria eterna.

91 anos depois das Aparições de Nossa Senhora, Fátima continua sendo um mistério de fé que, cada vez mais, atrai peregrinos vindos das mais diversas realidades e lugares. Por estes dias, quando celebramos o aniversário da primeira aparição ocorrida a 13 de maio de 1917, contemplo diariamente a chegada de peregrinos que, em grupo ou sozinhos, chegam fadigados, muitas vezes, até debilitados devido à longa distância percorrida a pé, mas, geralmente, emocionados e felizes por estarem, aqui, na Cova da Iria.

Hoje mesmo, ao cair da tarde, vi um grupo com essas características passar na minha rua e fiquei imaginando: São os alunos da Virgem de Fátima! Lembrei-me das palavras do Papa Bento XVI quando diz que, aqui nesta terra, Nossa Senhora ergueu a sua Cátedra e nos ensina a arte de orar, crer e amar.

Talvez seja por essa razão que pessoas do mundo inteiro acorram à Fátima! O mundo tem sede do amor simples e puro que brota do coração da Mãe. Provavelmente estejamos saturados de aprender outras artes e tenhamos acordado a tempo de perceber que o essencial desta vida se esconde na simplicidade do ordinário vivido com amor. Os Pastorinhos, Lúcia e seus primos Francisco e Jacinta, descobriram esse segredo e souberam corresponder enquanto viveram as lições ensinadas pela Mestra.

Mas a Mensagem não ficou restrita à pequena Aldeia de Fátima. Ela atravessou o oceano e espalhou-se pelo mundo, como folhas secas que o vento do outono leva para onde quer. Com o avanço da tecnologia e a fé de muitos, a mensagem de Nossa Senhora em Fátima é hoje conhecida por toda a humanidade. Acredito que chegou a hora de fazermos as lições de casa. A mensagem, em geral, nos convida para uma vida de oração, especialmente a reza do terço, assim como para conversão, as penitências e sacrifícios em reparação dos pecados da humanidade.

Na terceira aparição, no dia 13 de julho de 1917, a Santíssima Virgem ensinou aos Pastorinhos – e eles nos transmitiram – uma nova jaculatória que deve ser rezada com freqüência, especialmente quando fizessem algum sacrifício:

"Oh meu Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores, pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria".

Contemplar a simplicidade desta terra e deste povo – escolhido pela "Senhora mais brilhante que o sol" – faz-me desejar viver na atitude humilde de aluna que necessita aprender a lição e confiar-me diariamente à Mestra tão insigne, como bem recomendou Bento XVI, para que a minha vida antecipe o céu na terra e molde a terra à imagem do céu. Talvez seja ousadia pensar assim; mas o primeiro Aluno na escola de Maria, Seu Filho Jesus, ensinou-nos com a vida que colocando em prática as lições da Mãe e seguindo Seus passos na arte de orar, crer e amar, podemos transformar o mundo.

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Missionária da Comunidade Canção Nova, em Fátima, Portugal Trabalha na Rádio CN FM 103.7

12 de maio de 2008

Aviso aos invejosos

Como dizia a minha avó, na sabedoria dos antigos, a inveja mata. E hoje sabe-se que este é realmente um sentimento muito sério, capaz de causar enormes prejuízos tanto ao invejoso quanto ao invejado, porque contém grandes cargas de energia negativa. Define-se a inveja como um desgosto pelo bem ou gela felicidade que é de outra pessoa. E um sentimento que leva o invejoso a vibrar negativamente ou a ficar com raiva, quando outro possui aquilo que ele gostaria de ter.

Originariamente, a inveja é um problema interno, psíquico, com fortes repercussões nas relações humanas. E um sentimento mesquinho, pequeno, mas não chega a ser um desvio de comportamento, como a neurose e a cleptomania, embora esteja ligado à emoção. Tal sentimento tem suas raízes na falta de caráter e de formação, nas frustrações não resolvidas, na incompetência e na ociosidade, porque só quem está sem o que fazer tem tempo para cuidar da vida dos outros.

E essas características podem se manifestar na vida de qualquer ser humano, mas assumi-las e enfrentá-las de forma positiva depende de uma série de fatores, como o histórico de vida de cada pessoa e suas diferenças individuais. Pode-se distinguir dois tipos de invejosos: o camuflado e o evidente. O primeiro não mostra na cara o que está sentindo, mas é do tipo que não consegue se alegrar com o sucesso alheio e tem sempre um comentário maldoso a proferir ou uma risadinha sarcástica para dar. O bem do outro é um golpe para ele, que procura uma forma de diminuir ou de desprestigiar a conquista e o mérito de seu vizinho, de seu irmão, de seu colega de trabalho etc.

Já o invejoso evidente não fala, mas se corrói por dentro. Ele fica de mau humor, se estraçalha, se anula e, pior ainda, não consegue aproveitar o que a vida lhe dá, porque o que o outro possui é sempre melhor. O bem da pessoa que ele inveja é motivo de sua raiva, em vez da reflexão: "Por que ele tem isso?"; "De que forma eu também posso conseguir?"; "Será que se eu usar o meu lado positivo e criativo também não irei alcançar isso?" Por tudo isso, a inveja costuma ser própria das pessoas acomodadas, incapazes de lutar para conquistar as melhoras que desejam.

Dizer que a inveja é a arma dos incompetentes é meio perigoso, porque não é possível generalizar sem conhecer a história de cada pessoa. Além disso, existem maneiras diversas de reagir a esse sentimento. Para alguns, ele se torna um estímulo para chegar onde o outro está. Para outros, incapazes de se mover, ele se transforma em ódio, raiva e toda sorte de sentimentos negativos. Seja como for, não deixa de ser um comportamento nocivo, pois faz o próprio invejoso sentir-se infeliz, diminuído, complexado e frustrado.

Aliás, normalmente o invejoso é uma pessoa frustrada, que vive presa num círculo vicioso: um fracasso leva à frustração, que gera algum complexo, que estimula o sentimento de inveja, causando mais frustrações. E, assim, o invejoso se anula, pois não vive mais a sua vida: fica sempre atento ao que o outro é, tem, faz, consegue. Este indivíduo é um forte candidato a uma terapia. Ele precisa de ajuda, porque não só prejudica a si mesmo, mas também a todos que estão à sua volta.

A inveja pode ter muitas causas - influências do ambiente social, atuação dos pais, entre outras -, mas ela é também fonte de muito sofrimento e angústia. Por isso, quem tiver esse problema deve procurar um especialista ou a orientação de alguém que possa esclarecê-lo melhor e ajudá-lo a resolver seus conflitos internos. Por outro lado, é preciso muito cuidado para não se confundir sentimentos sadios e naturais com a mórbida e nociva inveja.

É normal, por exemplo, que alguém veja uma casa, um carro ou uma roupa bonita e pense: "Que bom seria se eu tivesse isso". Este pensamento é bem diferente da verdadeira inveja - tida como um defeito da personalidade - que é própria das pessoas que cultivam o ódio, o ressentimento, a raiva contra seu semelhante, trazendo muita infelicidade para todos.

MARIA HELENA BRITO IZZO é psicóloga e terapeuta familiar.
Fonte: Revista Família Cristã.

O consumista

Todos nós em geral gostamos de fazer compras. Sentimo-nos merecedores dos presentes que nos damos. Mas, quando estamos angustiados, insatisfeitos ou nervosos, muitas vezes saímos para fazer compras como uma espécie de desforra.

E nesse caso perdemos o senso crítico e agimos por compulsão. Passado o instante da compra e o sabor da novidade, voltamos à estaca zero da insatisfação. É que a compulsão de comprar serviu apenas de paliativo e nos desviou momentaneamente a atenção dos nossos verdadeiros problemas, da verdadeira causa de nossa insatisfação.

Mas existem pessoas que vivem permanentemente em estado de compulsão consumista. Elas compram por comprar e estão sempre indo atrás de novidades. Adoram passear em lojas e shopping centers. Sentem-se felizes fazendo compras. Mas invariavelmente se cansam das aquisições e partem para outras, como se sofressem de uma espécie de vício.

Nesse caso, o problema é mais sério, e mostra que a pessoa carrega uma insatisfação crônica. Ela pode estar transferindo para os objetos uma grande carência que sente em relação às outras pessoas. Pode estar tentando dar a si mesma o afeto que não se sente capaz de receber nem de dar.

E a compulsão de comprar lhe serve apenas de paliativo momentâneo. É como o caso da pessoa que está com dor de dente, mas, em vez de ir ao dentista, toma analgésico. Quando o efeito passa, ela precisa de outras doses, numa história sem fim.

A pessoa consumista entra no mesmo círculo vicioso e continua sempre insatisfeita. Isso acontece porque ela está fugindo de um problema interior. E, como não resolve a causa, continua sempre com o mesmo problema. Várias razões levam as pessoas a sentirem uma espécie de insatisfação crônica. Pode ser uma história passada de privações e necessidades e aí a pessoa que melhorou de vida procura desforrar no consumismo, estabelecendo uma espécie de diálogo com os fantasmas de seu passado.

Mas existem pessoas que usam o consumismo para se sentir importantes e poderosas. Ostentam suas posses e gostam de ser paparicadas e servidas pêlos vendedores. E como se estivessem comprando o fingido afeto dos vendedores junto com as mercadorias.

Em todos os casos, as pessoas estão jogando dinheiro fora. Querem comprar uma coisa que não está à venda. Se têm posses, poderiam estar usando o dinheiro para coisas mais úteis, inclusive para ajudar os outros e construir um mundo melhor para todos.

E, se a pessoa não tem dinheiro, acaba se endividando para sustentar o consumismo. Acaba fazendo crediário e gastando até o dinheiro que ainda vai ganhar. E pode até precisar da ajuda financeira da família para sair dos buracos onde se mete. Mais grave ainda é quando o consumismo leva as pessoas ao roubo. Elas expõem a própria reputação e, às vezes, não conseguem controlar o impulso de conseguir as coisas "na marra". É o caso dos cleptomaníacos, que sofrem de um tipo sério de neurose.

O consumista é como a pessoa que come desmedidamente, prejudicando a saúde e ficando cada vez mais insatisfeita. E comendo cada vez mais. Tanto o consumista como a pessoa gulosa estão procurando compensar fora aquilo que precisam buscar dentro delas mesmas.

E a mesma coisa acontece com os que se entregam à bebida, ao jogo, ao hábito de fumar. Eles fazem rituais para fugir da infelicidade e do desequilíbrio. E podem até mergulhar no vício das drogas ou no sexo permissivo, com resultados tão inúteis quanto catastróficos.

O consumismo é um desequilíbrio. E para fazer frente a ele, precisamos nos organizar por dentro, pôr para fora as coisas negativas e substituí-las por coisas boas. Ninguém é plenamente feliz. Nós estamos neste mundo imperfeito para conquistar a felicidade, para lutar por ela.

Para os fortes, a própria luta traz suas compensações. Mas os frágeis se acovardam. E se enganam nos caminhos ilusórios do consumismo. Aí o desequilíbrio tende a piorar: evolui progressivamente das pequenas para as grandes coisas, dos pequenos problemas para os grandes problemas. Há até casos de suicídios que começam com esses sintomas banais e inocentes. Mas terminam com a pessoa perdendo o gosto pela própria vida.

Diante de comportamentos mecanizados como o consumismo, a melhor atitude a tomar é parar para pensar. Analisar o que está acontecendo e perguntar o que estamos buscando, qual a insatisfação que está servindo de base para isso. No começo, pode até parecer penoso, mas é o caminho da sabedoria e da vitória sobre as limitações da vida - mesmo que essa vitória seja o reconhecimento e a aceitação dessas limitações.

As pessoas normais costumam ter todas as emoções - angústia, raiva, alegria, tristeza - em escala maior ou menor, dependendo da idade, das circunstâncias, da educação, da carga espiritual. Esse fenômeno acontece também com o medo. Ele varia desde um medo pequeno ao medo desmedido, incontrolável, recebendo, quando atinge esse estágio de descontrole, o nome de fobia ou síndrome do pânico.

A sensação de medo diante de algo novo e desconhecido é normal e faz parte da vida. Há quem tenha medo de baratas, de viajar de avião, de andar de elevador e de metro, de ficar no escuro ou trancado em algum lugar, de multidão - e a ladainha continuaria interminável se fossem enumerados os tipos de medo existentes e a forma pela qual se manifestam.

O medo é uma reação normal, possível de ser enfrentada com menor ou maior facilidade. Há dias em que estamos cheios de coragem e até desafiadores. Em outros, com o emocional abalado por um problema qualquer, somos a fragilidade personificada diante do mínimo contratempo. Geralmente, é nesses momentos que o medo toma vulto, as angústias, frustrações, incertezas se apossam de nós - e todo o negativo interior existente vem à tona.

Vale aqui uma comparação. Há pessoas que têm medo de contrair doenças incuráveis. Num momento de maior fraqueza física ou emocional, esse medo se avoluma de tal forma que elas passam a sentir os sintomas da doença simplesmente porque estão com dor de cabeça. Mas, quando o físico e o psíquico estão bem, nada atrapalha a vida. Tudo é superado com a maior facilidade. O mesmo ocorre com o medo.

Ao se falar em fobia, é preciso distinguir os medos domináveis dos incontroláveis. Mas são tantos os ingredientes que compõem essa distinção, que só através do diálogo com os atingidos por tais males é possível conhecer sua história e a razão pela qual chegaram ao extremo de não se controlarem quando os maus sentimentos os assaltam. Assim é mais fácil traçar uma diretriz ou alternativa para desbloquear e desneurotizar suas atitudes, para ajudá-los a levar uma vida normal.

A fobia nada mais é que um medo exacerbado. Quando ele é concreto e sua causa conhecida, é possível vencê-lo através da conscientização. Mas se é um medo abstrato, descomunal, incontrolável, acarretando crises seguidas, é hora de se tomar providências. Quem se encaixa nessa definição deve procurar um especialista para se conhecer melhor, saber suas verdades e descobrir as causas desse pavor irracional, para não comprometer sua vida por causa dessas emoções. Chegar aos limites do medo é perigoso. Aliás, tudo é perigoso quando não sabemos as causas do que acontece conosco e não tentamos, de alguma forma, resolver o problema.

Seres humanos que somos, jamais conseguiremos superar todas as nossas limitações. E importante, no entanto, não se acomodar, mas procurar saber as razões que levam a adotar determinados comportamentos prejudiciais, para não se deixar dominar por eles. Só assim os mais medrosos perceberão que os medos manifestados das mais variadas formas não passam de justificativas para se eximirem de enfrentar sentimentos mais profundos ali misturados.

Há também os que se escondem atrás do medo, justificando com isso sua inércia e comodismo por faltar-lhes garra e coragem para enfrentar os desafios da vida. Alguns casos têm atenuantes: problemas físicos, psíquicos e emocionais. Mas grande número de pessoas não trabalha seu medo para não se desinstalar da posição conquistada. Sair do comodismo requer luta, e é bem mais fácil esconder-se atrás de uma justificativa do que desacomodar-se. Nesse caso, o perigo de um comportamento negativo fossilizar-se reside na falta de consciência, que permite a instalação co-modista de atitudes negativas diante da vida, tornando a pessoa escrava de suas próprias emoções.

Os que se interessam em melhorar usam a inteligência para informar-se através de leituras, conversas, programas de rádio e televisão, a fim de conhecer-se mais. Através desse expediente, conseguem vencer as limitações de forma bastante positiva. Para tomar qualquer iniciativa basta querer. Também no campo psíquico essa máxima tem valor.

Se o problema do medo que acomete uma pessoa for sério e profundo e se tornou uma neurose, é preciso a ajuda de um profissional competente para ela sair dessa situação. Mas a pessoa de boa vontade consegue vencer sozinha 70% dos seus problemas, quando pára, analisa e tenta encontrar soluções. Esconder-se atrás deles é uma forma de fechar as portas da superação.

MARIA HELENA BRITO IZZO é psicóloga e terapeuta familiar.
Fonte: Revista Família Cristã.