27 de junho de 2018

Pais de primeira viagem: como preparar-se para a chegada do bebê?

Para os pais de primeira viagem, assim como nós, gostaria de dar 5 dicas de como preparar-se para a chegada do bebê

Era uma manhã de quarta-feira quando fiz o teste de farmácia. Enquanto o meu esposo Guilherme dormia, eu tomava o meu banho e esperava o resultado. Peguei aquele teste na mão e vi duas listras, o coração acelerou e eu pensei: "estou super grávida". Uma alegria invadiu meu coração e, imediatamente, comecei a preparar-me para contar ao Guilherme que seríamos pais!

Já havia preparado uma caixa com um body e duas cartas, do bebê e da mamãe, para o papai. Era só acrescentar o teste da farmácia, esperar ele sair do banho e, assim, presenteá-lo com a surpresa. Quando ele abriu a caixa, o vi chorar de emoção, me abraçar, se ajoelhar e fazer uma oração pelo nosso bebê. A nossa vida a partir daquela manhã já não seria mais a mesma.

Pais de primeira viagem: como se preparar para a chegada do bebê?

Fernanda e Guilherme Zapparoli. Foto: Eliane Diniz

A paternidade responsável é uma belíssima aventura, mas que precisa ser vivenciada com comprometimento e oração. Para os papais de primeira viagem, assim como nós, gostaria de dar cinco dicas de como preparar-se para a chegada do bebê.

1 – Falar sobre os filhos no namoro e noivado

Dentre vários assuntos que são essenciais a serem conversados durante o namoro, falar sobre os filhos é um deles. É importante que o casal expresse, de forma particular, os seus anseios, expectativas, medos, inseguranças, quantidade de filhos, a abertura ou não à vida. Não tenhas medo de serem autênticos, pois é preciso ir para o altar consciente sobre esse assunto. Muitas vezes, a não abertura à vida ou os medos estão ligados aos traumas ou votos íntimos, feito na infância ou na juventude. Por isso é fundamental trazer à luz esses conflitos para que seja trilhado um caminho de cura interior.

No dia de receber o sacramento do matrimônio o padre ou diácono pergunta: "Vocês vieram aqui livremente e sem reservas para darem-se um ao outro em casamento? Vocês prometem ser fiéis até a morte? Vocês prometem receber com amor os filhos que Deus vos der?". A qualidade do cumprimento dessas promessas que serão ou foram feitas no altar, depende desse diálogo realizado anteriormente.

2 – Preparar-se espiritualmente para a gravidez

A gestação começa no coração por meio da oração. Num diálogo com Deus, os pais vão dizendo da abertura dos corações para receberem as crianças que o Senhor quer lhes enviar. A participação da Santa Missa, a oração do Santo Terço, adoração, orações espontâneas são meios de vivenciar essa preparação espiritual. Se perceber que há algum entrave, dificuldade em engravidar, peça que alguém ministeriado em cura interior ou a um sacerdote que reze pelo casal.

O Papa Francisco escreveu no "Amoris Laetitia" o seguinte: "Assim diz o Salmo: 'Senhor, formaste-me no seio de minha mãe' (Sl 139/138, 13). Cada criança, que se forma dentro de sua mãe, é um projeto eterno de Deus Pai e do seu amor eterno: 'Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei' (Jr 1, 5). Cada criança está no coração de Deus desde sempre e, no momento em que é concebida, realiza-se o sonho eterno do Criador.

Pensemos quanto vale o embrião desde que é concebido! É preciso contemplá-lo com esse olhar amoroso do Pai, que vê para além de toda a aparência. A mulher grávida pode participar desse projeto de Deus, sonhando com o seu filho: 'Toda a mãe e todo o pai sonharam com o seu filho durante nove meses (…). Não é possível uma família sem o sonho. Numa família, quando se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não cresce; a vida debilita-se e apaga-se'"[185].

3 – Estudar sobre a maternidade e a paternidade

Assim como um sacerdote precisa estudar e aplicar-se na filosofia e teologia para ser ordenado, os leigos cristãos que desejam se casar e formar uma família precisam estudar e se informar sobre o que a Igreja Católica e os santos ensinam sobre a paternidade responsável. Qual é a missão dos pais na vida dos filhos? Qual é o projeto de Deus para a sua família? A busca por essas respostas dará o norte para as novas famílias cristãs.

É importante buscar referências seguras e boas sobre a parte humana, como a biologia, psicologia e a educação dos filhos. A informação ajuda a desmistificar os temores e os "monstros" que podem estar no interior dos novos pais. "A criança não vem com um manual": é uma frase muito dita e, de fato, é verídica. Porém, quanto mais informação os pais tiverem, mais conteúdo o Espírito Santo de Deus terá para iluminar e trabalhar nesse processo. Deus faz a parte dele em orientar, mas cabe aos pais fazerem a parte deles de, também, se informarem.

4 – Viver com alegria os desafios da gestação

Cada gestante é única e irrepetível, portanto, as comparações não são bem-vindas. Aprende-se muito com a experiência do outro, mas cada grávida está vivenciando a sua gravidez de forma particular. Algumas gestantes enfrentam os desafios dos enjoos, mal-estar, dores físicas e oscilação hormonal, outras não sentem absolutamente nada e vivem os nove meses tranquilamente, sem nenhuma alteração no organismo. Não tem certo ou errado; o que existe é a diferença entre cada ser humano que precisa ser respeitada.

Papa Francisco faz um pedido para as mulheres grávidas: "A cada mulher grávida, quero pedir-lhe afetuosamente: Cuida da tua alegria, que nada te tire a alegria interior da maternidade. Aquela criança merece a tua alegria. Não permitas que os medos, as preocupações, os comentários alheios ou os problemas apaguem esta felicidade de ser instrumento de Deus para trazer uma nova vida ao mundo. Ocupa-te daquilo que é preciso fazer ou preparar, mas sem obsessões e louva como Maria: 'A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva' (Lc 1, 46-48). Vive, com sereno entusiasmo, no meio dos teus incômodos e pede ao Senhor que guarde a tua alegria para poderes transmiti-la ao teu filho" (Amoris Laetitia, 171).

5 – O pai também fica grávido

Todo o processo da gestação se dá no interior da mulher. É ela quem, de fato, dá do seu corpo, sua carne e seu sangue para a formação do bebê. No entanto, o pai tem um papel fundamental no processo da gestação. Ele é aquele que passará segurança à mãe e ao bebê durante esse processo longo e transformador.

Por mais que o homem realmente compreenderá esse processo de paternidade com o nascimento do bebê, desde a gestação ele tem a capacidade e o dever de participar ativamente dessa formação. Por exemplo: conversar com o neném na barriga da mãe, pois chega uma fase gestacional em que o bebê corresponde às conversas e carinhos realizados na barriga. A voz do pai, por ser mais grave, o acalma no ventre. Ao nascer, quando ele escuta o pai, sente-se seguro, porque reconhece aquele tom de voz.

Para as mulheres que precisam fazer repouso absoluto, por alguma complicação de saúde; que durante os enjoos não conseguem cozinhar ou lidar com os afazeres domésticos, os pais precisam assumir esse papel de ajudante e provedor das necessidades básicas de um lar. Se a família tem condição de pagar alguém que faça o serviço, Deus seja louvado, mas caso contrário, o homem se torna essa referência, porque sabe que sua esposa está fazendo uma das mais belas e sublimes missão que é gerar uma vida.

Durante a bela aventura de gestar filhos, vamos aprendendo que eles não vêm (somente) para aprenderem conosco. Na verdade, eles se tornam nossos formadores e professores que ensinam, de fato, o que é essencial nesta breve vida terrena. Desejo a vocês uma boa gestação, um bom pós-parto e que Deus possa nos conceder a graça de educarmos os nossos filhos para o Céu.



Fernanda Zapparoli

Fernanda Zapparoli é missionária da Canção Nova. Jornalista. Autora dos livros "A mulher segundo o coração de Deus" e "A beleza da mulher a ser revelada". Hoje trabalha como produtora de conteúdo no setor de Internet da Canção Nova sendo responsável pelas séries e pelo canal de formação. A missionária é também Youtuber no canal 'Fernanda Zapparoli'

25 de junho de 2018

Você é capaz de viver sem amor e relacionamentos?

Não há como separarmos o amor a Deus do amor ao próximo

"A pessoa humana tem necessidade de vida social, ou seja, de relacionar-se, e isso é uma exigência de sua natureza" (Cat. 1879). Todos nós fomos chamados para um único fim, que é Deus. Há uma certa semelhança entre a união da Trindade e a fraternidade que nós homens devemos estabelecer entre nós, na verdade e no amor. Não há como separarmos o amor a Deus do amor ao próximo. Se caso pudéssemos fazer isso, estaríamos indo completamente contra o que está na Palavra de Deus. Quando dialogamos com os irmãos, desenvolvemos as virtudes em nós. Fomos criados por Deus para nos relacionarmos.

Você é capaz de viver sem amor e relacionamentos?

Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O eu jamais saberá quem é sem a presença de um tu. Você sabia que somente podemos nos descobrir como únicos, porque existem os outros? Vivemos convivendo, ou seja, relacionando-nos com os outros. É exatamente aqui que se encontra todo segredo de sermos felizes ou infelizes. De nos realizarmos como pessoas ou não.

Você é capaz de viver sozinho?

Nosso maior desafio, hoje, como cristãos, é construirmos vínculos que sejam resistentes e duradouros. Você sabe por quê? Infelizmente, o amor não encontra condições para desenvolver-se. Por isso, afastamo-nos uns dos outros, não permitindo, de forma nenhuma que as pessoas entrem em nossa vida. Não damos a menor possibilidade de aproximação. Criamos entre nós e os outros um imenso abismo, e não estamos nem um pouco interessados em construir uma ponte. Permitimos que a palavra ódio faça parte do nosso vocabulário. Todos os dias, milhares de pessoas morrem por causa do ódio; e, aqui, podemos listar uma série de coisas como violência, guerra, fome.

A sociedade em que vivemos é extremamente competitiva e negociante, o outro é uma grande ameaça para nós. Tornamo-nos escravos do medo e do ódio, da solidão, da desconfiança e ganância; enfim, transformamo-nos numa ilha. Não entramos na vida de ninguém e, consequentemente, ninguém entra na nossa. Pare um pouco e responda: você é capaz de viver sozinho?


Necessitamos construir uma ponte, pois não somos uma ilha. Precisamos reencontrar o que nos faz felizes. É nosso dever resgatar o outro como imagem e semelhança de Deus, como pessoa digna. Resgatar o amor, valorizando a diversidade que somos.

Comunidade Shalom

22 de junho de 2018

Será que convém namorar por medo de ficar sozinho?

Estar sozinho é um problema?

Muita gente namora por medo de ficar sozinho. Uns assim o fazem, porque simplesmente não conseguem passar um tempo sem uma companhia amorosa, vivem uma dependência de afeto. Outros lançam-se na primeira oportunidade de relacionamento devido à pressão cultural – família ou amigos que, constantemente, cobram –, a qual, praticamente, os obriga a ter um namorado.

Será que convém namorar por medo de ficar sozinho?

Foto ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

Também há aqueles que, quando passam por um longo período sem nenhum affair, vão se deixando tomar pelo temor de se tornarem "solteiros para sempre".

Não podemos deixar de citar os que, conforme os números de aniversários aumentam, pensam: "É agora ou nunca! Se não, vou ficar para trás!" ou "Já estou ficando muito velho!" (este último exemplo, muitas vezes, é dito por pessoas bem jovens, as quais nem acreditamos que já estão pensando assim).

Menos exigente na hora da escolha

Existem várias pesquisas que abordam o tema: "Namorar por medo de ficar só". Entre as causas e consequências desse temor podemos citar o medo de estar só, que faz a pessoa ficar menos exigente, tornando-se cada vez menos criteriosa para entrar num relacionamento, ou seja, desmerece a si mesma diante do outro para ter a compensação afetiva.

Podemos também mencionar o indivíduo que engata um namoro atrás do outro para, sozinho, não ter de confrontar-se com si mesmo e deparar-se com suas fragilidades.

Interessante que, em todos os exemplos citados, notamos que a pessoa busca preencher uma lacuna que há em seu coração ou uma deficiência na impressão que tem de si mesma e diante dos outros. Em resumo, são pessoas que não estão bem; então, começam a namorar para suprir algo básico que lhes falta: aceitação e amor próprio.

É como pedir um favor a alguém faminto e prometer recompensá-lo com alimento. Para ele, isso não chega a ser uma livre escolha, mas uma prioridade. Isso nada tem a ver com a verdadeira liberdade interior.

Todos temos uma vocação, uma força interior que deseja amor, companhia e afeto de alguém especial para compartilhar a vida.

"A vocação de amar uma pessoa única de forma esponsal também está inscrita em nossa natureza humana desde a criação. 'Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe corresponda' (Gn 2,18). Ou seja, temos sim, uma carência de encontrar a pessoa que irá nos completar. Contudo, deve haver um equilíbrio nisso: devemos viver a espera na calma e na esperança, considerando e estimando o dom precioso de querer amar e ser amado que existe em nós" (Livro 'As cinco fases do namoro').

Só será feliz no namoro quem conseguir, antes, estar de bem com si mesmo, ter a justa medida de si; em outras palavras, possuir-se, ou seja, amar a si mesmo, pois ninguém pode dar amor se não o tem em seu interior.

Entretanto, estar bem com si próprio, priorizar, considerar e estimar o dom precioso que porta antes de começar um novo relacionamento só será possível se o indivíduo tiver um encontro com o amor de Deus. Pois esse é o verdadeiro, infindável e único amor que nunca nos decepcionará.

Você pode ter pensado agora: "Nossa! De repente, este texto ficou muito desencarnado, espiritual demais!". Mas antes de se decidir a sair do post, leia o seguinte:

Dias atrás, ouvi de uma moça que ela não aguentava mais essa história de "primeiro, encontrar-se com Deus". Ela deu um tempo da sua vida para o Senhor, fez tudo o que sabia que Ele queria, inclusive estava vivendo a castidade. No entanto, já fazia mais de um ano que ela não "beijava na boca". Então, onde estava o prometido dela? Ela resolveu desistir de uma vida em Deus, porque já não tinha nem as migalhas de afeto dos rapazes. Sua vida promíscua, de alguma forma, saciava-a ainda que momentaneamente.

Respondi a ela que, muitas vezes, é isso que fazemos: vivemos segundo os mandamentos de Deus, porque acreditamos que Ele nos atenderá. Assim, juntamos a lista daquelas condições sofríveis que citei no início – dependência de afeto, pressão cultural, muito tempo sem namorar ou os anos que passam – e o "barganhar" com o Altíssimo, numa tentativa a mais de preencher o vazio interior. Deus acaba sendo mais uma "muleta" em que apoiamos o nosso coração decepcionado com os amores terrenos.

Disse-lhe ainda que ela não poderia, outra vez, entregar-se àqueles "amores de mentirinha", porque isso seria desistir de si mesma, entregando suas pérolas aos porcos; e que um encontro pessoal com o amor de Deus não tem nada a ver com isso que ela estava fazendo, quando vivia os desígnios do Senhor por uma obrigatoriedade que impôs a si mesma. Não era uma entrega de coração, de quem obedece porque ama; e era este último exemplo que Jesus verdadeiramente queria dela.

Deus quer o seu coração!

Essa moça me questionou: "Como é esse amor? Se não é fazendo o que Ele manda, como vou encontrar o amor de alguém que está no Céu?". Respondi que, assim como ela gostaria de ser encontrada pelo amor de um homem, que ela começasse a desejar ser encontrada pelo amor de Jesus. Que começasse a Lhe pedir para se sentir tão amada, mas tão amada por Ele, a ponto de apaixonar-se também por Jesus Cristo. "Assim como você já teve, um dia, um sentimento de paixão por um homem, peça ao Espírito Santo que lhe dê o dom de apaixonar-se por Nosso Senhor".

Isso não tem nada de desencarnado, de "espiritualóide", porque é real e totalmente acessível a nós seres humanos.

Eis que ela argumentou: "Eu não sei se consigo desejar isso, apaixonar-me por alguém que não vou ter contato físico, ser encontrada por um amor que não me dará família nem filhos, que nunca terei o prazer e as sensações da carne. Para mim, isso tudo me faz ter a impressão de que devo me contentar só com um amor espiritual".

Respondi-lhe: "Aí é que está! Nós, muitas vezes, só conseguimos interpretar o amor como fogo da paixão, mas os amores que perduram se fazem mais pela solicitude, entrega e sacrifício recíproco dos amados, diálogo e profunda amizade, do que por 'paixonite' e forte atração. E isso tudo Jesus pode ter contigo". Primeiramente, é o amor de Deus que a encontrará. Não será a consequência de nada que ela fizer ou deixar de fazer em sua vida que a fará ter a experiência de ser encontrada. Mas se decidir querer e começar a pedir, ainda que não sinta um desejo de Deus em seu coração, Ele a encontrará e, diante de Seu amor, mudará o coração dela e a visão que tem de si mesma. Apesar de ser um amor divino, é mais vibrante que o amor humano. Então, ela se convenceu.

Segundo me disse depois, ela tem pedido, todos os dias, em sua oração, que o amor de Deus a encontre e lhe dê uma visão apropriada de si mesma.

Narrei essa conversa com a devida autorização da outra parte, porque creio que os questionamentos dessa moça sejam os de muita gente na mesma situação.

Você também pode não sentir um desejo de Deus em seu coração, mas basta decidir que quer mudar a situação em que se encontra hoje, principalmente se, ao olhar para seus relacionamentos, não se sentir preenchido ou ter colhido muitas decepções.
Jesus está interessadíssimo em conquistá-lo. Seja conquistado pelo Amor.

Não tenha medo de viver um tempo sozinho. Lembre-se de que, na verdade, você não está só. Não tenha medo de se apaixonar por Aquele que é o Amor encarnado; peça um encontro pessoal com o Senhor. Ele o encontra para amá-lo e, amando-O, dar-lhe o verdadeiro valor que você tem e merece. Daí sim, você estará pronto para viver um amor humano.

Deus o abençoe!



Sandro Arquejada

Missionário da Comunidade Canção Nova, Sandro Arquejada é formado em Administração de Empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente, trabalha na Editora Canção Nova. Autor de livros pela Editora Canção Nova, ele já publicou três obras: "Maria, humana como nós"; "As cinco fases do namoro"; e "Terço dos Homens e a grande missão masculina".

20 de junho de 2018

O banquete dos miseráveis

É preciso alimentar-se

Um banquete só tem significado para quem tem fome. Os saciados não desejam a proximidade do alimento. A fome é o elemento chave para que possamos desejar e apreciar o banquete. Da mesma forma, o hospital não tem significado para quem está são. Somente os doentes carecem de hospitalização. Essa comparação é simples, eu sei, mas ela nos aproxima de uma verdade ímpar que Jesus fez questão de nos ensinar.

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida / cancaonova.com

É desconcertante, mas a Eucaristia é o banquete dos miseráveis. Ela é o momento em que Deus se põe à mesa com os escórias da humanidade, com os últimos, os menos desejados.

Miseráveis, famintos, prostituídos, doentes, legítimos representantes da fome. Fome de pão, fome de beleza, de dignidade, de amor e companhia. Corações sufocados pela solidão do mundo, pelo descaso dos favorecidos e pela arrogância dos fortes.

A vida sem cuidados, mostrada nos olhos que já não sabem nutrir grandes esperanças. Olhares que nos fazem lembrar o olhar de Mateus, o olhar de Zaqueu, o olhar de Madalena. Olhares que não se sentem merecedores, e que já se convenceram de que estão condenados.
E então, a vida os surpreende com o sorriso de Deus, olhando-os nos olhos, dizendo que está feliz porque eles reapareceram, e que para comemorar esta alegria um banquete lhes foi preparado.

Roupas limpas, banhos demorados, coisa de quem não faz do amor um discurso teórico. O sabonete, o cheiro bom a nos recordar antigas esperanças.
Alegrias nas taças, toalha branca estendida sobre a mesa, o colorido que tem sabor agradável. O melhor vinho, a melhor música, o melhor motivo a ser comemorado. A ceia está posta.

E então eu me ponho a pensar… Recordo-me do quanto eu não sei viver a Eucaristia com essa mística. Penso no quanto sou seletivo ao pensar naqueles que Deus anda preferindo. E, então, hoje, nessa fração de tempo que passa, em que seus olhos se encontram com meu coração de padre, aqui, nesta tela fria de computador, eu fico desejando lhe convencer do quanto você é amado por Deus.

Ainda que seus dias sejam marcados pela rebeldia, pela derrota e pela queda, não desista! Religião só tem sentido se for para congregar, recordar a miséria como condição de nos tornar preferidos.


Deus quer cuidar de você

É simples de entender. Pense comigo: uma mãe geralmente tende a cuidar de forma especial do filho que é mais frágil. Concorda comigo? Pois bem. O que é frágil será sempre velado, cuidado e amado. Assim é você, um miserável que tem entrada garantida na última ceia de Jesus.

Não venha com muitos pesos. Traga apenas uma pequena lembrança para o Mestre que o espera. Uma florzinha, um pedacinho de doce, não sei. Você é criativo e saberá escolher melhor.

Que o presente seja pobre, pois assim você descobrirá que o maior presente que Ele pode receber é o seu coração de volta.
Combinados? Espero que sim.

O seu nome já foi chamado por Ele. Não o deixe esperando por muito tempo. A casa é a mesma. O endereço você já sabe!



Padre Fábio de Melo

Padre Fábio de Melo, sacerdote da Diocese de Taubaté, mestre em teologia, cantor, compositor, escritor e apresentador do programa "Direção Espiritual" na TV Canção Nova.

18 de junho de 2018

Deus é a resposta para os nossos questionamentos

Encontre em Deus a resposta para os porquês da vida

Digo-vos ainda isto: "Se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18,19-20).

Por que eu perco todas as pessoas que amo?
Por que as coisas nunca dão certo para mim?
Por que eu estou passando necessidades?
Por que eu estou sofrendo?
Por que me sinto tão infeliz?
Por que eu fui traído?
Por que tive de passar por todas aquelas coisas quando era criança?

Deus é a resposta para os nossos questionamentos

Foto Ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

Essas e outras perguntas levaram muitas pessoas ao desespero. Há momentos da nossa vida em que a dor é tão aguda, que nada parece responder às necessidades que temos.

Onde encontrar a resposta que faz calar o coração?

Nem sempre as perguntas podem ser respondidas com palavras. Há casos, cuja solução é humanamente impossível, como a morte de alguém ou uma doença incurável. Essa é a hora em que só Deus é a resposta.

A resposta pode ser um milagre. Ela existe! Mas cada pessoa precisa buscá-la pessoalmente, e o lugar do encontro é a oração. Deus pode e quer nos dar tudo do que necessitamos para sermos felizes. Se, muitas vezes, não recebemos, é porque não pedimos, porque temos dificuldade de acreditar que Ele nos atenderá.

Deus não nos quer atender se não tivermos a certeza de que seremos atendidos por Ele, mas "tudo é possível ao que crê".

Não há limites! Para Deus, tudo é possível. Se os nossos problemas nos superaram, não superam Deus. Se perdemos o domínio da situação, Deus não a perdeu. Ele é o Senhor de tudo e de todos.

O caminho é a oração

A oração é uma chave que abre as portas do Céu. Deus se comprometeu conosco e empenhou a Sua Palavra, já não pode voltar atrás. Ainda que os montes se abalem e as colinas mudem de lugar, Ele permanecerá fiel. Mesmo que passem o céu e a terra, Ele não abandonará você! Deus o ama e por isso lhe é fiel. Ele sabe do que você precisa e vem em seu socorro neste exato momento.

Não são poucas as pessoas que custam a crer que Deus vai ajudá-las; até acreditam que Ele é bom, acreditam também que é poderoso para fazer o que quiser. Pensam e aceitam que o Senhor fará bem a toda gente, mas não conseguem acreditar que o fará a elas. Na verdade, não se sentem amadas por Ele.


Se lhes perguntarmos por que, a resposta não demorará a vir: "Depois de tudo o que já fiz na vida, eu não mereço. Os meus pecados são muitos". A Palavra, no entanto, nos garante: "Se formos infiéis, ele continua fiel, e não pode desdizer-se" (2Tm 2,13b).

Ainda que tenhamos pecado, ainda que tenhamos caído na infidelidade, Deus continua ao nosso lado e nos convida a voltar para Ele, a fim de recebermos Seu amor. Ele veio para os pecadores e para os doentes, veio para quem precisa d'Ele.

E você, precisa de Deus?

O Senhor ama você e quer demonstrar o tamanho desse amor. Permita que aconteça! Aproxime-se d'Ele confiantemente, pela oração, e verá o que realmente é verdade. Vive bem quem reza bem!

Abra seu coração para ser amado e amar por meio da oração. Agora, é um bom momento para começar essa nossa caminhada de oração. E se você já começou a caminhar, será ainda melhor. Poderá lançar, mais profundamente, suas raízes no terreno fértil, úmido e quente de uma conversa amorosa com Deus.



Márcio Mendes

Nascido em Brasília, em 1974, Márcio Mendes é casado e pai de dois filhos. Ex-cadete da Academia da Força Área Brasileira, Mendes é missionário da Comunidade Canção Nova, desde 1994, onde atua em áreas ligadas à comunicação. Teólogo, é autor de vários livros, dentre eles '30 minutos para mudar o seu dia', um poderoso instrumento de Deus na vida de centenas de milhares de pessoas.

15 de junho de 2018

Você sabe como combater o pecado da impureza e viver a castidade?

O remédio para combater a impureza e a castidade

Dando continuação à nossa série de estudos sobre os pecados capitais, tomemos conhecimento, agora, do pecado da impureza e o remédio para combatê-la: a castidade.

Diz São Paulo aos Coríntios: "Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um de sua parte, é um dos seus membros" (ICor 12,27). Diz ainda: "Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo" (ICor 6,18). Com isso, podemos dizer que o pecado da impureza é grave, porque faz mal não só para quem o pratica, como também para todo o corpo místico de Cristo.

Você-sabe-como-combater-o-pecado-da-impureza-e-viver-a-castidade

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O apóstolo ainda diz: "Tomarei, então, os membros de Cristo, e os farei membros de uma prostituta? Ou não sabeis que o que se ajunta a uma prostituta se torna um só corpo com ela? Está escrito: 'Os dois serão uma só carne' (Gen 2,24)" (ICor 6,16). Vemos que, para Paulo, entregar-se à prostituição é o mesmo que prostituir o Corpo de Cristo. Diz professor Felipe Aquino, em seu livro 'Os Pecados e as Virtudes Capitais', que "essa é uma realidade religiosa da qual ainda não tomamos ciência plena; isto é, toda vez que eu peco, o meu pecado atinge todo o Corpo de Cristo. Essa é uma das razões pela qual nos confessamos com o ministro da Igreja, para nos reconciliarmos com ela, que foi manchada pela nossa falta".

Pecado da impureza

Jesus levou muito a sério o pecado da impureza. No Sermão da Montanha, quando ensinava ao povo, Ele disse: "Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração." (Mt 5,27-28). Com essas palavras, Jesus quer ensinar que o pecado da impureza necessariamente deve ser cortado pela raiz, isto é, já nos pensamentos e imaginações. "É do coração que provém os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias." (Mt 15,19). Se o pecado da impureza não for cortado nos pensamentos, não tardará em se transformar em ato.

O pecado da impureza é vivido, muitas vezes, entre os casais de namorados e noivos. Começam a viver uma vida marital antes do sacramento do matrimônio. Não compreenderam que a "união dos corpos só tem sentido quando existe a união prévia dos corações e das almas, de maneira sólida e permanente, como se dá no casamento" (Felipe Aquino).

Como bem ensina professor Felipe Aquino, "o sexo é belo, mas fora do plano de Deus é um desastre, explode como uma bomba atômica. Desgraçadamente, a nossa sociedade promove o sexo acintoso, sujo, sem responsabilidade nem compromisso, e depois se assusta com as milhões de meninas grávidas, estupros, separações, adultérios etc".


Castidade

Papa João Paulo II: "A educação sexual, direito e dever fundamental dos pais, deve fazer-se sempre sob a sua solícita guia, quer em casa, quer nos centros educativos escolhidos (…). Nesse contexto, é absolutamente irrenunciável a 'educação para a castidade' como virtude que desenvolve a autêntica maturidade da pessoa, e a torna capaz de respeitar e promover o 'significado nupcial' do corpo." (Familiaris Consortio, n. 37).

Vale recordar o emocionante momento de São João Paulo II quando esteve nas Filipinas em janeiro de 1995. Haviam ali mais de 4 milhões de jovens para participar da Santa Missa celebrada em Manila. Para surpresa e, ao mesmo tempo, alegria do Papa, um grupo de aproximadamente cinquenta mil jovens entregou a sua santidade um abaixo-assinado contendo o compromisso deles em viver a castidade. O Papa ficou emocionado.

Em suma, "a castidade é a virtude que mais forma homens e mulheres de verdade, de acordo com o desejo de Deus, e os prepara para constituir famílias sólidas, indissolúveis e férteis. Mas, infelizmente, também nós católicos, por terrível omissão, permitimos que fosse arriada a bela bandeira da castidade. Ficamos mudos e calados diante abaixo, os horrores de um "sexo-livre", devasso e pervertido" (Felipe Aquino).

O remédio contra a impureza é a castidade. Devemos fugir de toda e qualquer ocasião de pecado. Diz o ditado popular: "a ocasião faz o ladrão". Não podemos abrir brechas para o pecado em nossa vida. Se abrirmos, ele entrará e destruirá nossa vida. Por isso mesmo, devemos dizer não a tudo que nos leva a pecar: filmes, livros, revistas, músicas etc. Uma coisa é certa, jamais viverá a castidade quem não vigiar o olhar, os pensamentos e as imaginações. Acima de tudo, evitar as ocasiões que podem levar ao pecado.



Elenildo Pereira

Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP).  Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários.

14 de junho de 2018

Para superar os desgovernos é preciso participação de todos

Governos e desgovernos

A vida de um povo depende muito da maneira como seus representantes e dirigentes governam, mas determinante é a força da participação cidadã nos rumos de seu país. Pode-se dizer que os sucessos de uma administração, ou o seu oposto, os desgovernos, são também de responsabilidade de todos os cidadãos. Afinal, cada pessoa é responsável por acompanhar, fiscalizar e contribuir com as ações de seus representantes.

Para-superar-os-desgovernos-é-preciso-participação-de-todos

Foto ilustrativa: IltonRogerio by Getty Images

Essa participação do povo é processo complexo, pois exige investimentos educativos e culturais, para que as atitudes cidadãs sejam pertinentes e capazes de incidir nos processos de gestão. Uma qualificada participação popular não pode ser confundida com as configurações ideológico-partidárias que, não raramente, limitam-se à proliferação confusa de siglas, de conceitos equivocados sobre a realidade, com atitudes que beneficiam pequenos grupos, alimentando esquemas de corrupção que tanto prejudicam o bem comum.

A qualificada participação popular relaciona-se à profunda compreensão dos próprios direitos e deveres. Alicerça-se no reconhecimento da dignidade de todos. É incontestável a força que está no povo, capaz de promover grandes transformações, principalmente quando investimentos educativos enriquecem o tecido cultural de uma população. A cultura pode permitir ao povo estabelecer dinâmicas marcadas pela solidariedade, respeito mútuo e por um fecundo sentido de objetividade.

Consequentemente, reconhece-se o valor da vida e são reduzidos os índices de violência, por exemplo. Eis, pois, uma verdade: são necessários investimentos em processos educacionais para uma eficaz participação popular. Diante dessa verdade, causa particular preocupação o comprometido estado da educação na sociedade brasileira.

Investir em educação

Além do espantoso número de jovens que não têm a oportunidade de ingressar nos processos da educação formal, é alarmante a quantidade dos que já abandonaram as salas de aula. Percebe-se que o mundo da educação é um dos que mais são impactados pelos desgovernos, com pessoas despreparadas ocupando cargos de gestão. Mesmo diante de graves erros, insistem nos equívocos, preocupando-se apenas com a manutenção do próprio cargo. A incompetência aliada à falta de capacidade para uma autocrítica produz passivos. Corroem não apenas os funcionamentos institucionais, mas também causam um vício – a "síndrome da desconexão." O sintoma é a incapacidade para enxergar os males que certos processos causam na vida de organizações e indivíduos.

A cura para esse mal não é simples, demanda muito tempo. Por isso, instituições, não raramente, contam, em seus quadros, com profissionais de sólida formação conceitual e acadêmica, mas incapazes de exercer bem as suas atribuições. Desconectados da realidade, permanecem presos ao egoísmo, atuam de modo descompromissado com o bem comum. Por isso, as metas não são alcançadas e as soluções para os problemas nunca são encontradas. No lugar da inventividade e da inovação, contentam-se com a própria mediocridade. Assim, os desgovernos são consolidados.


Participação cidadã

A sociedade torna-se mais complacente com os medianos, e até se assusta quando surge alguém capaz de propor algo novo. A incompetência que se generaliza faz com que muitos passem a tratá-la como algo natural. E as terríveis consequências manifestam-se em diferentes âmbitos, a exemplo do campo político. O exercício da política, que deveria ser entendido como ação solidária, passa a ser percebido com desconfiança e rejeição. As pessoas se distanciam da tarefa de escolher bem seus candidatos, postura que é fruto dos desgovernos e, ao mesmo tempo, contribui para gerá-los. É importante reconhecer que a mudança social almejada depende da adequada escolha dos nomes que representarão o povo nos próximos anos. E isso depende da participação cidadã mais efetiva, do investimento nos processos educativos e culturais que consolidem atitudes orientadas pela solidariedade.

Na contramão da qualificada participação do povo, estão os descompassos gerados em muitos lugares, inclusive nas redes sociais. No ambiente digital, por exemplo, em vez de se aproveitar as oportunidades da tecnologia para criar conexões e formatar novos costumes, são propagados infrutíferos ataques pessoais. Ora, para construir uma sociedade melhor, é preciso que todos caminhem juntos, vencendo as diferentes formas de egoísmo. Isso significa abandonar radicalismos e a indiferença diante da exclusão social. Esses males atrapalham a qualificada participação cidadã, e o povo precisa combatê-los. Assim, encontrará lucidez para superar os desgovernos e, com a participação de todos, efetivar governos que priorizem a promoção do bem, da justiça e da paz.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br