É possível que, alguma vez na vida, você tenha se deparado com alguma situação pessoal de pecado e achado que seu valor como pessoa tenha diminuído ou mesmo acabado. Nessa hora, vem a maldita comparação: fulano é tão bom, nunca fez coisa errada! Eu, pelo contrário, pequei muitas vezes gravemente contra minha sexualidade e afetividade. Acho que não tenho o mesmo valor para Deus que meu colega.
Talvez, eu tenha acabado de narrar algo que acontece com você ou com alguém que você conhece. Vou lhe contar uma história para lhe mostrar que seu valor independe do que você fez ou deixou de fazer:
Um famoso palestrante, conhecido internacionalmente, começou a palestra segurando uma nota de cem reais na mão. Tinha aproximadamente cento e cinquenta pessoas no local da palestra. O palestrante perguntou: "Quem quer esta nota que está em minhas mãos?" Praticamente, a sala inteira levantou as mãos. Ele amassou a nota de cem reais que estava em suas mãos e perguntou novamente: "Quem ainda quer esta nota?". Para sua surpresa, as mesmas mãos permaneceram levantadas. Amassou mais ainda e continuou a perguntar. A sala inteira não mudou de opinião, todos queria aquela nota de cem reais.
Não contente, além de amassar a nota, ele a jogou no chão e começou a pisar nela. Depois de pisar várias vezes e a nota ficar toda suja, pegou-a em suas mãos novamente, desamassou-a e falou: "Quem ainda quer esta nota de cem reais, por favor, ponha-se de pé". Foi unanime: as cento e cinquenta pessoas que estavam na sala puseram-se de pé.
Depois desse momento, o palestrante pediu para que todos se sentassem e começou a dizer: espero que vocês tenham compreendido essa dinâmica. Por mais amassado ou mesmo pisado que o dinheiro foi, ele permaneceu possuindo o valor de cem reais. Na nossa vida, também é assim. Muitas vezes, somos amassados, pisoteados, humilhados, esquecidos, mas nada disso diminui o nosso valor, jamais perdemos nossa dignidade de pessoa humana.
Palavras de São João Paulo II
Sua santidade São João Paulo II, na Encíclica Christifideles Laici, nº 37, diz que a dignidade da pessoa é o bem mais precioso que o homem possui. Esse valor transcende todo e qualquer valor material. Jesus diz: "Que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se depois perde a sua alma?" (Cf Mc 8,36). Nessa pergunta, está implícita uma afirmação antropológica, de que o homem vale não por aquilo que tem, mesmo possuindo o mundo inteiro, mas por aquilo que ele é. Os bens materiais podem ser importantes, mas não são eles que contam. O que conta é o bem que é a própria pessoa.
A dignidade humana, sendo ela contemplada do ponto de vista das verdades reveladas, tem uma estima incomparável, pois se trata, com efeito, de pessoas remidas pelo Precioso Sangue de Cristo, as quais, com a graça, tornaram-se filhas e amigas de Deus, herdeiras da glória eterna. Além disso, o homem é chamado a torna-se "filho no Filho", sendo ele templo vivo do Espírito Santo, tendo por destino a comunhão beatífica com Deus, a vida eterna. Por esse motivo, diz São João Paulo II que toda e qualquer violação da dignidade da pessoa, do ser humano, é um clamor por vingança junto de Deus, o Criador do homem.
Somos filhos de Deus
Somos pessoas e possuímos um valor infinito, somos filhos de Deus. Como filhos, somos herdeiros do Céu. Não deixemos que nada nem ninguém roube de nós ou nos faça esquecer o valor que possuímos. Não é o pecado, a decepção, o desprezo ou qualquer outra situação que diminuirá o nosso valor como ser humano, como pessoa. Podemos até estar amassados, pisoteados, mas isso nada interfere em nossa dignidade, em nosso valor como pessoa.
O fato de nossos pecados não diminuírem nosso valor não significa que devemos permanecer no pecado, não! Pelo contrário, reconhecendo nosso valor diante de Deus, o que mais precisamos fazer é evitar o pecado e, por isso mesmo, termos em nosso horizonte uma vida de santidade.
Elenildo da Silva Pereira Missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP)
É preciso encontrar o meio que estabelece uma boa comunicação
Ouvimos, muitas vezes, que a boa comunicação é sinal de um bom relacionamento, mas, por incrível que possa parecer, o fato de conversarmos não necessariamente significa que estamos nos entendendo. O importante, nesses momentos, é encontrarmos uma maneira de estabelecer um bom nível de comunicação.
No cotidiano de uma vida em comum, a mera proximidade física não é suficiente para estabelecermos um bom nível daquela sintonia que desejamos encontrar. A busca desse "canal de comunicação" é uma técnica muito usada pelos vendedores; basta nos lembrarmos daquelas pessoas que batiam à nossa porta para oferecer algum produto.
Elas, de maneira especial, nunca chegavam oferecendo o produto ou aquela famosa enciclopédia sem antes fazer uma sondagem sobre os variados assuntos que poderiam abrir o canal de comunicação com a possível compradora. Ao mais leve sinal de entrosamento, a conversa era conduzida por mais alguns minutos antes que o vendedor começasse a apresentar seu produto.
Se não há um receptor, em vão transmitiremos as informações. Então, dentro do diálogo entre casais, é preciso também encontrar esse meio que estabelece a conexão entre eles, pois, de que serviria uma estação de rádio, se ela preparasse uma excelente grade de programação para os habitantes de uma cidade, mas a transmitisse numa faixa fora da frequência dos rádios locais?
Por mais que a estação, tentando manter um nível de comunicação com seu ouvintes, aumentasse a potência de seus amplificadores, jamais conseguiria ter uma sintonia eficiente. Da mesma maneira, se desejamos discutir ou convencer alguém de um assunto, é preciso, em primeiro lugar, encontrarmos uma maneira de nos conectarmos com a outra pessoa antes mesmo de começarmos a falar daquilo que nos incomoda ou que, simplesmente, queremos partilhar.
Para diminuir o estresse de uma discussão, a dica é começar na escolha do melhor momento para conversar. Façamos como os astutos vendedores, que aplicam muito bem suas técnicas.
Quando criança praticava os mais variados tipos de esportes. Sempre gostei de disputar, competir, e claro, de vencer. Isso me trouxe um problema, pois detestava perder. Lembro-me de minha mãe dizendo, várias vezes, quando me via reclamando de uma derrota no jogo de bolinhas de gude, por meu time ter perdido no futebol ou por qualquer outra derrota: – "Menino, você precisa aprender a perder!" É verdade. Eu preciso aprender a perder!
A vida é uma constante de vitórias e de derrotas. Faz parte da dinâmica da nossa existência. E nesse movimento de alegrias e tristezas, de conquistas e de ruínas, em fevereiro de 2007, tive minha pior derrota: perdi meu pai.
Na morte do meu pai senti falta de não ter aprendido a perder. Nessa perda, a maior da minha vida, tive vontade de desistir de tudo, de me revoltar com Deus, de brigar e reclamar, como fazia quando perdia qualquer disputa na minha infância, mas uma situação interessante aconteceu. No momento do enterro tudo foi muito doloroso. Só quem já passou por essa situação sabe como é. Eu estava de braços cruzados e de repente uma mão se enfiou por debaixo do meu braço e segurou a minha mão.
Não olhei para ver de quem era aquela mão. Na verdade, nem sabia ao certo quem eram as pessoas daquela multidão que acompanhava o enterro. O que importava é que alguém me deu a mão, alguém segurava a minha mão no momento em que eu perdi, no momento da derrota. Assim que terminou o enterro aquela mão se soltou e a pessoa voltou-se para trás. Depois fui saber quem me dera o apoio, mas na hora nem pensei em procurar o dono daquela mão, pois sabia que aquela era a mão de Deus.
Ainda não aprendi a perder. Ainda sofro com as derrotas. Mas essa experiência tem me feito buscar nas derrotas a presença de Deus, que não me deixa só. A mão de Deus que me ampara. A presença de Deus que me faz crer que depois da morte vem a ressurreição. E a ressurreição é vida nova. Mudanças positivas acontecem. Novidades aparecem…
De lá para cá continuei perdendo, mas por meio dessas derrotas, tenho tentado permitir que Deus, com sua mão, não somente me ampare, como fez no dia do falecimento do meu pai, mas que também me conduza pelos caminhos que Ele tem para mim. Afinal: "Somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou" (Rm 8,37).
Os homens pensam mais em sexo que as mulheres. Será?
É tido como senso comum pensar que sexo é um assunto mais presente no mundo masculino que no feminino, imaginar que os homens falam mais sobre o tema, que pensam mais nisso e, consequentemente, praticam-no mais. Há inclusive algo no imaginário coletivo que funciona como uma proteção desse comportamento entre os homens, afirmando que é da natureza deles precisar mais de sexo, que os hormônios e a biologia masculina estão mais voltados para a prática sexual e que isso deve ser reconhecido. Aliás, muitas mulheres também levantam essa bandeira em defesa da tal natureza masculina, justificando comportamentos inadequados, invasivos, abusivos e até traições.
A realidade é que os homens, por possuírem seu órgão sexual externo, são acostumados, desde cedo, a ver o próprio pênis e identificar que isso é parte da sua constituição natural. Cotidianamente, manipulam seu órgão no momento de urinar, acompanham seu desenvolvimento desde a infância, fazem brincadeiras de comparação de tamanhos com os amiguinhos e até competem para ver quem esguicha o xixi mais longe, como que numa disputa de competência e poder.
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Diferença entre o feminino e o masculino
O universo feminino é completamente oposto, a começar pelo biotipo da mulher. Seu órgão genital é interno, não é necessário manipular-se para o momento de urinar, as meninas não costumam olhar para as vulvas umas das outras e, às vezes, a descoberta de algumas funcionalidades do seu sistema reprodutor acontece apenas quando ocorre a primeira menstruação. Essa descoberta vem acompanhada de cólicas e sangramentos mensais, que são sintomas geralmente desconfortáveis e restritivos.
Assim, se para os meninos os assuntos de ordem sexual eram tidos como interessantes e prazerosos, para as meninas a situação muda um pouco: dores menstruais e desconfortos com os absorventes, impossibilidade de aproveitar a piscina e inúmeros avisos na escola sobre os "riscos de gravidez" passam a fazer parte do universo rosa.
Existe também a questão de como são diferentes as manifestações de excitação para os meninos e as meninas. Para o homem, fica evidente a ereção quando algo o estimula sexualmente, passando a ser exposto e, consequentemente, passível de ser conversado entre os amigos. Para as mulheres, existe a lubrificação, que é interna; consequentemente, ninguém a vê. Percebe como a possibilidade de falar sobre sexo entre os homens é maior que entre as mulheres?
Diferenças biológicas
Dadas as diferenças biológicas, temos também muita interferência cultural na criação de meninas e meninos. Houve uma época em que as mães orientavam suas filhas a, após o banho, não passarem muito a toalha na vulva para não haver estimulação no local. Já na criação masculina havia a prática de pais que levavam os seus filhos para terem a primeira experiência sexual em prostíbulos, acreditando que, assim, fariam de seus filhos homens completos.
Ambos os comportamentos foram permeados por certa dose de medo e falta de informação, que acabavam por apresentar a sexualidade para meninas e meninos de maneira distorcida, superficial e maliciosa, ou até como sendo algo sujo, impuro, que não deveria ser relacionado, de forma alguma, com o prazer.
Com isso, a mulher passou por gerações sendo proibida de permitir-se a entrega e o envolvimento total na relação com o parceiro, crendo que sua função dentro do sexo era restritamente procriativa, e que era reservado apenas ao homem o benefício do prazer e satisfação no ato sexual.
Educação sexual
Com o passar do tempo, o acesso às informações ampliou-se, e assuntos antes tidos como tabus começaram a ser amplamente discutidos, como é o caso do sexo. Assim, referências ao sexo como sendo algo ruim, sujo, demoníaco ou pernicioso começam a mudar aos poucos, possibilitando tratar o sexo como algo bom, saudável, bonito e muito importante na vida de um casal.
Particularmente, acredito que esse processo de mudanças está ocorrendo aos poucos e alguns movimentos estão sendo vistos timidamente, pois vivemos ainda em uma sociedade pouco informada e um tanto machista. De qualquer forma, é de fundamental importância realizar uma educação sexual de qualidade para que mudanças estruturais sejam vistas em todos os âmbitos da sociedade.
A sexualidade na dimensão espiritual
Falando da dimensão espiritual especificamente, temos muitas referências sérias e confiáveis sobre o tema, lembrando que o sexo é algo constituído por Deus e deve ser visto em sua beleza e sacralidade. A questão do prazer no ato sexual é algo tão importante e especial, que o corpo feminino possui um órgão especificamente voltado para o prazer, que é o clitóris. Sim, a única função do clitóris é dar prazer à mulher, e isso deve ser visto com um olhar de beleza e respeito tanto ao corpo feminino como ao ato sexual em si.
É verdade que temos sido expostos a diversos tipos de banalização do corpo humano e do sexo, principalmente do corpo feminino, fazendo com que alguns olhares para o assunto sejam mesmo de julgamentos e restrições. Esse tipo de exposição acaba por reforçar a ideia de que homens pensam mais em sexo; portanto, associar o corpo feminino com a venda de algum produto fará com que o lucro seja maior. Entretanto, o mau uso de algo tão precioso, como vemos na grande mídia, não significa que seja a única forma de enxergar o assunto. Por isso é tão importante uma educação sexual de qualidade: somente com a informação é possível combater a ignorância e os comportamentos desrespeitosos para o ato sexual. É preciso preservar o corpo humano como sendo algo único, que merece ser honrado, protegido de olhares redutivos que enxergam um objeto na pele de um semelhante, entre outras questões como estupros, DSTs, violência doméstica etc.
Pensar sobre sexo é bom, é importante, mas precisa haver qualidade nesse pensamento, tanto para homens como para mulheres. Se a necessidade biológica é de ambos, a responsabilidade para tratar o assunto também é deles. Afinal, somos seres que precisam sentir plenitude em todos os aspectos da nossa vida; e se, por exemplo, pensamos o sexo apenas com a dimensão do corpo e do prazer, estamos agindo como os animais e reduzindo muito algo que é tão amplo, bonito e que merece ser pensado, discutido e praticado com respeito, reverência, seriedade, responsabilidade e, sim, com prazer, no mais amplo sentido da palavra.
Os casais de segunda união podem e devem participar da Igreja
Para a Igreja, no conceito jurídico, a relação de um casal é considerada um segunda união quando um deles ou ambos receberam o sacramento do matrimônio, passaram pela separação e, por conseguinte, pelo divórcio; unindo-se, então, a uma outra pessoa. Já no conceito pastoral, os elementos de uma segunda união para a Igreja são: a vontade firme de formar uma nova e séria união responsável e aberta para a vida e a estabilidade do casal, isto é, um estado permanente, sobretudo, com o elemento mais importante, que é percorrer um caminho de vida cristã.
A Igreja tem um serviço pastoral chamado Tribunal Eclesiástico. O casal, que está nessa situação de unir-se pela segunda vez a outra pessoa, deve procurar o seu pároco, conversar com ele, contar-lhe como aconteceu a sua separação, como era sua vida antes do matrimônio, no dia do casamento e mostrar-lhe os fatos. Ele [o padre], conforme os fatos, poderá orientá-los a consultar esse Tribunal. Esse processo é importante para a tranquilidade e a paz de ambos; é um direito deles, pois se a Igreja declara o matrimônio nulo, as portas podem ser abertas para um outro casamento.
Eu estava numa paróquia, no interior do Rio Grande do Sul, chamada Bandeirantes. Lá, a maioria dos casais vivia nessa situação. Então, ninguém podia comungar. As parábolas da Divina Misericórdia, assim com as do bom samaritano, dizem que, diante de uma pessoa em necessidade (não se duvida disso), deve-se fazer alguma coisa para ajudá-la, assim como Jesus o fez. Essas são as duas preocupações da Igreja: a realidade e o jeito de Jesus. Mas qual o jeito, hoje, da Igreja? Essa é uma realidade nova para ela. Só depois do Concílio Vaticano II é que se começou a refletir sobre esse assunto. Antes, nem se cogitava sobre isso; era um capítulo fechado na Igreja. Mas, após o Concílio, começaram-se os estudos e a abertura para os casais de segunda união.
O sagrado do sacramento do matrimônio
Deus ama o ser humano com um amor indissolúvel, eterno e fiel, e é por meio do sacramento do matrimônio que Ele faz uma aliança indissolúvel e fiel também com o casal. A segunda união rompe essa aliança, e aí está o impedimento: esses casais não podem se confessar nem receber a comunhão.
O Papa João Paulo II fala que eles podem e devem participar da vida da Igreja, porque o divórcio não lhes tira a fé nem o valor do batismo. Eles pertencem à Igreja, por isso têm o direito de fazer dela sua casa, sua tenda, de sentirem-se bem dentro dela como em suas casas e de serem acolhidos como irmãos.
Casais de segunda união
Os casais de segunda união podem e devem participar da Igreja. Eles são incentivados a ter uma vida cristã e, por último, ter grande esperança, consolo, conforto e uma firme confiança nela.
Como afirma o saudoso Pontífice, eles esperam o momento que a Divina Providência reconhece a graça da conversão e da salvação. João Paulo II proclama também, em sua Exortação Apostólica Familiaris Consortio, nº 84: "Com firme confiança, a Igreja crê que, mesmo aqueles que se afastaram dos mandamentos do Senhor e vivem atualmente nesse estado, poderão obter de Deus a graça da conversão e da salvação, se perseverarem na oração, na penitência e na caridade".
Padre Luciano Scampini Sacerdote da Arquidiocese de Campo Grande
A eficácia do Ano Santo provém da oração da Igreja
Essa reflexão procura responder às seguintes perguntas: por que esse período é chamado de Ano Santo ou Jubileu? Existem tempos favoráveis para a salvação? De onde provém a eficácia espiritual do Ano Santo? Para onde ele nos leva?
1. A origem do termo "Jubileu"
A origem do Jubileu está ligada ao Antigo Testamento. A lei de Moisés tinha fixado para o povo de Israel um ano especial (Lev 25,10-13). Esse ano era anunciado ao som da trombeta (Lev. 25,9), um chifre de carneiro que, em hebraico, se chama jobhel, daí a palavra Jubileu. A celebração desse ano significava, entre outras coisas, a devolução das terras aos seus antigos proprietários, a remissão das dívidas, a libertação dos escravos e o repouso da terra.
Foto: reprodução youtube – CTV
No Novo Testamento, Jesus se apresenta como Aquele que veio levar a termo o antigo Jubileu, pois, citando o profeta Isaías (61,1-2), ele chegou para "proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-21).
2. Existem tempos favoráveis para a salvação?
O nosso Deus quis manifestar-se ao homem: é o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, de Jesus Cristo. Esse chamado à salvação insere-nos na história da humanidade e encontra seu ponto mais alto na vinda de Cristo. O tempo todo é tempo de salvação. Mas no arco de toda a história há alguns "segmentos de tempo", uns tempos propícios, nos quais a salvação age com particular intensidade.
Jesus, em Mt 16,2-3, fala do tempo messiânico e diz aos fariseus e aos saduceus: "Olhando o céu, vocês sabem prever o tempo, mas não são capazes de interpretar os sinais dos tempos".
Ressalta-se, seja neste texto citado, como em outros (2 Cor 6,2; Lucas 19,44), a diferença que os antigos gregos faziam quando falavam do "tempo". Os termos usados eram "Chronos" (Χρόνος) e " Kairos" (καιρός), com significados diferentes. "Chronos" é o tempo que chamados de cronológico. É o tempo, diríamos hoje, do relógio, no qual não há nenhuma diferença entre um minuto e outro minuto: é o tempo quantitativo. Mas o termo "Kairos" indica um "tempo favorável", é o tempo qualitativo.
O Evangelista João, várias vezes, coloca na boca de Jesus a expressão "A minha hora" (2,4; 7,30). Durante a última ceia, Jesus diz: "Pai, chegou a hora. Glorifica o teu filho" (17,1). Portanto, o tempo todo é história da salvação. O tempo da Igreja, que começa com a Encarnação do Filho de Deus e vai até o fim do mundo é, a título especial, tempo de salvação. O tempo da presença de Jesus, nesta terra, é ainda mais tempo de salvação.
Jesus está presente. Mesmo assim, Ele pode afirmar que ainda existe um outro "momento favorável", a sua "hora", que ainda não chegou. É o momento mais alto: o da sua morte-ressurreição.
A partir desses textos do Evangelho conclui-se que existem "momentos favoráveis" mais do que outros em ordem à realização da salvação. Esses momentos podem ser subdivididos por ritmos diários (os momentos de oração durante o dia), semanais (o domingo, dia do Senhor), anuais (Advento e Quaresma; tempo de Natal e tempo Pascal); por ritmos comunitários litúrgicos ou não (exercícios espirituais, encontros de espiritualidade dos vários grupos eclesiais etc.). Há também os ritmos do Ano Santo ordinário (a cada 25 anos) ou extraordinário: este Ano Santo da Misericórdia ou os anteriores (no ano de 1933, Pio XI proclamou o Ano Santo da Redenção, para lembrar os 1900 anos da morte-ressureição de Cristo; e em 1987, João Paulo II, num outro Ano Santo Extraordinário, lembrou os 1950 anos da Redenção).
Nesse sentido, o Papa Francisco escreveu na Bula de Proclamação do Jubileu extraordinário da Misericórdia: "Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos um sinal eficaz do agir do Pai".
3. A eficácia espiritual do Ano Santo
Por que o Ano Santo é um "momento oportuno"? A eficácia do Ano Santo provém da oração da Igreja. Isso significa que a Igreja, esposa de Cristo, pede, com a certeza de que sua oração vai ser atendida, para que Ele derrame de maneira abundante seus dons para todos os cristãos. É essa vontade eficaz que torna o Ano Santo um momento oportuno da salvação.
Mais uma pergunta: quais são os elementos do Ano Santo? São particularmente três: a conversão, a peregrinação e a indulgência. A conversão acontece por meio da reconciliação com Deus e com os irmãos. Observe-se que a reconciliação é uma iniciativa de Deus: Ele mesmo intervém e, estando em paz com Ele, nós nos tornamos criaturas novas, graças à morte de Cristo (2 Cor 5,17-20).
Jesus Cristo revela a bondade do Pai para com os pecadores. A esse respeito, há uma feliz coincidência entre este "Ano Santo da Misericórdia" e a leitura do evangelista Lucas neste mesmo ano litúrgico. De fato, São Lucas narra parábolas de Jesus, centradas na misericórdia de Jesus e na confiança nele que caminha entre os pobres, doentes, humilhados e sofredores da terra (Lucas 10,25-37; 15,1-32; 16,19-31; 18,1-18; 18,9-14). Narra encontros de amizade e compaixão (7, 36-50, 10,38-42; 19,1-10.28; 23,39-43). Lucas ressalta as atitudes de Jesus que consola e ampara (7,11-17; 13,10-17; 14,1-6; 17,11-19).
4. A peregrinação e a indulgência
A peregrinação faz reviver a experiência da história da salvação: a história de Abraão peregrino de Ur dos Caldeus para a terra que Deus lhe teria mostrado (Gen. 12,1); a peregrinação de Israel rumo à Terra Prometida; a peregrinação de Jesus rumo a Jerusalém. E a vida cristã é uma peregrinação até Deus.
Eis como o Papa Francisco fala da peregrinação na citada Bula de Proclamação deste Ano Santo: "A peregrinação é um sinal peculiar no Ano Santo, enquanto ícone do caminho que cada pessoa realiza na sua existência. A vida é uma peregrinação e o ser humano é viator, um peregrino que percorre uma estrada até a meta anelada. Também para chegar à Porta Santa, tanto em Roma como em cada um dos outros lugares, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Esta será sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar que exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai o é conosco".
Passa-se agora a refletir sobre a indulgência. Antes de tudo, é necessário esclarecer o significado do termo. "Indulgência" indica, na doutrina católica, a promessa de uma particular intercessão da Igreja para que Deus perdoe a pena temporal dos pecados que já foram perdoados, mas cujas consequências continuam. Em outros termos, o pecador arrependido e perdoado inicia um processo de conversão, ou mudança de vida radical, que exige tempo e perseverança. Nesse processo, a Igreja acompanha o fiel arrependido com sua oração de intercessão. Como se vê, existe para os não esclarecidos a possibilidade de confundir "indulgência" com "perdão dos pecados". Geralmente, para a concessão de uma indulgência, a Igreja pede, além da participação aos sacramentos, como acima lembrado, um gesto que seja sinal de conversão, como uma esmola, uma oração, uma peregrinação etc. A indulgência é considerada "plenária", quando diz respeito ao perdão de toda a pena temporal; nos outros casos, a indulgência é "parcial".
Nosso amor a Deus e ao próximo frequentemente fica misturado com egoísmo, com vaidade, presunção, negligência, falta de delicadeza, instabilidade e pouca fé. Daí a necessidade de uma conversão sempre mais profunda: e a indulgência encontra o espaço nesse contínuo esforço de conversão do cristão, que procura tornar-se "homem novo" e sente-se acompanhado pela oração da Igreja. A indulgência, como diz o Papa Francisco na citada bula, "através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado".
Uma conclusão a partir da vida do Papa Francisco
O tema da misericórdia tocou profundamente a vida do jovem Jorge Mario Bergoglio, acompanhou-o e o acompanha até hoje. Seu lema de bispo é o seguinte: Miserando atque eligendo. A frase é tirada das Homilias de São Beda Venerável (672-735), o qual, comentando o episódio evangélico da vocação de São Mateus, escreve: "Jesus viu um cobrador de impostos e olhando-o com amor o escolheu e disse: Segue-me".
Essa homilia é uma homenagem à misericórdia de Deus e está reproduzida na Liturgia das Horas da festa de São Mateus. Foi justo por ocasião da festa de São Mateus, no dia 21 de setembro de 1953, que, com quase 17 anos, Jorge Mario Bergoglio sentiu, pela primeira vez, a vocação à vida religiosa. Naquele dia, depois de uma confissão, o futuro Papa advertiu a presença no próprio coração da misericórdia de Deus, que o chamava a viver a vida como jesuíta, seguindo o exemplo de Santo Inácio de Loyola.
Considera-se, pois, interessante essa ligação entre o Ano Santo da Misericórdia e o caminho espiritual que o Papa Francisco tinha iniciado quando era ainda adolescente.
Como "discípulos que Jesus ama", possamos acolher neste Ano Santo em nossa casa, a mãe Maria, presente na grande hora da misericórdia (João 19,25-27).
"Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes"
A palavra "escatologia", no grego scatom, significa "últimas" e está relacionada ao céu, ao inferno e ao purgatório. A Igreja, apoiada na Sagrada Escritura, diz que estamos aqui, nesta terra, de passagem, porque fomos feitos para céus novos e uma terra nova.
Jesus está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso. Assim como Cristo ressuscitou, nós também vamos ressuscitar em Cristo. Nós cremos que, um dia, Ele há de julgar os vivos e os mortos. Jesus virá uma segunda vez, quando ressuscitaremos. As pessoas que morreram ressuscitarão e todos nós teremos um corpo glorioso. Precisamos acreditar na Ressurreição, caso contrário, não seremos, de fato, católicos. São Paulo diz que se não acreditarmos nela a nossa fé será vã.
O Senhor virá julgar os vivos e os mortos. Quando pensamos que Jesus está sentado à direita de Deus, podemos acreditar que, talvez, Ele esteja parado. Mas não! Cristo está agindo. Diante de tanta injustiça, podemos pensar: "Parece que Jesus está de férias no céu!". Mas quando Ele voltar, toda a justiça de Deus será em plenitude. Tudo mudará.
Não sabemos ao certo quando o Senhor virá, mas, quando Ele vier, passaremos por uma prova de fé. E mesmo que Cristo não volte amanhã, muitos de nós poderemos ir até Ele. Por isso, o Evangelho nos chama à conversão.
O Catecismo da Igreja Católica afirma: "Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes (639). A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na terra (640), porá a descoberto o 'mistério da iniquidade', sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do anticristo, isto é, dum pseudomessianismo em que o homem glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado (641). 676. Esta impostura anticristã já se esboça no mundo, sempre que se pretende realizar na história a esperança messiânica, que não pode consumar-se senão para além dela, através do juízo escatológico. A Igreja rejeitou esta falsificação do Reino futuro, mesmo na sua forma mitigada, sob o nome de milenarismo (642), e principalmente sob a forma política dum messianismo secularizado, 'intrinsecamente perverso' (643)."
Mas já há muitos lugares onde as pessoas estão sendo perseguidas. Não quero ser o profeta do desespero, como alguns fazem, dizendo que Jesus virá tal dia e que o mundo vai acabar logo. Não! Ninguém sabe quando isso vai acontecer; só o Pai, como nos diz a Palavra. O primeiro sinal, no entanto, como nos diz o Catecismo, será a perseguição.
Já neste primeiro milênio, existem mais mártires do que no primeiro milênio do Cristianismo. Talvez, você nem sabia disso, porque essas notícias não aparecem nos jornais, mas há lugares onde os cristãos estão sendo dizimados. O Papa Francisco, em uma entrevista, emocionou-se ao dizer: "Hoje, há mais mártires que no primeiro século do Cristianismo."
Nós, no Brasil, não sofremos essa perseguição de açoites, mas sofremos a perseguição velada. Nós vivemos tempos tristes, quando até o coroinha questiona o Papa, a Igreja, a verdade da fé. Quando o Santo Padre fala alguma coisa, há pessoas que dizem: "Não, não é bem assim", mas elas estão lá, no domingo, professando o Credo. Hoje, pensamos que tudo é normal, porque fomos nos deixando contaminar pelas mídias.
O Berço do Cristianismo
Na própria Europa, berço do Cristianismo, houve uma perseguição nos locais onde havia crucifixo. Se você ler algumas leis brasileiras, perceberá que aqui não tem sido diferente. Quais sãos os sinais de que Jesus voltará?
Você sabia que, há alguns meses, na Bélgica, foi aprovada a eutanásia infantil? É um absurdo! Eu quero chamar a atenção de vocês para esses sinais dos tempos.
Outro ponto é o avanço da perseguição à Doutrina da Igreja, ao Cristianismo. Nós temos pessoas que dizem 'não' a Deus. A consequência disso é dizermos 'não' ao homem; por isso matar o idoso que está ali, no leito do hospital, sem condições financeiras, "é normal" para eles. Num ano, há mais de 50 milhões de abortos. Quando o demônio quer agir, ele vai na destruição do ser humano. Vivemos um tempo em que a sociedade tem colocado o ser humano sem nada de valia.
Você só poderá suportar essas provações que virão se estiver em uma comunidade, se estiver junto com outros que professam a mesma fé que você. É o que diz Bento XVI. É preciso que tenhamos claro isso diante de nós: Jesus voltará. Se Ele voltasse hoje, como estaria a sua fé?