25 de março de 2025

Por que há tantas divisões na sociedade?

Heranças da ruptura, um exemplo de divisão para a sociedade

Certamente, você já ouviu o ditado popular: "Quando os pais brigam, os filhos perecem". Atualmente, é inegável que somos uma sociedade marcada pelos divórcios, e que cada vez mais vêm sendo normalizados. Assim, dando como exemplo, é possível dizer que sempre conhecemos alguém cujos pais são divorciados, e que foram criados pelos avós ou por um dos pais. Na maior parte das vezes, esse assunto torna-se algo delicado, ou até mesmo desconfortável para essa pessoa. E posso dizer que essas características não são exclusivas do nosso século, visto que, desde 1977, ano em que foi promulgada uma lei para autorização legal de separação de casais, um número cada vez maior de casais estão terminando seus relacionamentos, causando danos irreparáveis às suas famílias.

Crédito: cagkansayin/GettyImages

Sou grato por meus pais não terem se divorciado, mas reconheço que muitas crianças enfrentam essa realidade. Acompanhei algumas histórias de filhos que, apesar da herança dos pais ou da ausência de casamento entre eles, encontraram caminhos para prosperar. Afinal, a família perfeita não existe! É inegável que essas experiências podem deixar marcas profundas, moldando o caráter de alguma forma negativa. Contudo, mesmo passando por tudo isso, muitos conseguem superar esses traumas e constituir novas famílias com perfeita harmonia.

Quem fica com o quê? Quando a sociedade imita a briga dos pais

Deixe-me contar uma parábola para você entender melhor onde quero chegar com isso tudo: Dona Lurdes está casada com o Sr. Quinzinho e, juntos, tiveram três lindos filhos. O filho mais velho de Seu Quinzinho é o Adalberto; a filha do meio se chama Raquel; e o mais novo, João. Eles nasceram um atrás do outro e sempre foram uma família muito humilde e feliz. Dona Lourdes era dona de casa e fazia pequenos trabalhos para complementar a renda, como lavar e passar roupa, e pequenos serviços de costura. Seu Quinzinho era pedreiro, mas tinha um grave problema: beber todo final de semana até cair no sofá e dormir ali mesmo, sem tomar banho.

Na adolescência dos filhos, Seu Quinzinho ficou um longo tempo sem serviço. Ele tentou trabalhar em outra área, mas não conseguiu porque tinha poucas instruções. Mesmo sem dinheiro e fazendo bicos, tomado pelo desespero, ele passou a ficar bêbado todos os dias, e acabou se tornando alcoólatra e violento com Dona Lurdes, que passou a ter de fazer mais serviços para que nada faltasse em casa. Devido às inúmeras situações constrangedoras e perigosas que o alcoolismo provocou no casamento deles, Dona Lurdes, mesmo amando o marido, teve de se separar dele. E como ficaram os filhos? Adalberto defendeu a mãe. Raquel teve pena do pai e ficou com ele. E João olhou toda essa situação com desprezo, pegou suas coisas, arrumou um trabalho em outra cidade e foi morar com os avós.


Quando os pais brigam e forçam os filhos a tomar partido, ignoram o desejo mais profundo deles: a reconciliação. Mesmo em meio ao conflito, a última coisa que os filhos querem é escolher um lado e transformar um dos pais em inimigo. Se pudesse, escolheriam a união, ou seja, o "antidivórcio". No entanto, este texto não se concentra no desenho, mas sim na divisão que está presente na nossa sociedade, manifestando-se em inúmeras áreas e gerando consequências incalculáveis. Essa separação de significados, essa polarização, é o tema que quero explorar.

"Para que todos sejam um", uma urgência da unidade em um mundo fragmentado

A polarização política e ideológica, propagada pelos noticiários e pelas redes sociais, tem gerado profundas divisões, até mesmo entre pessoas com opiniões em comum, como em nossas casas com nossos familiares. Em vez de promover uma enriquecedora troca de ideias, o debate fica cada vez mais acirrado entre os diferentes espectros políticos – Esquerda, Direita e Centro –, os quais, muitas vezes, deixa de lado as necessidades das mais vulneráveis, tratando-os como meras pessoas na disputa de poder.

E essa divisão não se limita apenas à esfera política. A fragmentação teológica aflige o Corpo de Cristo há séculos, e a busca pela unidade entre a Igreja e suas diversas denominações, em cumprimento ao desejo expresso por Cristo em João 17,21 ("para que todos sejam um"), representa um enorme desafio para nós cristãos.

Além disso, conflitos assolam governos e nações, tanto em suas relações externas quanto internamente. Na África, muitos países ainda enfrentam guerras civis e perseguições religiosas, mergulhando seus cidadãos em miséria e violência. Na Ásia, vastas populações tiveram a oportunidade de conhecer a mensagem de Cristo, e qualquer tentativa de levar o Evangelho, muitas vezes, esbarra em resistência e conflito.

Bem como, dentro das famílias, os debates ideológicos, as divergências de fé e os choques geracionais também criam obstáculos. Os mais jovens desrespeitam os mais velhos, que, por sua vez, ofendem os mais jovens. Em algumas famílias, as diferenças geracionais são tão marcantes, que levam ao afastamento entre pais e filhos, motivado por uma variedade de razões. Em todas essas divisões, percebemos a triste realidade de que, quando há discórdia entre as figuras de autoridade em um lar, os mais fracos e dependentes são os que mais sofrem, privados da atenção e do apoio aqueles que deveriam estar unidos em prol do crescimento e bem-estar familiar.

Multiplicando a graça em tempos de divisão

Por que o Pai Celestial tem permissão para tantas divisões? São Paulo vai escrever na carta aos Coríntios: "É necessário que haja cisões entre os vós, a fim de que se veja quem dentre os vós resiste à provação" (1 Cor 11,19). A divisão que se apresenta nas famílias, no Corpo de Cristo e nas nações não é um desejo do Pai, porém, sua permissão põe em prova nosso coração, para que assim nossa fé seja fortalecida!

A riqueza dessa prova não reside na simples escolha de um "lado certo", pois nem sempre essa escolha é clara. Em muitos conflitos, todas as partes podem ter suas falhas e responsabilidades. O verdadeiro valor está em permanecermos firmes em nossa obediência e confiança em Deus, mesmo em meio ao caos e às incertezas. Diante dos conflitos que nos fragmentam interna e externamente, o legado de Cristo nos provoca garantir que sua graça não seja em vão (1 Cor 15,10).

Paulo também alertou aos Coríntios sobre como suas divisões internas impediriam a manifestação plenária do Espírito Santo, apesar dos dons espirituais presentes na comunidade (1 Cor 11-14). Por isso, em vez de nos concentrarmos nas ações da divisão, consideramos os frutos que podem florescer a partir dela, através da ação do Espírito Santo.

Quando Cristo retornar, Ele não nos questionará sobre a divisão, mas sobre a nossa capacidade de multiplicar os dons que Ele nos concedeu. Respondemos a essa graça com uma fé inabalável, buscando a unidade em meio à diversidade e modificando a prova da divisão em oportunidade para um crescimento espiritual profundo e duradouro.

Guilherme Christovão
Missionário Núcleo da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/por-que-ha-tantas-divisoes-na-sociedade/

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