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8 de março de 2025

Mulher em transformação: transformando-se segundo o coração de Deus

Fluidez e fé, a mulher moderna em busca de sentido numa sociedade líquida

Diante do mundo contemporâneo, com muitas mudanças, este artigo propõe uma reflexão para entender de que forma a mulher moderna está sendo influenciada pelas transformações da sociedade atual, a qual tem sido um fator gerador de mal-estar na nossa civilização e um risco para não viver na Vontade de Deus, dificultando o seu processo de transformação para se tornar uma mulher segundo o coração de Deus.

Crédito: andreswd/GettyImages

O sociólogo Zygmunt Bauman também se preocupou com a questão da modernidade, definindo-a como "sociedade líquida": "Vive-se uma espécie de modernidade líquida, fluida e com um consumismo exacerbado. O que importa é consumir sem pensar nas consequências das compulsões estimuladas pelo mundo moderno. Essas compulsões levam cada vez mais à individualidade. A mulher contemporânea tornou-se o retrato fiel desse consumismo exacerbado. Ao mesmo tempo, vive uma incessante busca por um corpo perfeito. Como se vivêssemos uma doença coletiva, cresce exponencialmente o uso de medicações como ansiolíticos e antidepressivos, com frequência decorrentes da intolerância ao sofrimento."

Niilismo, a ameaça silenciosa à mulher contemporânea

Outro agravante da mulher moderna é que muitas estão perdidas, sem rumo, vivendo sem sentido, o perigo do niilismo. 


O niilismo é a negação de sentido. O Papa João Paulo II nos explicou na Encíclica Fé e Razão: "Como consequência da crise do racionalismo, apareceu o niilismo. Enquanto filosofia do nada, consegue exercer um certo fascínio sobre os nossos contemporâneos. Na interpretação niilista, a existência é somente uma oportunidade para sensações e experiências onde o efémero detém o primado. O niilismo está na origem duma mentalidade difusa, segundo a qual não se deve assumir qualquer compromisso definitivo, porque tudo é fugaz e provisório." 

Santa Teresa d'Ávila, inspiração para a mulher de Deus

Então, qual é o segredo para, de fato, nos tornarmos uma mulher segundo o coração de Deus? 

Podemos aprender com a vida de Santa Teresa d'Ávila, que, embora tenha entrado jovem no Carmelo, só com quase 40 anos de idade foi que ela teve a sua "segunda conversão". Tendo sido uma mulher santa em seus últimos anos, seus anos mais jovens foram tudo, menos perfeitos.

A mesma transformação que aconteceu na vida de Teresa precisa acontecer na nossa. Ela nos ensina que a nossa vocação é amar: "É somente o amor que dá valor a todas as coisas".

Transcrevo um trecho do meu livro "Mulheres em Transformação – Pérolas Preciosas de Deus": Nós, obras-primas do Criador, estamos nas habilidosas mãos do Senhor, que sabe quem somos e o que Ele planejou que sejamos. Não importa o quão danificadas estejamos pelo pecado, é possível a restauração. O Artista-Mestre trabalha em nós. Como São Paulo nos ensina: "Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento" (Cl 3,9-10). 

O Espírito Santo quer agir na minha vida e na sua, transformando-nos em mulheres segundo o coração de Deus.

Marina Adamo


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/mulher-em-transformacao-transformando-se-segundo-o-coracao-de-deus/

7 de março de 2025

Como a adoração pode ser um remédio para nossa alma?

A cura através da adoração

A adoração é um encontro direto com Deus. Ao dedicar momentos à Sua presença, experimentamos cura e transformação interior. Esse tempo de oração e silêncio ajuda a afastar o barulho do mundo e a concentrar nossa atenção naquilo que realmente importa.

Crédito: Sidney de Almeida/GettyImages

Foco na presença de Deus

Quando adoramos, colocamos de lado as preocupações cotidianas. É uma oportunidade de parar e reconhecer que nossa força vem de Deus. Esse reconhecimento traz paz e alívio para os fardos que carregamos.

Transformação interior

A prática regular da adoração fortalece a fé e acalma a mente. Em momentos de silêncio, somos convidados a refletir sobre nossas atitudes e a buscar mudanças que nos aproximem do amor de Cristo. Essa renovação fortalece nossa esperança e nos prepara para enfrentar desafios.


Cura para a alma

O encontro com o Senhor através da adoração não é apenas um momento de contemplação; é um remédio que alivia dores emocionais e espirituais. Ao sentir a presença de Deus, encontramos conforto e um caminho para a superação das crises pessoais. É na simplicidade desse encontro que muitos experimentam uma verdadeira cura.

Aplicação prática na vida diária

  • Reserve um tempo diário para a adoração, mesmo que por alguns minutos.
  • Utilize este momento para refletir sobre sua vida com Deus e tudo o que tem vivido

Conclusão

A adoração é um remédio eficaz para nossas almas, pois nos reconecta com a fonte de nossa vida e do nosso sentido de vida. Ao buscar esse encontro sincero com Deus, sua presença, abrimos espaço para a transformação pessoal e para a cura interior.  Na prática, pode parecer uma ferramenta simples, mas poderosa; o que ocorre, de fato, é que nos ajuda a viver uma fé mais autêntica e plena.

Almir Rivas – @rivasalmir
Missionário da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/como-a-adoracao-pode-ser-um-remedio-para-nossa-alma/

6 de março de 2025

Cultivar a alegria


"Não entregues tua alma à tristeza…" (Eclo 30, 22). De todos os sentimentos, para mim, o mais difícil de vivenciar é a tristeza. A alegria sempre foi natural na minha alma. Desde a infância, sempre gostei muito de cultivar a alegria, de fazer as pessoas próximas rirem também. Até a saudade, as dores da perda são, na minha vida, mais leves que a tristeza.

A outra face do sofrimento deve ser o sorriso

"A alegria do coração é a vida do homem, um inesgotável tesouro de santidade" (Eclo 30, 23). Santa Tereza de Calcutá escreveu em uma de suas cartas que "o meu segundo propósito é o de tornar-me uma apóstola da alegria (…) – Quero sorrir – mesmo para Jesus – e assim ocultar mesmo a Ele – se possível – a dor e a escuridão da minha alma."*  

A alegria é um dom e, como todos os dons, vem de Deus. Acredito que o sofrimento deve ter, como outra face, o sorriso. Se assim procedemos, dizemos a Deus que aceitamos o fardo. Se não, parece que ficamos devendo alguma coisa a Cristo, como se a vontade Dele fosse aceita por mim somente por obrigação. Claro que não é fácil sorrir nos reveses da vida. Mas é uma decisão que podemos tomar e é o melhor caminho para viver e ser feliz.

O sorriso me liberta das minhas dores

Santa Teresinha do Menino Jesus disse: "O coração é meu, pode sofrer. O rosto é do meu irmão, deve sorrir." E ela teve a alegria como um mandamento de vida. Muitas vezes chorei sorrindo e meu sorriso me consolou. Meus olhos expressam minhas dores, mas meu sorriso me liberta delas. Sorrir diz primeiro a mim, que é necessário lutar, não se entregar; e depois diz ao irmão que vale a pena viver e carregar no bolso um sorriso para distribuir nos momentos em que a desesperança bate à porta, "pois a tristeza matou a muitos e não há nela utilidade alguma" (Eclo 30, 25). Então sorrio e, como consequência, colho frutos de alegria, fonte de juventude e leveza da alma, de esperança, de força, de aceitação…   

Assim sendo, sorrindo mesmo sofrendo, vejo a face de Jesus na minha frente, que sofreu com a serenidade e a alegria de quem sabe onde estão escondidos seus tesouros.

Nem as piores dores são inconciliáveis com a alegria

Vejo que ser feliz, independentemente das dificuldades que enfrentamos, é um grande amadurecimento. Uma alma preparada e forte aprende que nem as piores dores são inconciliáveis com o dom da alegria e com a paz que ele proporciona.

A alegria deve ser premente e deve sempre remeter-nos à lembrança da finitude da vida, da inconstância dos dias, da certeza de que aqui não é lugar de repouso ou de descanso das dores e das dificuldades… Aqui é lugar de luta, de romper cárceres, de aprofundar no mais íntimo da alma, do coração e ali encontrar Deus… Minha maior alegria… Que seja a sua também!

*Venha, seja Minha luz – os escritos privados as santa de Calcutá. Ed. Petra, pág. 180.

Viviani Melo Membro de aliança da Comunidade Mel de Deus


Fonte: https://meldedeus.com/a-alegria/

Santa Rosa de Viterbo, a pequena gigante da fé

A fé inquebrável de Santa Rosa de Viterbo

Rosa é prova e testemunho para nós de que mesmo uma vida breve e simples pode ser extraordinária e admirável, influenciando milhares de pessoas no transcorrer dos séculos. Sua fé, enraizada no amor, dava-lhe autenticidade. Todos sabiam que ela pregava sobre aquilo em que firmemente acreditava, sobre aquilo que vivia, sobre aquilo que sinceramente amava e sentia.

Crédito: Bartolome Esteban / Domínio Público

Um nascimento excepcional

Seu nascimento já indicava algo excepcional, pois quem nascia com o esterno – osso na parte anterior do tórax – era condenado a morrer em três anos, porque seu esqueleto não consegue ser sustentado. No entanto, Rosa viveu 18 anos, sempre com o sorriso nos lábios.

Isso fez-me lembrar o que nos ensinava Monsenhor Jonas Abib: ele dizia a nós, missionários da Canção Nova, que teríamos um hábito (ou seja, um vestimento religioso diferenciado), mas que o nosso hábito, o que nos distinguiria como Canção Nova, seria nosso sorriso. O sorriso é algo poderoso e muito evangelizador, pois nos acolhe sem julgamentos.

Rosa, não podendo receber o hábito religioso, entrou para a Ordem Terceira de São Francisco e começou a percorrer toda a cidade, com uma cruz no pescoço, levando uma vida de penitência e de caridade com os pobres e enfermos.

Um contexto de conflitos

Rosa viveu numa época de grandes confrontos entre os poderes do pontificado e do imperador, somados aos conflitos civis provocados por duas famílias que disputavam o governo da cidade de Viterbo. Ela nasceu nesta cidade num dia incerto do ano de 1234. Os pais, João e Catarina, eram cristãos fervorosos. Então, o contexto social e histórico era muito conflituoso.


Rosa teria muitas justificativas para explicar sua impossibilidade de fazer algo pelo outro. Mas ela não se deu por vencida, pois quem tem seu coração verdadeiramente abrasado pelo amor de Deus não consegue se conter e sente uma imperiosa necessidade de levar esse amor a outros. Como sua mãe, Catarina, trabalhava com as Irmãs Clarissas do mosteiro da cidade, Rosa recebeu a influência da espiritualidade franciscana ainda muito pequena.

Dons especiais e amor incondicional

Ela era uma criança carismática, possuía dons especiais e um amor incondicional ao Senhor e a Virgem Maria. Dizem que, com apenas três anos de idade, transformava pães em rosas e, aos sete, pregava nas praças, convertendo multidões. Aos doze anos, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco por causa de uma visão em que Nossa Senhora assim lhe determinava.

Defesa da fé e exílio

No ano de 1247, a cidade de Viterbo, fiel ao Papa, caiu nas mãos do imperador Frederico II, um herege que negava a autoridade do Papa e o poder do Sacerdote de perdoar os pecados e consagrar. Lembrando que o próprio Jesus deixou bem claro para Pedro o poder de ligar e desligar nos céus. Está em Mateus 16,19: "Eu lhe darei as chaves do Reino dos Céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus; e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus".

Rosa teve outra visão, desta vez com Cristo, que estava com o coração em chamas. Ela não se conteve, saiu pelas ruas pregando com um crucifixo nas mãos. A notícia correu toda a cidade, muitos foram estimulados na fé, e vários hereges se converteram. Com suas palavras, confundia até os mais preparados. Por isso, representava uma ameaça para as autoridades locais.

Em 1250, o prefeito a condenou ao exílio. Rosa e seus pais foram morar em Soriano, onde sua fama já havia chegado.

Retorno e morte

Na noite de 5 de dezembro de 1251, Rosa recebeu a visita de um anjo que lhe revelou que o imperador Frederico II, uma semana depois, morreria. O que de fato aconteceu. Com isso, o poder dos hereges enfraqueceu, e Rosa pôde retornar a Viterbo. Toda a região voltou a viver em paz. No dia 6 de março de 1252, sem agonia, ela morreu.

O processo de canonização

No mesmo ano, o Papa Inocêncio IV mandou instaurar o processo para a canonização de Rosa. Cinco anos depois, o mesmo Pontífice mandou exumar o corpo e, para a surpresa de todos, ele foi encontrado intacto. O convento das Irmãs Clarissas, que nesta cerimônia passou a se chamar Convento de Santa Rosa.

Depois dessa cerimônia, a Santa só foi "canonizada" pelo povo, porque, curiosamente, o processo nunca foi promulgado. A canonização de Rosa ficou assim, nunca foi oficializada. Mas também nunca foi negada pelo Papa e pela Igreja. Santa Rosa de Viterbo, desde o momento de sua morte, foi "canonizada" pelo povo.

Um legado de fé

Sua vida demonstra a força e a luz de alguém que abraça a fé com determinação e plenitude. A presença de Deus nessas almas torna-se palpável e concreta para aqueles que as circundam. Aprendamos com Santa Rosa a abraçar a fé com firmeza e integridade, não importa as circunstâncias que nos cerquem.

Santa Rosa de Viterbo, rogai por nós!

Edvânia Duarte Eleutério
Missionária da Comunidade Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/santa-rosa-de-viterbo-pequena-gigante-da-fe/

5 de março de 2025

Conversão e Penitência

– Fomentar a conversão do coração, especialmente durante este tempo.
– Obras de penitência: o jejum, a mortificação, a esmola…
– A Quaresma, um tempo para nos aproximarmos mais de Deus.

I. COMEÇA A QUARESMA, tempo de penitência e de renovação interior para prepararmos a Páscoa do Senhor 1A liturgia da Igreja convida-nos com insistência a purificar a nossa alma e a recomeçar novamente.

Diz o Senhor Todo-Poderoso: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração, com jejum, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai os vossos corações, não as vossas vestes; convertei-vos ao Senhor vosso Deus, porque ele é compassivo e misericordioso… 2, lemos na primeira leitura da Missa de hoje. E quando o sacerdote impuser as cinzas sobre as nossas cabeças, recordar-nos-á as palavras do Gênesis, depois do pecado original: "Memento homo, quia pulvis es…Lembra-te, ó homem, de que és pó e em pó te hás de tornar 3.

"Memento homo…Lembra-te… E, não obstante, às vezes esquecemos que sem o Senhor não somos nada. "Sem Deus, nada resta da grandeza do homem senão este montinho de pó sobre um prato, numa ponta do altar, nesta Quarta-feira de Cinzas, com o qual a Igreja nos deposita na testa como que a nossa própria substância" 4.

O Senhor quer que nos desapeguemos das coisas da terra para que possamos dirigir-nos a Ele, e que nos afastemos do pecado, que envelhece e mata, e retornemos à fonte da Vida e da alegria: "O próprio Jesus Cristo é a graça mais sublime de toda a Quaresma. É Ele quem se apresenta diante de nós na simplicidade admirável do Evangelho" 5.

Dirigir o coração a Deus, converter-se, significa estarmos dispostos a empregar todos os meios para viver como Ele espera que vivamos, a não tentar servir a dois senhores 6, a afastar da vida qualquer pecado deliberado. Jesus procura em nós um coração contrito, conhecedor das suas faltas e pecados e disposto a eliminá-los. Então lembrar-vos-eis do vosso proceder perverso e dos vossos dias que não foram bons… 7. O Senhor deseja uma dor sincera dos pecados, que se manifestará antes de mais nada na Confissão sacramental: "Converter-se quer dizer para nós procurar novamente o perdão e a força de Deus no sacramento da reconciliação e assim recomeçar sempre, avançar diariamente" 8.

Para fomentar em nós a contrição, a liturgia de hoje propõe-nos o salmo com que o rei David manifestou o seu arrependimento, o mesmo com que tantos santos suplicaram o perdão de Deus.

Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E, segundo a imensidão da vossa misericórdia, apagai a minha iniqüidade, dizemos a Jesus com o profeta real.

Lavai-me totalmente da minha falta e purificai-me do meu pecado. Eu reconheço a minha iniqüidade e tenho sempre diante de mim o meu pecado. Somente contra Vós pequei.

Ó meu Deus, criai em mim um coração puro e renovai-me o espírito de firmeza. Não me expulseis para longe do vosso rosto, não me priveis do vosso santo espírito.

Restituí-me a alegria da salvação e sustentai-me com uma vontade generosa. Senhor, abri os meus lábios a fim de que a minha boca anuncie os vossos louvores 9.

O Senhor nos atenderá se no dia de hoje repetirmos de todo o coração, como uma jaculatória: Ó meu Deus, criai em mim um coração puro e renovai-me o espírito de firmeza.

II. O SENHOR também nos pede hoje um sacrifício um pouco especial: a abstinência e, além dela, o jejum, pois o jejum "fortifica o espírito, mortificando a carne e a sua sensualidade; eleva a alma a Deus; abate a concupiscência, dando forças para vencer e amortecer as suas paixões, e prepara o coração para que não procure outra coisa senão agradar a Deus em tudo" 10.

Além destas manifestações de penitência (a abstinência de carne a partir dos 14 anos e o jejum entre os 18 e os 59 completos), que nos aproximam do Senhor e dão à alma uma alegria especial, a Igreja pede-nos também que pratiquemos a esmola que, oferecida com um coração misericordioso, deseja levar um pouco de consolo aos que passam por privações ou contribuir conforme as possibilidades de cada um para uma obra apostólica em bem das almas. "Todos os cristãos podem praticar a esmola, não só os ricos e abastados, mas mesmo os de posição média e ainda os pobres; deste modo, embora sejam desiguais pela sua capacidade de dar esmola, são semelhantes no amor e afeto com que a praticam" 11.

O desprendimento das coisas materiais, a mortificação e a abstinência purificam os nossos pecados e ajudam-nos a encontrar o Senhor. Porque "quem procura a Deus querendo continuar com os seus gostos, procura-o de noite e, de noite, não o encontrará" 12.

A fonte desta mortificação está principalmente no trabalho diário: nos pormenores de ordem, na pontualidade com que começamos as nossas tarefas, na intensidade com que as realizamos; na convivência com os colegas, que nos deparará ocasiões de mortificar o nosso egoísmo e de contribuir para criar um clima mais agradável à nossa volta. "Mortificações que não mortifiquem os outros, que nos tornem mais delicados, mais compreensivos, mais abertos a todos. Não seremos mortificados se formos suscetíveis, se estivermos preocupados apenas com os nossos egoísmos, se esmagarmos os outros, se não nos soubermos privar do supérfluo e, às vezes, do necessário; se nos entristecermos quando as coisas não correm como tínhamos previsto. Pelo contrário, seremos mortificados se nos soubermos fazer tudo para todos, para salvar a todos (I Cor 9, 22)" 13Cada um de nós deve preparar um plano concreto de pequenos sacrifícios para oferecer ao Senhor diariamente nesta Quaresma.

III. NÃO PODEMOS DEIXAR passar este dia sem fomentar na alma um desejo profundo e eficaz de voltar uma vez mais para Deus, como o filho pródigo, a fim de estarmos mais perto dEle. São Paulo, na segunda leitura da Missa, diz que este é um tempo excelente que devemos aproveitar para nos convertermos: Nós vos exortamos a não receber a graça de Deus em vão […]. Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação 14E o Senhor nos repete a cada um, na intimidade do coração: Convertei-vos. Voltai-vos para mim de todo o coração.

Abre-se agora um tempo em que este recomeçar em Cristo se irá apoiar numa particular graça de Deus, própria do tempo litúrgico que começamos. Por isso, a mensagem da Quaresma está repassada de alegria e de esperança, ainda que seja uma mensagem de penitência e mortificação.

"Quando algum de nós reconhece estar triste, deve pensar: é que não estou suficientemente perto de Cristo. E o mesmo deve pensar quando reconhece em si uma clara tendência para o mau humor, para a irritação. E não deve pretender jogar a culpa nas coisas que tem à sua volta, pois seria um erro e uma maneira de se desorientar na procura da causa dos seus estados de ânimo" 15.

Às vezes, certa apatia ou tristeza espiritual pode ser motivada pelo cansaço, pela doença…, mas com muito mais freqüência procede da falta de generosidade em corresponder ao que o Senhor nos pede, do pouco esforço em mortificar os sentidos, da falta de preocupação pelos outros. Em resumo, de um estado de tibieza.

Em Cristo encontramos sempre o remédio para uma possível tibieza e as forças para vencer defeitos que de outro modo seriam insuperáveis. Quando alguém diz: "Sou irremediavelmente preguiçoso, não sou tenaz, não consigo terminar as coisas que começo, deveria pensar (hoje): Não estou tão perto de Cristo como deveria.

"Por isso, aquilo que cada um de nós possa reconhecer na sua vida como defeito, como doença, deveria ser imediatamente referido a este exame íntimo e direto: Não sou perseverante? Não estou perto de Cristo. Não sinto alegria? Não estou perto de Cristo. Vou deixar de pensar que a culpa é do trabalho, que a culpa é da família, dos pais ou dos filhos… Não. A culpa íntima é do fato de eu não estar perto de Cristo. E Cristo me está dizendo: Volta. Voltai-vos para mim de todo o coração.

"[…] Tempo para que cada um se sinta urgido por Jesus Cristo. Para que os que alguma vez se sentiram inclinados a adiar esta decisão saibam que chegou o momento. Para que os que estão dominados pelo pessimismo, pensando que os seus defeitos não têm remédio, saibam que chegou o momento. Começa a Quaresma; vamos encará-la como um tempo de mudança e de esperança" 16.

(1) Cfr. Conc. Vat. II, Const. Sacrossanctum Concilium, 109; (2) Joel 2, 12; (3) Gên 3, 19; (4) J. Leclercq, Siguiendo el año litúrgico, Madrid, 1957, pág. 117; (5) João Paulo II, Homilia da Quarta-feira de Cinzas, 28-II-1979; (6) cfr. Mt 6, 24; (7) Ez 36, 31-32; (8) João Paulo II, Carta Novo incipiente, 8-IV-1979; (9) Sl 50, 3-6.12-14.17; (10) São Francisco de Sales, Sermão sobre o jejum; (11) São Leão Magno,Liturgia das Horas. Segunda leitura da quinta-feira depois das Cinzas; (12) São João da Cruz, Cântico espiritual, 3, 3; (13) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, 3ª ed., Quadrante, São Paulo, n. 9; (14) 2 Cor 5, 20; Segunda leitura da Missa da Quarta-feira de Cinzas; (15) A. M. García Dorronsoro, Tiempo para creer, pág. 118; (16) ib.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Fonte: https://institutohesed.org.br/conversao-e-penitencia-2/

4 de março de 2025

O tesouro do bom coração

A prova da tribulação e os frutos do coração

"Como o forno prova os vasos do oleiro, assim é a prova da tribulação para os justos. O fruto revela como foi cultivada a árvore: assim, a palavra que provém do pensamento do coração" (Eclo 27,6-7). A Liturgia da Igreja do Oitavo Domingo do Tempo Comum nos conduz ao Coração! Coração de Cristo, aberto pela lança na Cruz, fonte inesgotável que se oferece continuamente no Sacrifício do Altar, atraindo todos a ele! Coração de cada homem e de cada mulher, chamados a tirar do seu tesouro o bem que foi plantado pela graça, para produzir frutos (cf. Lc 6,39-45).

Crédito: Rouzes/GettyImages

Coração ardoroso do Apóstolo São Paulo, na convicção proclamada com toda força de que a vitória sobre a morte e o pecado nos foi garantida pelo Senhor nosso, Jesus Cristo (cf. 1 Cor 15,54-58). Paulo está convicto de que Deus "quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade, pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e a humanidade: o homem Cristo Jesus, que se entregou como resgate por todos" (cf. 1 Tm 2,4-7).

Cristo, o mediador

Deus não fez ninguém para a perdição ou para ficar "amassando barro" na miséria e na tristeza. Podemos fazer uma verdadeira viagem ao coração de cada pessoa, e descobrir, lá dentro, a semente do bem e o anseio pela verdade.

De fato, mesmo quando pecamos, acontece algo misterioso e desafiador, pois, pelo menos, naquele momento, por defeito na formação da personalidade, por vícios adquiridos ou por hábito de maldade e pecado, naquele momento, o erro nos pareceu o melhor, o que não justifica o erro, mas ajuda a entender e buscar caminhos para a eventual correção de rota.

O tesouro do bom coração, um caminho para a santidade

A experiência com os viciados em drogas que buscam a recuperação na Fazenda da Esperança tem nos ajudado
a redescobrir este substrato de bondade plantado por Deus em todas as pessoas, jovens e adultos que, às vezes de inconsciente, clamam por ajuda e pela necessária luz, a fim de encontrar o caminho da verdade e da santidade.

Nesta "viagem", desejamos propor uma operação de limpeza dos resquícios de maus sentimentos, invejas, ódio, ciúme, práticas caluniosas e espírito de destruição, coisas que só estragam o tesouro precioso de nosso bom coração. Com esta certeza, coloquemo-nos todos no mesmo barco da vida para os necessários apelos a uma vida santa. Pode ser um belo passo a recomendação de tirar do tesouro do bom coração coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52; Lc 6,52).

O bem que habita em nós

Se existe, podemos dizer, uma reserva de maldade dentro do coração que é mau, maior é a reserva de bondade
no bom tesouro do coração. O exercício pode ser a reação positiva e construtiva diante da vida e das atitudes dos outros, a capacidade de elogiar e estimular as pessoas que estão amadurecendo na fé, as iniciativas do bem em nossos ambientes de convivência e em nossas famílias, a disposição para dar o primeiro passo de criatividade ou de perdão, a disposição para associar-nos a pessoas que estão levando adiante projetos de bem comum e uma série de ações que o Espírito Santo certamente inspirará a cada um de nós.

Aproveitemos para fazer uma pergunta positivamente provocante: o que cada um de nós tem de melhor? Ocorre-me propor um exame de consciência do lado positivo e construtivo. Agradeçamos a Deus e comprometamo-nos a colocar à disposição dos outros aquilo que temos. É bom que tal exame de consciência comece com a pergunta sobre o que Deus pensa de nós.

Encontrando o bem e partilhando a graça

Certamente, teremos boas surpresas, pois ele nos fez por amor e para amá-lo e amar o próximo, e tem uma visão melhor a respeito de nossa história. Deus nos conhece mais do que nós mesmos! Ao fazer este exame, um bom passo será reconhecer o bem que praticamos e encontramos. Uma vida sem louvor e ação de graças não é propriamente cristã, ainda que a muitos possa parecer até realista.

Se o homem bom "tira coisas boas de seu bom coração", desejamos indicar outro passo correspondente às graças que Deus nos dá, que é a partilha das experiências na vivência do Evangelho. Voltando à experiência da Fazenda da Esperança, a que nos referimos, nosso método de recuperação é baseado na convivência sadia, nas atividades
laborativas em voluntariado e na espiritualidade.

Comunhão, a chave da recuperação

Nunca fazemos palestras ou instruções sobre drogadição, pois nosso público está repleto de informações e de práticas, das quais quer libertar-se! Duas formas de partilha ajudam a crescer na vivência evangélica, a saber, a comunhão de alma, quando cada pessoa partilha sua caminhada e a situação em que se encontra, e vêm à tona tesouros impressionantes, e depois a comunhão de experiências da Palavra de Deus vivida.


Uma palavra, comunhão, que expressa a chave do processo de recuperação! Se a experiência da Fazenda da Esperança gera frutos impressionantes de conversão e de vida nova, será excelente levar algo semelhante às nossas famílias, comunidades e Paróquias. Muitas de nossas reuniões e encontros têm estilo de "lavar roupa suja", havendo uma inexplicável dificuldade em falar com clareza do bem que procuramos e colocamos em prática, para edificação recíproca.

O caminho da edificação, conforto, amor e paz

Recordemo-nos mais uma vez do Apóstolo São Paulo: "Confortai-vos e edificai-vos uns aos outros, como aliás já fazeis. Pedimos-vos, irmãos, que tenhais toda a consideração para com aqueles que se afadigam entre vós e, no Senhor, vos presidem e admoestam. Cercai-os de estima e de extremado amor em razão do seu trabalho. Conservai a paz entre vós. Pedimos-vos, irmãos: chamai a atenção dos que levam vida desordenada, animai os tímidos, sustentai os fracos, sede pacientes para com todos.

Tomai cuidado para que ninguém retribua o mal com o mal, mas procurai sempre o bem entre vós e para com todos. Estai sempre alegres. Orai continuamente. Dai graças, em toda e qualquer situação, porque esta é a vontade de Deus, no Cristo Jesus, a vosso respeito" (cf. 1Ts. 5,12-17). E edificaremos o bem, a partir do bom coração!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-tesouro-do-bom-coracao/