Deus como fundamento da moralidade, uma resposta ao relativismo
Vivemos em um mundo onde os defensores da moral católica, muitas vezes, precisam agir com cautela ao se opor aos erros da sociedade contemporânea. A distinção entre certo e errado tornou-se obscura para muitos, consequência do relativismo moral que se espalhou nas sociedades. Nesse contexto, não há mais uma verdade objetiva, mas apenas "verdades pessoais", frequentemente moldadas pelo egoísmo e interesses individuais.
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Crédito: oatawa / GettyImages
No entanto, a verdade moral é objetiva, pois está ancorada na natureza divina, que é imutável. Deus, o Bem supremo, é a fonte última do que é bom e do que é mau. Como ensinou São João Paulo II: "Só Deus, o Bem supremo, constitui a base irremovível e a condição insubstituível da moralidade, e portanto dos mandamentos, em particular dos negativos que proíbem, sempre e em todos os casos, o comportamento e os atos incompatíveis com a dignidade pessoal de cada homem."
Moral católica × relativismo moral
"Quem acredita no que quer do Evangelho e rejeita o que não quer, não crê no Evangelho, mas em si mesmo" (Santo Agostinho).
A lei natural é a participação da criatura racional na lei eterna de Deus, orientando o homem para o bem conforme a sua natureza. A lei divina revelada inclui a lei natural, mas também ensina verdades sobrenaturais que a razão sozinha não poderia alcançar. Ao obedecer aos mandamentos, o homem mantém não apenas a ordem social, mas também a ordem de seu próprio ser, vivendo conforme o desígnio divino.
Diferentemente das demais criaturas, o homem enfrenta dilemas morais próprios de sua racionalidade. Assim, é um erro interpretar sua natureza humana apenas como uma natureza biológica ou instintiva, pois a palavra "natureza" assume sentidos distintos: enquanto os animais seguem seus instintos, o homem discerne moralmente e escolhe entre o bem e o mal.
Além da lei natural, Deus estabeleceu os sacramentos como canais de graça para que o homem possa viver os mandamentos com o auxílio divino. Para evitar uma experiência mecânica dos sacramentos, foi criada a moral sacramental, que ensina como os sacramentos exigem disposição moral adequada e uma vida coerente com a fé.
O relativismo moral contradiz a moral católica, pois nega a existência de uma verdade objetiva sobre o bem e o mal, abrindo margem para interpretações subjetivas e individuais da doutrina da Igreja. Essa mentalidade, frequentemente, substitui a verdade divina pelos desejos pessoais, levando ao afastamento dos princípios morais objetivos. Como consequência, não apenas a vida individual é afetada, mas também a ordem social, tornando mais difícil o consenso sobre o que é certo ou errado. Esse cenário favorece a propagação de ideologias contrárias à fé cristã, muitas das quais têm raízes em visões pagãs ou secularizadas do mundo.
A atemporalidade do Evangelho
O dogma cristão pode progredir, mas apenas na sua explicação, nunca na sua essência, a essência cristã é imutável. São Vicente de Lérins afirmava que o autêntico desenvolvimento da doutrina deve ser como o crescimento de um corpo: ele pode se desenvolver, mas sem perder a sua identidade.
"Mas talvez diga alguém: então não haverá na Igreja de Cristo nenhum progresso da religião? Certamente que haverá, e grandíssimo! Pois quem poderá ser tão inimigo dos homens e tão contrário a Deus que tente impedir isto? Mas deve ser um progresso verdadeiro, e não uma mudança de fé. Pois o progresso significa que cada coisa cresce em si mesma; a mudança, porém, significa que algo se transforma em outra coisa" (São Vicente de Lérins).
Papa Pio XII também afirmava: "Se, pois, em matérias de fé e costumes, ocorre divergência entre o que alguém diz ser verdadeiro e a verdade revelada por Deus, tal divergência não pode ser de forma alguma admitida" (Pio XII)
Santo Agostinho reforça a atemporalidade da fé cristã, mostrando que ela não é uma invenção cultural mutável, mas a verdade eterna revelada por Deus: "A religião cristã já existia entre os antigos, e nunca deixou de existir, desde o início do gênero humano até a vinda de Cristo na carne".
Devemos nos elevar a Cristo
O Evangelho não se rebaixa à mediocridade do homem; é o homem que deve se elevar ao Evangelho, deixando para trás as misérias e os pecados, buscando uma vida em Deus.
Reconhecer o pecado é um passo fundamental nessa caminhada. O inimigo usa diversas ferramentas para confundir e desviar do caminho. Por isso, apegar-se à moral cristã não é uma opção, mas um dever para todo católico. É preciso cautela para não permitir que ideologias pagãs ofusquem a verdade e deturpem o que é certo.
É necessário pedir a graça de ter a capacidade de, cada vez mais, buscar a Verdade:
Ó Maria,
Mãe de misericórdia,
velai sobre todos
para que a Cruz de Cristo não seja desvirtuada,
para que o homem não se afaste do caminho do bem,
nem perca a consciência do pecado,
mas cresça na esperança
em Deus, «rico de misericórdia» (Ef 2, 4),
cumpra livremente as boas obras
por Ele de antemão preparadas (cf. Ef 2, 10),
e que toda a sua vida seja
«para louvor da Sua glória» (Ef 1, 12)
Matheus Eleutério
Estudante de Jornalismo da Faculdade Canção Nova