É, sem dúvidas, um tempo de explosão de imagens: a facilidade de se obter e de se reproduzir; a rapidez de se acessar e replicar uma fotografia, uma pintura, uma arte visual de qualquer espécie, há muito nos dá a certeza de que a imagem – no caso desta reflexão, a fotografia – é a senhora das mídias.
Não se passam – ou não se rolam – mais do que duas páginas sem que surja uma imagem ilustrativa. Às vezes, a fotografia fala sozinha, afirma, notícia, garante. E impacta. "Uma imagem vale…".
A comunicação da Igreja e na Igreja, obviamente, também se utiliza deste elemento (cada vez mais) imediato, amplo, onipresente. Se antes já o fazia com a imagem dos grandes vitrais, com as pinturas catequéticas dos grandes artistas, com o desenho arquitetônico das Catedrais, agora são as viagens dos Papas que arrastam dezenas de fotógrafos de mídia (além dos próprios fotógrafos do Vaticano[1]); as ações das Igrejas em nível nacional e internacional são constantemente registradas; os atos de culto popular, as festas devocionais, a missa das pequenas comunidades espalhadas pelo Brasil, o trabalho pastoral dos leigos nas noites de frio com as comunidades carentes, ou da Pastoral da Criança com a pesagem dos recém-nascidos, movimentam cliques, divulgações, likes (ou, ao menos, deveriam).
É nesse contexto, de uso da fotografia como meio de comunicação, registro, história (e porque não dizer: arte), que ela, a fotografia, precisa ser realmente debatida e estimulada em todos os níveis de ação comunicante da Igreja, para ser, também, meio de evangelização. Assim como se pensa e se debate o melhor tom para as matérias, as notas informativas, os textos meditativos, as mensagens com uma pitada de humor ou as pautas com grande carga de dramaticidade, há espaço e necessidade para um estudo e um cuidado com a fotografia que fazemos e que utilizamos, em todos os níveis.
Para isso, convido a uma reflexão inicial, nunca (ou raramente) suscitada, e que, a fim de dar parâmetros e fundamento para a meditação da fotografia que fazemos e que usamos no seio da comunicação eclesial (e da evangelização), merece destaque: como denominar essa fotografia feita a serviço da Igreja, da missão, da vocação? Como se titular esta fotografia que bebe no fotojornalismo mas que vai além do fotojornalismo; que bebe na fotografia autoral mas que vai além dela; que se utiliza do que se chama de fotografia de eventos mas que a ultrapassa em sentido e expressão; uma foto e uma mensagem além do retrato, da foto de estúdio, da foto de arquitetura…?
É comum chamarmos a isso de fotografia religiosa: aquela feita no âmbito do exercício religioso, de forma especial no acompanhamento e registro do culto cristão católico: a Missa, a Celebração da Palavra, o Batizado, a Ordenação, a procissão… É, basicamente, o lugar onde se dedicam os agentes de Pascom, com as ferramentas de que podem dispor, sejam grandes câmeras, sejam pequenos smartphones que são as câmeras mais modernas da atualidade… É o lugar onde, muitas vezes, começam os aprendizados e despontam alguns mais ousados, ou mais apaixonados, ou mais esforçados, que descobrem a melhor forma de registrar e apresentar, à pequena comunidade ou ao mundo, uma imagem que testemunhe o exercício pessoal e comunitário de uma Igreja em missão.
Meu convite, contudo, que há tempos venho projetando, pensando, debatendo, meditando, é que reconheçamos esta categoria de fotografia como a Fotografia Litúrgica: no âmbito da nossa comunicação – comunicação católica, consciente, com uma mensagem certa para interlocutores muitas vezes incertos – a fotografia feita por nós também nos identifica, nos marca, nos alinha. E, dentro da Igreja Católica, é a ação litúrgica que nos marca, nos une, e amplifica as nossas vozes.
Assim, pensar uma Fotografia Litúrgica é romper os limites de uma dita fotografia religiosa que se preocupa unicamente com as expressões de religiosidade, aspectos externos, às vezes meramente cultuais, para que ganhe espaço e valor dentro de nossa consciência de agentes de comunicação católica que nossa imagem, nossa arte, nosso desenho, nossa fotografia é expressamente comunicante de uma unidade que não se limita ao centro do culto religioso, mas parte dali para chegar a todas as outras ações eclesiais. E, aí, evangelizar.
A fotografia na Igreja Católica é uma fotografia litúrgica. A fotografia religiosa pode ser um gênero maior que abrange inúmeras questões de religiosidade, praticamente uma abordagem sociológica. Mas a fotografia para nós, aquela à qual somos chamados a trabalhar e experimentar, é a que brota da verdadeira e melhor comunicação da Igreja. Que é o fazer litúrgico.
Assumir a fotografia de comunicação católica como uma Fotografia Litúrgica, nos dá a clara referência de que nossas imagens estão necessariamente conectadas a toda ação litúrgica da Igreja implantada por Nosso Senhor Jesus Cristo e com ela falam, e com ela se comunicam. Pensar e fazer a fotografia como liturgia, aproveita da liturgia o que ela tem de mais rico: inserir a quem dela participa no centro do mistério celebrado, mistagogia.
Nesse formato, a fotografia feita em um show de evangelização transcende a luz, o palco, o gesto, e dialoga sobre o sagrado, também ali. A fotografia da celebração eucarística deixa de ser apenas o registro do momento já vivido, e passa ao nível da introdução de quem a vê, mesmo depois do acontecido, em um momento de oração. A fotografia feita durante a ação social da sua comunidade, do seu movimento eclesiástico, não só reporta o fato, mas convida a participar.
Assumir uma Fotografia Litúrgica simboliza que nossa liturgia ultrapassa o aspecto meramente "espiritualizado"; é voz em uníssono do Povo de Deus em ação – e a fotografia também é missão e ação litúrgica quando registra todos os tipos de fazer litúrgico dentro das celebrações, mas também os outros tipos de manifestação fora do templo, porque é também lá, nas ações pastorais, na investigação das injustiças com o mais fraco, na mobilização dos esforços em direção ao outro, no registro das ações, das entrevistas, na criação de imagens artísticas que criem condições para a reflexão pessoal e comunitária, que o agente de Pastoral de Comunicação, fotógrafo, está em unidade com a Igreja que se expressa pela Liturgia, típica ação comunicante de Deus para com seu povo e do povo para com Deus.
Suscitar a Fotografia Litúrgica é suscitar uma construção de imagem com ainda mais comunicação. Ainda mais significado. E verdadeira evangelização através da imagem.
[1] Sou um fã e um pesquisador do trabalho magistral do já aposentado Arturo Mari e do atual fotógrafo oficial do Papa, o italiano Francesco Sforza.
André Fachetti Lustosa é fotógrafo profissional desde 2011. Formado em Direito, advogado por 20 anos e professor universitário, até 2016, trabalhando exclusivamente com a fotografia, atualmente. Ministro de Música, Ministro Extraordinário da Pregação da Palavra de Deus, Membro da Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares OCDS, Participante da PASCOM Regional Leste 2, como Fotógrafo. Criador da "Oficina de Fotografia Litúrgica", um workshop com reflexões e dicas sobre fotografia na Igreja.