31 de outubro de 2024

Halloween: o neopaganismo entrou na nossa cultura

A história do Halloween: da festa celta à popularização global

De acordo com o Professor Felipe Aquino, em artigo publicado no dia 23 de outubro de 2020, o Halloween é uma festa celta realizada no fim do ano, também chamada de festividade do sol, que começa na noite de 31 de outubro e marca o fim do verão e das colheitas.

Halloween o neopaganismo entrou na nossa cultura

Crédito: wundervisuals / GettyImages

No século VI a.C., os celtas do norte da Europa celebravam o fim de ano com a festa do "Samhein" (ou Samon), festividade do sol, iniciada na noite de 31 de outubro e que marcava o fim do verão e das colheitas. Eles acreditavam que, naquela noite, o deus da morte permitia aos mortos retornarem à terra, fomentando um ambiente de terror.

Segundo a religião celta, as almas de alguns defuntos estavam dentro de animais ferozes e podiam ser libertadas com sacrifícios de toda índole aos deuses, inclusive sacrifícios humanos. Uma forma de evitar a maldade dos espíritos malignos, fantasmas e outros monstros era se disfarçando para tentar se assemelhar a eles e, dessa maneira, passavam despercebidos ante seus olhares.

A influência do Halloween na sociedade

Neste artigo, ao contrário dos demais artigos que costumo escrever, vou mesclar as minhas exposições com a experiência de quem viu o Halloween se tornar parte de nossa cultura e contribuir para destruir a nossa fé.

Minhas primeiras lembranças sobre Halloween datam da década de 80 – até então nunca tinha ouvido falar dessa festa; na escola de inglês, as primeiras ilustrações com imagens de bruxas, caldeirões e outras começavam a aparecer. Para mim, que ainda vivia uma fé católica de IBGE, aquilo não fazia a menor diferença. E esse é o primeiro ponto que quero tratar.


A indiferença e o perigo da festa de Halloween

Às vezes, por ignorância, tratamos muitos convites, festas, desenhos, filmes e outros tipos de eventos e entretenimentos como coisas sem importância, algo que "não cheira nem fede", permitindo que, pouco a pouco, isso vá se infiltrando em nossa vida. Pensamos: "Por que me preocupar com isso? É só uma brincadeira".

Não venho, agora, propor uma reflexão profunda sobre cada pequeno acontecimento do dia a dia, embora não seja errado fazê-lo. Venho, porém, alertá-lo, caro irmão, que hábitos prejudiciais à nossa saúde espiritual podem entrar em nossa vida de forma sorrateira.

Precisamos estar atentos às pequenas coisas

Lembremos que aquele que deseja perder a nossa alma possui uma inteligência angélica e é paciente, sabendo traçar estratégias de longo prazo para nos seduzir discretamente e ganhar nossa alma. Portanto, estejamos atentos às novidades que surgem em diversas áreas. Muitas vezes, elas parecem pequenas, inofensivas e até agradáveis, mas podem ter como motivação nos afastar de Deus.

Se queremos alcançar o céu — e nós queremos —, nada deve ser tratado com indiferença; tudo deve ser analisado à luz dos ensinamentos da Santa Igreja. A indiferença, muitas vezes, é o disfarce da ignorância revestida de orgulho. Cuidado!

O Halloween: uma festa que nos afasta de Deus?

Findado os elementos que queria tratar sobre a indiferença, convido-o para continuar "caminhando comigo" na década de 80. Agora, gostaria de chamar a atenção para um ponto importante que tem avançado sem que muitos percebam. O Halloween, que no início trazia imagens inofensivas, como bruxinhas sorridentes e caldeirõezinhos com cobras e lagartos, evoluiu para cenas cada vez mais grotescas.

Hoje, vemos representações de pessoas decapitadas, cabeças servidas à mesa e, em alguns lugares onde a "festa" acontece, há até simulações de bebidas que imitam sangue. Além disso, doces e guloseimas em forma de aracnídeos, dedos cortados e outras criações igualmente perturbadoras têm se tornado comuns.

O que nos eleva a Deus e nos santifica

Ora, se o bom senso, que deveria nos bastar para discernir, nos falha e impede de ver que o que é feio, desarmonioso e grotesco não nos faz bem, recorramos a São Boaventura para nos guiar: "Contemplava nas coisas belas o Belíssimo e, seguindo o rastro impresso nas criaturas, buscava por todo o lado o Dilecto" (1).

O Belíssimo é Deus, o Perfeitíssimo. Se o belo e o perfeito encontram sua realização máxima em Deus, onde encontram sua realização aquilo que é grosseiro e feio? Meus irmãos, não percamos mais tempo com o que não nos aproxima do céu, que não nos leva a Deus. Nem quero questionar para onde essas coisas grotescas nos conduzem; o que importa para mim, e creio que para você também, é saber se elas nos santificam. Se não, descartemo-las imediatamente.

O Halloween e a busca pela santidade

O resultado de sermos indiferentes às "novidades dos novos tempos" e de não usarmos o nosso intelecto para perceber a sutileza das manifestações contrárias a Deus e à nossa vida de santidade é permitir que esse neopaganismo entre em nossa vida e na vida daqueles por quem temos a responsabilidade de conduzir ao céu.

Coragem, irmão, não se preocupe com o que vão falar de você, porque você não entra nas "ondinhas da moda", porque você "não se permite" flertar com o feio e com o grotesco.

Tome as rédeas da sua vida, a fim de entregá-la para Deus da melhor forma que você puder, pois, ao final, quando estiver diante do Justo Juiz, você será recompensado por suas obras; e qual recompensa você deseja receber: a felicidade eterna ou a perdição eterna? "Que seu sim seja sim, que seu não seja não", como ensinou o nosso querido Padre Jonas.

Rezo por você!

Almir Rivas
Missionário da Comunidade Canção Nova


Referências bibliográficas

(1) Legenda maior, IX, 1: Fonti francescane, n. 1162 (Pádua 1982), p. 911.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/halloween-o-neopaganismo-entrou-na-nossa-cultura/

27 de outubro de 2024

Qual é o real valor e a dignidade da Santa Missa?

O sacrifício eucarístico nos é apresentado por meio da celebração da Santa Missa

Muitos cristãos vão à Missa sem saber o que estão celebrando. Como sabemos, o ser humano é motivado por aquilo que ele considera importante e necessário para sua vida. Mas como continuar participando da Eucaristia, se não existe motivação suficiente? Você sabe qual é o real valor da celebração da Santa Missa? Vamos então encontrar essa resposta a partir do ensinamento da Igreja.

Créditos: Yandry Fernandez / GettyImagens

Amor incondicional

A Igreja sempre acreditou nessa verdade, porém, com o Concílio Vaticano II, ficou ainda mais evidente que o sacrifício eucarístico é fonte e centro de toda a vida cristã. Na Carta Encíclica, Ecclesia de Eucharistia, de sua Santidade São João Paulo II, vemos que ele diz: "Na Santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo" (Ecclesia de Eucharistia, n. 1).

É por esse motivo que, todos os dias, a Santa Mãe Igreja volta-se para o seu Senhor, presente no altar, onde descobre o seu amor incondicional. Na mesma Carta Encíclica, o Papa ainda diz: "A Igreja vive da Eucaristia. Essa verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém, em síntese, o próprio núcleo do mistério da Igreja". (Ecclesia de Eucharistia, n. 1).


A Instrução Geral do Missal Romano afirma que, na "Eucaristia, culmina toda a ação pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, bem como todo o culto pelo qual os homens, por meio de Cristo, Filho de Deus, no Espírito Santo, prestam adoração ao Pai. Nela, comemoram-se também, ao longo do ano, os mistérios da Redenção, de tal forma que eles se tornam, de algum modo, presentes. Todas as outras ações sagradas e todas as obras da vida cristã com ela estão relacionadas, dela derivam e a ela se ordenam" (IGMR, n.16).

A Eucaristia é o dom mais precioso da Igreja

Na exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, de nosso querido Papa emérito Bento XVI, ele diz que, na Celebração Eucarística, celebrada todos os dias, "o Senhor vem ao encontro do homem, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 27), fazendo-Se seu companheiro de viagem. Com efeito, neste sacramento, Jesus torna-Se alimento para o homem, faminto de verdade e liberdade" (Sacramentum Caritatis, n.2). O próprio Senhor, sabendo que só a verdade pode tornar verdadeiramente o homem livre (Jo 8, 36), Ele mesmo se faz alimento de verdade diariamente na Santa Missa para nós.  

Com essas palavras, a Igreja quer mostrar a máxima importância da celebração da Santa Missa, quer evidenciar a eficácia e dignidade da Celebração Eucarística, por ser a ação de Cristo e da Igreja. É possível que a má participação na Eucaristia seja consequência da não consciência do que está sendo celebrado.

Se todos os fiéis souberem o real valor da Eucaristia, participariam mais ativamente da Santa Missa. Tendo consciência de que a Eucaristia é o dom mais precioso da Igreja, teremos motivação suficiente para participar, se possível, todos os dias da Santa Missa.

Equipe Formação Canção Nova


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/qual-e-o-real-valor-e-dignidade-da-santa-missa/

O modelo do discípulo

Jesus formou Seus discípulos através de Seus sermões, fazendo-os testemunhar milagres, conversando com o pequeno grupo, contou-lhes inúmeras parábolas, enviou-os em missão, respondeu suas perguntas, fez gestos que se tornaram referência para a vida da Igreja, como o Lava-pés, instituiu a Eucaristia, deixou-lhes e a nós o mandamento novo do Amor. Sobre a Pedra que escolheu, Simão Pedro, malgrado todos os limites daquele homem, edificou sua Igreja, contra a qual as forças do inferno não podem prevalecer.

Aprendendo com o Mestre

Depois de três anúncios de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, vendo que os discípulos precisavam crescer na compreensão de seu mistério, faz com eles uma Escola Itinerante, descendo da Galileia, pelo percurso do Jordão, para alcançar a subida para Jerusalém, quando se desencadearam os acontecimentos finais, que marcaram o novo começo. Olhando à distância, temos a impressão de que muitas interrogações povoavam a mente dos discípulos, colocando-os muitas vezes em crise. Passando por Jericó, imaginamos seus amigos quase engolindo Jesus com os olhos, tentando entender mais, quando Jesus acolhe um homem de nome Bartimeu, morador de Jericó, cego e mendigo (Mc 10,46-52). Parece-me conhecer justamente o modelo do discípulo, justamente de onde não se poderia esperar muito!

Bartimeu: um modelo inesperado de discipulado

Jesus passa por Jericó como um Missionário itinerante. Sabemos que na mesma cidade encontrou Zaqueu, o publicano que o acolheu e viu a salvação entrar em sua casa e em sua vida (Lc 19,1-10). É bom saber que ele tem um olhar perspicaz e um coração acolhedor para pobres e ricos, pequenos e grandes. Qualquer pessoa que se dispuser ao discipulado de Jesus saiba escancarar seu ângulo de visão e também seu coração, pois, quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. E até hoje, no meio da multidão, estão as massas e as pessoas com seus clamores pela salvação, muitas vezes sem saber dar nomes aos seus anseios, mas Deus nos fez a todos para encontrá-Lo! Cada discípulo de Jesus, nós todos, somos chamados do meio da multidão que busca o sentido da vida, só possível de encontrar naquele que é Caminho, Verdade e Vida. 

Crédito: Eustache Le Sueur/Domínio público

À margem do caminho

À beira do caminho, encontrava-se Bartimeu, nosso modelo de discípulo! Mendigo, Cego e morador de Jericó! Muita coisa ruim sobre uma pessoa, pela mendicância, a cegueira que muitos consideravam um castigo e morador de uma cidade cuja fama era a pior possível. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho, quem sabe, de cócoras, esperando as ondas de um destino terrível. Vindo com este fato até nós, é bom saber que não temos desculpas, pois todos, nas multidões dos séculos, sempre terão lugar e futuro no encontro com Jesus Cristo. Se queremos ser discípulos, do fundo do poço de nossa existência, podemos levantar a vista!

A coragem de clamar por Jesus

De fato, ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim". Discípulo que se preze há de ter coragem de pedir, suplicar, gritar! Muitos, a turma do "deixa disso" o repreendiam, para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem compaixão de mim". Chamar Jesus de Filho de Davi era afirmar, numa fé que brotava transbordante, que aquele Senhor era a realização das promessas. O cego não era tolo! Já havia escutado as profecias, e tira lá do fundo de sua angústia, o grito pela Salvação!

Um chamado pessoal

E aqui a certeza de que Jesus quer dar um trato, uma atenção especial ao cego e a cada um de nós, conhecidos pelo nome e pela história pessoal. Ele o afastou do meio da multidão. Jesus parou e disse: "Chamai-o!" Eles o chamaram, dizendo: "Coragem, levanta-te! Ele te chama!". Quando fomos batizados, a pronúncia de nosso nome foi a proclamação de que somos tirados do meio da multidão, para sermos tratados como Filhos de Deus, homens novos como outro Cristo, na força do Espírito Santo. Deus não tem medo de nossos gritos, acolhe nossas esperanças, vai ao encontro de nossas origens tantas vezes carregadas de traumas, olha para nossa pobreza material e espiritual, não nos julga nem condena por passos errados que tenhamos dado.

A importância da liberdade e da fé

Entretanto, como o cego que jogou fora o manto, deu um pulo e se aproximou de Jesus, aqui entra em jogo o mistério de nossa liberdade e a prontidão para dar os pulos e os saltos na fé, pois Deus não nos oferece um guia completo de tudo o que pode acontecer! Onde quer que se encontrem as pessoas que têm acesso a esta reflexão, é necessário aproximar-se do Senhor, arriscando tudo nele. Começa com o coração que pulsa esperança e alegria. Com tempo, todas as explicações chegarão à nossa cabeça!


O desejo de ver e a graça de receber mais

Neste mistério de liberdade, Jesus perguntou: "Que queres que eu te faça?" O cego respondeu: Rabuni, que eu veja". De fato, Deus quer saber o que procuramos, o que desejamos, nossos anseios mais profundos. Querer ver era a primeira necessidade de Bartimeu, mas vemos que ele recebeu mais, recebeu o tudo que nem poderia imaginar: "Jesus disse: 'Vai, tua fé te salvou'". No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho. Jesus não é um taumaturgo ou milagreiro à disposição dos pedidos da humanidade. Seria reduzi-lo indevidamente querer apenas milagres, curas ou libertações, segundo nossos desejos. Ele quer dar mais, o tudo da vida divina que oferece transbordante, à disposição de todos os que andam por este mundo de Deus afora, para dar-lhes a vida em abundância.

O caminho do discipulado

Este é um caminho de discipulado, abrindo-nos à possibilidade da configuração com Cristo, que vai à profundidade de um dos lugares mais baixos da terra, e posso ser eu mesmo este lugar para fazer-me discípulo, disposto a subir com ele a Jerusalém.


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/o-modelo-discipulo/

24 de outubro de 2024

Alegria do Evangelho: vivendo a missão no dia a dia

Testemunho cristão: Pequenos gestos que transformam o mundo

A Igreja destina o mês de Outubro  para nos lembrar que ela é, por sua mesma natureza, missionária e que, pelo Batismo, todos nós somos missionários". Por isso, convém relembrar e meditar sobre esse chamado de cada batizado sermos missionários. Mas  o que significa isso? Que devemos deixar nossa terra e partir para lugares extremos para pregar a Palavra de Deus??? Para entender melhor o nosso chamado a missionariedade, podemos olhar de mais perto o que a própria igreja nos diz sobre o assunto e os exemplos que ela nos apresenta. 

O Exemplo Inspirador de João Paulo II

Para mim, um dos grandes exemplos modernos de missionariedade que a própria Igreja nos oferece como modelo é o Papa João Paulo II. Ele, mesmo em idade avançada e com saúde que se fragilizava,  viajou para 129 países e percorreu 1,2 milhões de quilômetros. Professor Felipe Aquino nos ensina que essas viagens representam 29 voltas ao redor do mundo e três vezes a distância entre a Terra e a Lua. São João Paulo II impôs a si mesmo essa vida de peregrino.

A Missão como Caminho de Santidade

Na sua encíclica Redemptoris Missio, publicada em 1990, é ele mesmo que nos diz: " "Desde o início do meu pontificado, decidi caminhar até aos confins da terra para manifestar esta solicitude missionária, e este contato direto com os povos, que ignoram Cristo".  Para aprofundar essa compreensão, vejamos o que mais ele nos fala nesse documento: " "O chamamento à missão deriva por sua natureza da vocação à santidade. Todo missionário só o é autenticamente, se se empenhar no caminho da santidade".

Então, se você almeja por um autêntico seguimento de Cristo e uma vivência responsável da religião e do aspecto espiritual da sua vida, deve dar passos mais concretos e profundos para compreender e viver a missão.  Se você encontrou Cristo verdadeiramente, não consegue ficar com essa linda descoberta guardada só para si, quer partilhar com os demais, é desse desejo genuíno que nasce a missão.

Crédito: desifoto / GettyImages

A Força do Testemunho Silencioso

Muitos devem lembrar aquela cena do papa na janela de seu quarto, em frente à Praça de São Pedro, poucos dias antes de sua morte.

Consumido pela dor, ele tentava falar aos fiéis. Foi impossível não chorar ou se emocionar com seu esforço. Sem conseguir pronunciar uma palavra, ele apenas abençoou várias vezes o seu povo. Foi a penúltima vez que apareceu em público. Isso para mim, foi tão impressionante: já quase sem força, momentos antes de morrer, ele quis se expor e nos deixar a benção. A meu ver, só alguém movido por um grande senso de propósito e amor é capaz disso. Sim, é essa chama de amor por Nosso Senhor Jesus Cristo que move o missionário. E é na mesma encíclica Redemptoris Missio que ele explica essa mola propulsora que o move:

"A característica de qualquer vida missionária autêntica é a alegria interior que vem da fé. Num mundo angustiado e oprimido por tantos problemas, que tende ao pessimismo, o proclamador da Boa Nova deve ser um homem que encontrou, em Cristo, a verdadeira esperança".

O Missionário é uma pessoa repleta de alegria e esperança porque ele encontrou Jesus, e por isso vive a vida como uma grande e bela aventura, consegue encontrar a vida em abundância que Jesus mesmo prometeu em João 10,10 . 

Vivendo a Missão no dia a dia

Mas se você já se encontrou com essa vida verdadeira e quer também compartilhar essa experiência com os outros, pode estar se fazendo a mesma pergunta lá do começo desse texto: eu preciso deixar o lugar onde vivo e partir a terras longínquas para pregar a palavra de Deus para viver essa missionariedade? Esse mês de Outubro e o Dia das Missões servem para você alargar sua visão e compreensão sobre vida missionária bem como um convite ao exercício em sua vida comum desse chamado a Missão.


O Convite à Missão: Um chamado para todos

Essa palavra 'convite' me remeteu ao que o Papa Francisco escreveu em sua mensagem para o Dia das Missões de 2024. Ele tirou o tema da parábola evangélica do banquete nupcial (cf. Mt 22, 1-14). Depois que os convidados recusaram o convite, o rei – protagonista da narração – diz aos seus servos: «Ide às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes» (22, 9).

Você pode ser, meu irmão, o convidado, bem como se colocar como o servo que sai a convidar. A  missão é incansável ida rumo a toda a humanidade para a convidar ao encontro e à comunhão com Deus. Incansável! Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída ao encontro de cada ser humano para o chamar à felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa. Jesus, depois da sua ressurreição, disse aos discípulos «ide», envolvendo-os na sua própria missão (cf. Lc 10, 3; Mc 16, 15).

Por isso, a Igreja continuará a ultrapassar todo e qualquer limite, sair incessantemente sem se cansar nem desanimar perante dificuldades e obstáculos, a fim de cumprir fielmente a missão recebida do Senhor.missão ad gentes que Jesus confiou aos seus discípulos: «Ide e fazei discípulos de todos os povos» (Mt 28, 19).

E você  é chamado a tomar parte nesta missão universal com o seu testemunho evangélico em cada ambiente, para que toda a Igreja saia continuamente com o seu Senhor e Mestre rumo às «saídas dos caminhos» do mundo atual Respondendo áquela pergunta inicial, o importante é sair de si mesmo, ir ao encontro do outro com um olhar, um sorriso, uma palavra de esperança, uma ajuda financeira se possível, um abraço ….. isso também é ser missionário!

Edvânia Duarte Eleutério– Missionária da Comunidade Canção Nova desde 1997, é formadora de namorados e casais, entre outras funções. Possui especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética. Autora do livro 'Por que (não) eu?


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/alegria-do-evangelho-vivendo-a-missao-no-dia-a-dia/

23 de outubro de 2024

Qual é a importância da jaculatória na nossa vida de oração?

A Igreja católica, por muitos séculos, sofreu duríssimas perseguições. Desde os primórdios, os cristãos não tinham totalmente a liberdade de rezar em qualquer lugar ou mesmo ficar à vontade para fazer as orações cotidianas; muitos reis e imperadores perseguiram os seguidores de Cristo e sua Igreja. Os cristãos, para conseguir rezar, inventaram as jaculatórias, orações curtas de repetições, não precisando recitar grandes orações durante o dia a dia. Eles rezavam as jaculatórias para ter os seus momentos de oração com Deus. Temos que ter o cuidado de não as confundirmos com mantras, que são repetições de frases costumeiras em outras religiões como no islamismo no hinduísmo, jainismo, budismo e espiritismo.

Qual é a importância da jaculatória na nossa vida de oração?

Crédito: Zanuck / GettyImages

Jaculatórias × mantras: entendendo a diferença

A diferença entre mantra e jaculatória está no seu uso e na sua finalidade. Mantras são frases curtas, geralmente repetidas várias vezes, cuja origem são as tradições orientais usadas para meditação e concentração, ou para serem utilizadas para alcançar determinados estados de consciência. Um exemplo é a Ioga, prática esta que não condiz com a Doutrina Católica.

As jaculatórias têm origem na tradição cristã, são pequenas invocações ou orações breves que buscam nos aproximar de Deus através de pequenas repetições de orações. Elas podem ser utilizadas no dia a dia como forma de agradecimento e louvor a Ele.

Pequenas frases, grande poder

Vivemos numa sociedade em que tudo gira em torno do tempo, e como o próprio ditado popular diz, "tempo é dinheiro". Tudo é para agora. Vivemos nesse imediatismo frenético, nessa loucura da vida. Uma correria para chegar ao serviço, para entregar os trabalhos, para levar os filhos na escola, na natação, no balé, no judô, futebol… No fim do dia, parece que fizemos tantas coisas, mas faltou tempo para resolver outras, e acaba que não dedicamos tempo nenhum a Deus, mesmo Ele sendo o Senhor do tempo. Na nossa vida, Ele não teve tempo, porque não sobrou.

Por vivermos neste tempo de correria, é que as jaculatórias se tornam tão necessárias para nós, pois são uma ótima opção para aquelas pessoas que não conseguem ter muito tempo do seu dia a dia, para parar e rezar por um tempo maior. Elas podem ser um auxílio na sua vida de intimidade com Deus. Mesmo no corre-corre do dia a dia, podemos recitar as jaculatórias. Claro que elas não substituem a oração pessoal, as práticas de piedade, o santo terço; o que estou dizendo é que elas podem nos auxiliar na vida de intimidade com Deus, pode nos levar ao louvor e também à contemplação, ao agradecimento por tudo que Deus tem feito por nós, tudo o que tem nos dado diariamente, mas, muitas vezes, esquecemos de agradecer. Vamos citar algumas jaculatórias que podemos recitar durante o nosso dia:

Santíssima Trindade, tende piedade de nós.

Jesus, Maria e José, eu vos amo. Não permitais que eu vos ofenda.

Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que Te amo!

Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque, por Vossa santa Cruz, remistes o mundo.

Chagas abertas, coração ferido, o sangue de Cristo está entre nós e o perigo.

Transformando o cotidiano em oração

Existem várias outras jaculatórias, muitas feitas com trechos de orações, de salmos. Hoje em dia, a própria pessoa vai criando pequenas jaculatórias e usando no seu dia; o que não podemos é nos acostumar a não rezar, a não buscar intimidade com Deus. Precisamos cavar tempo para estar na presença do Senhor, precisamos usar todas as ferramentas necessárias para que essa intimidade aconteça, seja rezando, seja adorando, indo à Santa Missa ou mesmo rezando um terço ou o rosário completo. O que não podemos é ficar parado vendo a vida passar.


A jaculatória é uma boa ferramenta para nos auxiliar na busca de intimidade com Deus, ao ritmo da vida. Como dizemos aqui na Canção Nova, em tudo que vamos fazer ou realizar, estamos envolvidos em oração. Se vamos arrumar um computador, porque ele parou ou travou, não perdemos tempo: já vamos arrumando o que precisa ser arrumado, e vamos criando uma atmosfera de oração, entregando a Deus as nossas decisões, as nossas escolhas, pedindo que Ele passe à frente de tudo aquilo que precisamos realizar e que, muitas vezes, não damos conta humanamente. Só damos conta por causa da graça sobrenatural. Assim aprendemos com o nosso pai fundador, Monsenhor Jonas Abib, pois tudo o que ele realizava era envolto a muita oração. Assim também tentamos fazer diariamente.

Um passo rumo à intimidade com Deus

Mas se você não tem esse tempo nem o hábito de rezar durante os seus afazeres, uma boa opção é começar com algumas jaculatórias. Você pode inserir nas suas atividades diárias como lavar louça, secar, estender uma roupa no varal, dentro do ônibus, no supermercado, ao passar roupa, ao varrer a casa, no seu trabalho. Vai sussurrando uma jaculatória que você já saiba, e isso irá auxiliá-lo na sua vida de oração, não como uma prática, mas como uma via de iniciação, sendo um suporte no começo, até que você consiga criar o hábito e a constância na vida de oração.

Não é fácil, mas é possível. O que nos leva à perfeição é a prática; de tanto fazer, vai ficando mais fácil. Daqui um tempo, já não são as jaculatória, mas sim o terço; depois, o rosário e assim por diante. Quando menos pensarmos, estaremos praticando coisas que pareciam impossíveis para nós, só por causa da constância e fidelidade. Para quem quer evoluir na sua intimidade com Deus e não tem muito tempo, as jaculatórias são bem indicadas e podem ajudar muito na sua vida espiritual.

Wesley Almeida


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/qual-e-a-importancia-da-jaculatoria-na-nossa-vida-de-oracao/

20 de outubro de 2024

Coração de paz

Cultivar um coração de paz é o caminho para um mundo melhor

O Papa Francisco convoca a Igreja Católica a viver, em outubro, o Dia de Jejum e Oração pela Paz no Mundo – convite dirigido também a cada pessoa que reconhece a própria força espiritual. Ao lançar o olhar sobre o mundo e se sensibilizar com os muitos focos de guerra, pode-se questionar sobre a eficácia de se recorrer à força espiritual na busca pela solução de problema tão grave. Muitos acreditam que a paz somente será alcançada a partir das mesas de diálogo e de negociação – várias delas sem apresentar frutos efetivos.

Coração de paz

Crédito: wildpixel / GettyImages

Enquanto isso, agravam-se tensões, vidas inocentes são perdidas, problemas sociopolíticos se acentuam. A efetiva reação para debelar os conflitos não depende de máquinas ou simplesmente de estratégias. Precisa, essencialmente, de cada ser humano fazer-se morada de um coração de paz.

O jejum e a oração são ferramentas essenciais para a paz interior

A oração e o jejum reúnem propriedades inigualáveis para tecer, na interioridade humana, um coração de paz, que, aliado à inteligência e a outras aptidões, possibilita a intuição de respostas na superação das muitas formas de violência.

Jejum e oração podem qualificar cada pessoa na promoção da paz – no ambiente doméstico, na comunidade em que se vive, com repercussões nos âmbitos políticos e nos cenários internacionais. Na contramão dessas práticas alicerçadas na fé, está o caminho fácil e tentador de se deixar conduzir pelo ódio e desejo de vingança, distanciando-se das possibilidades de diálogos e do exercício da solidariedade.

A prática educativa do jejum e o recurso diário da oração incidem no tecido de um coração de paz, com força de paixão, movendo o ser humano para trabalhar pelo bem comum. A força da paixão irradiada de um coração de paz promove a fraternidade e efetiva a solidariedade. Compreende-se, pois, que investir para conquistar um coração de paz é alavanca indispensável para consolidar, no mundo, realidades mais pacíficas. Por isso, trata-se de importante investimento e ensinamento da Igreja, em sintonia e cooperação com outras instituições e segmentos da civilização contemporânea.

Coração em paz: antídoto para o ódio e a vingança

Aqueles que cultivam um coração de paz tornam-se agentes corajosos e proféticos no enfrentamento das muitas formas de violência – atentados a dignidades invioláveis. Comove pensar a situação de tantas crianças e outros indefesos, vítimas de guerras fratricidas, de escaladas do ódio e da vingança.

Para que a humanidade possa reagir, é preciso um passo primeiro: cada pessoa se conscientizar de que precisa ser coração de paz – a paz é dom e missão. Essa consciência torna-se clara quando o ser humano reconhece a sua referência insubstituível: Deus, de quem é imagem e semelhança. No vínculo com o Criador se inscreve a missão de cada pessoa – cultivar um coração de paz, sustentado pelo Deus da paz. O ser humano é chamado, assim, a participar da criação divina e da ação redentora de Deus.

Um coração de paz é reserva de força moral indispensável para fazer frente a irracionalidades e recompor a frequente perda de sentido da vida, em uma sociedade marcada pela pluralidade, mudanças muito bruscas e velozes. Existe uma gramática no coração, a gramática da paz, que não pode ser abolida, nem mesmo desprezada. Essa gramática contempla a observância e o respeito ao direito natural, sob pena das ameaças promovidas pelo subjetivismo. Do subjetivismo brotam razões que se contrapõem ao bem comum e à fraternidade, pois são prisioneiras das estreitezas e das simpatias particulares.


A paz como bem comum

Desrespeitar o direito natural é inviabilizar diálogos, intuições solidárias, perpetuando exclusões e discriminações. Núcleo central do coração de paz é o reconhecimento da igualdade de natureza de todas as pessoas. Desconsiderar esse princípio é promover desigualdades mundo afora. Toda pessoa precisa ser formada para ter e cultivar um coração de paz, o que contempla engajar-se na promoção da igualdade entre as pessoas, configurando um funcionamento social inclusivo.

O ensinamento social na Igreja Católica compreende a importância de se revestir corações com a gramática da paz. Um empreendimento hercúleo, mas que não pode ser descartado em momento algum. Um processo educativo em que todos são aprendizes e mestres. Negligenciar esse processo é oferecer possibilidades para que sejam acentuadas diferentes formas de violência, inclusive as que são praticadas contra o planeta. Um coração de paz é ponto de partida determinante no processo de conversão ecológica.

Na verdade, a paixão que nasce do coração de paz impulsiona o convívio harmonioso do ser humano com a natureza. Há, pois, a exigência de um grande cuidado para que um coração de paz habite a interioridade humana, priorizando uma espiritualidade místico-contemplativa que leve ao encontro da grandeza de Deus. Esse encontro possibilita o iluminar do rosto de cada irmão e irmã, que é essencial à convivência e à cooperação construtoras do bem comum, sem matar as diferenças ou hierarquizar singularidades.

A paz como base para uma sociedade justa e inclusiva

A adoção de compreensões que relativizam a sacralidade da dignidade humana é um risco. Essas compreensões não podem se fundamentar na hegemonia dos critérios e das escolhas orientadas pelos interesses do mercado, do lucro e da defesa de autonomias que facilitam a destruição de semelhantes. Sem um coração de paz prevalecerão posturas autoritárias ou que expressem ressentimentos, precipitando a vida no caos.

É urgente cultivar a paz no próprio coração, tornando-o repleto de uma paixão que inspire o exercício da solidariedade fraterna e ilumine intuições na busca pela consolidação de cenários de paz. A mudança para alcançar um mundo mais pacífico começa pela interioridade humana.

Nesse essencial processo de transformação, o jejum e a oração muito contribuem, formando agentes do bem. Qualificam o ser humano para adequadamente exercer as suas responsabilidades. Revestem o agir de cada pessoa com uma paixão que nasce do coração de paz.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/coracao-de-paz/

Discípulos servidores

Servos uns dos outros à imagem de Maria: vivendo o Evangelho no coração do Círio de Nazaré

Vivemos, com alegria, dias maravilhosos no coração do Círio de Nazaré, um evento genuinamente católico e de responsabilidade exclusiva da Arquidiocese de Belém, ao mesmo tempo acolhedor a todas as pessoas, sem exceção, de perto ou de longe, que se sentem atraídos pelo Mistério de Morte e Ressurreição de Cristo, Mistério Pascal! E sabemos que, aos pés da Cruz de Jesus, estava de pé Sua Mãe Santíssima, entregue a João, e este, em nosso nome, fez com que a Igreja levasse permanentemente, entre aquilo que lhe pertence, a Mãe de Deus e sua Mãe. Tanto é verdade que, nos séculos afora, todas as gerações a chamam feliz, bem-aventurada, bendita, encontrando centenas de nomes para se referirem a Maria. Para os paraenses e belenenses, é chamada Nossa Senhora de Nazaré, e sabemos como seu título, sua Imagem Peregrina e sua mensagem se espalham por todos os quadrantes do Brasil e do mundo. Desejamos declarar-nos "Servos de Maria de Nazaré", colocando-nos a sua disposição para espalhar sua devoção, cada um de nós em sua vocação e estado de vida.

Servos de Maria de Nazaré: um chamado à entrega

Se existem várias fórmulas de Consagração a Nossa Senhora, desejamos fazer essa proposta dentro do clima do Círio de Nazaré: dedicar-nos a divulgar a devoção Nossa Senhora de Nazaré; rezar do jeito que Maria rezou com os Apóstolos no Cenáculo, suplicando a vinda do Espírito Santo, especialmente pela paz, um dos frutos de sua ação no mundo; abraçar como própria a vocação missionária da Igreja, neste mês de outubro; rezar, durante a Quadra Nazarena, a oração própria do Círio: "Senhor nosso Pai, estamos unidos em nome de Jesus, vosso Filho, conduzidos pelo Espírito Santo de Amor. Nós vos agradecemos pelo dom da fé cristã que nos reúne, e pela Igreja que nos conduz pelos caminhos da vida feliz nesta terra e para a eternidade! Pai eterno, vós nos destes de presente a Virgem de Nazaré, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja e nossa Mãe. Unidos a Maria, pedimos com confiança: envolvei-nos com laços de amizade e cordas de amor, trazei-nos para perto de vós, de Jesus Cristo e do Espírito Santo! Acendei, ó Pai, em nossos corações, o Círio da Fé, da Esperança e da Caridade. Que o povo de Nossa Senhora de Nazaré, Rainha e Padroeira da Amazônia, seja testemunha fiel do Evangelho de Jesus Cristo, para o crescimento do vosso Reino de paz e justiça, reino de vida e verdade, reino do amor e da graça. Amém!"

O Evangelho do Serviço: aprendendo com Jesus e Maria

Maria se proclamou serva e escrava do Senhor, tornando-se modelo e intercessora para todos os que desejam servir e amar. O Evangelho do vigésimo nono domingo comum, que celebramos neste final de semana (Mc 10,35-45), conta que Tiago e João, justamente o João que esteve de pé perto da Cruz e ao lado de Maria, os dois manifestando a Jesus o desejo de posições de destaque. Certamente ainda existia, em seus corações, muito a aprender a respeito do Messias pobre, sofredor, morto e ressuscitado. Pelo visto, João entendeu tudo, pois, no seu Evangelho, narrou o lava-pés e as palavras de Jesus sobre o mandamento novo. E nas belíssimas cartas que escreveu, indicou maravilhosamente o mandamento do amor.

Com Maria, com João e mais ainda com Jesus desejamos reaprender o que o Senhor diz no Evangelho: "Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos" (Mc 10,43-45). Trata-se de uma proposta que vai contra a correnteza de todos as pretensões de poder, em todas as épocas. E agora, com simplicidade, perguntemos o que significa ser servos ou servidores!

Crédito: J Brarymi / GettyImages

A alegria de servir: um coração disponível

Quem vive para servir toma a iniciativa, dá o primeiro passo, descobrindo sempre o que se pode fazer para ajudar no crescimento do Reino de Deus e para amar a todos. Não são poucas as pessoas que, logo ao chegar numa festa, uma casa, um encontro pastoral, encontram algo para fazer, num espírito admirável de disponibilidade. Há poucos dias, vimos a quadra de uma Escola transformada num lindo ambiente para a instalação da Área Missionária Nossa Senhora da Esperança. Dava para identificar as pessoas que trabalharam muito e com dedicação para preparar tudo. E que dizer das dezenas de milhares de voluntários dedicados ao Círio de Nazaré?

Perguntados sobre o surgimento de Comunidades, Áreas Missionárias ou Paróquias, tivemos a alegria de mostrar como, entre nós, tudo começa com uma ou mais famílias que trazem apenas algumas armas tão simples quanto poderosas: a Bíblia, o Rosário de Nossa Senhora e a busca da Eucaristia, muitas vezes em igrejas bem distantes da própria residência. De repente, um pequeno salão, uma capela, que vira igreja, que gera Comunidade, Paróquia, Vocações e daí por diante. Tudo isso fruto de pessoas que descobriram a alegria de servir.

Servir com humildade: grandeza nas pequenas coisas

Quem vive para servir aceita fazer as coisas simples e pequenas com um coração grande, pois maior valor tem o coração que se compromete do que o tamanho ou a visibilidade do serviço prestado. Com toda a certeza, nossa chegada ao Paraíso vai possibilitar-nos o encontro com tantos santos e santas anônimos, independente de raça, cor, posição social ou cargos. Com Maria, a serva humilde e obediente, passam na frente!

Servir com amor: construindo o Reino de Deus

Quem vive para servir sabe fazer o que ajuda mais no crescimento do Reino de Deus. Prefere o diálogo, o testemunho de vida, comunhão e anúncio explícito de Jesus Cristo. Essas são pessoas que não cedem à tentação da revolta e da indignação, ainda que as estruturas da sociedade tão injusta e desigual levem à tendência do grito pelo grito. 

Servir em comunidade: superando individualismo e competição

Quem vive para servir aprende e efetivamente trabalha e age em comunhão com os outros, sabe partilhar, não se enche de inveja ou ciúme quando outros assumem tarefas semelhantes ou mesmo a atividade que lhes era própria. Ao viver e atuar com os outros, sabe buscar os verdadeiros fios que tecem a comunhão, superando antipatias e competições.

Servir com liderança humilde: guiando pelo exemplo

Quem vive para servir torna-se líder, mas sem autoritarismo ou domínio tirânico sobre os outros, descobre a valoriza outras lideranças, contribui para a sua formação, caminha com elas e sabe deixar. Na hora certa, as posições antes assumidas. E assim a Igreja cresce, olhando para aquele que veio para servir e não para ser servido!

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/devocao/discipulos-servidores/

A importância da Missa aos domingos

A participação da Santa Missa aos domingos é um compromisso de particular importância em nossa experiência de fé. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que a celebração da Eucaristia dominical, do Dia do Senhor, está no coração da vida da Igreja. "O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de preceito"1.

No entanto, antes de ser uma obrigação para nós católicos, a participação da Santa Missa aos domingos é uma exigência que está inscrita na essência da vida cristã. Por isso, na Igreja nascente, não havia o preceito dominical, já que os fiéis tinham a assembleia dominical como o ponto mais alto e importante da vida espiritual.

A importância da missa aos domingos

Foto Ilustrativa: Daniel Mafra/cancaonova.com

A Santa Missa nos primórdios da Igreja Católica

A celebração da Santa Missa aos domingo remonta aos princípios da era apostólica da Igreja (cf. At 2,42-46; 1 Cor 11,17). Nesse sentido, a Carta aos Hebreus nos ajuda a compreender a importância da Eucaristia dominical já naquele tempo: "Sem abandonarmos a nossa assembleia, como é costume de alguns, mas nos exortando mutuamente" (Hb 10,25).

A Tradição da Igreja nos ajuda a guardar a memória de uma exortação que permanece sempre atual: "Vir cedo à igreja, aproximar-se do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se deles na oração […], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair antes da despedida […]. Muitas vezes, o temos dito: este dia é vos dado para a oração e o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e cantemos de alegria"2.

São Justino, mártir do século II, na sua primeira Apologia, dirigida ao imperador Antonino e ao Senado, descreveu com ufania o costume dos primeiros cristãos de reunir-se na assembleia dominical, que congregava, no mesmo lugar, os cristãos das cidades e das aldeias. "Quando, durante a perseguição de Diocleciano, viram as suas assembleias interditas com a máxima severidade, foram muitos os corajosos que desafiaram o édito imperial, preferindo a morte a faltar à Eucaristia dominical"3.

Isso aconteceu com os mártires de Abitinas, na África proconsular, que assim responderam aos seus acusadores: "Foi sem qualquer temor que celebramos a ceia do Senhor, porque não se pode deixá-la, é a nossa lei"; "não podemos viver sem a ceia do Senhor". Com coragem extraordinária, uma das mártires confessou: "Sim, fui à assembleia e celebrei a ceia do Senhor com os meus irmãos, porque sou cristã"4.

A assembleia reunida

Segundo São João Crisóstomo, há algo a mais que a assembleia reunida nos proporciona: "Podes também rezar em tua casa, mas não podes rezar aí como na igreja, onde muitos se reúnem, onde o grito é lançado a Deus de um só coração. […] Há lá qualquer coisa mais: a união dos espíritos, a harmonia das almas, o laço da caridade, as orações dos sacerdotes"5.

Essa obrigação de consciência, que tem sua razão de ser na necessidade interior que os cristãos dos primeiros séculos sentiam tão intensamente, a Igreja Católica nunca deixou de afirmar, embora, no início, não julgou ser necessário prescrevê-la.

Mas, com o tempo, devido à tibieza ou à negligência de alguns, a Igreja teve que explicitar aos fiéis o dever da participação na Missa aos domingos. Na maior parte das vezes, fez isso sob a forma de exortação, mas, às vezes, também recorreu a disposições canônicas concretas.


A obrigação da participação da Santa Missa aos domingos

O primeiro e o mais importante mandamento da Igreja determina que somos obrigados a participar da Santa Missa aos domingos e nas solenidades de preceito: "No domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis têm obrigação de participar na Missa"6. Cumprimos esse preceito se participarmos da Santa Missa celebrada em rito católico, no próprio dia festivo ou na tarde do dia anterior.

A Santa Missa, aos domingos, fundamenta e confirma toda a prática cristã. Por isso temos a obrigação de participar da Santa Missa nos dias de preceito, especialmente no domingo, a menos que estejamos justificados por algum motivo sério como, por exemplo, doença, obrigação de cuidar de crianças de peito ou sejamos dispensados pelo nosso pároco ou responsável. Se deliberadamente faltamos a essa obrigação, cometemos um pecado grave.

"A participação na celebração comum da Eucaristia dominical é um testemunho de pertença e fidelidade a Cristo e à sua Igreja"7. Ao participarmos da Missa dominical, atestamos a nossa comunhão na fé e na caridade; damos testemunho da santidade de Deus e da nossa esperança na salvação; e reconfortamo-nos mutuamente sob a ação do Espírito Santo.

A paróquia é o lugar onde nós, que somos católicos, podemos nos reunir para a Santa Missa, principalmente para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia nos inicia na expressão ordinária da vida litúrgica e nos reúne nessa santa celebração. Além disso, a paróquia nos ensina a doutrina salvífica de Cristo e pratica a caridade do Senhor em obras boas e fraternas.

A Eucaristia dominical como exigência da vida cristã

Caso não seja possível a participação da Santa Missa aos domingos, o Código de Direito Canônico faz algumas recomendações:

"Se for impossível a participação, na Celebração Eucarística, por falta de ministro sagrado ou por outra causa grave, recomenda-se muito que os fiéis tomem parte na liturgia da Palavra, se a houver na igreja paroquial ou noutro lugar sagrado, celebrada segundo as prescrições do bispo diocesano, ou consagrem um tempo conveniente à oração pessoal ou em família ou em grupos de famílias, conforme a oportunidade"8.

Verdadeiramente, grande é a riqueza espiritual e pastoral do domingo, tal como a Sagrada Tradição nos confiou. Vista na totalidade dos seus significados e implicações, o domingo constitui, de certo modo, uma síntese da vida cristã e uma condição necessária para bem vivê-la.

Por isso, compreendemos por que razão a Igreja tem como particularmente importante a observância do Dia do Senhor, tanto que a tornou uma obrigação no âmbito da disciplina eclesiástica. No entanto, essa observância, antes de ser um preceito, deve ser vista como uma exigência inscrita profundamente em nossas almas.

É de importância verdadeiramente capital que nos convençamos de que não podemos viver a nossa fé, a plena participação da vida da comunidade cristã, sem tomar parte regularmente na assembleia eucarística dominical.

A plenitude da Missa aos domingos

Na Eucaristia, realiza-se a plenitude de culto que os homens devem a Deus, incomparável com qualquer outra experiência religiosa.

Uma expressão particularmente eficaz dessa plenitude verifica-se precisamente quando, no domingo, toda a comunidade congrega-se, em obediência à voz do Ressuscitado.

Ele a convoca para lhe dar a luz da sua Palavra e o alimento do seu Corpo, como fonte sacramental perene de redenção. A graça, que dimana dessa fonte, renova a nossa vida, a nossa história.

O Espírito Santo está presente, ininterruptamente, em cada dia da Igreja, irrompendo, imprevisível e generoso, com a riqueza dos seus dons. Entretanto, na assembleia dominical reunida para a celebração semanal da Páscoa, a Igreja Católica coloca-se especialmente à escuta d'Ele e com Ele tende para nosso Senhor Jesus Cristo, no desejo ardente do Seu regresso glorioso: "O Espírito e a Esposa dizem: 'Vem!'" (Ap 22,17).

Referências:
1 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2177.
2 Idem, § 2178.
3 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini, 46.
4 Idem, ibidem.
5 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, § 2179.
6 Idem, § 2180.
7 Idem, § 2182.
8 PAPA SÃO JOÃO PAULO II. Código de Direito Canônico, cânon 1248, § 2.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-importancia-da-missa-aos-domingos/

18 de outubro de 2024

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

O jejum como ponte entre o corpo e a alma

Quando se fala na busca por uma vida virtuosa e no crescimento na santidade, é inevitável tratar da necessidade de uma vida ascética e a necessidade da mortificação. Nesse sentido, muito se fala da importância do jejum, mas precisamos aprofundar, cada vez mais, o valor, a necessidade, os efeitos e os impactos que ele tem não apenas no âmbito espiritual, mas também no aspecto físico do ser humano.

Os efeitos do jejum na saúde física e espiritual

Crédito: erdikocak / GettyImages

A busca por uma vida mais saudável

Atualmente, tem aumentado a busca e o interesse por bons hábitos que favoreçam a saúde, estabelecendo maiores parâmetros de qualidade de vida. Ter uma boa alimentação, estabelecer uma rotina de atividade física, buscar uma maior qualidade do sono. Tudo isso faz parte desse conjunto que favorece, estimula e promove essa qualidade de vida. Como o assunto é cada vez mais discutido, avançam-se também as descobertas. Com relação a isso, uma das práticas que tem crescido é a do jejum em vista dos seus efeitos na saúde física.

(ATENÇÃO: com relação à saúde física, é preciso recorrer sempre à indicação médica)

Os efeitos do jejum são variados e dependem de um conjunto de fatores como a idade, o estilo de vida, os hábitos alimentares e a prática de exercício físico, assim como o próprio histórico de saúde. Mas, de um modo geral, essa prática favorece o sistema imunológico, reduzindo o processo inflamatório, acelerando o metabolismo e, consequentemente, melhorando a resposta do organismo tanto a nível cerebral quanto físico.

Os impactos do jejum no organismo

Algumas áreas da medicina têm se ocupado em estudar ainda os efeitos da abstinência para aqueles que sofrem de enfermidades cardíacas, além do diabetes e do colesterol alto. Associado à prática da atividade física, estuda-se os efeitos do jejum no processo de emagrecimento.

Por outro lado, quem recorre ao jejum em vista do benefício físico tem que lidar com algumas dificuldades como o processo de adaptação ao novo estilo de vida, o cansaço físico, o desconforto abdominal e a dor de cabeça, além da mudança nos hábitos alimentares, prevenindo um processo de má digestão.

Acompanhado por um profissional da área e sabendo viver o processo adaptativo, a abstenção de alimento por determinado período de tempo pode se tornar um excelente meio para obter benefícios na saúde física. Mas, além do fator físico, isso também tem uma grande importância para a vida espiritual.

A ascese e o jejum na busca pela santidade

Viver um processo de conversão em vista da santidade é exigente, mas não é impossível. Ao longo desse caminho, é preciso deixar alguns hábitos, tomar decisões, estabelecer uma sólida e profunda relação com Deus. Ao mesmo tempo, decidir-se pela santidade exige um longo e profundo autoconhecimento, e é nessa etapa que nos deparamos com as nossas maiores fraquezas e más inclinações, as más tendências, os maus hábitos, os vícios que nos prendem aos "pecados de estimação". Viver a conversão exige a firme e determinada decisão, e é preciso assumir um caminho ascético em vista de vencer as fraquezas ainda existentes.


A ascese corresponde às práticas e aos comportamentos assumidos em vista de uma austeridade, passando pelas renúncias, refreando os prazeres e mortificando os sentidos a fim de crescer na vida espiritual. A vida ascética se desenvolve pelas práticas da mortificação, interna e externamente, abstendo-se de alguma coisa para, segundo uma visão católica, fazer morrer a vida no pecado, a vida na carne, ordenando-se para uma vida no Espírito, uma vida ordenada para a vontade de Deus.

Jejum e oração: uma aliança poderosa para a santificação

É assim que se percebe a importância do jejum: a pessoa se abstém de um alimento, de uma bebida, buscando o equilíbrio das paixões, e, unido à oração, nos preenche de Deus, levando-nos a uma vida não conduzida pelos prazeres do corpo, mas pela ação do Espírito. Sem essa abstenção, a ascese e as mortificações, o processo de conversão, marcado pela libertação dos vícios e do domínio das más inclinações, perdem um grande fator de eficácia.

Padre Jonas Abib, no seu livro "Práticas de Jejum", explica de forma clara e fácil o que é o jejum, os seus efeitos e os tipos, como e o que é recomendado pela Igreja, o jejum de pão e água, o jejum à base de líquidos e a abstenção total de alimentos. Com o auxílio de um diretor espiritual, cada pessoa precisa identificar o tipo de jejum que lhe é eficaz para o seu processo de conversão.

Tendo visto os efeitos do jejum, percebe-se quantos benefícios são obtidos por meio de sua prática, tanto no aspecto físico, quanto espiritual. Para quem deseja obter ambos os benefícios, é preciso recorrer ao profissional da área – no sentido de um aspecto físico – e um bom diretor espiritual para colher os frutos do jejum.

Emanuel França Silva
Tem 27 anos, natural de Gurinhatã – MG, é membro da Comunidade Canção Nova desde 2020. Candidato às Ordens Sacras, está cursando Filosofia na Faculdade Canção Nova em Cachoeira Paulista (SP).


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/os-efeitos-jejum-na-saude-fisica-e-espiritual/

16 de outubro de 2024

Luto gestacional e neonatal: a importância de reconhecer e acolher

O luto gestacional e neonatal é uma experiência profundamente dolorosa e, muitas vezes, incompreendida. Quando um bebê morre durante a gestação ou logo após o nascimento, as famílias enfrentam não apenas a perda física de um filho, mas também o rompimento de sonhos, expectativas e planos que foram construídos desde o início da gravidez. Com essa perda, surge um vazio imenso, como se o caminho planejado para o futuro deixasse de existir, exigindo a difícil tarefa de reconstruir novos sentidos e trajetórias.

Luto gestacional e neonatal a importância de reconhecer e acolher

Crédito: fizkes / GettyImages

Esse tipo de luto carrega consigo um tabu, pois não esperamos lidar com a morte no início da vida. A sociedade, muitas vezes, não reconhece ou valida essa perda, como se o bebê, por não ter sido conhecido fisicamente, não tivesse existido. No entanto, o vínculo entre pais e bebê já estava presente, e o rompimento desse laço traz o luto como uma resposta natural. Esse processo é único para cada pessoa e vivido no seu próprio tempo.

O tabu do luto perinatal e a invalidação da dor de perder um filho

Um dos maiores desafios no luto gestacional e neonatal é a ausência de memórias tangíveis, o que torna a dor ainda mais aguda. A perda é marcada pelo que não foi vivido, pelos momentos que não serão compartilhados. Enquanto em outras perdas temos lembranças e histórias para nos manter conectados aos entes queridos, nesse luto, falta justamente essa base de memórias concretas. Isso pode gerar um sentimento profundo de solidão e incompreensão.


A falta de reconhecimento social intensifica esse isolamento. Frases como "logo você terá outro" ou "foi melhor assim" ferem mais do que ajudam. Oferecer apoio sincero, ouvir com empatia e acolher com sensibilidade pode ser profundamente significativo. Permitir que a família compartilhe suas lembranças, ainda que breves, ajuda a validar a dor e reconhecer a vida que existiu e o vínculo que sempre permanecerá.

Vivendo a dor e encontrando novos sentidos

É importante desmistificar a ideia de que o luto é algo a ser superado. O luto não desaparece com o tempo; ele é vivido e sentido, e é nesse processo que a pessoa se adapta à vida sem a presença física daquele que partiu. Não existe um prazo para o luto, e para os pais, a lembrança de um filho, mesmo que sua vida tenha sido breve, jamais será esquecida. Ao longo do tempo, essa dor pode se transformar, permitindo que as famílias encontrem novos sentidos e caminhos, mas o amor e o vínculo permanecem.

Para as famílias que enfrentam essa dor e não encontram validação ou acolhimento, buscar grupos de apoio e suporte psicológico especializado pode ser essencial. Esses espaços não só reconhecem a dor, mas também oferecem a companhia de pessoas que compreendem essa experiência. Assim, as famílias podem se sentir menos sozinhas e encontrar suporte para atravessar o luto de forma mais saudável, ressignificando a perda e descobrindo novos significados em suas trajetórias.

Psicóloga Júlia Gomes
CRP 06/125621


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/bioetica/gravidez/luto-gestacional-e-neonatal-importancia-de-reconhecer-e-acolher/

15 de outubro de 2024

A imagem do professor em crise

Os desafios do papel do professor frente à realidade tecnológica

Discutir sobre a crise na imagem do professor torna-se um grande desafio, principalmente porque ela é somente uma das consequências de uma crise ainda maior, que é a da educação nos dias de hoje.

A crise na educação

Entendendo que o problema na imagem do professor faz parte de algo mais amplo – a crise na educação –, o segundo passo é compreender que seria preciso discutir inúmeros fatores que causam o problema relacionado aos docentes, o que não é possível apenas num artigo.

Dessa forma, a proposta é refletir sobre apenas um ponto, mas que tem grande relevância quando o discutirmos, seja a crise na imagem do professor, seja a crise na educação: o professor como mestre.

Crédito: Alexey Emelyanov / GettyImages

A democratização da informação

Com a presença da tecnologia, a informação está explícita. É possível ter dados sobre qualquer assunto na palma da mão e a qualquer instante. Nunca na história da humanidade o conhecimento esteve tão manifesto como na atualidade.

Daí surge uma pergunta: estando o conhecimento explícito, o professor se torna dispensável? A resposta é não! Pois, sobretudo diante de tanta informação disponível, faz-se necessário o conhecimento tácito. Ou seja, aquele conhecimento que, diante de tantas possibilidades, conduz os alunos por um caminho seguro.

O excesso de informação e o risco da superficialidade

Um aluno diante de tanta informação corre vários riscos como: não saber por qual direção seguir ou ir por caminhos falsos e perigosos (pois nem toda informação é verdadeira), ou ainda, provar um pouquinho de cada assunto e não se aprofundar em nada.


O papel do mestre

Daí a importância do professor, que trará a luz do conhecimento tácito em meio a tanta informação explícita. Irá, com sua experiência, apresentar aquilo que está escondido nas entrelinhas do conteúdo, e, assim, conduzir seus alunos por vias seguras e que produzam frutos verdadeiros.

Esse é o verdadeiro mestre: aquele que, possuindo domínio de uma determinada área, é capaz de ensinar, apontando, em meio a tantas possibilidades, um caminho seguro, pois lança luz ao que está escondido, tendo sempre como meta o encontro com a verdade.

Cristo: o Caminho, a Verdade e a Vida

E o que é o encontro com a verdade senão o encontro com o próprio Cristo? Afinal, a verdade para os cristãos é uma pessoa. Foi Jesus mesmo quem disse: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6).


Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

Site: www.denisduarte.com
Instagram: @denisduarte_com
Facebook: facebook/aprofundamento


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/a-imagem-do-professor-em-crise/

14 de outubro de 2024

Caminhos da esperança

Esperança: a virtude essencial para a dignidade humana

"A esperança é a última que morre", eis um ditado popular muito repetido em diferentes circunstâncias. Mas a esperança não pode morrer nunca. Ela é uma virtude, luz luzente em horizontes tomados por obscuridades e variados desafios. A esperança possibilita ao ser humano encontrar as respostas de que necessita para viver com mais dignidade. Assim, a esperança deve ser sempre fortalecida, pois, sem ela, a família humana sofre com o caos, na contramão da razão, inviabilizando o alcance do sentido que sustenta o viver.

Cultivar a esperança exige abrir-se, sempre mais, à reconciliação e ao exercício da paciência – para que oportunidades de edificação da paz não sejam perdidas. É preciso saber esperar, e não desistir da busca por essas oportunidades, encontrando uma força que está além dos próprios recursos, enraizada na espiritualidade e na fé.

Caminhos da esperança

Crédito: FG Trade Latin / GettyImages

O caminho para a paz

A paz, para ser alcançada, precisa ser esperançada – alimentada na certeza de que o semelhante também tem necessidade e está na busca pela paz. Sem essa convicção, o ser humano torna-se, facilmente, contaminado pelo ódio e pelo anseio por vingança. Passa a agir, assim, na contramão do caminho para a paz. De fato, sem o amor, o amor maior que vem de Deus, a paz torna-se meta inalcançável, pois trata-se de componente essencial aos diálogos e à iluminação que vem da inteligência humana.

O amor é capaz de vencer o medo que paralisa e que desencadeia conflitos complexos, promovendo a escalada da violência que dizima vidas, nações, culturas. O temor e a mágoa no coração humano precisam ser tratados com o amor de Deus, de incidência radicalmente restauradora.

A partir do amor, o ser humano se qualifica para fraternalmente se aproximar de seu semelhante. E lembra o Papa Francisco, em preciosa indicação: a cultura do encontro tem o poder de romper com o tom destrutivo da cultura da ameaça. Ameaças são capazes de amedrontar e inspirar respostas odiosas, sangrentas, que negam o sentido da fraternidade universal.

Abrindo caminhos para o bem

Em direção oposta, a cultura do encontro possibilita diálogos e entendimentos pela indispensável experiência de colocar-se no lugar do outro, particularmente daquele que é pobre, vulnerável, inocente e indefeso. A dinâmica de colocar-se no lugar do semelhante alarga horizontes. É investimento humanístico indispensável e inigualável para encontrar caminhos de esperança.

Fechar-se nos horizontes estreitados por ideologias, por sentimentos mesquinhos e egoístas, impossibilita trilhar o caminho da paz, pois é atitude que distancia o ser humano da esperança. Inscreve-se, pois, como estação importante investir nos gestos de reconciliação, para debelar o ódio, acabar com distanciamentos ou com a disponibilidade para estabelecer inimizades.

Um compromisso com a paz e a fraternidade universal

Esperançar a paz é, pois, um compromisso cidadão e de fé muito relevante. Esse compromisso exige a revisão do próprio comportamento. O comportamento humano há de ser balizado por uma qualidade espiritual e humanística que se expressa a partir da competência para dialogar e bem exercer a solidariedade, fecundando de paz as páginas do cotidiano de cada pessoa – consequentemente, da sociedade.

Trata-se de uma urgência, especialmente quando são considerados os muitos cenários de guerra no mundo contemporâneo, gerando perdas irreversíveis – de vidas humanas e de dons da Criação, com mapas dolorosos marcados pela fome e pela exclusão social. A sensibilidade para dialogar e bem exercer a solidariedade alimenta sabedorias essenciais ao equilíbrio sociopolítico.


Cultivar a esperança, sabendo se colocar no lugar do outro, exige o compromisso de lutar para que sejam mudados os cenários que desrespeitam a dignidade humana, privando muitos homens e mulheres, crianças e idosos do direito à autonomia social e política. Ferindo ainda o direito à liberdade religiosa, em razão de conflitos civis, internacionais, com gente desalmada regendo processos e tomando decisões. As guerras, frequentemente, são consequências da falta de respeito em relação às diferenças do semelhante.

Os caminhos de esperança são percorridos quando se procura exercer a fraternidade, alimentando diálogos, construindo relações de confiança. Diálogos que não são, simplesmente, exercício de diplomacia. Constituem investimento daqueles que se inserem no mundo para atuar como artesãos da paz.

Conversão ecológica: um caminho de esperança para a preservação do planeta

A partir da celebração da memória de São Francisco de Assis, tenhamos presente que a conversão ecológica, uma urgência, é também caminho de esperança. O modo abusivo que caracteriza a relação da humanidade com a natureza já traz sintomas amargos, como a escassez de chuvas ou, ao contrário, as graves enchentes. O ser humano tem sido muito despótico no tratamento da Criação, agindo de modo infiel a Deus, sem respeitar a tarefa de bem exercer a regência de toda a obra do Criador.

Falta à humanidade uma sabedoria engolida pela ambição desmedida e pelos estilos de vida esbanjadores. Verifica-se que a hostilidade presente na relação com o semelhante também se repete no tratamento com o planeta. É preciso reconciliar-se com o próximo e com a Criação, pela escuta e contemplação do mundo. Assim, reaprender a fazer da Terra uma casa comum, onde todos podem habitar harmoniosa e dignamente.

A preservação da vida de todos precisa de uma conversão integral, transformando relações, tendo o Criador como referência – fonte única e inesgotável do amor que tudo modifica na ótica do bem. Eis o convite para se trilhar em caminhos de esperança.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/caminhos-da-esperanca/

12 de outubro de 2024

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

No dia 12 de outubro de 1717 (200 anos antes da Aparição de Nossa Senhora de Fátima), alguns pescadores encontraram uma imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba do Sul. Essa imagem ficou conhecida como Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas, antes de falar sobre a história da aparição e quebrar alguns mitos sobre ela, nós precisamos entender a história dessa imagem.

Nossa Senhora Aparecida, a luz da história do Brasil

Crédito: Sidney de Almeida / GettyImages

 

A ORIGEM DA IMAGEM 

A imagem original de Nossa Senhora Aparecida tem 36 cm, feita de barro cozido no estilo Barroco do século XVII. Ou seja, a imagem achada tem, pelo menos, 80 anos a mais da data de seu achamento. A imagem original é oca, pesando 2,5 Kg. A aparição de Nossa Senhora Aparecida chama nossa atenção por alguns fatores, pois, diferente de outras aparições, ela não falou nenhuma palavra. Porém, Nossa Senhora Aparecida nos fala através de sua imagem.

Detalhes e informações da imagem: 

– Túnica de escrava;

– Manto de rainha;

– Cinto representando estar grávida, como os judeus antigos faziam;

– A imagem está grávida e sorrindo;

– Tem apenas um anjo: representando ser o Anjo da Guardo do Brasil

A Imagem de Nossa Senhora Aparecida faz referência ao título de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, tanto é que o nome completo é Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Mas como podemos ter uma imagem de Nossa Senhora da Conceição em 1717, se o dogma da Imaculada Conceição só foi decretado em 1854? A questão é que, mesmo antes do Papa decretar o dogma, em Portugal já havia uma grande devoção ao imaculado coração de Nossa Senhora. 

A primeira congregação fundada sobre a proteção de Nossa Senhora da Imaculada Conceição foi fundada em Portugal por Santa Beatriz de Portugal, a mesma que educou a Rainha Isabel, católica quando criança. Em 1640, Dom João IV, ao conquistar a independência de Portugal da Espanha, que estavam unidos desde Felipe II na União Ibérica, consagrou Portugal e todas as suas terras ao Imaculado Coração de Nossa Senhora.

Diante da Imagem de Nossa Senhora, Dom João IV declarou: "Será vós que governará Portugal, e não mais nós". Dom João IV, através desse sinal, mostrou que a Rainha de Portugal era Nossa Senhora, e os reis eram seus vassalos. Inclusive, a partir de Dom João IV, a cerimônia de coroação dos reis foi substituída por uma cerimônia de aclamação onde o rei colocava a coroa somente naquele momento de sua vida, pois quem governara Portugal era Nossa Senhora. 

Ao lado dos tronos dos reis de Portugal havia uma imagem de Nossa Senhora do Imaculado Coração, na qual, ali, eram colocados o cedro e a coroa, simbolizando que Nossa Senhora era quem estava no comando daquele país e de seus territórios. Ou seja, Nossa Senhora da Conceição já era a Rainha do Brasil desde 1640. Dom João IV mandou representar Nossa Senhora da Conceição com um vestido longo branco e um manto azul por cima; aos seus pés, três imagens de anjos. Às vezes, a imagem de Nossa Senhora era representada com as mãos postas, como a de Nossa Senhora Aparecida ou com o Menino Jesus no colo.

Em 1717, a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no Rio Paraíba do Sul. Interessante destacar que a imagem era de barro, o que simboliza a redenção da humanidade, pois Nossa Senhora partilha da mesma natureza que nós, porém ela é Santíssima.

A APARIÇÃO

Foi em 1717 que Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, Governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, subiu a cavalo até São Paulo para tomar posse do governo. O Conde de Assumar era considerado pelo rei de Portugal como um homem justo, pacífico, bom pagador e piedoso, um homem de missas diárias e de grande oração, que tinha consigo um capelão para celebrar, diariamente, a Santa Missa.

Sua piedade fica manifestada na história da aparição: os pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia foram pescar a pedido do Conde de Assumar, pois, como bom católico, não comia carne na sexta-feira. Então, ele pediu para que se fizesse peixe naquele dia. E foi durante essa passagem que Nossa Senhora decidiu se apresentar aos três pescadores, homens também muito piedosos.

Os três pescadores saem para pescar da fronteira com o atual munícipio de Roseira, em três canoas. Depois de uma noite inteira tentando pescar, a centenas de metros do seu local de partida, no atual Porto do Itaguaçu, João Alves encontra o corpo da imagem de Nossa Senhora. João Alves guarda a imagem, e eles continuam pescando dois quilômetros a diante, próximo ao atual Porto de Correia Leite. Eles jogam a rede juntos e encontram a cabeça da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Isso chamou muito a atenção dos pescadores: como a cabeça da imagem, tão pequena, ficou presa na rede? Os pescadores, só pelo fato de terem encontrado a imagem, já consideraram isso um milagre. Depois, jogaram as redes novamente e pescaram tantos peixes, a ponto de quase romperem as redes. Nesse momento, eles tiveram certeza que essa imagem era um grande sinal de Deus.


Quando voltaram da pesca, fizeram um pequeno oratório para Nossa Senhora na casa de Felipe Pedroso. A imagem ficou com ele, pois ele era o mais velho entre os três pescadores. Felipe, por seu um caboclo simples, colocou a imagem dentro de uma caixa para protegê-la, porém, ouviam-se ruídos e barulhos dentro da caixa. A partir disso, ele percebeu que a imagem era para todos, e não apenas para ele.

Ele entregou a imagem ao seu filho Athanásio Pedroso, que construiu um Oratório Maior próximo à trilha dos tropeiros; desse modo, muitas pessoas começaram a ter contato com a imagem.

Num sábado à noite, as pessoas estavam reunidas para rezar o terço e cantar o Ofício diante da imagem. De maneira milagrosa, as velas que estavam acesas se apagaram sem nenhum toque do vento; quando os devotos foram tentar acendê-la novamente, não conseguiram, até que, de maneira milagrosa, elas se acenderam sozinhas. Esse ficou conhecido como o milagre das velas.

Durante anos, a imagem ficou no Oratório construído por Athanásio Pedroso. O padre de Guaratinguetá, percebendo a devoção dos fiéis e os milagres que ocorriam, resolveu construir uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em 1745.

Interessante notar que muitos escravos pediram a liberdade para seus senhores para ajudar na construção da capela de maneira voluntária, e seus senhores aceitavam libertá-los. Os escravos encontravam, na imagem, um sinal de amor e redenção, pois ela, através de sua cor, mostrava que também era escrava, a escrava do Senhor. Em 1868, a Princesa Isabel visitou Aparecida pedindo a sua intercessão, pois ela não conseguia ter filhos. Nossa Senhora atendeu seu pedido, e a Princesa teve três filhos.

Em 1884, a Princesa Isabel voltou para rezar à imagem e pagar a sua promessa. Mas, em 30 de maio de 1888, a Princesa Isabel entregou a coroa e o manto de Nossa Senhora como um sinal de que ela é a Rainha do Brasil. Em 1904, o Papa São Pio X mandou coroar a imagem com a coroa da Princesa Isabel. E, em 1911, o Papa Pio XI elevou Nossa Senhora Aparecida como Rainha e Padroeira do Brasil, ratificando aquilo que já estava no coração dos brasileiros. 

No dia 31 de 1931, o Cardeal Leme, junto do episcopado do país, levou a imagem para o Rio de Janeiro (capital do Brasil na época) e consagrou o Brasil a Nossa Senhora da Conceição Aparecida em um evento que uniu mais de um milhão de pessoas. Cardeal Leme declarou: "Nossa Senhora Aparecida, o Brasil é vosso. Cuidai do Brasil". Mostrando que, por mais que estejamos vivendo uma república, o Brasil nunca deixou de ter uma rainha: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a rainha dos nossos corações.

Prof. Mestre em História Edmilson Cruz

Youtube: Edmilson Cruz
Instagram: @edmilsoncruzp


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/nossa-senhora-aparecida-luz-da-historia-brasil/

10 de outubro de 2024

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

Atualmente, a internet é considerada algo que, junto com tantas outras coisas, divide opiniões, principalmente quando relacionada ao tema espiritualidade, uma vez que o alto uso das redes pode levar ao vício, ser veículo de difamação ou até porta de entrada para realidades mais pesadas, como a pornografia e tantos outros pecados complicados de serem vencidos.

Carlo Acutis: a missão que nasce do amor a Jesus

O beato Carlo Acutis / Foto: Nicola Gori – CNA

Contudo, são nesses momentos que precisamos também olhar as coisas por outros olhos e optarmos por nos lembrarmos de bons exemplos como o Beato Carlo Acutis, aquele adolescente de 15 anos que morreu de câncer, em 2006, e já está até sendo apontado como o padroeiro da internet, sabe?

Um pequeno apaixonado por Jesus

Caso você ainda não o conheça muito bem, até a sua morte ele era considerado o filho único de Antonia Salzano e Andrea Acutis, um casal abastado que voltou de Londres para Milão após Carlo ter nascido algumas semanas mais cedo do que deveria, durante uma viagem dos pais, que, inclusive, nem eram católicos praticantes na época.

Isso só mudou por conta de uma jovem polonesa chamada Beata, que era funcionária na casa da família Acutis. Foi ela a grande responsável por iniciar Carlo na , sempre lhe contando sobre o valor da Sagrada Eucaristia.

Ainda aos sete anos de idade, o pequeno teve a alegria de fazer a sua primeira comunhão, porque o seu desejo de viver este momento com Jesus era tão grande, que, apesar de muito novo, o padre de sua paróquia pôde constatar que Carlo não estava querendo comungar apenas por mero capricho, mas porque estava pronto e compreendia verdadeiramente o sentido da Sagrada Eucaristia.

A missão de Carlo Acutis

Da mesma forma que gostamos de compartilhar aquilo que amamos, o amor de Carlo por Jesus Eucarístico e por Maria não se limitou à rotina de oração e devoção ou apenas ao seu circulo familiar, mas transbordou para além dos limites da sua convivência ordinária. Por conseguinte, a sua grande missão de evangelização foi sendo definida antes mesmo de ele completar 11 anos.

Isso porque, assim que ganhou o seu primeiro computador, aprendeu sozinho a criar um blog, e começou a catalogar uma série de milagres eucarísticos, porque o jovem compreendia que a Eucaristia era uma via para o céu a ser compartilhada.


Pensando nisso, Carlo conseguiu convencer seus pais a viajarem para diversos lugares onde teriam ocorridos os milagres eucarísticos ou onde estavam suas relíquias, para serem registrados e catalogados em seu blog. Todo o projeto, porém, só foi descoberto tempos depois de seus falecimento, quando Antônia (sua mãe), vendo a quantidade de pessoas presentes no velório do seu filho e recebendo mensagens e relatos de pessoas que o haviam conhecido, após um sonho, decidiu mexer no computador de Carlo.

Neste momento, além de seu testamento, foi descoberto que o adolescente não mantinha diários ou qualquer escrito sobre si próprio, mas esse catálogo impressionante, que a família fez questão de preservar na internet até os dias de hoje. Na época, não havia nada assim dentro da própria Igreja, e, hoje, o site já foi traduzido em diversas línguas.

E que lição podemos tirar disso em pleno mês missionário?

Que a verdadeira missão só nasce a partir de um relacionamento íntimo com o Senhor, que é capaz de transbordar em nós o desejo de levar Seu amor a todos os lugares para transformá-los, inclusive àqueles considerados menos propícios, como o Carlo Acutis fez com a internet.

Por causa da sua contemporaneidade, a história de vida do jovem beato tem viralizado na internet de tal forma nesses últimos tempos, que até ultrapassou a barreira do catolicismo, encantando pessoas das mais diversas religiões através do seu testemunho poderoso de santidade e juventude.

Maria Teresa Gomes Teixeira
Tem 21 anos , é uma jovem autista, católica e, atualmente, faz licenciatura em Biologia


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/carlo-acutis-a-missao-que-nasce-do-amor-a-jesus/