7 de junho de 2024

Os olhares para as faces de Jesus de Nazaré – Marcos 3,20-35

O evangelho de hoje apresenta uma cena que desperta múltiplos olhares para Jesus de Nazaré. Assim como na dinâmica do cotidiano, somos instados a ver a vida sob perspectivas diversas. O que vemos é fruto de vivências, saberes, ideologias, intencionalidades que nem sempre dialogam com a realidade.

Encontros acontecem, os abraços são possíveis quando as energias fluem com liberdade.  Quando o coração deseja algo mais, o melhor pode surgir. O texto apresenta como cenário a casa para onde Jesus volta. Os personagens: uma multidão que o segue, os parentes que o acusam de insanidade, os líderes religiosos que o descredibilizam. Por fim, a mãe e seus irmãos. O que acontece na narrativa diz das distintas formas de olhar para o Nazareno.

Sempre é tempo de pensarmos no modo como olhamos para as pessoas. Há olhares risonhos, distraídos, mas há um momento mágico, num instante de graça, quando a força dos olhos se cruzam numa sintonia fina, baixa a guarda para ser quem é. Olhar profundo de aceitação. Reciprocidade no mesmo tom.  Há de construir caminhos livres para que os afetos circulem e se multipliquem.

No texto, os olhares são diversos e emitem julgamentos contundentes sobre a pessoa de Jesus de Nazaré. Sua própria trajetória ensejou cada forma com que recebeu cada olhar. Viveu rodeado pelos empobrecidos e não poupou crítica às autoridades religiosas, pois identificava o quanto determinadas práticas eram danosas para os pequeninos e pequeninas.

Os parentes o olharam como "louco" (v.21). Logo, todo louco precisa ser contido. Assim é o olhar de muitos para quem leva a vida numa perspectiva diferente da maioria. Assim fizeram com o "endemoninhado gadareno" em Marcos 5, 4-5. O louco, sem filtros nem regras deve ser retirado do convívio social. É vergonha para a família. Por não se submeter aos ditames de uma sociedade excludente, passa a ser visto como louco, mesmo por aqueles que estão no círculo familiar. Esta é parte do preço a pagar ao trilhar pelos caminhos do reino.

Os líderes religiosos o demonizaram (v.22). Por que têm tanta pressa em demonizar o diferente? Por que o que incomoda e desafia é imputado como demoníaco? Esta acusação pesou sobre Jesus naqueles dias, mas continua sendo a tônica acusatória contra todos as pessoas que assumem posturas e valores que confrontam as bases tradicionais da religião hegemônica. Essa estratégia continua vitimando comunidades inteiras com suas legítimas bandeiras de fé e luta.

O outro olhar é lançado sobre a família de Jesus (v.33). Aqui há o alargamento da visão sobre ser família. Para além da núcleo primeiro, ser família passa pela compreensão de valores que unem e sedimentam as relações humanas. Tem a ver com a profundidade espiritual que norteia a experiência nos diferentes estágios da caminhada.

O cuidado de Jesus ao responder a alguns desses olhares é admirável. Ele não se deixou moldar pelo olhar de outros, mas foi pedagógico no falar. Aos religiosos, adverte da necessidade de aprender a ver o agir de Deus, onde a divina Ruah sopra com liberdade. Fechar os olhos para esta manifestação é se negar a ver o óbvio, não tem perdão. Aos que trilham os caminhos da vontade de Deus, declara-se filho, irmão e irmã (v.35).

Ante as declarações do evangelho, lancemos os olhares de quem senta para ouvir os ensinamentos e levanta para partilhar cada palavra de libertação e acolhida a todas as pessoas com quem cruzarmos na jornada existencial.

Waldir Martins Barbosa – CEBI-BA


Fonte: https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/os-olhares-para-as-faces-de-jesus-de-nazare-marcos-320-35/

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