Sem perceber gastamos nosso precioso tempo dando mais atenção as realidades exteriores do que para nossa vida interior, e nossa vontade de nos aproximar de Deus acaba sendo minada por diversas mensagens e notificações.
O mundo em que vivemos hoje é cercado de tecnologia. Você acorda pela manhã pelo despertador do celular, prepara seu café da manhã enquanto lê as notícias nele e já responde as inúmeras mensagens no whatsapp. Na TV conectada à internet, assiste aquela vídeo aula ou aquele clipe legal enquanto o relógio avisa que é hora de se movimentar.
Não é incomum muitas pessoas terem essa rotina diária, e cada vez mais produtos e serviços nos lembram que a vida será sempre mais difícil se não tivermos o monitor mais moderno ou uma smart tv com todos os nossos streamings favoritos. O consumo desenfreado de tecnologia pode causar diversos males em nós, desde uma enxaqueca indesejada até o burnout.
Sem perceber gastamos nosso precioso tempo dando mais atenção as realidades exteriores do que para nossa vida interior, e nossa vontade de nos aproximar de Deus acaba sendo minada por diversas mensagens e notificações.
Essa é a dura realidade que muitos de nós vivemos e que infelizmente também reproduzimos quando atingidos pelo consumismo. Consumir tecnologia ou mesmo produtos e serviços que usam tecnologia de ponta tornou-se um ponto de reflexão para quem está inserido no mundo moderno, com todas as vantagens, benefícios mas também contradições que ele apresenta.
O consumismo se edifica sobre o pressuposto de que a felicidade é proporcional ao consumo de bens. O padrão de consumo vai sendo definido pelo mercado através de ousado investimento em marketing, criando falsas necessidades que acabam se transformando em "sonhos de consumo", expressão comumente empregada pelas pessoas sem pensar no seu real significado. São João Paulo II, na Encíclica Centesimus Annus, chama a isso de "fenômeno do consumismo", que vai criando uma sociedade do supérfluo e do descartável (CA 36) e alimenta a ideologia do consumismo, onde o "ter" é mais valorizado que o "ser".
Diante dessa realidade, uma pergunta pertinente tomou conta de consumidores em geral: Como consumir tecnologia de forma consciente? E para nós cristãos, como podemos utilizar a tecnologia sem que ela nos torne pessoas consumistas? O Papa Francisco diagnosticou o consumismo como uma doença séria nos dias de hoje, que nos faz gastar mais do que precisamos e que nos tira a austeridade da vida. Um verdadeiro inimigo da generosidade.
"É preciso pedir ao Senhor para que nos liberte daquele mal tão perigoso que é o consumismo, que nos torna escravos, uma dependência do ato de gastar. É uma doença psiquiátrica. Peçamos esta graça ao Senhor: a generosidade, que expande o nosso coração e nos leva à magnanimidade" (Homilia de Advento, 26 de novembro de 2018).
A prática das virtudes podem nos ajudar a combater o consumismo e outras correntes do mundanismo, pois além de nos fazer tender para o bem, procurando-o e vivenciando ele no dia a dia, nos ajudam pelo uso constante da vontade e da inteligência a regular nossos atos, ordenar nossas paixões e guiar nossa vida segundo a fé e a razão (CIC 1804).
Aprender mais sobre custo-benefício e viver a virtude da justiça
O custo benefício é o que define as melhores escolhas de um produto ou serviço. É a partir dele que podemos saber se aquilo que estamos pagando realmente vale o investimento ou não. Estamos em um momento onde o mundo inteiro está avaliando os impactos econômicos e sociais do consumo, sobretudo em busca de um mundo mais sustentável.
Avaliar melhor as nossas compras, a real necessidade de se ter um produto mais caro ou pagar por um serviço de streaming deve ser levado em consideração na hora de adquirir qualquer coisa. Vale a pena aprender mais sobre planejamento financeiro e conversar com as pessoas sobre suas experiências com os produtos que utilizam.
A virtude da justiça é essencial para fazer um bom discernimento sobre as nossas reais necessidades. É a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhe é devido. Para com os homens ela nos dispõe a respeitar os direitos de cada um e estabelecer nas relações humanas a harmonia que promove a equidade em prol das pessoas e do bem comum (CIC 1807). Ela nos ajuda portanto, a viver com sobriedade e nos prepara pela gratidão para receber os acréscimos de Deus.
"O que vivemos e o que queremos nos é dado pelo Senhor e, sendo dado por Ele, é o que precisamos e o que nos basta" (Escritos Shalom 12, Pobreza).
Pesquisar os produtos de acordo com o seu perfil e necessidades com prudência
Outra coisa que ajuda bastante na hora de adquirir um produto é saber, de acordo com seu perfil profissional e uso pessoal se o que você está comprando atende suas reais necessidades. Por exemplo: uma pessoa que trabalha na área jurídica talvez não necessite de um notebook gamer com placa de vídeo dedicada e 1tb de memória. Ou um celular de última geração com gravação de vídeos em 8k, sendo que nem existem muitos monitores e aparelhos capazes de reproduzir tais vídeos.
Muitas pessoas hoje assinam canais de streaming mas não consomem nem 20% de seu conteúdo, o que mostra que é preciso reavaliar gastos desnecessários. Compre aquilo que realmente esteja na sua lista de prioridades e dê preferência aos produtos que oferecem boas garantias e maiores benefícios a longo prazo.
A prudência será a virtude que guiará nossa consciência em vista de discernir corretamente nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo (CIC 1806). Ela nos ajudará a tirar melhor proveito de cada coisa e nos auxiliará em nossa santificação pessoal fazendo-nos viver de forma responsável.
Informe-se sobre cada detalhe de seu produto ou serviço e exercite o dom da fortaleza
A ausência de informações é uma das grandes responsáveis pelo desperdício de recursos. Conhecer os próprios hábitos e o que eles representam em valores podem nos transformar de simples consumidores a consumidores conscientes. Novas soluções em tecnologia hoje possibilitam que você conheça seu real consumo de energia, água e internet e viabilize a cobrança uma justa e acertada, a partir de soluções de gestão racional dos seus recursos, produtos e serviços.
Procure dados sobre consumo de energia, possíveis trocas, garantia, ofertas na aquisição de um combo, veja vídeos demonstrativos, análises, reviews de produtos, unboxings, testes reais para avaliar a sua possível compra. Após essa maratona necessária, você já tem uma noção do que vai adquirir e como vai usar o que comprar, seja pela internet ou loja física. Fique atento também a cobrança de frete, formas de pagamento e prazo de entrega.
A constância na procura do bem e a graça de se manter seguro nas dificuldades são características do dom da fortaleza. Ela firma a resolução de resistir as tentações na hora de comprar qualquer coisa por impulso e nos torna capazes de vencer o medo, as decepções, as provações e se manter firme diante dos sacrifícios que realizamos em vista de um bem maior. (CIC 1808)
Fique de olho no tempo de uso e manutenção: o dom da temperança
Muitos produtos hoje em dia vem com aquilo que os especialistas chamam de obsolescência programada. Ou seja, muitos produtos ligados a ciência e tecnologia hoje são programados para durar pouco, para serem substituídos após um curto prazo de utilização. Notebooks, monitores, celulares e relógios são alvos preferenciais das empresas por serem produtos de uso pessoal. São aparelhos que necessitam de cuidado e manutenção constantes, e a cada ano eles são substituídos rapidamente por outros mais rápidos, maiores e mais potentes.
Então fica a pergunta? Será mesmo que preciso de um celular de última geração, ou posso aguardar alguns meses até que eu possa encontrar um modelo com um valor razoável no mercado? Em média, a bateria de um celular leva dois anos até começar a apresentar quedas em seu ciclo de recargas. Isso se você for um heavy user, um usuário pesado de seu aparelho. A dica então é estar atento ao consumo de energia e fazer uma limpeza constante na memória e no seu armazenamento.
A virtude da temperança irá nos ajudar a equilibrar o uso dos bens criados e moderar nossa atração pelos prazeres criados para suprir nossas inúmeras necessidades. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade (CIC 1809).
Verifique se a empresa realiza vantagens na troca por um novo na hora do descarte e como ela lida com a reciclagem e reutilização dos produtos, pois o reaproveitamento de matérias primas hoje é prioridade nas grandes companhias.
Dê um feedback sobre o uso do que você comprou, faça uma avaliação justa e mostre as pessoas de que forma seu equipamento ou seus aparelhos tem lhe ajudado na sua rotina. É preciso também comentar e cobrar das empresas sobre os valores ofertados e como podemos garantir que mais pessoas tenham acesso a esses recursos. Colabore com as empresas e seja coerente com os seus valores. É preciso agir de forma coletiva para que não seja reproduzida a lógica de uma produção e consumo que nos escravizem.
"Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de todo coração, de toda alma e em toda forma de agir. Dedicar-lhe um amor integral (pela temperança) que nenhum infortúnio poderá abalar (o que depende da fortaleza), que obedece exclusivamente a Ele (e nisso consiste a justiça), que vela para discernir todas as coisas com receio de deixar-se surpreender pelo ardil e pela mentira (e isto é a prudência) – Santo Agostinho.
Fonte: https://comshalom.org/o-consumo-de-tecnologia-de-forma-consciente-e-a-vivencia-das-virtudes-cardeais/
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