A ressurreição de Jesus que estamos vivenciando nesse tempo na Igreja é a oportunidade para meditarmos também sobre nossa ressurreição. Porque há uma ressurreição do coração que somos chamados a fazer todos os dias, e Cristo é a inspiração cristã e o modelo a ser seguido.
São Paulo escreve sua carta aos romanos exortando a comunidade a viver uma vida completamente diferente a partir da experiência com o Cristo Vivo, "como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, vivamos uma vida nova" (Rm 6,4). Essa ressurreição não é aquela definitiva que acontecerá no final dos tempos, mas aquela que acontece todos os dias. É o que São Leão Magno chama de "ressurreição do coração". Uma transformação dia após dia, com atitudes novas, um novo modo de pensar, de agir.
Renovação através da ressurreição
É muito mais do que apenas acreditar na ressurreição de Jesus, mas é viver de maneira concreta, é permitir que Jesus ressuscitado seja a vida onde havia morte, esperança onde havia desespero, fé onde havia fracasso, alegria onde imperava a tristeza. Deixar o modo velho de agir, com os rancores, as murmurações, o pessimismo, o ódio, os ressentimentos, a tristeza. Em outras palavras, deixar o pecado e aceitar uma nova forma de vida: a novidade trazida por Jesus, pela sua Páscoa.
A ressurreição de Jesus nos dá a oportunidade de uma renovação. Sacramentalmente, falamos de uma renovação das nossas promessas batismais que fazemos na Vigília Pascal dentro da celebração da Santa Missa, no qual renunciamos a Satanás e as suas obras, e professamos nossa fé na Trindade e na Igreja, que nos oferece os sacramentos da salvação. Mas essa renovação também pode ser entendida como um firme desejo em deixar os vícios e se entregar à graça de Deus, renunciar às exigências insaciáveis do nosso homem velho com tendência ao erro e as escolhas erradas, sedento de prazer e de satisfações que querem nos levar para longe da vontade de Deus.
A mudança proposta pelo tempo de ressurreição
A mudança proposta pelo tempo de ressurreição é de caminhar na novidade de vida, deixar os maus hábitos para trás, crucificar a maneira velha de pensar e agir, aceitar a proposta pregada por Jesus durante sua vida terrena: "Amar os inimigos, rezar pelos que nos perseguem; dar a quem nos pede, perdoar quem nos ofende, visitar, oferecer, alimentar, saciar…" (Cf. Mt 6 e 25,31ss). É tempo de alegrar-se com os felizes, entristecer-se com quem chora, acolher os fracos na fé, amparar os infelizes, levantar os prostrados, não ser arrogante nem querer a justiça com a própria medida.
Porque Jesus não veio mudar a sociedade criando novas leis, instaurando um reino terreno, implantar um sistema político, revolucionar o mundo pela violência, em outras palavras, Ele não veio mudar o mundo, Ele veio mudar o coração das pessoas, veio instaurar um novo modo de ser, de agir do homem. Veio ensinar o amor recíproco, a partilha dos dons e dos bens, a acolhida do diferente e a estima ao igual, o jeito novo de olhar ao redor e a gratidão pelo que se tem.
Transformação do coração e transformação do mundo
Somos chamados, neste tempo, a renovar a missão de Jesus, ser testemunhas do seu amor pela aceitação da ressurreição do nosso coração que tende ao esfriamento e à distância do amor e da misericórdia, chamados a sermos sinais visíveis da verdade e justiça, a sermos homens livres, gerados pelo Espírito Santo e cantores da esperança, chamados, a partir de um compromisso coerente com a ressurreição, a fazer ressurgir homens e mulheres que desejam o bem e que amem a Jesus.
A maior prova da ressurreição não é o sepulcro vazio, mas o coração transformado pelo ressuscitado, só assim poderemos transformar o mundo!
Padre Gevanildo
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