30 de setembro de 2022

Virgem Maria, a toda pequena


Um dos conselhos deste ano para a Comunidade é entrarmos na procissão com Nossa Senhora que na pequenez mostra o caminho seguro que é o próprio filho, Jesus Cristo.

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Todos os anos o Conselho Geral da Comunidade Católica Shalom reúne-se em retiro para ouvir o Senhor e assim discernir a sua vontade para a Comunidade e, por meio de inspirações proféticas, Deus instrui, santifica, direciona e alimenta os membros da Comunidade no caminho missionário.

No ano de 2021 fomos visitados por uma imagem que muito nos impressionou:

"A imagem era a do Esposo Eucarístico saindo da capela da Diaconia (…) e formando atrás Dele uma grande procissão (…) Atrás de Jesus Eucarístico, Nossa Senhora toda pequena – continuamente essa imagem foi nos acompanhando durante o retiro de escuta -, com o seu manto cobrindo toda aquela procissão, todo aquele povo, uma multidão cheia de alegria e de júbilo."

Neste artigo desejamos dar algumas luzes para a meditação e aprofundamento desta imagem e de forma especial da maneira a qual Nossa Senhora apresentou-se a nós: a toda pequena!

A Pequena que conhece o caminho do Céu

Na imagem da procissão Maria está a um passo atrás de Jesus Eucarístico e o povo numeroso, composto por celibatários, sacerdotes, famílias, jovens, crianças, feridos, sãos … O seguem, rumo ao Pai. Um detalhe importante é que Maria, a toda pequena, a menor, está à frente de todo o povo. Podemos pensar: como é possível uma criatura tão pequena, até escondida estar nesse lugar? Ela não poderia "desaparecer" entre a multidão? Ela não tornaria imperceptível diante de tanto movimento?

Detalhe: Nossa Senhora "Toda Pequena"

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Para entendermos essa aparente contradição é preciso entrar na mentalidade evangélica. Da boa nova ministrada aos pobres, que retira do lixo o indigente e faz o pobre assentar-se entre os nobres (cf. Sl 113,8), que não se preocupa com o amanhã, mas confia inteiramente no Pai (cf. Mt 6, 36), que com alegria não se apega a sua condição, mas despoja-se de si (cf. Fl 2, 7), que exulta em saber que os grandes segredos do Pai foram revelados aos menores (cf. Lc 10, 21).

Essa procissão tem uma rota clara e bem definida: Jesus passa pelo mundo redimindo toda a humanidade e caminha em direção ao Céu, para o Pai e com Ele estamos nós:

"O Filho (…) está saindo deste mundo e redimindo toda a humanidade e erguendo-a ao Pai, levando-a para o Pai, introduzindo todo o povo que participa da procissão aos quatro cantos da terra."

Somos levados para o Pai, para o seu Reino, para a Vida Eterna mas, para adentrar na casa do Pai, Jesus dá orientações bem concretas, às vezes é bem enfático: "Filhos, como é difícil entrar no Reino dos Céus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!" (Mc 10, 25). Neste caminho árduo da porta estreita é necessário empobrecer-se, pois se é impossível ao rico entrar no Reino dos Céu, Deus precisa fazê-lo pobre e pequeno.

"Bem- aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos Céus" (Mt 5,3), aos pequeninos, aos últimos, às crianças (cf. Mt 19, 14) pertence o Reino do Céu. A muitos santos o Senhor revelou esse caminho, que é capaz de conquistar o seu amoroso coração. Maria, a toda pequena e a mãe dos pequenos, caminha à frente nessa procissão, pois ela por excelência conheceu, experimentou e encarnou esse caminho de pequenez, que conduz ao Pai e lhe dá a posse do Reino dos Céus.

Seguindo os passos da Pequena

Vamos! Vamos! Rumo ao Céu seguindo os passos da Pequena, que como aurora aponta o Dia que vai chegando! Como São Bernando queremos invocar a proteção de Maria e aproveitar bem o benefício da sua oração. Para isso, é preciso "que não esqueças que tu deves caminhar sobre os passos de Maria".

Maria, jovem de uma pequena aldeia, de uma vida simples, na sua humildade atraiu o olhar do Todo Poderoso, Santa Elisabeth da Trindade ao falar de Maria no mistério da Encarnação afirma: "Conservava-se tão pequena, tão recolhida diante de Deus, no segredo do Templo, que atraiu sobre si as complacências da Santíssima Trindade". Ela toda escondida em Deus, na sua felicidade de criatura amada, pacificada em sua condição limitada, iluminada pela Verdade, inflamada pela Caridade, que é a face da humildade, foi olhada pelo Pai que "ao inclinar-se sobre esta criatura tão bela e tão indiferente à própria beleza" a fez mãe do seu próprio Filho.

A cheia de graça, Aquela que encontrou graça junto de Deus, admirada pelos anjos, amada de forma única por Deus, casa de ouro, de honras e elogios incalculáveis, mas que encontrou-se a humildade tão perfeita que nunca teve que reprimir o menor movimento de orgulho ou de vaidade. Na Encarnação disse ser a serva do Senhor e no Magnificat dá graças ao Altíssimo que se dignou olhar para a sua ínfima condição, trabalhou de maneira escondida e simples, na perfeita modéstia, na submissão à Lei.

Como é um disparate a humildade de Maria e o orgulho devastador dos degredados filhos de Eva. Quantas vezes somos capazes de perder tempo, como os discípulos discutindo quem é o maior? Fazemos exigência e às vezes pedimos até a quem amamos as glórias, podemos até perder o tempo da nossa oração e pedir a nossa Mãe que escolhamos o nosso lugar na glória (cf. Mt 20, 20-28). Quando a Virgem Maria escolheu de forma feliz os últimos lugares tão logo foi convidada para se aproximar do Rei, como na parábola da festa de casamento (Lc 14, 8 -9).

A via da humildade

Que Maria nos ensine a andar sob os passos da sua humildade, escolhendo o último lugar, aquele que não há disputa e que o Pai, no segredo, dá a recompensa que não passa. "O que Maria não pôde encontrar em si mesma, encontra naquele que é a soberana riqueza".

Maria consciente de sua pequenez e pobreza soube confiar em Deus, a sua soberania e grandeza não foi capaz de assustá-la, porque Ela não conservava no seu coração nenhuma glória mundana, somente a Glória de Deus! Por isso que um canto antigo elogia a Maria como aquela que para o homem clemência de Deus e do homem confiança em Deus.

Se no princípio "o homem preferiu a si mesmo a Deus" (Cf. Gn 3, 1-11) gerando a marca da desconfiança e do medo de Deus do pecado original, pelo caminho de abaixamento e humildade vivido por Cristo e seguido por Maria, é possível assumir a liberdade de confiar, sem restrições, em Alguém que é infinitamente maior que a si mesmo!

A Pequena que nos socorre

O Padre Garrigou-Lagrange define que Maria, em sua pequenez torna-se uma criatura ao mesmo tempo tão elevada e tão acessível a todos, tão eficaz e tão doce para levantar a todos. Em muitas orações é dirigida a ela o título de aurora da manhã, pois como a luz que dissipa as trevas e orienta os pobres no caminho.

Na imagem da Revista Escuta ainda há um sinal muito importante: Maria, a toda pequena, um passo atrás de Jesus, traz um manto desproporcional, muito grande, dinâmico que cobre a humanidade toda. Ela que sabe o caminho da procissão nos auxilia e protege em vista da conversão e da santificação.

Detalhe – Esposo Eucarístico, o mesmo que se encontra na Capela da Diaconia Geral

Neste caminho rumo ao Pai, Maria vem ao nosso socorro como a saúde dos enfermos, quantos testemunhos podemos dar das inumeráveis e providenciais curas ao longo da história obtidas por sua intercessão, e não somente para a cura dos corpos, mas também para trazer remédio às enfermidades da alma. Também a invocamos como refúgio dos pecadores, porque é sua mãe santíssima que detesta o pecado, mas acolhe e exorta seus filhos ao arrependimento, ajuda a libertar-se dos maus hábitos e a ter a reconciliação com Deus, como nas suas aparições (Fátima, Lourdes) ela insiste ao mundo o caminho da a conversão.

Maria, a pequena, é também a consoladora dos aflitos, pois "Não somente consola os pobres pelo exemplo de sua pobreza e pelo seu socorro, mas é particularmente atenta à nossa pobreza oculta; compreende a penúria secreta de nosso coração e assiste-nos". A Virgem Maria é também o auxílio dos cristãos, quantos testemunhos podemos dar que uma simples e pequena oração da Ave-Maria capaz de salvar, uma oração dos pequenos que cabe em qualquer lugar, que pode sair de quaisquer lábios e transformar qualquer situação.

Peçamos junto com Santo Ambrósio "Que a alma de Maria esteja em nós para glorificar o Senhor; que o espírito de Maria esteja em nós para exultar de alegria em Deus, nosso Salvador, para que seu reina venha a nós pelo cumprimento da sua vontade".

Vamos conhecer mais sobre a Mãe de Deus? 

A Virgem Maria" é o novo volume da Série Philippos. De autoria de Ana Paula Gomes, missionária da Comunidade de Vida Shalom, a obra pode ser considerada um pequeno manual de doutrina sobre a Mãe de Deus.  



Mariana Daros
Consagrada Comunidade de Vida
Assistência de Formação/ Pastoreio


Fonte: https://comshalom.org/virgem-maria-a-toda-pequena/


26 de setembro de 2022

Quando nos calamos, Deus se mostra e fala conosco

Estamos em um mundo marcado por muitos avanços científicos e tecnológicos, em que o ser humano tem ficado esquecido. As pessoas nunca têm tempo; mesmo os que não têm grandes responsabilidades sobre suas costas estão sempre entretidos com alguma coisa, todo mundo corre, quase ninguém para, e as pessoas já não sabem mais ouvir Deus.

Com a imprensa, o rádio, a televisão e a internet, a quantidade de informações descarregadas sobre cada um de nós é alucinante; em toda parte, há muito barulho, todo mundo fala, e o ouvido vai ficar calejado. Fala-se muito de coisas que nos cercam e muito pouco do que está dentro do nosso coração. A verdade é que "desaprendemos" a arte de escutar. Se não conseguimos dar ouvidos à pessoa que está perto de nós, a quem vemos e tocamos, como poderemos escutar Deus, cuja voz não impressiona os tímpanos?

Se um homem deixa o barulho e a agitação do mundo para procurar, no silêncio, o seu descanso, Deus se manifesta para ele. O Senhor prefere mostrar-se na suavidade da brisa a mostrar-se no estardalhaço do trovão.

O silêncio na oração

Na oração, Deus fala, escuta, Ele tem o que dizer a nós. Ele é o Absoluto, e, quando se manifesta, a melhor oração que podemos fazer é nos calar. Quando o homem cala, Deus fala.

Crédito: Pra-chid by GettyImages / cancaonova.com


Assim, em nossa oração, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance, para nos colocarmos na presença de Deus, que já estava ali à nossa espera. Quando percebemos que nos aproximamos do Senhor e estamos diante d'Ele, devemos calar, porque as palavras já não são necessárias; então, podemos contemplar e ser contemplados.

Não temos ideia do quanto Deus nos cura e liberta, neste momento de silêncio, quando só o amor transita.

Exemplo de Nossa Senhora

Ninguém mais que Nossa Senhora ouviu Deus, porque ninguém tanto quanto Ela se calou. Muitos acham que a Virgem Maria não é importante, pois as Sagradas Escrituras mostram que Ela quase não se pronunciou. Não percebem que é justamente aí que reside a importância dela. Quando ninguém deu lugar a seu Filho para nascer, Ela se calou; entre os doutores e diante da cruz, Ela também se calou. Ela sabia que a vitória que temos sobre o sofrimento está no silêncio.

Quem se cala ante o sofrimento, guarda-se só para Deus o perfume desse sacrifício; quem fala, dissipa-o. Nossa Senhora falou pouco, mas, quando abriu a boca, a criação estremeceu.

Que o Espírito Santo nos coloque no coração o desejo de guardar o silêncio sagrado, o mesmo que Maria honrou e guardou, tornando-se a mestra, a educadora de todos os que, de longe, perceberam a profundidade desse mistério, e agora anseiam por penetrá-lo!

Dê-nos, ó Senhor, um anjo para nos guardar nesse bom propósito.

Artigo extraído do livro: 'Quando só Deus é a resposta'



Márcio Mendes

Nascido em Brasília, em 1974, Márcio Mendes é casado e pai de dois filhos. Ex-cadete da Academia da Força Área Brasileira, Mendes é missionário da Comunidade Canção Nova, desde 1994, onde atua em áreas ligadas à comunicação. Teólogo, é autor de vários livros publicados pela Editora Canção Nova, dentre eles '30 minutos para mudar o seu dia', um poderoso instrumento de Deus na vida de centenas de milhares de pessoas.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/quando-nos-calamos-deus-se-mostra-e-fala-conosco/

19 de setembro de 2022

Quem são e como foram criados os santos anjos do Senhor?

A existência dos anjos é dogma de fé confirmado por vários Concílios, pela Sagrada Escritura e pela Tradição da Igreja que os apresenta nos escritos dos Santos Padres e dos Santos doutores.
O primeiro Concílio Ecumênico, que confirmou a existência dos seres espirituais, foi o de Nicéia, em 325, quando fala "dos seres invisíveis" criados por Deus.

O Magistério da Igreja confirmou a realidade dos anjos no Concílio de Latrão IV (1215), ao declarar contra o dualismo dos hereges cátaros: "Deus é o Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis, espirituais e corporais; por sua onipotência, no início do tempo, criou igualmente, do nada, as criaturas espirituais e corporais, isto é, o mundo dos anjos e o mundo terrestre; em seguida criou o homem, que, de certo modo, compreende umas e outras, pois consta de espírito e corpo. O diabo e os outros demônios foram por Deus criados bons, mas por livre iniciativa tornaram-se maus. O homem pecou por sugestão do diabo" (DS 800 [428]).

São Paulo ensinava em sua primeira Carta aos fiéis de Colossos: "Nele, foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e invisíveis, Tronos, Dominações (ou Soberanias), Principados, Potestades (ou Autoridades): tudo foi criado por Ele e para Ele" (Cl 1, 16).

Créditos: KavalenkavaVolha by Getty Images/cancaonova.com

Catecismo da Igreja

O Catecismo da Igreja afirma, sem hesitação, a existência dos anjos: "A existência dos seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura, chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição" (§ 328).
O Papa Pio XII, na sua encíclica Humani Generis (1959), reafirmou que os anjos são "criaturas pessoais", dotadas de inteligência sagaz e vontade livre (DS 3891).

Anjos dos pequeninos!

São Gregório Magno, doutor da Igreja (540-604), dizia que "cada página da Revelação escrita atesta a existência dos Anjos". A presença e a ação dos anjos bons e maus estão a tal ponto inseridas na história da salvação, na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, que não podemos negar a sua existência e ação, sem destruir a Revelação de Deus. Eles são mencionados mais de 300 vezes na Bíblia.

O Catecismo lembra que "Cristo é o centro do mundo angélico" (§ 331). Eles pertencem a Cristo porque são criados por Ele e para Ele, como disse São Paulo (cf.Cl 1, 16). O Catecismo nos ensina ainda que: "Ainda aqui, na terra, a vida cristã participa, na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus" (§ 336).
Os anjos são servidores e mensageiros de Deus, como diz o salmista: poderosos executores da sua palavra, obedientes ao som da sua palavra (Sl 103,20).

Jesus disse que os anjos dos pequeninos contemplam, "constantemente, a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), e a Igreja viu aí uma alusão ao Anjo da Guarda, guardião do corpo e da alma dos homens, cuja Festa celebra, liturgicamente, no dia 2 de outubro, desde o século XVI, universalizada pelo Papa Paulo V, depois que Leão X, em 1508, aprovou o ofício composto por João Colombi.

Muitas coisas São Tomás deixou escritas sobre os anjos. Também Santo Agostinho e outros santos doutores.
Santo Agostinho afirmou que: "Só conheceremos a natureza dos anjos de modo perfeitamente claro, quando estivermos, para sempre, unidos a eles na posse da bem-aventurança eterna" (Enchiridion, cap. 58).

Criação dos anjos

Para São Tomás, a criação dos anjos, os seres que mais se assemelham a Deus (puros espíritos), é necessária para a perfeição do universo. Os anjos possuem o intelecto superior ao dos homens, que, neste caso, depende dos sentidos. Para o anjo, o intelecto puro pode compreender as realidades sem a necessidade dos sentidos. Em outras palavras, o anjo pode intuir, conhecer, sem precisar raciocinar.

Sobre essa maneira de conhecer as realidades, São Tomás ensina que: "O intelecto angélico é um verdadeiro quadro pintado ou melhor ainda, um espelho vivo que o anjo precisa apenas contemplar para conhecer as coisas naturais deste mundo" (De Veritate, questão 8, e 9). Os Concílios de Latrão IV e Vaticano I afirmaram que: "Deus, com sua virtude onipotente, no início dos tempos, simultânea e igualmente, criou uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a material e depois a humana; esta, composta de espírito e de corpo".

O que eles podem fazer?

Os anjos, por seu intelecto muito mais perfeito do que o nosso, podem prever certos acontecimentos futuros que dependem de leis físicas, que eles conhecem; é o que ensina São Tomás. Podem mesmo prever acontecimentos que dependem de leis naturais, como os fenômenos meteorológicos, mortes, destruições de cidades, fome, epidemias, etc. Isto não quer dizer que o anjo seja onisciente (sabe tudo); é apenas fruto do entendimento mais penetrante que ele tem das coisas; mas não pode pressupor um acontecimento imprevisível.

O mesmo se pode dizer dos demônios. Eles só podem conhecer os fatos futuros desde que as causas que o determinam existam e não possam ser impedidas por outras, ou provocadas por ações de vontades livres.
São Tomás afirma que só por uma revelação especial de Deus os anjos podem conhecer o futuro que dependa de uma vontade livre ou de uma causa fortuita (causa que não depende de leis naturais).

Segundo São Basílio Magno, doutor da Igreja (330-369): "Os anjos não foram criados como crianças imperfeitas, que aos poucos foram se aperfeiçoando pelo exercício, de tal forma que se fizeram dignos e receber o Espírito Santo. Ao contrário, desde o primeiro instante de sua existência, juntamente e em conjunto com a sua substância, receberam a santidade, isto é, a Graça Santificante (In Psalm., homilia 32,4).criados?

Anjos de Deus!

Santo Agostinho diz que: "Deus criou os anjos dando-lhes a natureza e infundindo-lhes ao mesmo tempo a Graça" (A Cidade de Deus; lv.XII, 9,9). São Tomás, sobre a perfeição dos anjos, ensina na Questão LXII da sua Suma Teológica, entre outras coisas que: "O anjo, tão logo realizou o primeiro ato de caridade (amor a Deus), mereceu a bem-aventurança e tornou-se, imediatamente, bem-aventurado" (Art. V). "É razoável supor-se que os anjos receberam os dons da Graça e a perfeição da bem-aventurança, de acordo com o grau de sua perfeição natural" (Art.VI ). "Os anjos bem-aventurados não podem pecar" (Art. VIII). "Os anjos bem-aventurados não podem aumentar o merecimento nem progredir, quando já na bem-aventurança" (Art.IX).

Com relação ao lugar onde o anjo se encontra, São Tomás ensina, na Questão III da Suma Teológica, o seguinte: "Os anjos não estão em um lugar, tal como os corpos, isto é, de uma maneira própria e circunscritiva, mas de uma maneira que transcende o lugar" (Art. I).

A Igreja conhece o nome dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, cuja festa litúrgica é no dia 29 de setembro.
Os Anjos participaram ativamente na vida de Jesus, desde o anúncio de sua concepção no seio da Virgem Maria até a sua Ascensão ao Céu. E Cristo voltará com eles em sua glória no fim da História.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/quem-sao-e-como-foram-criados-os-santos-anjos-do-senhor/

16 de setembro de 2022

Se você quer que Deus o escute, ouça-o primeiro

A maioria das pessoas acredita em coincidência, mas a vida foi me mostrando que nada é por acaso, que não cai um fio de cabelo sem que Deus o saiba. Não tenho dúvidas de que este texto é para você; e uma coisa é certa: foi o próprio Jesus quem o colocou em suas mãos, porque o ama e se interessa por você.

Há algumas coisas que Deus quer que você saiba. Ele o tem visto ocupado, com a cabeça sempre cheia; também o tem visto, algumas vezes, triste e cansado. Por isso, Ele quer falar com você.

As coisas podem ser diferentes. Pode ser que, muitas vezes, você tenha dificuldade em escutá-Lo e acabe acreditando que Ele não ouve as suas orações. O Senhor, no entanto, tem coisas para lhe falar, perguntas para responder. Ele também quer escutar você.

Créditos: kieferpix by Getty Images/cancaonova.com

Pare e escute

Se você quer que Deus o escute, então, procure ouvi-Lo primeiro.

O Senhor quer fazer mais do que ouvir, Ele quer lhe dar uma prova do que pode fazer em seu favor, quer abastecê-lo com Sua graça. Esteja preparado porque o que Deus tem para você vai além do que imagina! Antes mesmo de terminar esta página, você já terá feito uma experiência que superará suas expectativas.

Deus é bom, e o que Ele tem para você é maravilhoso! Deixe que Ele lhe mostre!


Amor misericordioso

Não se trata de aprender mais coisas, e sim de fazer uma experiência. Você vai experimentar Deus! De uma maneira diferente, mas muito concreta, você vai tocar o Senhor. Experimentará o que muitos chamam de poder de Deus e que eu chamo de "Amor misericordioso do Senhor, que atua salvando e curando" todos os que d'Ele precisam.

Deus pode tudo! É Ele quem virá ao seu encontro. O que digo, não digo por mim mesmo; foi o próprio Senhor quem nos assegurou: "Eu vos darei um coração novo e um espírito novo". Ele está disposto a lhe fazer isso, hoje.

Eu tenho a certeza de que Ele não falhará com você. Acredito que sua vida jamais será a mesma depois de tê-lo deixado agir em seu coração. Não se preocupe! Você verá como Jesus tem o poder de libertá-lo de toda tristeza, do sentimento de vazio e devolver o sentido à vida dos que o buscam com fé.

Eu mesmo experimentei e tenho visto isso se realizar na vida de tantas pessoas. Uma vida completamente diferente, mais rica e mais feliz. É o que o espera, é o que Senhor tem para você.



Márcio Mendes

Nascido em Brasília, em 1974, Márcio Mendes é casado e pai de dois filhos. Ex-cadete da Academia da Força Área Brasileira, Mendes é missionário da Comunidade Canção Nova, desde 1994, onde atua em áreas ligadas à comunicação. Teólogo, é autor de vários livros publicados pela Editora Canção Nova, dentre eles '30 minutos para mudar o seu dia', um poderoso instrumento de Deus na vida de centenas de milhares de pessoas.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/se-voce-quer-que-deus-o-escute-ouca-o-primeiro/

14 de setembro de 2022

Saiba quais são as etapas para o entendimento bíblico

"Concedei a vosso servo esta graça: que eu viva guardando vossas palavras" (Salmo 118,17).

Segundo o documento da Comissão Pontifícia Bíblica: A interpretação da Bíblia na Igreja, ainda que os estudiosos bíblicos tenham a função de interpretar as Sagradas Escrituras, esse trabalho não compete somente a eles, pois a leitura e a vivência dos textos bíblicos vão além das análises acadêmicas, já que os Livros Sagrados não são apenas um conjunto de livros históricos, mas a Palavra de Deus.

E essa Palavra se torna atual e responde aos questionamentos e angústias do homem pós-contemporâneo. Por isso, a leitura e o estudo bíblico devem ser feitos por todos, uma vez que proporcionam uma experiência de fé prática e atual. Mas também é preciso tomar certos cuidados e ter critérios na leitura e na interpretação desses textos, para que não haja o risco de uma interpretação desvinculada e sem compromisso com a Tradição e com o Magistério da Igreja, pois ambos garantem um entendimento seguro das Sagradas Escrituras, ao longo da história de fé do Povo de Deus.

Louve a Deus

Para isso, torna-se necessário tratar de algumas questões ligadas à exegese e à hermenêutica bíblicas. Mas não é preciso espanto, pois essas palavras [exegese e hermenêutica] estão mais presentes na prática bíblica do que se possa imaginar. E também não se trata aqui de um estudo científico, pois o uso dessa linguagem é para mostrar as etapas necessárias para um correto entendimento da Bíblia.

Créditos: Sakorn Sukkasemsakorn by Getty Images / cancaonova.com

Comecemos, então, pela definição desses termos: exegese é uma palavra que vem do grego e significa explicação ou explanação. É a arte de expor, de trazer para fora o sentido de um determinado texto. É um conjunto de técnicas e ferramentas utilizadas para entender e descobrir o significado de um texto. Hermenêutica já diz respeito à interpretação do que está escrito. É a apropriação que se faz do entendimento do texto para aplicá-lo no dia a dia.


Catecismo da Igreja Católica

Mas existe no meio do caminho, entre a exegese e a hermenêutica, um filtro. E que filtro é esse? A Doutrina da Igreja apresentada por meio do Catecismo da Igreja Católica. Esse procedimento de filtrar o estudo bíblico serve basicamente para duas coisas: não permitir os exageros e também para ampliar a interpretação, quando essa é muito limitada. E, em geral, ele amplia muito mais do que reduz as interpretações, uma vez que são apresentadas outras possibilidades de entendimento do texto que talvez não tenham sido contempladas no estudo.

É como o antigo filtro de barro muito usado, especialmente, nas cidades pequenas e nas zonas rurais. Esse utensílio doméstico não é feito para reter a água, mas para purificá-la. Do mesmo modo, o filtro da Doutrina da Igreja não retém a nossa leitura bíblica, mas a deixa livre de impurezas que, porventura, possam ter surgido durante o momento de estudo [da Palavra de Deus]. Além disso, o filtro de barro possui a capacidade de deixar a água sempre fresca e pronta para ser consumida. Igualmente, faz o filtro da Doutrina atualizando para nossos dias aquilo que lemos e interpretamos nas Sagradas Escrituras e deixando a mensagem bíblica pronta para saborearmos e utilizarmos no cotidiano.

Três etapas

Que se sigam essas três etapas para o entendimento bíblico: estudar com atenção, trazendo à tona o máximo de informações possíveis para um conhecimento mais aprofundado do texto bíblico; passar esse conteúdo pelo filtro da Doutrina, a fim de purificar e atualizar o conteúdo; e aplicar a Palavra de Deus na própria vida.

Ler superficialmente o texto das Sagradas Escrituras, sem um mínimo de contextualização e sem consultar a Igreja, nos faz correr o risco de uma aplicação equivocada dele, podendo causar danos a nós mesmos e àqueles a quem o transmitimos. Daí a importância desses três momentos: estudo mais cuidadoso (exegese); filtro da Doutrina (Catecismo); interpretação e aplicação no dia a dia (hermenêutica).



Denis Duarte

Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

Site: www.denisduarte.com
Instagram: @denisduarte_com
Facebook: facebook/aprofundamento


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/saiba-quais-sao-as-etapas-para-o-entendimento-biblico/

12 de setembro de 2022

Bem me quer, mal me quer

Estive observando a luta que se trava entre o bem e o mal, que naturalmente trazemos em nosso interior. Não sei se você já viveu a experiência de falar algo bom e ser compreendido como uma ofensa… Inclusive, é uma experiência nada boa!

Vivendo-a esses dias, fiz o esforço de não parar na decepção, tentando entender o porquê de tal interpretação. Lembrei-me daquela frase tão conhecida: "para os puros de coração todas as coisas são puras". De forma que Deus me fez pensar na história desta pessoa e, assim, pude perceber quantas dores, decepções e até feridas ela trazia em sua alma. Fui tomada por um sentimento de misericórdia e compaixão.

O bem tem de vencer!

Mas lembrei-me também de Santa Teresa D'Ávila, que diz: "Quero que prestes muita atenção, a fim de que o demônio e tua fraca inteligência não te façam obrigar outras pessoas a viver como tu vives". Ou seja, o respeito para com o outro é muito importante aos olhos de Deus e faz bem ao coração. Nem tudo o que pensamos vale a pena ser dito. E as dores e feridas de nossa alma não podem ser o canal por onde passam nossas palavras. Na luta entre o bem e o mal, o bem tem de vencer, pois somos filhos daquele que venceu toda maldade.

Créditos: by Getty Images / Sedan504 /cancaonova.com


Talvez, hoje, seja um ótimo dia para pensarmos por onde as nossas palavras têm passado, antes de serem expressas… Peço a Deus que Ele fale sempre por mim e que minhas palavras não passem por minhas misérias, e sim por seu coração misericordioso.

Se você quiser, pode fazer agora esse mesmo pedido!

 



Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Djanira reside na missão de São Paulo, onde atua nos meios de comunicação. Diariamente, apresenta programas na Rádio América CN.  De segunda a sexta-feira (exceto quinta-feira), está à frente do programa "Florescer", que apresenta às 14h40 na TV Canção Nova. É colunista desde 2000 do portal cancaonova.com. Também é autora de livros publicados pela Editora Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-interior/bem-me-quer-mal-me-quer/

8 de setembro de 2022

Tarefas domésticas e filhos: como inseri-los nesta rotina?

O desenvolvimento dos filhos passa por diversas etapas: desde o crescimento e maturação física até a maturação emocional, mas, no campo emocional, o que isso significa?

Um criança para crescer de forma saudável, no campo emocional, precisa crescer em aspectos, tais como: responsabilidade, pontualidade, organização, senso de direção, autonomia, planejamento de tarefas, senso de dever. Soma-se a isso o controle das emoções, a percepção de que se vive em grupos e, para tanto, precisa saber dividir as tarefas e responsabilidades, e que sua falta de cuidados com o ambiente pode afetar outras pessoas.

O que para muitos pais é um desafio – atribuir tarefas domésticas para os filhos –, na verdade, deve entrar na vida das crianças como algo normal a ser feito e assumido. Até mesmo nos lares, que contam com auxiliares para manutenção da casa, o hábito de zelar deve também ser dado às crianças desde cedo.

Crédito: SolStock by GettyImages/cancaonova.com

Queixa dos pais!

A grande queixa dos pais de adolescentes, e até adultos, é que eles não fazem nada em casa, não colaboram, deixam os ambientes bagunçados. Mas para que isso aconteça menos, é importantíssimo que, desde pequenas, as crianças sejam orientadas e encorajadas a assumir responsabilidades que iniciam desde as mais simples, como arrumar seus brinquedos.

o podemos ter medo de que as crianças respondam por tarefas, isso exige um pouco mais de atenção, direcionamento e atenção dos pais, uma vez queo os pais quem conduzirão este aprendizado com os filhos. Respeitando os limites de idade, cada um pode assumir tarefas das mais variadas.

Entenda o método montessoriano de educação

O método montessoriano de educação sugere alguns tipos de atividade para cada faixa etária, assim descritos:

  • 2 anos: pequenas e fáceis tarefas como organizar os brinquedos, com suporte dos pais, que, ao dar exemplo, contribuem para essa habilidade com os filhos. A criança já pode pegar algo que caiu no chão, ajudar a alimentar animais de estimação.
  • 3 a 4 anos: pode ajudar a arrumar o quarto, sua cama, ajudar com animais de estimação, organizar objetos da casa, colocar seu prato sujo na pia, guardar sapatos, colocar roupas sujas no cesto, enfim, colocar coisas em lugares certos. Tudo isso com supervisão e orientação. Vale lembrar que é uma ótima fase de aprendizado, onde as crianças imitam adultos e gostam de colaborar.
  • 5 a 7 anos: nesta fase da vida, a criança compreende melhor as noções de responsabilidade e cuidado. Pode, então, ajudar nos cuidados da higiene da casa, dobrar roupas, regar plantar, ajudar com as louças.
  • Acima de 8 anos: por ter maior habilidade motora, a criança é capaz de desempenhar outras funções sem que derrube e quebre objetos, podendo, portanto, pode colaborar com a organização das refeições, ajudar nas compras do mercado, limpar seu quarto, ajudar a cuidar de um animal de estimação e até mesmo ajudar no cuidado com irmãos mais novos.


Incentivar as crianças!

Todas as tarefas assumidas pelas crianças fazem parte de sua socialização, portanto, mesmo que elas não façam certo da primeira vez, incentive a ação, elogie o que foi feito, ensine novamente. Não há outra forma de aprendizagem queo pelo exemplo, pela repetição, pelo incentivo e seguindo ao lado do seu filho para que ele possa repetir, tentar, errar e acertar.

Nossos dias são corridos e cheios de atividade, é fato. Nem sempre temos toda a paciência do mundo para tal repetição e acabamos que, para economizar o tempo, fazendo as atividades por nós mesmos, o queo ajuda a criança em nada!

Quanto mais cedo uma criança aprende a ajudar, mais isso se torna um hábito em sua vida. Essas atividades não precisam ser um fardo ou obrigação. Aliás, para as crianças, muitas atividades queo para nós tarefas domésticas, para elas são brincadeiras, são lúdicas e até mesmo uma imitação do que fazemos.

Quanto mais cedo a criança ajudar, tanto meninos quanto meninas, melhor é, pois, aos poucos, isso vai se tornando um hábito. Nem sempre tudo sairá do jeito que você espera, porém, o mais importante é a participação e o desenvolvimento de responsabilidade, da autoestima, da coordenação motora pouco a pouco.



Elaine Ribeiro dos Santos

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.


5 de setembro de 2022

Falta-nos a inteligência do amor

O primeiro código da senha que estamos procurando está claramente revelado: é o amor de um coração aberto, misericordioso, que escuta e acolhe. Mas como entender essa dinâmica do amor? Teria uma engrenagem racional? O amor é razoável ou é mesmo incompreensível? Existe uma lógica no amor ou ele é absurdo? Como esse gesto de revelar seu coração aberto na cruz pode ser uma ponte para a vida plena? Ou seria um poético dogma religioso que devemos simplesmente aceitar com resignação para satisfazer "o capricho dos deuses"? Passei muitos anos com essa inquietação em minha mente. A vida foi me ensinando a alquimia do amor. É paradoxal, mas funciona. "Tão contrário a si é o mesmo amor!".

Vou dar alguns exemplos. Alguns caçadores na África utilizam uma curiosa armadilha para pegar macacos. Colocam saborosas frutas em uma cumbuca com um pequeno furo, de modo que a mão entre aberta e não saia fechada. O curioso é que o macaco coloca a mão, pega as frutas e não consegue mais abrir. Assim fica preso e é pego sem dificuldade pelos caçadores. Por isso, diz o ditado com bom humor: "Macaco velho não põe a mão na cumbuca."

Você deve estar se questionando: "Mas que macaco burro! Por que não abriu a mão e ficou livre?!" Exatamente: o segredo seria abrir a mão! Os macacos não a abrem, porque não possuem reversibilidade, ou seja, a capacidade de pensar para trás e perguntar: por que estou preso? São movidos pelo instinto, que só anda para a frente em busca daquilo que pode lhe dar a vida. Na busca pelo alimento, acabam caindo na armadilha. Mais difícil de entender é por que nós teimamos em manter as mãos fechadas, os braços cruzados, a mente com ideias fixas em paradigmas ultrapassados, o coração preocupado apenas com seus sentimentos. Por que somos tão narcisistas e autorreferenciais? Por que nossos ouvidos nem sempre estão abertos para o clamor do próximo? Por que não escutamos as lágrimas da natureza agredida? Por que descuidamos dos sintomas de estresse e doenças que estão em nosso próprio corpo? Por que o orgulho não nos deixa sentir saudades de Deus e do Seu colo na prática de uma religião serena e saudável? São perguntas inquietantes.

Créditos: by Getty Images / JosuOzkaritz/cancaonova.com

Amor é abertura

A única resposta é que nos falta a inteligência do amor. Somos macacos presos na armadilha de nossas mãos fechadas. Se vivermos na dimensão da abertura, estaremos livres e felizes. Acho que não precisa explicar mais. Amar é abrir, e este é o primeiro código, o primeiro passo para ser feliz. Simples assim! Oremos.


Oração para pedir um coração aberto

Jesus, Bom Pastor, contemplamos Vosso coração aberto e solidário. Cantamos o Vosso louvor, porque nos acolhestes como amigos, e nos chamastes para partilhar da Vossa ternura.

Profetas da reconciliação e da paz, queremos promover a unidade, para que o mundo creia. Generosos no serviço, estamos dispostos a partilhar nossa vida com os pobres e sofredores.

Testemunhas do Vosso Reino, esforçamo-nos para curar a humanidade ferida com o bálsamo do Evangelho.

Confirmai em nós o dom recebido e associai-nos à Vossa entrega de amor, para a glória e alegria Daquele que nos amou primeiro. Amém.

Trecho extraído do livro "Os cinco segredos do amor", de padre Joãozinho, SCJ.



Padre Joãozinho, SCJ

Padre da Congregação do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), doutor em Teologia, diretor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP), músíco e autor de vários livros. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.

http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/falta-nos-a-inteligencia-do-amor/

2 de setembro de 2022

Por que dedicar o mês de setembro à Bíblia?

Este mês foi escolhido, porque o grande São Jerônimo, que traduziu a Bíblia do hebraico e grego para o latim, tem sua memória litúrgica celebrada no dia 30 de setembro. Ele foi secretário do grande Papa São Dâmaso (366-384), que o incumbiu dessa grande obra chamada "Vulgata", por ser usada em toda a parte.

São Jerônimo levou cerca de trinta e cinco anos fazendo essa tradução nas grutas de Belém, vivendo a oração e a penitência ao lado da gruta onde Jesus nasceu. O santo disse que "desconhecer as Escrituras é desconhecer o próprio Cristo". Ele nos deixou um legado de grande amor às Sagradas Escrituras. E possuía grande cultura literária e bíblica, sabia grego, latim e hebraico.

A Sagrada Escritura é alimento para a nossa alma e fonte de vida. Jesus conhecia profundamente a Bíblia. Mais do que isso: Ele a amava e se guiava por suas palavras. Isso é o suficiente para que todos nós façamos o mesmo. Na tentação do deserto, quando o demônio investiu contra o Senhor, Ele o rebateu com as palavras da Escritura. Quando o tentador pediu que Ele transformasse as pedras em pães para provar Sua filiação divina, Jesus lhe disse: "O homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor" (Dt 8,3c).

Por que dedicar o mês de setembro à Bíblia

Foto Ilustrativa: by Getty Images / freedom007/ cancaonova.com

A Bíblia não é um livro de ciência, mas sim de fé

Quando o tentador exigiu que Ele se jogasse do alto do templo, Jesus lhe respondeu: "Não provocareis o Senhor vosso Deus" (Dt 6,16a). E quando satanás tentou fazer com que Cristo o adorasse, ouviu mais uma vez a Palavra de Deus: "Temerás o Senhor, teu Deus, prestar-lhe-ás o teu culto e só jurarás pelo seu nome" (Dt 6,13). O demônio foi vencido e se afastou, porque não tem poder diante da Palavra de Deus.

Não é sem razão que São Pedro disse: "Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus" (2 Pd 1,20-21).

A Bíblia e o contexto brasileiro

A importância do mês da Bíblia é que o povo brasileiro a conheça melhor e seja motivado a estudá-la com mais profundidade, uma vez que não é fácil compreendê-la, especialmente o Antigo Testamento. A Bíblia não é um livro de ciência, mas sim de fé. Utilizando os mais diversos gêneros literários, ela narra acontecimentos da vida de um povo guiado por Deus, quatro mil anos atrás, atravessando os mais variados contextos sociais, políticos, culturais, econômicos entre outros.

Por isso, a Palavra de Deus não pode sempre ser tomada ao "pé da letra", literalmente, embora muitas vezes o deva ser. "Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2 Cor 3,6c), disse São Paulo. Portanto, para ler a Bíblia de maneira adequada, exige-se, antes de tudo, o pré-requisito da fé e da inspiração do Espírito Santo na mente, sem o que a interpretação da Escritura pode ser comprometida. Mas é preciso também estudá-la, fazer um curso bíblico.

Carta aos Hebreus

A Carta aos Hebreus diz que "a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração" (Hb 4,12).

"Vossos preceitos são minhas delícias. Meus conselheiros são as vossas leis" (v. 24);
"O único consolo em minha aflição. É que vossa palavra me dá vida" (v. 50);
"Quão saborosas são para mim vossas palavras, mais doces que o mel à minha boca" (v. 103);
"Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos. E uma luz em meu caminho" (v. 105);
"Encontro minha alegria na vossa palavra, Como a de quem encontra um imenso tesouro" (v.162);
"Espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração" (Hb 4,12).

Para que a Palavra de Deus seja eficaz em nossa vida, precisamos, pela, acreditar nela e colocá-la em prática objetivamente. Em outras palavras, precisamos obedecer-lhe, pois, ao fazer isso, estaremos obedecendo ao próprio Senhor.

Mas nem sempre a Bíblia é fácil de ser interpretada pelas razões já expostas. É por isso que Jesus confiou a interpretação dela à Igreja Católica, que o faz por meio do Sagrado Magistério, dirigido pela cátedra de Pedro (o Papa) e da Sagrada Tradição Apostólica, que constitui o acervo sagrado de todo o passado da Igreja e de tudo quanto o Espírito Santo lhe revelou e continua a fazê-lo no presente. (cf. Jo 14, 15.25; 16, 12-13).


A Sagrada Tradição

A alma da Igreja é o Espírito Santo dado em Pentecostes, por isso a Igreja não erra na interpretação da Bíblia, e isso é dogma de fé. Jesus mesmo lhe garantiu isso: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade" (Jo 16,13a).

Embora seja feita de homens, santos e também pecadores, a Igreja Católica tem a garantia de não errar na interpretação dos assuntos da fé. Entretanto, ela não despreza a ciência; muito pelo contrário, valoriza-a tremendamente para iluminar a fé e entender a revelação.

O Vaticano possui a "Pontifícia Academia de Ciências". Em Jerusalém, está a Escola Bíblica, que se dedica a estudar exegese, hermenêutica, línguas antigas, geologia, história antiga, paleontologia, arqueologia e tantas outras ciências, a fim de que cada palavra, cada versículo e cada texto da Bíblia sejam interpretados corretamente. É a fé caminhando junto com a ciência. Tudo isso para que possamos dizer como o salmista, no Salmo 118:

"Vossos preceitos são minhas delícias.
Meus conselheiros são as vossas leis." (v. 24)
"O único consolo em minha aflição
É que vossa palavra me dá vida." (v. 50)
"Quão saborosas são para mim vossas palavras,
mais doces que o mel à minha boca." (v. 103)
"Vossa palavra é um facho que ilumina meus passos. E uma luz em meu caminho." (v. 105)
"Encontro minha alegria na vossa palavra,
Como a de quem encontra um imenso tesouro." (v.162)



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/series/especial-biblia/por-que-dedicar-o-mes-de-setembro-a-biblia/