"Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu" (Ecl. 3,1). E sempre é tempo de amar. A forma como amamos as pessoas tem a ver com a qualidade do tempo que a elas dedicamos; e o que torna a nossa vida extraordinária é justamente o período que gastamos fazendo o bem aos outros. Portanto, é preciso tomar cuidado com toda a correria que nos leva a sair do projeto de sermos pessoas capazes de amar.
Não é novidade para ninguém que o ritmo de vida, a rotina corrida ou a falta de rotina têm atropelado muito as relações em família, a ponto de não termos mais tempo para amar e nos deixar amar. Vivemos relacionamentos "líquidos", superficiais, muitos deles até mediados pelas redes sociais! Sim, há pessoas que se relacionam, por meio do celular, com os da própria casa em boa parte do tempo.
Que as mídias sociais, muitas vezes, dificultam a profundidade das relações em família já sabemos, mas o que passa despercebido aos nossos olhos é que isso tem destruído o verdadeiro amor em casa, quando não damos aos nossos o tempo que lhes é devido; e ainda gastamos grande parte de nosso dia conectados em aparelhos, algumas vezes, com coisas pouco relevantes. Além disso, a tentativa de realizar mil tarefas ao mesmo tempo nos impede de refletir sobre qual delas são legitimamente importantes. Uma rotina de trabalho pesada — que adotamos, às vezes, por necessidade; outras, para adquirir algo que julgamos trazer felicidades —, também tem nos tirado da dedicação para o que deveria ter maior significado em nossa vida como o contato com o outro.
Qual tem sido a sua preocupação e prioridade?
Diante disso, precisamos entender que, se a experiência com as pessoas, principalmente com a nossa família, é algo que nos realiza no amor, essa deve ser a maior missão que temos a cumprir. O grande dilema que trazemos é que nos preocupamos mais com o complementar do que com o fundamental. O amor deixou de ser a base e ficou no segundo plano. Alguns se casam e têm filhos para amar e ser amado, porém, com o passar dos anos, isso vira um pequeno horário na agenda. O mesmo acontece na relação com os nossos pais ou irmãos, e assim por diante.
Pensar nessas questões é necessário, a fim de que refaçamos o nosso programa de vida, de modo que tudo esteja ordenado para o amor. Não me refiro a um amor de faz de conta, caricaturado, romântico ou idealizado; falo de doação, de entrega e sacrifícios pelo outro. Para começarmos essa reprogramação, reflitamos sobre alguns caminhos possíveis:
1. Dar tempo de qualidade. Mesmo em meio a uma agenda cheia, se dermos ao outro a atenção que precisa, já seremos um canal para a ação de Deus em sua vida. E não são sempre necessárias tarefas altamente elaboradas. O mais importante é presença, com a disposição de estar inteiro para a pessoa com quem se vive, ainda que por alguns minutos. É atenção como quem contempla o outro em toda a sua riqueza, de modo que se sinta querido e cuidado.
Pequenas ações
2. Antecipar-se em ajudar. É próprio do amor ver e agir antes de ser solicitado, por isso, não podemos improvisar. A caridade precisa estar no programa de todos os dias e se concretizar em ações: é uma ajuda oportuna, sem medir esforços, ou quando vamos ao supermercado e pensamos em levar algo que alguém de casa precisa ou que vai lhe fazer melhor, antes mesmo que ele peça. É como Nossa Senhora que, sem que Lhe fosse pedido, foi estar com Isabel, para ajudá-la na gestação (Cf. Lc. 1,39-40).
3. Rever a agenda. Se refizermos a nossa agenda ou se passarmos a ter uma, podemos colocar nela o tempo e o planejamento de coisas que podemos fazer em ou para a nossa família. Para os pais, o horário com os
filhos precisa estar agendado todos os dias.
Ser paciente também é amar
4. Ter paciência com o tempo do outros. Muitas vezes, queremos que nossos familiares — alguns deles idosos e crianças — façam tudo no nosso ritmo. Com a demora, perdemos a cabeça; e, algo que deveria ser prazeroso, se
torna penoso. Neste caso, a virtude da paciência é um bom sinônimo de caridade.
5. Colocar amor em tudo. Nossos gestos, palavras e atitudes precisam ser permeados disso, a fim de que o outro perceba que são amados. Em alguns casos, as preocupações nos fazem agir com dureza com os que partilham a vida conosco, e isso também atropela o amor.
Esse seria um início básico para viver a vida, tomando posse do nosso caráter de imagem e semelhança de Deus. Que Ele mesmo nos inspire a existir com mais significado e plenitude!
Elane Gomes
Missionária da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Professora de Língua Portuguesa, radialista e especialista em Comunicação e Cultura. Mestra em Comunicação e Cultura. Atualmente trabalha no Jornalismo da TV Canção Nova de São Paulo. Prega em encontros pelo Brasil e atua como formadora de membros da Comunidade. É esposa, mãe e trabalha também com aconselhamento de casais.
Fonte: https://formacao.cancaonova.com/familia/pais-e-filhos/quanto-tempo-devo-dedicar-a-minha-familia/