Ainda tem sentido a fé em um mundo onde a ciência ultrapassou horizontes que, há pouco tempo, eram impensáveis? Pode parecer que esse tipo de questionamento só possa surgir em uma pessoa incrédula, porém isso não é verdade. Atualmente, torna-se cada vez mais necessária uma "renovada educação para a fé, que inclua, sem dúvida, um conhecimento das suas verdades e dos acontecimentos da salvação; sobretudo, que nasça de um encontro verdadeiro com Deus em Jesus Cristo"¹.
Não obstante a grandeza das descobertas da ciência, hoje o homem não parece ter se tornado verdadeiramente mais livre, mais humano. Papa emérito Bento XVI nos ensina: "Temos necessidade não só do pão material, mas precisamos de amor, de significado e esperança, de um terreno sólido que nos ajude a ter um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas dificuldades e nos problemas cotidianos".
A fé é algo além de um sentimento ou uma certeza
A fé, segundo ele, "oferece-nos precisamente isso: Um entregar-se confiante a um «Tu», que é Deus, o qual me confere uma certeza diversa, mas não menos sólida do que aquela que me deriva do cálculo exato ou da ciência. A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um «Tu» que me dá esperança e confiança".
A fé é algo além de um sentimento ou uma certeza; é uma experiência. Quando olhamos para Deus, podemos nos deparar com um "deus" tradicional, um ser poderoso, no qual aprendemos a crer, porque, normalmente, a maioria das pessoas ao nosso redor acreditam ou, podemos realmente olhar para o Senhor e saber que Ele existe não porque contam, mas porque o conhecemos e fazemos uma experiência pessoal com Ele.
Não que a tradição familiar e cultural da fé sejam algo ruim, mas essa "educação para a fé" deve nos direcionar também a um caminho que nos levará a uma profunda e verdadeira experiência com esse "Tu" que é Deus. Dessa relação, dia a dia, nasce a verdadeira conversão do coração e da mente.
Fé: caminho seguro para uma verdadeira conversão
Essa fé que a Igreja professa é o caminho seguro para uma verdadeira conversão de vida. O Papa João Paulo I, em uma das quatro catequeses que fez durante seu curto papado, definiu: "Eis o que é a fé: entregarmo-nos a Deus, mas transformando a própria vida". É esse o caminho que Deus quer trilhar conosco: uma relação pessoal e real com Ele, e uma transformação verdadeira das nossas vidas. Não há sincera experiência de fé se não houver uma concreta mudança na vida pessoal.
Uma experiência de fé que não atinge a minha forma de agir, pensar, sentir, relacionar-se, não pode ser considerada fé em Cristo. Fé é relacionar-se, e o relacionamento com Jesus atinge toda a nossa forma de estar e ser no mundo. A começar do nosso caráter, não existe relação com Deus que não nos leve a uma busca sincera para segui-lo e imitá-lo. Por isso, o próprio Jesus afirmou que "uma árvore se conhece pelo fruto" (Lc 6, 44). Um cristão é conhecido pelo amor.
Desconheceis que a bondade de Deus o convida à conversão?
Essa educação para a fé é um trajeto feito no pessoal. Não dá para pensar que Deus me ama como sou, e por isso não preciso mudar. É justamente esse amor de Deus, real e concreto, que nos impulsiona e nos incomoda a não continuarmos como somos, mas querer ser melhor para Deus e para o outro.
Em sua catequese sobre a fé, João Paulo I pediu que cada um de nós, toda a Igreja, rezasse a oração que ele costumava rezar: "Senhor, aceita-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas faz que me torne como tu desejas".
Referências:
1 – PAPA BENTO XVI, AUDIÊNCIA GERAL, Praça de São Pedro, (24 de Outubro de 2012)
Paulo Pereira
José Paulo Neves Pereira nasceu em Nossa Senhora do Livramento (BA). Missionário da Comunidade Canção Nova, ele atua como gerente no setor de Conteúdo da TV Canção Nova.
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