Felicidade: palavra aparentemente simples, mas que reúne significados dos mais variados e altera o curso de nossa vida. "O importante é ser feliz; faça mais daquilo que te faz feliz". Essas e outras frases são cotidianamente atribuídas à busca incessante pela tal felicidade.
O incentivo para uma urgência em viver, impulsiona também o consumo, o lazer e o bem-estar quase que em forma massiva. Nesta mesma massa, coloca-se também a necessidade do "ser feliz" a qualquer custo e sempre de forma imediata que, muitas vezes, está ligada a uma necessidade de ter mais: mais dinheiro para comprar coisas, para dar segurança, para ter mais. Neste meio, a felicidade pelo ser alguém ou fazer por alguém se dilui.
Teríamos vários conceitos filosóficos sobre felicidade, mas é importante perceber quando existe um paradoxo da felicidade, onde o bem-estar necessário é intensificado, que necessariamente passa por momentos de adaptação, de perda, de não-conquista. Busca-se incessantemente, mas há dificuldade efetiva em compreender que a felicidade não é um estado constante, mas momentos e situações que a propicia.
Afinal, o que é felicidade?
Aquele que nunca passou por uma desilusão em qualquer área da vida que levante sua mão. Todos nós, em maior ou menor grau, passamos por isso; e nós já vivenciamos que conquistar coisas, fazer algo, ou simplesmente viver, passa por etapas e fracassos, por mais difícil que seja acreditar.
Não há um estado seguro de felicidade e as gerações podem facilmente perceber isto. Felicidade é um período, um momento, uma situação. Por isso, é tão importante entender que a vida não pode ser uma de entretenimento, prazer, alegria e bem-estar contínuos. Ilude-se quem acredita que a vida é feita de apenas momentos bons.
Para conquistar um diploma escolar, fazemos provas difíceis, somos testados, nem sempre gostamos do professor ou estamos cansados. Mesmo assim, o resultado disso e objetivo que desejo em minha vida deve ser meu maior motivador.
Quando me formei psicóloga, muita gente olhava aquilo com desdém, dizendo que eu não conseguiria nada com aquilo, que ser psicóloga é coisa de gente maluca etc. Hoje, em 2022, é uma das profissões que mais cresceu. Mesmo assim, ela exige de mim, diariamente, uma dedicação intensa: estudo, preparo pessoal, leituras, paciência. Nem tudo é um mar de rosas, mas, ao ver pacientes melhorando, agradecidos, isto me traz uma satisfação e uma alegria imensas.
Decepção X felicidade
Decepções e felicidades andam juntas; por vezes, algumas maiores que as outras, mas se faz necessário treinar nosso olhar para o como lidamos com elas e o que vai acontecendo conosco quando nos frustramos. Impulsionar sofrimentos e apegar-se apenas a eles é caminho certo para o adoecimento e para uma vida que parece não ter sentido. Isto não significa que estou aqui desvalorizando as nossas dores e desilusões, mas a vida não é apenas isto.
Para alguns de nós, o empenho em dar um novo olhar para as situações é essencial: não se deixe levar unicamente pelo seu pessimismo e negativismo, porque este é o caminho que nos conduz a um questionamento eterno e pouca valorização do que vivemos de bom.
Vivemos de tentativas, planos, começos e recomeços… E aí está a beleza da vida, sem romantizar ou fantasiar nada. Vivemos e nos expomos a algumas situações das quais não temos controle porque dependem de terceiros, mas naquilo que está ao nosso alcance podemos dar um novo olhar.
Eu faço um esforço de, a cada final de dia, agradecer aquilo que de bom aconteceu e rever aquilo que não foi bom e preciso e está ao meu alcance. Nem sempre é simples, mas não é impossível. Treinar o olhar em ver a felicidade em pequenas situações que convivem com as desilusões nos dará outras percepções sobre a vida.
Elaine Ribeiro dos Santos
Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.