O Tempo da Quaresma nos convida à oração, ao jejum e à penitência como exercícios das virtudes cristãs. É um chamado à prática da caridade, do perdão e das boas obras, que devem ser constantes no caminho da santidade, mas, por vezes, se enfraquecem na vida cotidiana. Reanimados pelas leituras dos Domingos da Quaresma, fortalecidos pela oração e incentivados pela penitência, que essa caminhada nos renove por uma transformação espiritual, revestindo-nos do novo ser, que foi criado à imagem de Deus, na justiça e na santidade verdadeiras [1]. A Quaresma é o caminho para a alegria do encontro com Cristo, vivenciado em comunhão com toda a Igreja.
O Evangelho durante a Quaresma
No 1º Domingo da Quaresma, o Evangelho conta a passagem de Jesus no deserto, sendo tentado pelo diabo, cujas tentações são firmemente combatidas através da citação das Sagradas Escrituras [2]. É o domingo que demonstra a importância do conhecimento da Palavra de Deus para definirmos com clareza o bem e o mal. No 2º Domingo da Quaresma, o Evangelho narra a Transfiguração [3] pela qual "Jesus mostra a sua glória divina, confirmando assim a confissão de Pedro" (Catecismo da Igreja Católica, nº 555). No 3º Domingo da Quaresma, é contada a parábola da figueira que não dava frutos e recebeu uma nova chance, para que o vinhateiro cave ao redor dela e coloque adubo, a fim de que dê fruto no ano seguinte [4].
Essa parábola demonstra a misericórdia de Deus, que – especialmente na Quaresma – nos convida à reflexão interior (cavar) e à fortificação da fé (adubo), permitindo-nos mais um ano para darmos bons frutos. O 4º Domingo da Quaresma narra a tão conhecida parábola do filho pródigo, que traduz a misericórdia e o perdão de Deus Pai para conosco [5]. No 5º Domingo da Quaresma, a misericórdia de Jesus com a pecadora é um convite para, de agora em diante, não pecar mais [6].
A penitência leva à santidade
A certeza de um Deus misericordioso nos conduz à busca do perdão, não um perdão momentâneo, mas sim um perdão verdadeiro e profundo, de quem busca se tornar o homem novo. E essa busca se concretiza através da penitência, pela qual praticamos o cumprimento especial das virtudes cristãs, exigindo um maior esforço para nos aproximarmos da santidade. O Código de Direito Canônico (cân. 1249) determina que os fiéis "cumpram mais fielmente as próprias obrigações". É a proposta do exercício das virtudes próprias da vida cristã, mas com maior ânimo e ainda mais dedicação.
Assim, se lhe falta caridade, proponha-se atos de ajuda ao próximo, como participação em obras assistenciais. Se você peca por ser demais materialista, doe tempo e atenção, aproximando-se do irmão e reconhecendo o valor do carinho, da compaixão e da presença. À luz desses exemplos, proponha-se uma penitência que, de fato, seja custosa no início e exija muito esforço. Assim, com a celebração da Páscoa, aqueles atos que antes eram penitência se tornarão algo natural e se revelarão como verdadeiras virtudes da sua vida de santidade.
Conversão e purificação
Nas palavras do Santo Papa João Paulo II: "A 'penitência' em sentido evangélico significa sobretudo isto: 'converter-se'. Jesus contesta o modo puramente exterior com que muitos contemporâneos seus cumpriam os atos próprios da penitência: a esmola, o jejum e a oração. Eles descuidavam o verdadeiro fim destes atos, que era a purificação interior, necessária para podermos nos encontrar, no íntimo da consciência, 'no segredo do coração', com a santidade misericordiosa de Deus". E o Pontífice concluiu: "A penitência, por conseguinte, não é só esforço; é também alegria. Mais ainda: por vezes, é uma grande alegria do espírito humano, uma alegria que não pode brotar de outras fontes".
Que esse Tempo de Quaresma nos permita uma penitência com esforços além de nós mesmos, pela prática das virtudes que nos faltam e renúncia dos pecados que nos permeiam. Esse esforço, cansativo e doloroso, será no final recompensado por uma verdadeira virtude cristã, integrando uma parte natural da nossa vida de santidade. Que assim seja!
CITAÇÕES DO TEXTO BÍBLICO
[1] (Ef 4, 23-24); [2] (Lc 4,1-13); [3] (Lc 9, 28-36); [4] (Lc 13,1-9); [5] (Lc 15,1-3.11-32); [6] (Jo 8,1-11).
REFERÊNCIAS
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.
JOÃO PAULO II. Encontro com os jovens na Basílica Vaticana. Vaticano, 28 fev. 1979.
SAGRADA BIBLIA. Traducción y notas Facultad de Teología Universidad de Navarra. Edição Digital. Editora EUNSA. 2016.
Luis Gustavo Conde
Catequista atuante na evangelização de jovens e adultos; palestrante focado na doutrina cristã; advogado, tecnólogo e professor. Dúvidas e sugestões, fale comigo nas redes sociais: @luisguconde (Facebook, Twitter e Instagram). Agendamento de palestras e cursos: luisguconde@gmail.com
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