Respondendo a essa pergunta existencial, apresento elementos que constituem e dão vigor e identidade à vida religiosa cristã e à sua necessidade para a Igreja e para o mundo.
A vida consagrada procura a perfeição, que é Deus, palmilhando o caminho-vida protótipo do Filho, Deus-homem: Jesus Cristo. Jesus – o Verbo encarnado – revelou o Pai, o caminho ao Pai e, assim, foi revelando a Si mesmo e o profundo da pessoa humana. Jesus viveu na vontade do Pai – era um com o Pai – e convidou pessoas para segui-Lo: para assumir a Sua vida. Assim, o centro decisivo da vida religiosa cristã é Deus, como aparece em Jesus Cristo.
A necessidade da vida religiosa para o mundo
Na história, sempre houve homens e mulheres que escolheram na vida o Absoluto de Deus, dedicando toda a vida a Ele. Essa escolha se efetiva na sequela radical de Cristo pobre, obediente e casto. Assim, processou-se e foi constituída a vida consagrada, que se exprime na profissão pública dos três conselhos evangélicos: obediência, castidade e pobreza, ou na consagração das Novas Comunidades.
A pessoa de vida consagrada procura entregar-se a Deus de forma permanente e com intensidade progressiva, de maneira absoluta, atualizando o batismo e assumindo a sua radicalidade. Como vocacionados, não somos nós quem nos colocamos no seguimento. Somos chamados, escolhidos, constituídos no dom do Senhor. Jesus cria o Seu discípulo, torna o Seu vocacionado capaz da missão. O seguimento radical de Cristo se torna a alma da vida do consagrado, como projeto particular de vida cristã, concretizada numa forma histórica.
Vida consagrada, vida íntima com Deus
No seguimento radical a Cristo, a Vida Consagrada é uma existência no Absoluto de Deus. Trata-se de uma vida íntima e intensa com Deus: desposar a vontade de Deus. A pessoa que encontra Deus e se apaixona por Ele não é mais capaz de amar uma criatura com doação total e permanente (como no matrimônio – Mt 19). Esse amor exclusivo constitui o dinamismo da sequela ao Cristo, que significa amá-lo com a vida, em profundidade e radicalidade absoluta.
Esse amor, essa experiência amorosa nenhuma lei, regra ou juramento pode criar ou manter. Essa é somente uma manifestação explicativa objetivada e pública. Isso porque a vocação à vida consagrada brota de um encontro entre duas liberdades que se atraem e se dão: Deus e a pessoa. A estrutura – lei, regra, vida comunitária – pode e deve ajudar a manter o cultivo do amor esponsal. O Evangelho só existe vivo: não pode ser representado! O cerne da vida religiosa é o conteúdo; a forma é relativa, mesmo que necessária. O seguimento de Cristo assume, desta maneira, um caráter mais existencial e menos moral.
Concluindo: casos bíblicos conhecidos comprovam que a vida religiosa sem intimidade exclusiva com Deus não se mantém: morre!
Dom João Inácio Müller
Dom João Inácio Müller é Bispo da Arquidiocese de Campinas (SP).
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