"Eu te consagrei; eu faço de ti um profeta para as nações" (Jr 1,5b).
O próprio Deus é quem nos chama a sermos profetas. O chamado é divino, mas a resposta é humana. Deus nos confia a missão de profetizarmos às nações, mas também nos dá a liberdade de aceitarmos ou não esse chamado. Se o aceitarmos, e deveríamos aceitá-lo, precisamos entender o que realmente significa ser um profeta.
Muitos acreditam que profecia é uma espécie de enigma e que profeta é aquele que adivinha as coisas
Infelizmente, a maioria das pessoas, tem uma imagem deturpada do que realmente é a profecia e, consequentemente, do sujeito que a transmite. Muitos acreditam que profecia é uma espécie de enigma; que profeta é aquele que adivinha as coisas, que tem visões sobre o futuro, algo parecido com cartomantes, videntes e outros que dizem por aí que descobrem coisas relacionadas ao futuro. O profeta e a verdadeira profecia não são nada disso.
Há um tempo, apareceu até novela para confundir ainda mais a cabeça das pessoas. A trama mostrava uma pessoa com um "dom especial" que, na verdade, a transforma num desses adivinhos, uma pessoa que tem visões de fatos que ainda irão acontecer.
Aí temos dois problemas principais: o primeiro é que, dessa maneira, só os que nascem com esse tal "dom especial" é que podem profetizar, e isso contradiz o que a Igreja nos ensina quando nos instrui que todos nós, batizados, participamos do múnus (da função) profético de Cristo, através do qual devemos evangelizar pela vida e também pela palavra. No batismo, Deus mesmo nos faz profetas.
Profecia não é adivinhação
O outro problema é a respeito do conteúdo da profecia. Profecia não é adivinhação, e sim uma forma de se educar para o futuro, de descobrir caminhos para o futuro. Isso é tão verdade que os profetas são, antes de tudo, intérpretes da história do povo. A profecia acaba sendo uma releitura da vida do povo. O profeta parte do presente, volta ao passado, a fim de projetar o futuro.
Exemplo disso são os livros proféticos da Bíblia que nos mostram os profetas nas várias situações de dificuldade enfrentadas pelo povo de Deus. Esses profetas sempre faziam referências ao passado, especialmente ao evento da libertação do povo, ao Êxodo, para que, a partir dali, fizessem essa releitura da história, analisassem o momento presente e educassem o povo rumo ao futuro desejado por Deus.
Somos todos profetas pelo Batismo
Faça a experiência. Quando estiver num momento de crise, faça um retrospecto da sua história desde o momento que você considere fundamental para sua vida. Faça a releitura desse momento até a atualidade (momento de crise), e você conseguirá perceber muitos dos motivos que geraram as dificuldades do presente, além disso, conseguirá vislumbrar alguma direção por onde seguir.
São estas as duas coisas que precisamos entender: primeiro, profecia não é para meia dúzia de pessoas consideradas especiais, pois, no batismo, Deus nos consagrou e fez de nós profetas. Segundo: A profecia não é uma adivinhação, e sim inspiração de Deus que, nos momentos difíceis, nos ensina a relermos a história e, dessa maneira, projetar o futuro.
Que cada um de nós assuma a missão profética e ajudemos mutuamente a descobrirmos os caminhos que Deus deseja para o nosso futuro, para a nossa felicidade.
Artigo extraído do livro "A experiência de ouvir e transmitir a voz de Deus" de Denis Duarte.
Denis Duarte
Denis Duarte especialista em Bíblia e Cientista da Religião. Professor universitário, pesquisador e escritor. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.
Site: www.denisduarte.com
Instagram: @denisduarte_com
Facebook: facebook/aprofundamento
Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-que-realmente-significa-ser-um-profeta/
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