A família tem sido alvo de perniciosas ideologias. Os valores não estão sendo vividos e a Palavra de Deus não está sendo observada e praticada, ou seja, a Verdade está sendo relativizada. O relativismo resultou no descrédito dos valores morais, enfraquecimento da família e aumento da infidelidade conjugal. Em nome do "eu tenho o direito de ser feliz", muitos divórcios aconteceram como solução para as uniões em crise.
A infidelidade tem destruído muitos relacionamentos familiares. Quando o adultério é a causa de separação, não são somente os cônjuges os afetados. Os filhos saem profundamente marcados e a traição adquire a força de uma espada que atravessa a alma e fere de modo bem profundo. Tenho visto o grande percentual de crianças e jovens feridos, inseguros, com sentimento de culpa e depressivos que presenciaram a dor da infidelidade dos pais e a separação. Muitos filhos, por não superarem esse trauma, não desejam constituir famílias, não acreditam mais na beleza do casamento e nas pessoas. E o que percebo como uma das causas principais para a infidelidade e algo bem comum entre os casais é a indiferença, propiciada pela rotina diária. O casal vai se afastando um do outro e, pior, vão se afastando das coisas de Deus e não há mais interesse pelas coisas do céu.
Deus tem que ser presente na família
Quando não alimentamos a intimidade com Deus pela vida de oração, a busca do conhecimento da Palavra, o forte comprometimento com a Igreja e devoção à Virgem Maria, a pessoa humana começa a ser ferida pelo pecado. E a razão humana ferida em sua capacidade de conhecer a verdade, fica sujeita às trevas do erro, deixando a pessoa centrada em si mesma e escrava das suas paixões desordenadas e sem forças para vencer a tentação da infidelidade. Quantos casais infiéis que se deixaram levar pelo mundo! E quando falo "mundo" é tudo aquilo que compete ao "mundanismo", ou seja, quando se vive num sistema contrário à vontade de Deus. Contudo, Deus em sua Palavra nos orientou: "Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai" (1 Jo,2,15).
E até chegar a concretizar a infidelidade, o casal percebe que não foi capaz de encarar os fatos e os problemas não resolvidos, além de não buscar a solução e aproveitar os momentos de crise para crescimento e amadurecimento. Claro que esposo e esposa nunca deverão culpar o outro, mas se não forem capazes de reconhecerem que precisam de ajuda, a infidelidade logo baterá em suas portas. Quantos casais são infiéis por falta de maturidade emocional e porque não sabem lidar com as emoções. O imaturo só sabe querer receber do outro a satisfação de suas carências e o amor, para ele, pode ter o significado de saciar o desejo sexual e pronto.
Pecado da mentira no relacionamento familiar
Outro pecado que fere e destrói os relacionamentos é a mentira. "Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros" (Ef 4,25). Os relacionamentos familiares que são construídos na verdade são duradouros. Ao contrário, quando existe a mentira também existe a briga. O casal já não é capaz de confiar no outro causando profunda mágoa. Sendo assim, os casais precisam ter a coragem de romper com o pecado da mentira, falar somente a verdade, viver na luz de Deus e ter como princípio de vida partilhar a verdade de modo muito transparente.
Brevemente, tocaremos numa palavrinha bem chata, que se chama "orgulho". O orgulho é a causa de muitas feridas nos relacionamentos familiares, pois a pessoa orgulhosa é de difícil convivência, sempre a última palavra é dela e veste a camisa do ̈eu estou sempre com a razão ̈. Ela também é bastante limitada para aceitar qualquer tipo de correção, por menor que seja, e não é capaz de assumir os seus erros e, de maneira alguma, pede perdão.
O orgulho e o egoísmo não podem dominar
O orgulhoso não aceita o fato de que precisa mudar e, no ambiente familiar, se um membro não está disposto a sempre melhorar, acontecerão sempre conflitos que ferirão os corações, principalmente, devido a discussões que nunca serão resolvidas. Assim, para que aconteça a harmonia familiar é preciso a graça da humildade. Meditemos, portanto, nesse versículo da Palavra de Deus: "Nada façais por espírito de partido e vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos" (Fl 2,3). E se não nos dispusermos a vivenciar essa Palavra, seremos dominados pelo espírito do orgulho, não saberemos nunca "perder" para o outro e sempre desejaremos nos impor sobre todas as coisas, precisando, a todo momento, de ser o centro das atenções.
Outra causa das ruínas familiares é o egoísmo. Uma pessoa egoísta é aquela que só pensa em si e dificilmente experimentará a alegria da partilha e de ter relações profundas e edificantes. Aquele que pensa somente em seus interesses, aos poucos, afastará as pessoas do seu convívio. Para nos relacionarmos bem no ambiente familiar será necessária certa dose de altruísmo e disposição para acolher os interesses dos outros, "morrendo", de certo modo, para nós mesmos. Do contrário, nenhuma família subsistirá.
O diálogo é o caminho de todo relacionamento
A falta de diálogo é motivo também para ruir os relacionamentos. Ele acaba por desenvolver o afastamento uns dos outros. Mas lembre-se sempre que dialogar não é somente falar, mas também aprender a escutar de modo afetivo e acolhedor. Através do diálogo abrimos a possibilidade de melhorarmos os relacionamentos. Assim, nós conhecemos e nos damos a conhecer, participando da vida do outro, sempre com a intenção de melhorar o convívio e para o bem comum.
Outra erva daninha nos relacionamentos familiares é a inveja. Quantos casais acabam, por não valorizar aquilo que têm, começam a olhar para a vida de outros casais e acham por bem que deveriam ter aquilo que outros possuem. Que tristeza quando isso acontece! Quantos casais brigam em razão até mesmo a profissão do outro, invejando sua vida e status conquistado. E é pela inveja que as pessoas se acham no direito de matar outras em seus corações, sendo este sentimento a pior causa de todo o tipo de morte. Foi por causa dela que ocorreu o primeiro fratricídio na história da salvação. Foi por inveja que Caim matou Abel, por este ter agradado a Deus com a sua oferta. Foi também por causa da inveja que José foi vendido aos mercadores pelos irmãos. A inveja é o pecado diabólico por excelência, dizia Santo Agostinho.
O ditado popular ̈a inveja mata ̈ é uma frase verdadeira. Não matamos as pessoas com armas, mas as matamos em nossos corações. Eliminamos com a nossa língua, com comentários maldosos sobre os outros ou com o nosso olhar de desprezo e descaso. Fiquemos atentos às nossas atitudes e saibamos discernir quando a inveja chega aos nossos lares. A inveja é como as duas faces de uma moeda: tem o poder de matar os outros e também a nós mesmos. E, assim, precisamos exterminá-la de modo concreto.
Oração
"Senhor, pelo poder do teu sangue precioso, cura e liberta os nossos relacionamentos e toca o nosso coração ferido pela divisão, pela infidelidade, pelo amor próprio e apego às coisas do mundo.
Cura as nossas emoções e as dores causadas pelas ofensas, libertando-nos do vício da mentira, do orgulho, do egoísmo e da inveja.
Dai-nos a graça de não sermos indiferentes à nossa família. Que as nossas famílias sejam repletas do poder do teu Espírito Santo.
Banha-nos, Senhor, com a força do alto para que as nossas famílias sejam santas, restauradas e renovadas no amor."
Trecho extraído do livro "A cura dos relacionamentos familiares" dos missionários da Comunidade Canção Nova, Ricardo Luciana Ida