Caro leitor, gostaria de lançar dois questionamentos logo no início deste artigo: Jesus, por ser Deus, é mais divino que humano? O que é mais importante, afinal, sua divindade ou sua humanidade? No início do cristianismo, os grandes pais da Igreja, dentre eles Irineu de Lyon, Inácio de Antioquia, Clemente Romano, além dos ensinamentos de alguns Concílios como, por exemplo, o de Niceia, o de Éfeso e o de Calcedônia, tiveram que responder a estas questões de maneira bem precisa. Isso se deu porque foram surgindo diversas heresias que colocavam em cheque pontos importantes da nossa fé, especialmente com relação à humanidade e a divindade de Jesus.
Apenas a título de exemplo, surgiram grupos que reduziam ou negavam completamente a condição divina de Jesus, é o caso das correntes ebionitas e adocionistas. Por outro lado, havia grupos como os docetas, que colocavam em prejuízo a humanidade de Jesus. Nota-se, portanto, uma tendência de se querer separar a divindade da humanidade de Jesus como se elas fossem opostas ou se uma pudesse causar prejuízo à outra.
Humanidade e divindade, as duas naturezas de Jesus
Desde os primeiros séculos, a Igreja percebeu o grandíssimo problema que essas heresias poderiam causar à fé, uma vez que elas estavam ligadas diretamente às questões soteriológicas, ou seja, à salvação humana. Depois de alguns séculos de muitas discussões, a Igreja compreendeu e passou a confessar que Jesus, embora fosse uma única pessoa, possuía duas naturezas (a divina e a humana). Assim, Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. É verdadeiramente o Filho de Deus feito homem sem deixar de ser Deus, nosso Senhor (cf. CIC 469).
Uma vez que chegamos até aqui, já teríamos condições de respondermos às duas perguntas que abriram o artigo. As respostas, portanto, seriam: Jesus, por ser Deus, não é mais divino que humano, já que Ele é ao mesmo tempo totalmente divino e totalmente humano. Uma coisa não exclui nem diminui a outra. Assim, não existe grau de importância entre estas duas naturezas de Jesus. Aliás, as duas são essenciais para que a salvação tenha ocorrido. Sua vontade humana não faz resistência nem oposição à sua vontade divina.
Diante disso, temos toda a tranquilidade para entendermos que Jesus, enquanto ser humano, precisou experimentar todas as realidades dessa natureza. Por isso, o Filho de Deus trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano (CIC 470). Tudo isso significa que, embora fosse Deus, Jesus precisou aprender com os seus pais a falar seu idioma, a andar, a adquirir conhecimento, a trabalhar no seu ofício. Em suma, Ele precisou crescer no conhecimento, na estatura e na graça.
Jesus era semelhante a nós em tudo, menos no pecado
Não se poderia esperar de Jesus, aos dois anos de idade, todo o conhecimento de um adulto. Até mesmo a consciência de que Ele era Deus esteve sujeita ao seu amadurecimento humano dotado de um corpo que precisava passar pelo processo natural de desenvolvimento. Logicamente, a natureza humana do Filho de Deus, pela sua união com o Verbo, conhecia e manifestava em si tudo o que é próprio de Deus (cf. CIC 473).
Da mesma maneira que todos os seres humanos sofrem, Jesus também sofreu. Ele sentiu dor, câimbras, frio, calor e sono. Precisou dormir, descansar, comer e beber. Fazia todas as necessidades fisiológicas que um ser humano comum está sujeito. Jesus amou, se alegrou, se entristeceu, sorriu e se aborreceu. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente semelhante a nós em tudo, exceto no pecado.
Portanto, Ele entende o nosso sofrimento e a nossa dor; mas também se alegra conosco. Em outras palavras, nós temos um Deus que não está alheio às necessidades humanas. Ele não precisava, porém, seu amor por cada um de nós é tão grande a ponto d'Ele ter se apequenado tornando-Se limitado e sujeito às vicissitudes da matéria como nós o somos. Ao se tornar homem, Deus continuou sendo Deus. Deus não se enfraqueceu sendo homem, pelo contrário, nossa humanidade é que foi fortalecida por Ele.
Deus abençoe você e até a próxima!
Gleidson Carvalho
Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)
Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/a-humanidade-e-a-divindade-de-jesus/
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