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31 de agosto de 2020

Os aprendizes da vida e das vozes


Da vida todos somos aprendizes, pois a riqueza e o sentido do viver não permitem simplismos. Enquanto dom e tarefa, a vida é mistério. Por isso mesmo, não cabe nos limites de legislações, ultrapassa considerações políticas, não havendo abordagem confessional em que se encerre. Impossível esgotar-lhe o sentido, por mais completa que seja a narrativa. E o seu entendimento exige peregrinar às suas raízes, a seus sentidos, aos alicerces.

A vida é mistério, pelas profundezas de suas origens, e fonte, pela profundidade de sentido. Na sua maestria, Jesus a coloca como meta de sua missão ao dizer: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância", conferindo-lhe sacralidade e constituindo a misericórdia como o parâmetro mais alto de seu adequado tratamento. Assim, institui e eleva, para os que n'Ele creem, o valor incomparável da pessoa humana. A vida é, pois, dom que se estende para além das circunstâncias da existência terrena, porque consiste na participação da própria vida em Deus. E a sublimidade própria da vida de cada pessoa revela a grandeza e o valor precioso da vida de toda a humanidade.

DOM WALMOR

Foto Ilustrativa: by Getty Images / RichVintage

Aprendizes da vida

O evangelho da vida acena com a condição de aprendizes a todos os que têm a vida como dom e tarefa. Sua preciosidade se manifesta, de modo completo, na encarnação do filho de Deus, ao aceitar a morte na cruz pelo resgate de todos. Firma-se, assim, entre Deus e a humanidade, o compromisso inarredável de defender a vida de todas as ameaças, em todas as suas etapas. Compromisso que deve se fortalecer neste tempo de impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida humana, a nações inteiras, particularmente aos indefesos e vulneráveis. São muitas as chagas expostas que atentam contra a vida, a exemplo da fome, da miséria, das epidemias, das guerras, de feridas com modalidades inéditas e inquietantes. Crescem as formas aviltantes de violências. Frutos de preconceitos e racismos, ferem particularmente os mais fragilizados e os excluídos, apontando a urgência de se rever as legislações no sentido de impedir que se chegue a absurdos ainda maiores. O panorama dos diferentes atentados à vida desafia a sociedade contemporânea a encontrar novas respostas e a confeccionar um tecido consistente, capaz de operar as mudanças necessárias nos vergonhosos cenários marcados pelos extermínios, pela eliminação de vidas.

O desafio é posicionar-se ante todos esses atentados, ante um contexto cultural que confere aos crimes contra a vida aspectos inéditos e iníquos. A partir das graves preocupações advindas da própria opinião pública, tenta-se justificar a liberdade individual de escolhas e procedimentos que atentam contra a sacralidade da vida. O desafio se torna ainda maior quando se constatam profundas alterações na maneira de considerar a vida, a vida de todos, e as relações entre as pessoas. Há, pois, nítido processo de afastamento dos princípios basilares, como causa de uma derrocada moral, dificultando o necessário retorno às fontes de inspiração e de clarividência em torno da sacralidade das vidas todas. E sem referências e princípios, as abordagens ocorrem no burburinho de vozes da turba. Compromete-se, assim, a qualidade do que se escolhe, do que se legisla, do que se sente, e as consequências são notórias: a vida passa a ser tratada por alas, por interesses, por disputas e até pelo oportunismo de se fazer reconhecido; por interesses político-partidários, além das razões extremistas e fundamentalistas – todas distanciadas do inegociável.

As exigências das vozes

As vozes se tornam opiniões próprias, de lugares hermenêuticos contaminados, com dificuldade de se perceber qual é o verdadeiro sentido, por não se saber retornar à fonte. Também por falta de traquejo de lidar com princípios, nota-se um silêncio sepulcral e omisso. Muitos não dizem nada por receio, porque se promovem em meio às vozes. Tudo se reduz a uma formulação prosaica. São muitas vozes e muitas contradições: a voz em defesa de algo ou de alguém é a voz que ao mesmo tempo pisa a honra e fere a dignidade do outro, com o descalabro interesseiro de anatematizar um e canonizar outro. Anatematiza quem parece ser uma voz diferente, desconhecendo sua compreensão e desconsiderando uma vida de feitos e comprometimentos. Canoniza até mesmo quem ainda é neófito, inexperiente, e apresenta argumentos equivocados.


Do mesmo modo que a fé se torna estéril, quando não consegue ser uma experiência de testemunho transformador, esterilidades se perpetram em vozes cujos sons não ecoam o que, cotidianamente, tem que se buscar na fonte-princípio. Os pitagóricos diziam que o princípio é a metade do todo. Se falta esta primeira metade, na tarefa de construção de um novo tecido social, cultural e político, com resultados efetivos sobre leis, costumes e estilos de vida, faltará a base para a segunda metade. Vozes serão muitas, como neste tempo de um coro dissonante, que exige dos aprendizes investimento em harmonias. E, assim, participem do coro dos lúcidos, cada vez mais, vozes coerentes e propositivas, capazes de imprimir as grandes mudanças neste tempo que precisa ser urgentemente novo para se promover e salvar vidas.



Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/os-aprendizes-da-vida-e-das-vozes/

28 de agosto de 2020

Se é para viver a espera, que tal esperançar?


Esse tempo não deve ser uma espera passiva, mas sim ativa; hoje, no entanto, quero ir além e falar sobre uma espera ativa, quero falar de uma espera esperançosa.

A Palavra de Deus diz: esperando esperei no Senhor. Parece redundante, mas não é… explico logo mais. Em outra passagem diz: esperando contra toda esperança, esperei no Senhor. Essa é mais forte ainda.

Se é para viver a espera, que tal esperançar?

Foto ilustrativa: damircudic by Getty Images

Qual o objetivo da sua espera?

Tudo isso para lhe dizer que não basta esperar fazendo algo, é preciso esperar esperando, ou melhor, esperar "esperançando". Esperar numa atitude de quem tem a esperança de que vai alcançar o objeto de sua espera.

Esperar contra toda esperança. O que você muito deseja, mas aos olhos humanos lhe parece impossível? É nisso que você precisa aumentar a sua esperança, que é maior do que a confiança de que Deus vai lhe dar aquilo que você quer, mas sim é a confiança de que Deus vai lhe dar o melhor.


É nisso que precisa estar sua esperança, que Deus fará muito mais do que você espera, porque Ele vai lhe dar o melhor.

Espere esperançando o melhor de Deus para sua vida, pois Ele é capaz de surpreendê-lo com coisas maiores e melhores.



Regiane Calixto

Regiane Calixto é natural de Caxambu (MG). Membro da Comunidade Canção Nova, desde o ano de 2009, a missionária é graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Gestão de Veículos de Comunicação. Encontrou na tecnologia e na comunicação um grande meio para levar às pessoas o Evangelho vivo e vivido.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/se-e-para-esperar-vamos-esperancar/

26 de agosto de 2020

Por que cometemos sempre os mesmos pecados?


O encontro pessoal com Cristo Ressuscitado provoca uma transformação em nosso interior. O amor de Deus é responsável pelo nascimento de homens e mulheres novos, gerados na água e no Espírito (cf. Jo 3,3-5). Nossas aspirações passam a ser de enveredar pelo caminho da santidade, procurar o arrependimento dos pecados, para não ofender o Senhor, que revelou o quanto nos ama.

A esperança renasce, uma força contagia e, principalmente, um novo conceito de si, a partir da dignidade de filho de Deus, abrange nossos corações. Porém, decorrido algum tempo, pode acontecer de voltarmos a cometer alguns pecados. Mesmo com luta e vigilância, acabamos por cair, vez ou outra, nos mesmos erros. São os chamados "pecados de estimação".

Foto Ilustrativa: by Getty Images / torwai

O que esses pecados geram em nós

Temos a consciência e a inspiração de não pecar, então, por que nos percebemos fracos diante de certos impulsos? A primeira coisa a entender é que: o Senhor criou o homem todo no bem, para o bem e pelo bem. "E viu (Deus) que tudo era muito bom" (Gn 1,31). São Tomás de Aquino diz que "o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina". Ainda citando São Tomás de Aquino, ele diz: "O pecado é desviar-se da reta apropriação de um bem". O que leva o ser humano a pecar sempre será o desejo de alcançar o bem que nele foi constituído.

Pecamos quando usamos esses "bens", dons e talentos depositados em nós por Deus de forma incorreta. Esse anseio pelo bem nunca será extirpado e, ainda que a forma de buscar alcançá-lo seja errada, "o pecado tende a reproduzir-se e a reforçar-se, mas não consegue destruir o senso moral até a raiz" (Catecismo da Igreja Católica, n. 1865). O dom nunca morrerá, mesmo que o estejamos usando para o pecado. "Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis" (Rm 11,29).

Se todas as nossas faculdades humanas foram criadas para o bem, mas, por nossa livre iniciativa ou porque aprendemos as coisas de forma pecaminosa, nós ainda não conseguimos nos livrar de uma prática ruim, significa que estamos lidando com um traço da nossa personalidade criada para o bem; porém, durante a história pessoal, foi habituado na forma de pecado e não de virtude.

O demônio e as nossas fraquezas

Aí entra satanás, o autor do pecado com suas artimanhas. A tentação será maior em uma área do que em outra, pois o demônio conhece nossas fraquezas, ou melhor, conhece nossos traços e quer acabar com o que temos de melhor. Jesus, no deserto, foi tentado justamente em Sua mais sagrada particularidade, naquilo que só Ele é: "Se és Filho de Deus!" (Mt 4,3-6). De Jó, o demônio pediu contas de seu maior mérito: a fé (cf. Jó 1,21; 2,9-10).

Também, nossa maior luta será nas maiores características do nosso ser, no que diz respeito ao núcleo íntimo de cada um. É por isso que voltamos à prática do pecado, pois foi afetado um traço da sacra individualidade do ser, está selado em nós e não há como lançar fora o que somos. Exemplo disso: uma grande habilidade de comunicar-se, em vez de ser usufruída para levar a Boa Nova, pode estar sendo desenvolvida para a maledicência.

Se uma fraqueza persiste, há ali um forte traço da nossa humanidade. É um valioso dom, mas não o percebemos como riqueza, pois estamos lutando para sufocá-lo, já que está manifesto na forma de pecado. O homem que enterrou seu único talento, no fim perdeu-o, exatamente por não ter investido corretamente (cf. Mt 25, 14-30). O livro "Pecados e Virtudes Capitais", do professor Felipe Aquino, salienta que os erros e os bens capitais têm todos uma mesma raiz, apenas que um é inverso do outro.

O que devo fazer?

O que se deve fazer agora é direcionar essas forças para o bem, descobrindo em que ponto nos apropriamos, aprendemos ou canalizamos essa característica individual de forma errada e potencializá-la de maneira que venha à tona toda riqueza que o Altíssimo deu a cada um de nós.

Também, é essencial não lutarmos sozinhos! Tanto para detectar em que ponto da nossa vida o dom foi se inclinando para o pecado como para bem canalizá-lo será importante a ajuda de uma outra pessoa. Busque auxílio: biológico (se for patologia ou vício), psicológico e espiritual (alguém ministeriado).

Nessa descoberta, que é permeada pela luta, acima de tudo devemos ter paciência conosco. Sendo humanos, somos limitados e sempre conviveremos com nossas misérias, porém, não podemos nos render a elas. A busca da santidade não é atingir a perfeição, mas lutar contra nossas fraquezas. Nisso o ser humano avança, torna-se humanamente melhor e mais próximo de Deus.

É preciso lutar!

São Francisco de Sales ensinava: "Considerai os vossos defeitos com mais dó do que indignação, com mais humildade do que severidade, e conservai o coração cheio de um amor brando, sossegado e terno".

Caiu? Levante-se! Não se conforme com o pecado nem desanime. Você vai vencer! O Catecismo da Igreja Católica afirma, no número 943: "os leigos têm o poder de vencer o império do pecado em si mesmos e no mundo". Além de o Senhor dotar-nos com essa força interior, que é mais potente que nossas faltas, ainda podemos recorrer à Sua graça. "Mas Ele [Jesus] me disse: Basta-te a minha graça".


Eis porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, necessidades, perseguições e no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. "Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte" (II Cor 12,9a-10).

A graça de Deus, também, se manifesta em nossa pobreza. Quando nos percebemos impotentes diante de um fato, só podemos recorrer à Misericórdia Divina que, neste mundo, manifesta-se por excelência no Sacramento da Confissão. Confessar-se será sempre a melhor via de libertação.

Deus o abençoe!



Sandro Arquejada

Missionário da Comunidade Canção Nova, Sandro Arquejada é formado em Administração de Empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente, trabalha na Editora Canção Nova. Autor de livros pela Editora Canção Nova, ele já publicou três obras: "Maria, humana como nós"; "As cinco fases do namoro"; e "Terço dos Homens e a grande missão masculina".


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/por-que-cometo-sempre-os-mesmos-pecados/

24 de agosto de 2020

Vocação: como saber se é Deus me chamando?


Há diferentes vocações, mas é um mesmo e único Deus que chama a todos. O chamado é sempre particular, pessoal e intransferível; ou seja, ninguém ouve por você o chamado que Ele te fez. Você ouve Deus falando, das mais infinitas e criativas formas, mas sempre de um jeito que você "ouvinte" entenda, ou Ele não chamou. Deus é simples, Ele não gosta de complicar as coisas.

Às vezes, o Senhor se utiliza de uma pessoa ou outra para chamar a sua atenção, pois quer falar com você, mas Ele falará com você e não para essa pessoa. Entendeu? A vocação é sempre um exercício de correspondência, Deus chama; eu escuto e respondo; Ele envia, assim como Samuel: "O Senhor chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui!" (1 Samuel 3, 4).

Vocação: como saber se é Deus me chamando?

Foto ilustrativa: Delmaine Donson by Getty Images

A revelação da vontade do Senhor em relação a nós se dará no decorrer desse processo de correspondência. É na intimidade com o Ele, ou seja, tornando-me cada vez mais amigo d'Ele é que as coisas se tornam mais claras. No início, Samuel precisava da ajuda de Eli para entender que era Deus quem o chamava, mas, à medida que ele mesmo foi buscando essa intimidade, mais alto e claro ouvia o Senhor.

Seja amigo de Deus

Aqui, quero chamar a atenção para a importância de um diretor espiritual nesse processo de discernimento. Mas lembre-se de: ser amigo de Deus é o primeiro passo para quem quer discernir bem uma vocação. E será sempre o "toque de caixa" dessa vocação, quanto mais íntimo d'Ele eu for, mais eu corresponderei com alegria a esse chamado e mais fácil será obedecer à voz de Deus que, na mesma proporção da nossa correspondência, nos pede mais e mais e nos confia missões cada vez maiores.


É interessante que possa parecer tensa essa relação com Deus, então, é aí é que está o segredo. Quando é o Senhor quem chama e livremente vamos respondendo a esse chamado e  nos tornamos amigos d'Ele, vamos sendo tomados por uma paz e uma alegria que autentica esse chamado e chancela a nossa decisão. O medo não cabe nessa relação de amizade com o Senhor e, pouco a pouco, vai ficando menor e mais distante.

Portanto, paz e alegria serão os nossos companheiros no discernimento vocacional e em nossa vocação, pois também serão eles que, nas horas difíceis e nubladas, nos indicarão o caminho certo.

"A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus" (Evangelli Gaudium n.1).

Deus abençoe e bom discernimento!



Carla Picolotto

Carla Picolotto, é natural de São José das Missões-Rio Grande do Sul membro da Canção Nova desde 2009. Passou pelas missões do Rio de Janeiro- RJ, Fortaleza- CE, além de Cachoeira Paulista-SP e Lavrinhas-SP atua hoje na missão de Queluz- SP na Equipe de Formação do Discipulado, que corresponde ao segundo ano do período de Averiguação de ingresso das novas vocações à Canção Nova.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/vocacao-como-saber-se-e-deus-me-chamando/

20 de agosto de 2020

Será que devo recomeçar ou desistir?

Em algumas situações de nossa vida, é necessário parar, rezar e fazer os cálculos, nos perguntando qual é a melhor escolha: desistir ou recomeçar. Recomeçar é sempre bom porque vem depois do verbo esperançar. Pois, se você acha que vale a pena recomeçar é porque, certamente, acredita que, dessa vez, poderá dar certo.

Mas antes é necessário realmente se questionar: "De fato, vale a pena tentar novamente?". Existem situações que a vida já nos mostrou que uma mudança não vai acontecer. Então, por que continuar insistindo? É melhor você parar e pegar a força que usa para tais situações dar certo e realocá-la em outra coisa.

Será que devo recomeçar ou desistir?

Foto ilustrativa: Tamara Dragovic by Getty Images

Recomeçar ou desistir depende de você

Porém, se após rezar e fazer os cálculos você perceber que vale a pena recomeçar, não tenha medo, recomece. Encha seu coração de alegria, de esperança, de força… E recomece! Seja um estudo, um relacionamento, sua vida de intimidade com Deus… Apenas recomece.


Recomeçar existe para situações que ainda não se acabaram, mas que, por vezes, foram deixadas de lado ou até mesmo ficaram desgastadas com o tempo, contudo, é possível retomar e dar a elas o sabor de novidade. O bom de recomeçar é porque você já aprendeu com as coisas que deram certas e erradas. Então, a sua chance de acertar agora são bem maiores. Recomeçar ou desistir depende de você e do discernimento de cada situação.

Eu rezo para que você saiba quais são as situações que precisa desistir como também as que precisa recomeçar. E para as que precisa recomeçar, desejo a você a força e a sabedoria. Você merece ser feliz!



Regiane Calixto

Regiane Calixto é natural de Caxambu (MG). Membro da Comunidade Canção Nova, desde o ano de 2009, a missionária é graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Gestão de Veículos de Comunicação. Encontrou na tecnologia e na comunicação um grande meio para levar às pessoas o Evangelho vivo e vivido.


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/sera-que-devo-recomecar-ou-desistir/

17 de agosto de 2020

Diga-me quem “segues” e eu te direi quem és!


Em 1972, diante de toda perseguição e crise em que a Igreja vivia após o Concílio Vaticano II, São Paulo VI declarou que "de alguma fenda a fumaça de satanás entrou no templo de Deus", e seguiu explicando: "Há dúvida, incerteza, problemática, inquietação, insatisfação, confronto… Não confiamos mais na Igreja; confiamos no primeiro profeta profano que vem falar conosco de algum jornal ou de algum movimento social para persegui-lo e perguntar se ele tem a fórmula da vida real"1. São Paulo VI denunciava uma crise de referencial. A Igreja que, desde o dia em que "nasceu do lado aberto de Cristo"2 foi mãe para a humanidade, agora, era deixada de lado, era abandonada, era desprezada por pagãos e pelos seus próprios filhos.

Diga-me quem

Foto ilustrativa: pkanchana by Getty Images

Hoje não é diferente. Também estamos em um tempo em que buscamos referenciais, mas, se esses forem buscados em lugares errados, seremos muito mais manipulados do que conduzidos à Verdade, como sempre foi o papel de Cristo e de sua Igreja.

Qual é a sua referência?

O mundo atual carece de referência e qualquer nova oportunidade pode tornar-se um bem ou um mal. O cuidado com os meios se encontra em quem tem domínio de si e não em quem segue "qualquer vento de doutrina" (Ef 4, 14), em quem acredita na mentira mais esfarrapada e sem fundamento que lhe contem. É preciso urgentemente voltar a desenvolver no coração do filho de Deus, que nasceu nas águas do batismo, o domínio nas paixões e o discernimento. Atualmente, qualquer um que tenha um perfil nas redes sociais pode encontrar nelas um referencial, um "digital influencer", e isso não é em tudo ruim, o perigo se encontra em fazer das nossas referencias os nossos ídolos, o nosso "Baal" do mundo moderno. E, na era digital, qualquer pessoa pode se tornar um falso messias!


A grande referência de quem é cristão deve ser a Doutrina da Igreja! Tudo deve ser passado pelo crivo da fé; e tudo que a extrapola ou a abandona pode ser um perigo grande demais para quem não tem maturidade de enfrentar. A Igreja com a sua Doutrina sempre foi a "Lumen Gentium"3, a luz dos povos, e hoje não pode ser diferente.

A quem você está seguindo? Quem te conduz? Para onde te conduz?

Referências:

1 Homilia do dia 29 de junho de 1972.
2 Enciclica Haurietis Aquas, nº 39.
3 Documento do Concílio Vaticano II sobre a Igreja.

Renné Santos de Sena Viana


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/dize-me-quem-segues-e-eu-te-direi-quem-es/

14 de agosto de 2020

Não pecar contra a castidade!


Talvez a castidade seja o mandamento mais desobedecido em nossos dias. Mais do que nos demais, nesse campo a Lei de Deus é vista como mera repressão sexual a ser abolida com a máxima urgência. "Chega de tabus religiosos!", dizem. Para os que querem ser fiéis a Jesus Cristo, e querem ser de fato felizes, o mandamento continuará sempre de pé, pois é eterno.

Foto Ilustrativa: by Getty Images / west

Não fira a castidade

O triste espetáculo dos motéis, dos telefones eróticos, das novelas sensuais, dos filmes pornôs, da camisinha etc., atestam a decadência de uma civilização que, ousadamente, suprimiu a Lei sagrada de Deus. Calca aos pés o sagrado e afronta loucamente o Criador.

Já no Antigo Testamento, o Senhor dizia a Seu povo: "Não cometerás adultério" (Dt 5,18). E Jesus leva o preceito à perfeição: "Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração" (cf. Mt 5,27-28). O Mestre é radical nesse ponto, mas, ao mesmo tempo que é intransigente com o pecado, ama o pecador. À mulher adúltera, a ser apedrejada, Ele diz: "Vai e não peques mais".

O nosso mundo moderno quer, a todo custo, adaptar o Evangelho aos seus prazeres. Ao que São Paulo responde: "Não vos conformeis com este mundo, mas reformai-vos pela renovação do vosso espírito" (cf. Rm 12,2).

As desordens humanas

Não é verdade que aqueles que profanam o próprio corpo, indefinidamente, acabam numa morte triste? É interessante como São Paulo insiste nesse ponto. Também sobre o homossexualismo, hoje tão defendido por muitos, a condenação da Bíblia e da Igreja é expressa: "Não te deitarás com um homem como se fosse uma mulher: isso é uma abominação" (cf. Lv 18,22). "Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometeram uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão a sua culpa" (cf. Lv 20,13).

São palavras claras, pelas quais Deus classifica a prática do homossexualismo como uma abominação.

Na Carta aos Romanos, São Paulo mostra a gravidade desse comportamento desordenado: "Conhecendo Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças […] Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações e à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos […], as suas mulheres mudaram o uso natural em outro que é contra a natureza. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam de desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida a seu desvario" (cf. Rm 1,21-27).

Deus ama o pecador, mas abomina o pecado

Quando, em 1994, no "Ano da Família", o Parlamento Europeu, tristemente, reconheceu a validade jurídica dos matrimônios entre homossexuais, até admitindo a adoção de crianças por eles, o Papa João Paulo II tomou posição imediata: "Não é moralmente admissível a aprovação jurídica da prática homossexual. Ser compreensivos para com quem peca, e para com quem não é capaz de libertar-se desta tendência, não significa abdicar das exigências da norma moral… Não há dúvida de que estamos diante de uma grande e terrível tentação" (20/02/94).

O Catecismo da Igreja também é claro nos pontos que ofendem a castidade: Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (Gn 19,1-20; I Tm 1,10), a tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural (nº 2357).

Também com referência à masturbação, defendida por muitos como algo normal, ensina a Igreja: "Na linha de uma tradição constante, tanto o magistério da Igreja como o senso moral dos fiéis afirmam sem hesitação que a masturbação é um ato intrínseco e gravemente desordenado" (nº 2352).

Enfim, diz o Catecismo: "Qualquer que seja o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações conjugais normais contradiz sua finalidade" (idem).

A luta contra as impurezas

Sabemos que não é fácil a luta contra as misérias da carne, e é preciso ter caridade, respeito e compaixão pelos que sofrem desses males. É preciso lembrar-lhes que só Cristo pode dar força e libertação. Lembra-nos o apóstolo que: "Tudo posso naquele que me dá forças" (Fl 4,13).

Importa não desanimar na luta em busca da pureza. Sempre lutar, com a graça de Deus, até que o espírito submeta a matéria. São Pedro nos diz: "Depois que tiverdes padecido um pouco, [Deus] vos aperfeiçoará, vos tornará inabaláveis, vos fortificará" (I Pd 5,10).

Muitas vezes, pode nos parecer que a luta contra as paixões da carne sejam sem fim, ou que a vitória seja impossível. De fato, com a nossa fraqueza jamais podemos vencê-las, mas, como disse Santo Agostinho, que experimentou tão bem este combate: O que é impossível à natureza, é possível à graça.


Somente com os auxílios da graça de Deus é que podemos vencer as misérias da nossa carne. Daí a importância de uma continua vigilância sobre nós mesmos, ao mesmo tempo em que vivemos uma profunda e perseverante vida de oração e de participação nos Sacramentos da Reconciliação (Confissão) e Eucaristia. Nesses Sacramentos, Jesus nos lava com o seu próprio Sangue redentor, alimenta-nos e cura a alma, a fim de que sejamos fortes contra as tentações. Nossa Mãe Maria é a Rainha da pureza e está sempre pronta a nos auxiliar nesta luta árdua. Precisamos recorrer a ela e nos colocarmos continuamente debaixo de sua proteção materna.

A luta contra as impurezas é da maior importância, não só para cada um de nós, mas, principalmente, porque cada batizado é membro de Cristo (cf. I Cor 12,27). É preciso estarmos cientes de que, quando nos sujamos, sujamos também o Corpo de Cristo; aí está toda a gravidade da luxúria. Cada um de nós é parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja; logo, o nosso pecado afeta toda a Igreja. Eis porque nos confessamos com um ministro seu, também, para nos reconciliarmos com ela.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/afetividade-e-sexualidade/castidade/nao-pecar-contra-a-castidade/

12 de agosto de 2020

Ofensas e humilhações: combustível para mais ofensas e humilhações


Costuma-se dizer que uma pessoa só revela aquilo que ela verdadeiramente é quando se exige dela uma resposta imediata diante de uma situação repentina. Não sei se isso é totalmente verdadeiro, porém, é inegável que a zona de conforto que todos nós gostamos tanto e na qual nos refugiamos é também uma região em que se manifestam apenas as nossas aparências. Nela, o 'verdadeiro eu' permanece num cochilo "hibernaz".

Por vezes, o sossego duradouro do 'verdadeiro eu' é incomodado. Geralmente, esse inconveniente é causado por aquilo que ouvimos, vemos, pensamos, presenciamos, em suma, pelo que se nos apresenta, principalmente, de supetão. Caso me fosse pedido um exemplo concreto, eu logo responderia o mais recente: o tal vídeo que  "tsunamizou" a internet essa semana. Quem não assistiu, afinal, ao vídeo daquele rapaz que trabalha com entregas de alimento sendo recebido com exasperação por um outro que fizera a tal encomenda?

Não pretendo fazer nenhum comentário diretamente sobre o vídeo, muitos já o fizeram. Que cada um analise para si a justeza (ou não) dessa repercussão acalorada. A bem da verdade, confesso, não consegui até hoje assistir ao vídeo do início ao fim. Meu propósito é tecer alguns breves comentários sobre a repercussão do caso nas redes sociais.

Ofensas e humilhações: combustível para mais ofensas e humilhações

Foto ilustrativa: skynesher by Getty Images

Jesus quebrou o ciclo das ofensas e das humilhações

Alguém parou para pensar, ao menos por um minuto, no conteúdo dessa repercussão? Merecida ou imerecidamente, a pessoa que humilhou foi fortemente repreendida com mais humilhações. Situação que se assemelha, de certo modo, a uma reprimenda de uma mãe que, aos berros enlouquecedores, pede para o filho parar de gritar. Não teria essa situação algo de esquizofrênico? Eis o ciclo do mal e da ignorância sendo fomentado com mais mal e mais ignorância.

A título de exemplo, que bem se poderia tirar comparando a uma caixa d'água aquele que, no vídeo, provocou a humilhação? Pelas redes sociais, o infeliz ainda ganhou rosto de demônio, feições suínas, corpo de personagens jocosos do cinema, sem contar os intermináveis xingamentos desmedidos que nem cabe retomar. Com isso, não estou defendendo nem deixando de defender ninguém.

A propósito, o Mateus – aquele do Evangelho – possuía uma profissão que lhe trazia enormes somas de dinheiro, ou seja, era coletor de impostos. Embora fosse rico, aquele homem, o Mateus do Evangelho, foi desprezado. Considerado por todos como um aproveitador, certamente Mateus seria alvo de muitos memes caso estivesse nos nossos tempos. Assim como os fariseus daquele tempo não o perdoaram, os do nosso tempo, provavelmente, também não o faria. O fato importante é que Jesus, mesmo sabendo quem ele era, quis jantar em sua casa.


Ser cristão, caro internauta, realmente é um grande desafio. Jesus quebrou o ciclo das ofensas e das humilhações. Em Jesus, o mal que Mateus fazia não foi usado de combustível para fomentar mais ofensas e humilhações. Jesus quebrou o ciclo do mal com o amor, desarmou o gatilho do mal. Aliás, Ele é especialista em fazer essas coisas. A mansidão do nazareno trouxe outra perspectiva para o caso do Mateus do Evangelho. O antídoto para a vozearia e o
burburinho ensurdecedor causado pela vontade de vingança havia sido apresentado por Jesus. Os fariseus, infelizmente, não o souberam usar.

Colocando novamente em evidência o caso específico do vídeo que citei acima, atrevo-me a perguntar a todos que, de alguma forma, reagiram ao caso: "Você foi capaz de quebrar o ciclo de vingança e de ofensa, assim como nos ensinou Jesus?". Não sei qual será a resposta que sua consciência lhe dará. Sei, porém, a resposta que a minha consciência me dá, a saber, um vergonhoso "não". Preciso me converter!

Desse caso tirei um aprendizado: não quero deixar escapar dos meus pensamentos que até mesmo o rico Mateus, aquele do Evangelho, recebeu o perdão e a misericórdia de Deus. Viver o cristianismo, realmente, não é fácil.

Deus abençoe você e até a próxima!



Gleidson Carvalho

Gleidson de Souza Carvalho é natural de Valença (RJ), mas viveu parte de sua vida em Piraúba (MG). Hoje, ele é missionário da Comunidade Canção Nova, candidato às ordens sacras, licenciado em Filosofia e bacharelando em Teologia, ambos pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, na Liturgia do Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários. Apresenta, com os demais seminaristas, o "Terço em Família" pela Rádio Canção Nova AM. (Instagram: @cngleidson)


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/ofensas-e-humilhacoes-combustivel-para-mais-ofensas-e-humilhacoes/

10 de agosto de 2020

O poder do diálogo no matrimônio


A última encíclica do Santo Padre, o Papa emérito Bento XVI, "Caritas in Veritate", de 29 de junho de 2009, apresenta uma proposta de vida, na qual as pessoas devem viver a verdade. E essa verdade deverá ser procurada, expressada e encontrada na caridade; e toda caridade precisa ser compreendida, avaliada e praticada à luz da verdade. O Papa usa a expressão "ágape" para falar de caridade e "logos" para dizer da verdade. E afirma que: da verdade (logos) sai a palavra "dia-logos" – diálogo, comunicação, comunhão. A comunhão é o fruto do diálogo.

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Foto Ilustrativa: itakayuki by Getty Images

O diálogo é fundamental no matrimônio

No matrimônio, o diálogo entre os cônjuges é a fonte para que o amor se alimente, cresça e frutifique em obras na própria vida do casal e também frutos de transformação da sociedade. A base do diálogo é e será sempre a verdade, mas a forma de se dizer a verdade precisa ser a caridade, com respeito a outra pessoa. Vemos muitos casais em crises conjugais por causa da falta de diálogo, por não expressarem livremente a sua opinião, causando sempre a depressão no outro, que se sente sufocado por viver a partir da verdade do cônjuge, sem poder se dizer. Por isso, o diálogo é fundamental no matrimônio.

O que seria, então, o diálogo? Arrisco afirmar que a base é a escuta e não o falar. Para aprender a dialogar com os outros é preciso aprender a ouvi-lo sem qualquer preconceito, sem querer corrigi-lo ou interferir em sua fala. Toda pessoa precisa ser ouvida, precisa ter alguém que a escute e dê atenção às suas aspirações, sofrimentos, anseios diários. Enfim, todos precisamos que alguém nos acolha com amor e nos escute por um momento do dia. Acho esse o ponto essencial no diálogo: um fala e o outro escuta, depois, o outro fala e o primeiro escuta. O fruto do diálogo deverá ser o consenso, uma opinião comum.


Quando tudo isso não acontece as pessoas acabam se fechando e não se comunicando com quem ama, porque esse não soube ouvi-la ou, então, interpretou a sua fala de forma errônea, distorcendo aquilo que ouviu e reagindo de forma agressiva ou indiferente.

O diálogo deve ser pautado na verdade

O centro do diálogo é a busca da verdade, e a verdade é Jesus Cristo. N'Ele podemos encontrar o ponto de unidade para o diálogo, por isso, a importância do casal rezar juntos. Quem reza junto consegue conversar e dialogar de forma madura e sempre com respeito. Podemos até discordar da opinião dos outros, mas é sempre bom separar o fato da pessoa. Separe e preserve sempre a pessoa; discuta opiniões. Toda discussão tem de ter como base o amor.

A verdade dita sem amor torna-se agressiva e não produz o efeito de ajuda para a melhora do outro. Se aprendermos a viver o diálogo pela verdade, mas ajustado ao amor de Deus, poderemos ser mais felizes no nosso matrimônio.

Deus o abençoe!


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/vocacao/matrimonio/o-poder-do-dialogo-no-matrimonio/

7 de agosto de 2020

Por que o "Evangelho de Judas" não faz parte da Bíblia?


A toda hora, surgem notícias sobre os evangelhos apócrifos. A tradução do Evangelho de Judas, que na verdade já era conhecido de Santo Irineu, por volta do ano 180, nada traz de novo para a Igreja.

Excluídos da Bíblia

Os apócrifos são livros do Antigo e do Novo Testamento que a Igreja rejeitou por não serem inspirados pelo Espírito Santo, e assim não os colocou na Bíblia. A Igreja definiu o cânon da Bíblia (índice) desde o ano 200 com o Cânon de Muratori e outros concílios como o de Cartago III e IV.

Foto Ilustrativa: by Getty / Sergio Yoneda

 

Os apócrifos foram excluídos da Bíblia por serem fantasiosos sobre a pessoa de Jesus e outros personagens bíblicos, ou por possuírem heresias, especialmente os evangelhos gnósticos. Esses foram encontrados numa caverna da cidade egípcia de Nag Hammadi em 1945. Alguns levam os nomes dos apóstolos e outros personagens bíblicos, mas não foram escritos por eles.

Livros apócrifos no Antigo Testamento

No Antigo Testamento, temos os seguintes apócrifos: Jubileus; A Vida de Adão e Eva; 1 Henoque; 2 Henoque; Apocalipse de Abraão; Testamento de Abraão; Testamento de Isaac; Testamento de Jacó; Escada de Jacó; José e Asenet; Testamento dos Doze Patriarcas; Assunção de Moisés; Testamento de Jó; Salmos de Salomão; Odes de Salomão; Testamento de Salomão; Apocalipse de Elias; Ascensão de Isaías; Paralipômenos de Jeremias; Apocalipse Siríaco de Baruc; Apocalipse de Sofonias; Apocalipse de Esdras; Apocalipse de Sedrac; 3 Esdras; 4 Esdras; Sibilinos; Pseudo-Filon; 3 Macabeus; 4 Macabeus; Salmos 151-155; Oração de Manasses; Carta de Aristeu; As Dezoito Bênçãos; Ahigar; Vida dos Profetas; Recabitas.

Livros apócrifos no Novo Testamento

Os apócrifos do Novo Testamento são: Evangelho segundo os Hebreus (gnóstico) – fim do séc I.; Proto-Evangelho de Tiago (História do nascimento de Maria); Evangelho do Pseudo Tomé; O Evangelho de Pedro (gnóstico) – meados do séc II.; O Evangelho de Nicodemos; Evangelho dos Ebionitas ou dos Doze Apóstolos – meados do séc II; Evangelho segundo os Egípcios – meados do séc II; Evangelho de André – séc II/III; Evangelho de Filipe – séc II/III; Evangelho de Bartolomeu – séc II/III; Evangelho de Barnabé – séc II/III; O Evangelho de Judas (gnóstico).

Outros Assuntos: O drama de Pilatos; A morte e Assunção de Maria; A Paixão de Jesus; Descida de Jesus aos Infernos; Declaração de José de Arimateia; História de José o carpinteiro. Atos: Atos de Pedro; Atos de Paulo; Atos de André; Atos de João; Atos de Tomé; Atos de Felipe; Atos de Tadeu. Epístolas: Epístolas de Barnabé; Terceira Epístola aos Coríntios – séc II dC; Epístola aos Laodicenses – fim do séc II dC; Carta dos Apóstolos – 180 dC; Correspondência entre Sêneca e São Paulo – séc IV dC. Apocalipses: Apocalipse de Pedro – meados do século II; Apocalipse de Paulo – 380 dC; Sibila Cristã – século III.


Isso mostra que a Igreja foi muito criteriosa na seleção dos livros que formariam a Bíblia, isto é, revelados, Palavra de Deus. Por meio de sua tradição, interpretada pelo Magistério, a Igreja nos deu a Bíblia como a temos hoje. Portanto, sem a autoridade da Igreja ela não pode ser interpretada, pois não existiria a Bíblia como a temos hoje.



Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", na Rádio apresenta o programa "No Coração da Igreja". Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/biblia/estudo-biblico/por-que-o-evangelho-de-judas-nao-faz-parte-da-biblia/

5 de agosto de 2020

É preciso mudar de vida

São João Maria Vianney, o cura D'Ars, tinha um carisma muito especial no Sacramento da Confissão; ele era um grande confessor.

Conta-se que: uma senhora, que se confessava com ele, todas as vezes dizia o mesmo pecado: falava mal das pessoas. Ele a aconselhava, lhe dava penitência e absolvição. Mas como ela voltou a confessar tantas vezes o mesmo pecado, um dia, ele lhe deu uma penitência especial: "Hoje, a senhora pegará uma galinha viva e sairá pela cidade depenando-a e jogando as penas pela cidade".

A mulher ficou envergonhada, mas como era penitência, fez o que o padre lhe pediu. Todos acharam muito estranha a atitude dela, andando pela cidade e depenando a galinha, muitos pensaram que ela havia enlouquecido.

Foto Ilustrativa: by Getty Images / martin-dm

Depois que terminou, ela voltou à casa de São João Maria Vianney e mostrou-lhe a galinha depenada. Ele, então, lhe disse: "Ótimo, a senhora fez a primeira parte da penitência. A segunda é a seguinte: volte e reúna todas as penas".

Para mudar de vida, é preciso mudar as atitudes

É impossível juntar as penas! E ainda mais recolocá-las. Depois que você falou mal de alguém, e até o difamou, não dá mais para reconstruir a imagem dessa pessoa. Mesmo que o irmão tenha errado, ele é "santo" porque pertence ao Senhor, foi Ele quem o escolheu. Santo quer dizer "escolhido". Não duvide: o Senhor escolheu um por um dos nossos irmãos. Eles são santos, são intocáveis; não pertencem a nós: pertencem ao Senhor. Não somos seus juízes: o juiz deles é unicamente o Senhor. A nós cabe somente a misericórdia. Jesus os resgatou ao preço do sangue d'Ele.

O Espírito Santo é perdão

Depois que você "jogou pelos ares" a eleição do irmão, não dá mais para ajuntar as "penas". Temos, infelizmente, agido dessa maneira na Igreja, na comunidade, em nosso grupo de oração. Esse, porém, não é o procedimento coerente de pessoas que têm o Espírito Santo, que receberam os dons e foram batizadas n'Ele.

É preciso mudar de vida. Não pode se dizer batizado no Espírito quem procede assim, porque o Espírito Santo de Deus é amor. Ele é misericórdia e perdão.

Todos nós temos falhas e defeitos; mas não se pode jogar no lixo a honra, o nome, o chamado, a eleição e a escolha do irmão. Não se pode fixar o olhar somente nos erros e defeitos dele. Ainda mais quando esse irmão é nosso companheiro de caminhada, companheiro de batalha. Estamos no mesmo combate; na mesma "tropa de elite"… E não estamos prontos. Todos estamos em fase de "treinamento". O Senhor está nos "adestrando" para sermos seus valentes guerreiros.


Temos de mudar nossa vida para que possamos dar à Igreja a contribuição de que ela precisa. (…) "Não tenhais nenhuma dívida para com quem quer que seja, a não ser a de vos amardes uns aos outros; pois aquele que ama o seu próximo cumpriu plenamente a lei" (Rm 13:8).



Mons. Jonas Abib

Fundador da Comunidade Canção Nova e Presidente da Fundação João Paulo II. É autor de diversos livros, milhares de palestras em audio e vídeo, viajando o Brasil e o mundo em encontros de evangelização. Acesse: http://www.padrejonas.com


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/e-preciso-mudar-de-vida/

3 de agosto de 2020

Temos muitas diferenças e está tudo bem!

É bastante comum, numa conversa entre namorados, noivos ou casados, que o tema das diferenças entre em cena. Via de regra, alguém diz, referindo-se ao seu parceiro: "Nós somos muito diferentes, você nem imagina!" A verdade é que imaginamos sim. Todos nós, casados, noivos ou namorados, sabemos bem o quanto somos diferentes da pessoa que escolhemos para viver até o fim da nossa vida. O que ocorre é que muitos casais, especialmente namorados, prestam atenção apenas a uma dimensão da diferença, aquela que mais chama a atenção no exterior: o  temperamento. "Nossa, fulano e eu somos muito diferentes! Eu sou totalmente sanguínea, ele é melancólico. É um desafio, mas a gente acaba se entendendo." Os temperamentos, contudo, são apenas uma pequena parte daquilo que forma uma pessoa em sua inteireza. De início, pode parecer que eles definem o seu namorado ou definem as  diferenças no seu namoro, mas há muito mais que isso.

Quem já tem muitos anos de casado tem atrás de si diversas histórias, um sem número de pequenos embates e desafios com seu cônjuge. Se for alguém que busca a Deus, essa pessoa certamente soube tirar de cada embate e desafio um aprendizado. Uma lição importante nesse sentido é: todas as diferenças importam, mesmo as menores. Ao longo da vida conjugal, pequenas coisas vão se repetir muitas vezes diariamente por muitos anos. No namoro, você pode olhar para seu namorado ou namorada e dizer: "Ele é um pouco bagunçado, mas isso eu tiro de letra." Ou: "Pela manhã, ela sempre está de mau humor, só melhora depois das dez, mas isso é fichinha perto do amor que tenho por ela."

Temos muitas diferenças e está tudo bem!

Foto ilustrativa: PeopleImages by Getty Images

Sim, no namoro, situações assim podem parecer insignificantes, mas se você só gosta das coisas muito bem organizadas e todos os dias vê seu marido deixando a toalha de qualquer jeito no banheiro ou a caixa de remédios fora do lugar, isso vai gerando tensão entre vocês, e essa "pequena" diferença passa a ter bem mais relevância. A mesma coisa acontece se você já acorda a mil por hora, animado, cheio de energia, querendo sair ou participar da missa aos domingos às sete da manhã, por exemplo, e sua esposa acorda sempre de cara fechada e nunca topa fazer nenhum programa logo cedo.


As diferenças, mesmo que pequenas, contam?

Toda diferença conta e, tendo você percebido ou não, você e seu(ua) namorado(a) são bastante diferentes. Examine-se além dos seus temperamentos. Pense na educação e nos costumes que cada um de vocês recebeu da família. Pode ser que um tenha vindo de uma família mais abastada, outro de uma família mais simples. Ou ainda um veio de uma
família bem estruturada, outro não conheceu o pai ou a mãe… Um pode ter recebido uma educação mais rígida nos costumes, outro viveu solto, sem rédeas, enfim, há muitas combinações possíveis que podem explicar diferenças significativas entre vocês só olhando para a família. Mas não para por aí. Pense também na questão cultural, que pode ser afetada por tanta coisa: a) a região onde nasceram – se um é do Nordeste e o outro é do Sul, por exemplo, quanta diferença cultural cada um traz na bagagem! b) o porte da cidade – se um cresceu numa grande capital, como São Paulo, Recife ou Belo Horizonte, e o outro cresceu na zona rural de uma pequena cidade do interior, que diferença de mundos! c) o acesso à educação que cada um teve – se um tem nível superior e é alguém que sempre valorizou os estudos e o outro teve uma vida mais distante do mundo acadêmico, por exemplo. Você poderia continuar a sua investigação em diversas direções e continuaria a encontrar contextos que evidenciariam a existência de diferenças entre vocês: gostos adquiridos, sejam culinários, políticos, de lazer; história pessoal de vida – de um lado, alguém que viveu vícios, pecados ou que sofreu muitas desilusões amorosas, e do outro lado alguém com uma vida vivida no recato, longe do mundo.

Sim, temos muitas diferenças, mas está tudo bem! Como católicos, somos todos convidados a buscarmos Deus, perseguirmos uma vida de santidade. Por conta disso, devemos olhar essas diferenças como oportunidades para crescermos no amor a Deus e no amor pelo outro. Quando o casal vive em sintonia com Deus, o próprio Espírito Santo vai ensinando, de maneira bem lenta, natural, ao longo dos anos, por meio da própria vida, onde cada um terá que ceder, precisará mudar, onde fica o limite do outro. Naquele exemplo da esposa que acorda de mau humor, pode ser que seja muito difícil para ela superar isso e acordar todos os dias bem, mas ela consegue dar um passo de amor ao decidir participar da missa dos domingos pela manhã, e o esposo, compreendendo a luta de sua esposa, aceita esse passo com alegria. No caso do marido desorganizado, muito possivelmente o passo terá que ser duplo: ele se converte e ordena a própria vida, mas a esposa também tolerará mais as limitações dele, que nem sempre conseguirá alcançar o nível de organização dela.

Diante de tudo isso, olhe para o seu relacionamento e dê um passo além no conhecimento de si próprio e do outro. Essa é uma aventura na qual vale muito a pena embarcar. São sementes plantadas no namoro e no noivado que renderão belos frutos se você chegar a se casar com essa pessoa.



José Leonardo Nascimento

José Leonardo Ribeiro Nascimento é casado, pai de quatro filhos e membro do segundo elo da Comunidade Canção Nova desde 2007. Natural de Paripiranga (BA), cursou Ciências Contábeis na Universidade Federal de Sergipe e fez pós-graduação em economia por meio do Minerva Program, na George Washington University, nos Estados Unidos. Trabalha, há 18 anos, como Auditor Federal na Controladoria-Geral da União em Aracaju (SE). Ele e sua esposa trabalham, há muitos anos, com a evangelização de casais e de famílias, coordenando grupos e pregando em retiros e encontros.
Instagram: @leonardonascimentocn | Facebook: @leonardonascimentocn


Fonte: https://formacao.cancaonova.com/relacionamento/namoro/formacao-para-namorados-e-noivos-temos-muitas-diferencas-e-esta-tudo-bem/