26 de fevereiro de 2018

Você sabe o significado do termo "narcisismo digital"?

O narcisismo digital é um sintoma de que algo não vai bem

Você é daquelas pessoas que não perdem a oportunidade de apontar o celular para si e tirar uma selfie? Fica angustiado quando ninguém curte sua foto e extremamente realizado quando percebe um "pontinho vermelho" ali nas notificações do facebook? Não consegue mais viver sem estar em evidência nos mais diversos grupos de "amigos" online? Se a resposta for sim, você pode estar apresentando os sintomas do que os especialistas chamam de: narcisismo digital.

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Foto ilustrativa: master1305 by Getty Images

O que é narcisismo?

A mitologia grega nos fala de um jovem com imensurável beleza chamado Narciso, que vendo a sua bela imagem refletida nas águas de um lago apaixonou-se por si mesmo e acabou sendo tragado pela própria beleza, caindo no lago e morrendo afogado. Este mito foi usado mais tarde pela psiquiatria e pela psicanálise para classificar pessoas que são extremamente preocupadas com a autoimagem, geralmente muito vaidosas, precisam chamar atenção a todo momento numa tentativa de estar sempre em evidência. Tudo isso porque há um investimento da libido (energia psíquica) voltado para a própria pessoa, que – inconscientemente – acaba regredindo em comportamentos infantis de melindres, dramaticidade e insegurança, como se fosse perder o amor da pessoas amada ou sofrer abandono por parte dos pais.

A sociedade da imagem

O mundo moderno gira entorno do espetáculo da imagem. O importante é o corpo, a aparência glamurosa, excitante, bonita, impecável. A televisão, as revistas, as mídias sociais produzem e lucram nos oferecendo este modelo de imagem "perfeita" e "bem sucedida", ao mesmo tempo em que nos mostram as referências que precisamos imitar para estar "bem na foto". Sem nos darmos conta, estamos lá, postando a nossa selfie com a roupa igual da atriz da novela, o "corpo sarado" daquele(a) modelo, o mesmo corte de cabelo e tatuagem daquele jogador de futebol.

Um exemplo deste fenômeno da superexploração da imagem é que hoje um dos itens mais importantes nas academias – mais do que os próprios aparelhos – é o espelho. O problema do espelho é que ele não nos mostra o vazio interior e a angustia da alma, mas ele tem revelado que, por trás de cada cada foto – seja dos bíceps, do peitoral, dos glúteos ou apenas de um rostinho bonito – talvez encontra-se um grito de socorro.


Mundo digital e o novo "lago de Narciso"

Assim como Narciso viu a sua imagem reflexa no lago e apaixonou-se por si mesmo até as últimas consequências, hoje temos novas águas que refletem e amplificam uma imagem inflada de nós mesmos. Todos nós conhecemos alguém que não perde uma oportunidade de se mostrar na internet, inclusive ao ridículo.

O problema, no entanto, não é da internet e nem das redes sociais em si, mas de algo que não está bem na pessoa. Cada tentativa de postar uma nova foto ou receber uma curtida pode esconder a necessidade de aceitação externa para compensar a baixa autoestima, muito comum em pessoas narcísicas. Essas pessoas precisam de ajuda para não se "afogarem" no mar do mundo digital, ao ponto de perderem o contato com a realidade.

Como perceber se sou narcisista digital?

– Consigo ficar mais de um dia sem postar fotos pessoais nas diferentes redes sociais?
– Fico triste, depressivo ou angustiado quando minhas postagem não me dão um feedback, tipo curtidas?
– A cada troca de roupa me dirijo ao espelho para tirar foto de mim mesmo (a) e logo em seguida postar?
– Passo uma imagem na internet que não corresponde à minha realidade?
– Sinto inveja e/ou raiva quando outras pessoas ficam em maior evidência do que eu na internet?
– Costumo me comparar com outras pessoas e assumir uma postura de competição nas redes sociais?

Se a resposta para a maioria das perguntas acima for "sim", é preciso buscar ajuda.


Daniel Machado

Daniel Machado de Assis, natural de São Bernardo do Campo-SP, é membro da Canção Nova desde 2002. Psicólogo formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, também estudou filosofia pelo Instituto Canção Nova. Atualmente é coordenador do Núcleo de Psicologia Canção Nova que tem por objetivo assessorar e auxiliar a formação dos membros desta instituição.



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