Deixar o filho ser criado por tudo e por todos, menos por você, é o único erro que não deverá haver na educação dos seus filhos
"Sua mãe é quem decide."
"Espere. Quando seu pai chegar, você vai ver, vou contar tudo a ele."
Quem nunca disse ou ouviu essas coisas em casa, na criação dos filhos? Crenças e costumes vão tornando a prática educacional, muitas vezes, sem medida, e não se percebe os erros cometidos. A falta dessa percepção persiste e quando os pais se dão conta já é tarde. Os frutos já nasceram e, muitas vezes, só lhes resta colhê-los. Por causa dessa necessidade em perceber o que e como se está fazendo para ver os filhos educados e bem criados é que todos os pais devem render-se a fazer uma constante avaliação da sua prática educacional. Precisaria de uma receita pronta para criar filhos? Mas quem iria prescrevê-la? Pediatras? Padres? Professores? Psicólogos? Avós? Juízes? Conselhos Tutelares? Impossível!
Foto: Daniel Mafra / cancaonova.com
Seria muita pretensão encontrar uma cartilha pronta, escrita por alguém. Talvez, aí esteja um erro possível de não cometer. Ter consciência de que os pais não estão prontos e que não são perfeitos. Essa certeza os tira da condição de culpados por tudo que não deu certo na vida dos seus rebentos. E, esses filhos, por sua vez, vão exigir menos dos seus pais por entenderem que eles também erram ou que tentam evitar ao máximo os piores erros. Erros que afetam o casamento, a vida dos filhos e a si próprios. Então, mesmo sabendo que nenhuma família é perfeita, existem erros possíveis de serem evitados na educação dos filhos.
Errar ou não errar
Errar ou não errar está muito associado à concepção de homem que cada família traz consigo. A forma com que ela enxerga a vida e como ela interage no ambiente será o caminho com que conduzirá a educação dos seus filhos. Os erros que os filhos não deveriam ter persistem nas criações por causa da cultura que as famílias desenvolvem. Portanto, para muitas, não se trata de erros, mas de continuidade de experiências familiares ou da prática de valores que passaram a adquirir pelas possíveis circunstâncias da vida. É muito comum, no ambiente escolar, ouvir de um pai: "Eu bato no meu filho. Meu pai me bateu a vida toda e eu não me transformei numa pessoa ruim".
Para identificar os erros que não deveriam fazer parte da educação dos filhos, faz-se necessário identificar as crenças que também conduzem essa relação; portanto, fiquem atentos:
Os filhos crescem e desenvolvem um comportamento por imitação ou por modelagem. A modelagem é um instrumento de modificar comportamentos por meio de intervenções e orientações da família, da escola e/ou da própria Igreja. A imitação acontece de forma natural quando o organismo seleciona comportamentos a partir do que vê, ouve, sente, toca, cheira, enfim, a partir do que percebe ou do que lhe atinge, mesmo que não tenha ainda construído um valor.
Ainda com os filhos pequenos, os pais apresentam um procedimento inadequado em relação à alimentação. Oportunizando-os a escolher o que querem comer, onde e como comer, fazem desse momento motivos de conflitos em casa, pois permitem que, quando pequenos, comam em frente à TV, deitados no sofá. Mas quando veem seus filhos crescidos, os obrigam a voltar para a mesa, porque lá é o lugar em que a família se reúne. E não era antes? O mimo excessivo gera superproteção; consequentemente, os filhos desenvolvem procedimentos que demonstram fragilidades referentes à autonomia emocional e intelectual. Eles têm quem pensem e quem sintam por eles. Esse erro se torna grave com o passar do tempo. Há pouco tempo, no Instituto de Psicologia, ouvi um pai se redimindo com sua filha: "Filha, desculpe-me por todas as vezes que fiz por você o que você deveria ter feito".
O bom senso é a melhor medida
Os filhos precisam viver experiências mesmo que amargas ou frustrantes. Negar a dor da criança ou do filho adolescente quando acaba o namoro, por exemplo, também pode ser considerado um erro evitável. Este se encontra no campo dos mimos excessivos, mas que acabam por desqualificar o que verdadeiramente o filho está sentindo. Tudo por quê? Porque os pais não conseguem ver filhos sofrendo. Quando o filho cai, a mamãe diz: "Não foi nada, filho. Isso passa!". Se o namorado da filha termina o namoro, a mesma mãe diz: "Que bobagem! Você está novinha, e homem é assim, vai um vem outro. Serviu de experiência!". O que esperar dessa educação baseada na fuga e na esquiva? Também não é possível buscar a radicalidade para ajustar tais comportamentos. Nem oito nem oitenta. Portanto, a linguagem verbal ou não verbal que os familiares fazem uso, poderá ser um grande acerto ou um sério erro para se estabelecer o respeito, o amor, a confiança e a amizade entre os membros. A crítica e o elogio demais e desnecessários maculam não só a educação dos filhos, mas o ambiente doméstico. Pais que se agridem, que não se valorizam, não cuidam um do outro, apresentam aos filhos um comportamento facilmente imitado e reproduzido. O bom senso é a melhor medida. Só não insistam no erro já detectado.
Busquem dentro da família ou peçam ajuda para sair de situações que vocês pais não admitem mais no ambiente familiar. É triste ouvir o quanto os meninos e meninas, os adolescentes, jovens e até mesmo filhos adultos têm recebido rótulos, críticas pesadas por causa de alguns tipos de comportamentos que corrompem o que a sociedade espera, quando eles foram formados para agir de tal forma. Quem quer uma geração de filhos estudiosos, responsáveis, obedientes, amáveis, dóceis, cuidadores do ambiente, da natureza precisará parar de facilitar tudo na vida deles e não os levar à loucura da inabilidade social. A escola, a família, a Igreja, o Estado tendem a apressar o caminho dos homens. É importante não desistir de ensinar.
Ensinar a aguardar o pijama, a pendurar a toalha de banho no varal, tirar a feira do carro, ensinar o filho a fazer um chá quando a mamãe estiver doente, a fazer companhia aos avós. Como diz o ditado, "é de pequeno que se torce o pepino". Em outras palavras, é de pequeno que os pais devem ser para os filhos o que estes esperam que eles sejam: autoridades do amor, da convivência, do limite, do reconhecimento, da evangelização doméstica e do trabalho.
Limites são necessários
Tapar o sol com a peneira, querendo ser amigo do filho e esquecer os limites é um caminho sem volta. Nós precisamos e buscamos limites, e quando não os encontramos em casa, nos diriam os antigos, vamos encontrar na rua e o que tem na rua. E ai está um grande erro: não apresentar aos filhos o que tem na rua. Quando muitos a descobrem, passam a chamá-la de internet, família do vizinho, lugares indevidos, filmes inapropriados para idade do seu filho, área livre do condomínio. Deixar o filho ser criado por tudo e por todos, menos por você, é o único erro que não deverá haver na educação dos seus filhos.
É tempo de sentir-se culpado? Não. É tempo de reagir, de buscar suas próprias melhoras, mudar a forma de pensar, sair da preguiça e transformar. Pais, vocês são autoridades, vocês têm o poder de formar filhos melhores, porque Deus quer assim. Perdoem-se e perdoem aos outros, sigam conduzindo os filhos de vocês sem desistir de ensinar, de escutar, amar, exigir e ser uma família cristã.