"Não é um tratamento fácil nem rápido, mas é possível e cheio de momentos de vitórias em Deus", disse Jeanne
O canal de formação traz o testemunho de Jeanne Gomes Pereira, de 42 anos, professora da cidade de Brasília (DF), que foi diagnosticada com câncer de mama, em 2015, mas que buscou forças na oração e na sua família para vencer cada fase do tratamento.
Foto: Arquivo pessoal/cancaonova.com
O diagnóstico em mãos e a força para lutar contra o câncer de mama
Sempre fiz exames de rotina e, por causa do trabalho, estava uns meses em atraso. A primeira coisa que preciso falar é que meu coração (Espírito Santo) me avisou que algo não estava certo.
O médico já ia me liberar para o retorno dos próximos seis meses, dizendo que meus nódulos eram benignos, como os que já acompanho há mais de 20 anos. Eu, no entanto, insisti no incômodo recorrente na minha axila. Então, ele decidiu pedir mais um exame, coletou um material no consultório e enviou para biópsia para desencargo de consciência. No dia da consulta, peguei o resultado, sentei na sala de espera e suportei o máximo que minha ansiedade permitiu para não abrir o exame antes de entrar no consultório médico, o que não foi possível, claro. Li: "carcinoma ductal infiltrante com comprometimento axilar".
Minha mente, e acho que todos os meus sentidos e tudo ao meu redor, silenciou. O médico me chamou, sentei à sua frente, entreguei o exame, ele leu, olhou para mim e perguntou se eu havia lido. Diante da minha afirmativa, perguntou se eu havia entendido, e eu disse que sim também. Ele me perguntou se eu estava só e falei que estava, mas que meu marido trabalhava perto e eu poderia chamá-lo; e assim fiz. Em alguns minutos, Anderson estava lá. Eu já estava trêmula e pensei na primeira coisa difícil: contar para minha mãe – ela não merecia essa dor. Pensei nos meus filhos, no meu trabalho, nos primeiros cinco quilômetros que eu havia corrido (devagar) há uma semana. Quando meu marido sentou, segurou forte minha mão e me deu forças para irmos direto ao que interessava.
Queríamos saber qual era o tratamento, quando começava, qual era o prognóstico de cura. Pego de surpresa pelo resultado, até o médico, começou a nos falar que precisava de exames complementares, mas as chances eram boas e que o caso era cirúrgico, envolveria quimioterapia e radioterapia.
Pegamos os pedidos de exames e saímos meio desnorteados. Já era começo da noite e, neste momento, eu já não controlava mais o choro, por mais que o Anderson tentasse me acalmar e dizer que o tratamento daria certo. Estávamos no meio da rua, e eu liguei para uma amiga, que havia passado por um caso recente de câncer na família. E aí veio a mão de Deus, pela segunda vez, sobre mim. Há muitos anos, eu escutei a seguinte frase: "Tudo acontece igual para os que creem em Deus, as respostas é que são diferentes". Vendo meu desespero, ela pediu que eu aguardasse onde estava. Em alguns minutos, retornou a ligação e me disse que o oncologista que ela conhecia estava me esperando imediatamente no consultório dele. Fomos, eu chorando, Anderson tentando me acalmar. Quando entramos na sala daquele homem, ele sorriu e me abraçou. Era o abraço que eu precisava naquela hora. Como se me conhecesse há anos, ele disse: "Minha querida, você está curada. Eu, você, seu marido e Deus estamos nesta guerra para vencer". E assim, em abril de 2015, começou a nossa batalha.
Desafios psicológicos e físicos ao longo do tratamento
Receber o diagnóstico de um câncer é como sofrer um acidente: você está indo muito bem, trabalhando, cuidando dos seus filhos, na correria do dia a dia, mas, de repente, dá de cara com um "muro de concreto", que o para bruscamente. A primeira coisa que você pensa é que vai morrer; depois, entende que existe muita chance de cura, pela medicina e pela fé, a qual, num primeiro momento, nos falta sim. Eu, que amo meu trabalho – 24 anos como professora –, tive muita dificuldade de me afastar da escola. Mas como comecei o tratamento com quimioterapia, que é muito debilitante, não tinha condições de trabalhar. A imunidade fica baixa, o corpo dói, os cabelos caem, temos enjoos, fraqueza, até a visão fica prejudicada.
Foram seis meses de quimioterapia. Foram seis meses tentando manter a estabilidade emocional dos meus filhos e do meu esposo. Eu "passava mal" quando eles não estavam em casa, era quando eu fazia repouso. Quando chegavam da escola, na medida do possível, eu almoçava junto e ajudava com as tarefas; quando estava bem, levava para os esportes ou apenas ficava assistindo desenho ali do ladinho. Não é fácil ser uma mãe em um tratamento de câncer, administrando a chegada da adolescência de um filho, com todos os seus hormônios, angústias, descobertas, alegrias, tristezas e um caçula cheio de energia e peraltice. Estar debilitada em meio a deveres de casa, advertências, paixonites, pesquisas, futebol, desenhos, skates, bicicletas, lanches, basquete, decepções, alegrias, frustrações, video-games, aniversários, amiguinhos, primos, resfriados, machucados, cáries, furos de orelha, tênis, chuteiras e uniformes. Uma médica da perícia disse que, a partir do diagnóstico, meu mundo deveria ser cor-de-rosa, que eu não deveria me preocupar com mais nada, mas sinto muito, ele continuou azul com bolinhas brancas. E nós continuamos seguindo em frente.
No dia 17 de dezembro de 2015, submeti-me a uma mastectomia radical. Mais um passo para a cura do câncer. Depois da quimioterapia e do repouso para a recuperação e cicatrização, fiquei tentando me reencontrar dentro de um corpo redefinido por uma doença. Não sabia que ia doer tanto! Não consegui me reconhecer no espelho, mas, com a graça de Deus, encontrei-me no olhar das pessoas que me amam.
Apoio da família e dos amigos
Se existe um lado bom na doença, eu já descobri alguns. Eu nunca tive tempo livre para estar com meus filhos e acompanhar a vida escolar deles. Sempre cuidando dos filhos dos outros, sempre uma correria, um estresse. Agora, no entanto, tenho passado muito mais tempo com eles. Segundo: eu sabia que era amada, mas eu não imaginava o quanto!
Desde o momento que contamos para os nossos irmãos de Igreja, eles não rezaram por mim somente, eles me pegaram no colo. Como cantávamos nas Missas e participávamos, há muito tempo, da Renovação Carismática Católica (RCC), da Catequese e do Encontro de Casais com Cristo (ECC), pessoas que nem conheço diziam que rezavam por mim.
Um dia, cheguei para cantar no Encontro de Casais com Cristo e todas – TODAS – as mulheres estavam de lenço (nunca vou me esquecer desse gesto de amor!). Minha família é meu suporte. Meu esposo é quem me ajuda a não fraquejar. E minha mãe? Lembra que eu achava que ela não ia aguentar? Ela e meu pai tomaram para si a obrigação de me levar para a maioria das sessões de quimioterapia e radioterapia. Minha mãe cuidou do meu pós-operatório, dando-me banho e comida. Ficou forte ao meu lado. Minha sogra, meus irmãos, cunhados e amigos se revezaram no cuidado com as crianças, nas atividades que eles precisavam ir, nas minhas rotinas médicas, na minha cozinha. Foi um exercício de amor, humildade e compaixão, que nunca imaginei viver.
A presença de Deus
Não deixei de cantar nas Missas; só faltei quando fiz a cirurgia. Creio na força dos sacramentos: Eucaristia, confissão, unção dos enfermos. Confio muito no poder da oração: na minha e na de todos que estão rezando por mim. Acompanho o 'Sorrindo pra Vida' todas as manhãs, pela TV Canção Nova, e sinto a presença de Maria sempre ao meu lado. Cresci numa comunidade Mariana. Muitas vezes, quando rezam por mim, confirmam a presença dela. Sei que ela intercede pela minha cura e sei que ela me ajuda no dia a dia, nas minhas tarefas, nas minhas dores. Rezo o terço e o ofício. Eu amo Nossa Senhora demais!
Fazer ou não tratamento psicológico?
Faço acompanhamento psicológico, pois, depois de alguma resistência, meu oncologista me convenceu. Estava com dificuldades para dormir e muito fragilizada com todo o tratamento, as mudanças do corpo. Ela me explicou que vivo um pós-trauma, e que é normal precisar de ajuda. Eu acredito que é preciso ser humilde para aceitar que não damos conta só, e que toda ajuda é bem-vinda.
A autoestima da mulher diante do câncer de mama
Quando o cabelo começou a cair, pedi ao meu marido que passasse a máquina. A princípio, usei lenços ou toucas, mas estava muito calor e, muitas vezes, eu andava carequinha mesmo. Chamava a atenção das pessoas, mas eu me acostumei. Algumas pessoas olhavam com estranheza, mas muita gente olha como se dissesse: "Força!". Há dias em que visto um monte de roupas, choro, acho que tudo está feio e não quero sair; mas eu me permito um pouquinho de luto pelo cabelo e a mama. Mas amanhã eu reajo e me acho linda de cabelo curto!
Diante do câncer de mama, não desanime
Não somos apenas uma mama. Somos mulheres inteiras e vai continuar a ser, mesmo depois do câncer. Ele não tem o poder de diminuir nada que somos: mulher, mãe, filha, esposa, amiga e irmã. Não é um tratamento fácil nem rápido, mas é possível e cheio de momentos de vitórias em Deus. Fé, foco e força.
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