A falta de conhecimento gera a crise do significado existencial
Na era da informação, a falta de conhecimento tem criado, no ser humano, a crise do significado existencial. No dia 28 de julho do ano em curso, como faço costumeiramente, após minha oração pessoal, acessei os sites jornalísticos a fim de atualizar-me dos assuntos hodiernos. Tinha uma motivação em particular: o início da JMJ na Polônia, e todos os relevantes assuntos à fé católica que o Papa Francisco oportunamente abordaria.
Foto: Wesley Almeilda/cancaonova.com
No entanto, para minha surpresa, o que estampava as páginas iniciais de praticamente todos os veículos de comunicação era a "queda" do Papa Francisco. Enquanto se encaminhava para o altar, o Sumo Pontífice escorregou, sofreu um pequeno tombo, graças a Deus sem maiores consequências.
Ver apenas o que atrai o nosso olhar
Muito pouco ou quase nada das temáticas abordadas pelo Sumo Pontífice naquela oportunidade mereceram uma atenção devida, séria e responsável por parte significante da mídia. As palavras de Francisco não ecoaram quando abordaram o atual flagelo das drogas e da violência que mundialmente vitimam milhares de jovens, ou em sua reflexão sobre a atenção humanitária que milhões de irmãos e irmãs necessitam na condição de refugiados, ou seu apelo pela paz entre as pessoas, países e nações. Mas bastou um escorregão, um tropeço, uma queda, e o Papa tornou-se manchete.
Esse comportamento da mídia diz muito do que a nossa sociedade se tornou e do tipo de pessoas que corremos o risco de nos transformar, tendo por indicativo o que nos chama à atenção e atrai o nosso olhar, pois como afirmou Leonardo da Vinci, "os olhos são a janela da alma".
A quantidade, sem precedentes na história da humanidade, de acesso à informação tem nos afastado do conhecimento efetivo e profundo das coisas. Pode parecer paradoxal, mas é isso mesmo: vivenciamos uma era de muita informação e pouco conhecimento. Vamos de manchete em manchete, de títulos em títulos sem conseguirmos chegar ao termo, ao final das notícias.
E assim, nosso olhar para na superfície, no óbvio, no rótulo da realidade. De maneira metafórica, é como engordar segurando o pote de sorvete. Você vê o sabor, sente o gelado em suas mãos, até conta as calorias, mas não saboreia o conteúdo. E o mais grave: esse comportamento também torna-se extensivo à nossa relação com Deus.
Viver bem cada momento
Corremos o risco de vermos nascer uma geração que não vive nem mais o momento, mas o instante. Aquilo que, antes de ser, já não existe mais. Perde-se, assim, a oportunidade de maturação das experiências, da leitura das realidades, da acomodação das vitórias e fracassos inerentes à condição humana.
O filósofo Mário Sergio Cortella tem uma frase que é emblemática: "A vida é muito curta para ser pequena". A percepção limitada gera vivências limites. Um apequenamento do existir, que se expressa pela falta de sentido nas coisas, nas escolhas, nas relações e tragicamente na vida.
São Paulo escreveu: "Por que para mim, o viver é Cristo, o morrer é lucro" (Fp 1,21) Tudo que o apóstolo viveu, as lutas, as dificuldades, as perseguições, encontravam sentido em sua vida em Cristo. Qual tem sido a razão para o seu viver? Esse pode ser um tempo oportuno para reencontrar o significado que está para além da transitoriedade desta vida e assim, lançar um novo olhar sobre si mesmo e sobre o mundo.
Quando sobrevierem as dificuldades e incertezas, até mesmo as enfermidades, porque elas chegarão, quando aos olhos do mundo virarmos manchete, porque parecemos cair, assim como no episódio do Papa Francisco na JMJ da Polônia, poderemos dizer: " Sei em quem pus a minha confiança" (II Tm 1,12b).
"A vida é um instante entre duas eternidades."
Santa Terezinha do Menino Jesus
Deus os abençoe.
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