Há alguns anos, a vaidade masculina não era comum; hoje, porém, tem tomado grandes proporções
Outro dia, fui comprar uma calça e a vendedora me perguntou: "Você prefere slim, fit ou skinny?". Eu respondi: "Jeans você não tem?".
Antigamente, a preocupação de um homem com sua estética resumia-se a cortar o cabelo e fazer a barba; hoje, vai muito além disso. Temos visto cada vez mais homens adeptos a cosméticos, produtos e serviços específicos para o público masculino.
Sim! Podemos dizer que o homem de hoje aprendeu a ser vaidoso, e aquilo que há alguns anos só imaginávamos uma mulher fazendo, tornou-se, atualmente, procedimento comum da vaidade masculina.
Existe um lado positivo nisso, sem dúvida! Cuidar de si mesmo significa saúde, boa autoestima e melhor sociabilidade, afinal, interagir com uma pessoa que traz conteúdo fica melhor ainda se essa pessoa estiver bem apresentável. Portanto, houve uma evolução do próprio homem ao interpretar a si mesmo.
Mas eu me pergunto: não está havendo um excesso de vaidade? Até que ponto o homem não está descaracterizando a identidade masculina e deixando de assumir seu papel na sociedade?
Vamos analisar essa questão considerando, primeiramente, que a beleza está entre as características principais do ser feminino, mas para o homem é um atributo, de certo modo, secundário.
Quando a Sagrada Escritura fala dessa qualidade nos homens, coloca-a posterior a outros traços com que Deus se agrada na pessoa. Antes de elencar a beleza de José do Egito (cf. Gn 39, 6b), a Bíblia relata grande parte de sua história, dando a entender que ele tinha a bênção do Senhor por sua humildade, fidelidade e em fazer bem todas as suas obrigações (cf. Gn 39, 3).
Davi ficou conhecido como homem segundo o coração do Altíssimo, não porque "era louro, de belos olhos e mui formosa aparência" (I Sm 16, 12), mas por seu coração (cf. I Sm 16, 7), já que, seu irmão Eliab de "belo aspecto e alta estatura" (I Sm 16, 6) foi apresentado antes ao profeta enviado para ungir o escolhido de Deus, mas não o foi.
Já, a mulher tem a primazia da revelação da beleza de Deus.
Ester foi escolhida rainha, mesmo não pedindo adornos mais do que os que lhe foram dados (cf. Es 2, 15), pois era uma "moça de belo porte e agradável de aspecto" (Es 2, 7).
Judite, só não foi morta pelo rei que guerreara contra seu povo, porque, imediatamente ao vê-l,a "Holofernes ficou cativo de seus olhos". Também o livro do Eclesiastes trata da mulher virtuosa no capítulo 31 e fecha este trecho, como que dando conclusão ao falar da beleza e seus frutos.
Para a mulher, ser bela tem o poder de autenticar, certificar seu valor próprio para ela mesma. É um aspecto imprescindível de sua existência. Contudo, para nós homens, se alguém nos disser que engordamos, que aparentamos uma idade maior que a real ou que somos feios, a grande maioria de nós irá "levar na esportiva" sem se preocupar tanto.
O homem, por sua vez, deve revelar a força de Deus na capacidade de enfrentamento. No Antigo Testamento, Deus era chamado de Senhor dos Exércitos, ou seja, um guerreiro. O homem tem a vocação de ser um guerreiro. Quantas vezes, desde infância e adolescência, buscamos a aprovação dos colegas e de nós próprios pelos desafios que nos impunham? Veja que nisso existia um sinal daquilo que temos em nosso cerne, como vocação primeira. Somos lutadores, guerreiros.
A masculinidade é um dom que nasce no homem, mas é trazido à tona por ritos de passagem e ensinada por uma figura masculina (pai) através do enfrentamento. Contudo, uma série de fatores não promovem hoje essa validação no homem. Infelizmente, muitos só têm a referência da mãe ou uma figura paterna fraca; então, os valores femininos prevalecem.
Penso que, quando um homem não mede esforços em buscar aprovação e elogios pela sua aparência, inconscientemente, ele quer mesmo é autenticar sua força, sua capacidade de conquista e de destaque entre os demais, e, no fundo, isso corresponde ao reconhecimento humano que é dado ao guerreiro que está em sua essência.
Falando sobre desconstrução da sexualidade, a psicóloga Arlene Denise Bacarji diz: "Os papéis, muitas vezes realçados pelos brinquedos infantis, pelas cores etc. (sinais externos, portanto, podemos inserir também as roupas, cuidados, serviços e produtos) são de extrema importância para o psiquismo saudável, para que a pessoa possa construir sua identidade, inclusive a sexual.
Pergunto, então, a você e a mim também: das coisas que uso e faço, quantas são comuns ao sexo feminino? Ou quantas são adaptadas "dando um ar feminino" à silhueta e à imagem do homem?
Quanto tempo fico diante do espelho? Não perco a oportunidade de ver meu reflexo quando estou na rua e fora de casa? Saio mesmo sem me preocupar com a aparência adequada para estar com os outros?
A começar por esses questionamentos, podemos ter um sinal de como estamos procedendo. Devemos ter cuidado com o que o modismo quer impor, para não estarmos na direção do mundo e na contramão da masculinidade. Antes de aderir a algo, que possamos pensar no que é genuinamente nosso.
Sandro Arquejada
Sandro Aparecido Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova. Formado em administração de empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente trabalha no setor de Novas Tecnologias da TV Canção Nova. É autor do livro "Maria, humana como nós" e "As cinco fases do namoro". Também é colunista do Portal Canção Nova, além de escrever para algumas mídias seculares.
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