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19 de junho de 2013

É proibido proibir?

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Precisamos repensar alguns valores

Um dos ecos mais fortes que o Iluminismo francês fez chegar aos nossos tempos é a reivindicação da liberdade. Nesse sonho cultivado por muitas gerações, a regra era clara: é proibido proibir!


Todos deveriam simplesmente aceitar esse novo dogma sem questionar. A Igreja Católica era vista por muitos como símbolo da proibição, do pecado, da culpa. Filmes mostraram isso sem que os monges pudessem sequer se defender. Dogma é dogma. Está certo, mas qualquer um vê que essa verdade é contraditória. Quem proíbe de proibir já está proibindo. Não faz sentido, mas é a regra de ouro que ainda está em voga nos nossos dias.

Arrisque-se a pedir que as TVs deixem de passar algum programa que prejudique crianças ou adolescentes. É proibido censurar! Arrisque-se a dizer que este ou aquele filme é um desrespeito a milhões de pessoas que cultivam uma determinada fé. É proibido proibir!

Mas agora a situação está ficando catastrófica. Nem vamos perder tempo em comentar o romanceado Código da Vinci. Pode ser até um passatempo para quem quer se distrair com algum tipo de fantasia; a humanidade sempre gostou do surreal. Não me parece honesto colocar a fantasia muito próxima da realidade. Jogos de morte mutilam a mente de muitos adolescentes que passam a odiar seus avós, porque aderiram à lógica de um joguinho de computador. Deixe pra lá! Temos uma outra urgência.


A ciência sempre se vangloriou da liberdade de pesquisa em nome de seus avanços. É desconfortável para a ciência ser limitada pela consciência. Muitos pesquisadores que manipulam embriões humanos preferem dizer: é proibido proibir. Há laboratórios que reproduzem, silenciosamente, o holocausto da Segunda Guerra Mundial.

Mas alguém poderia dizer que nada disso o atinge no dia a dia. Nem os transgênicos que acabamos comendo sem saber? Bem... Vai levar algum tempo para começarem os efeitos. Por que proibir? Lembre-se de que Deus perdoa sempre, nós perdoamos às vezes (deveria ser pelo menos 70 x 7!), mas a natureza não perdoa nunca.

Está começando um novo tempo em que o século das luzes vai mostrando suas penumbras e a célebre liberdade vai deixando claros seus limites. Estamos finalmente descobrindo que é necessário proibir. Não se pode permitir ao alcoolizado pegar no volante. Proíba-se! Quem se atreveria a colocar limites ao celular? Já recebi milhões de e-mails dizendo que as ondas desses aparelhinhos provocam doenças terríveis que começam com dor de cabeça. Pensei que seria câncer. É pior. Por meio deles, torna-se possível a organização de facções criminosas capazes de aterrorizar milhões de pessoas em questão de horas. Não sei se a bomba atômica fez tanto estrago. Nem mesmo o terrorismo clássico, que derrubou os prédios e mudou a cultura nos Estados Unidos da América, teve tanto poder. Um pequeno celular. Por que proibi-lo?

Precisamos repensar alguns valores. Não sou favorável a nenhum tipo de totalitarismo. Nasci em 1964, assisti ao golpe da barriga de minha mãe. Faço parte da geração do silêncio, a qual teve de engolir as aulas de Educação Moral e Cívica, OSPB (lembra o que é isso?) e cantar: "Eu te amo meu Brasil, eu te amo...".

Esse tempo já vai tarde! Não pode mais voltar. Mas não podemos ficar sentados em utopias ocas de liberdade, feito uma avestruz com a cabeça enterrada em suas ideologias, sejam quais forem! É necessário colocar limites!

Alexander Sutherland Neill (1883-1973), o fundador de Summerhill, aquela escola-modelo de liberdade na Inglaterra, escreveu empolgado o livro Liberdade sem medo. Quando sua escola não tinha mais vidros nas janelas, ele escreveu um livro corretivo: Liberdade sem excesso. Pense nisso!

 

(Extraído do livro "Pronto, Falei!")

 

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