Jesus valorizava muito a fidelidade à aliança
Os escribas e os fariseus, que se dizem justos, são os que conduzem a mulher até Jesus. Mas onde está o homem envolvido no mal? De fato, a Lei de Moisés interditava o adultério, como eles diziam. A pergunta deles é para colocá-Lo à prova. O silêncio de Jesus revela o pecado dos acusadores, os quais vão se retirando um a um. No face a face entre a mulher e Jesus, em que a verdade de cada um é iluminada, a palavra de Jesus liberta, mostra a misericórdia de Deus e abre um caminho novo: "Ninguém te condenou? Eu também não te condeno! Vai e, de agora em diante, não peques mais."
O pecado dos fariseus e dos homens religiosos de Israel, em geral, consistia nisto: condenar os fracos; nesse caso, uma mulher pecadora, e eximirem a si mesmos da culpa e do castigo. Sem nos apercebermos, constituimo-nos como juízes e ditamos sentenças a torto e a direito. Descobrimos que, no mundo, quase ninguém é perfeito, mas pensamos em nosso íntimo que nós mesmos o somos. Basta escutar o tom das críticas, a autossuficiência das opiniões que expomos, as "denúncias proféticas" que emitimos, de vez em quando, para descobrir como esse toque farisaico se aninha em nós.
A solução para tudo isso não é o "vale tudo". Jesus não condenou a mulher, mas não a deixou ir embora simplesmente. Convidou-a a seguir no futuro um caminho diferente.
Jesus valorizava muito a fidelidade à aliança. Ele era um homem de palavra, de compromisso. A mulher que estava diante dele havia rompido a aliança do casamento, havia se oposto à vontade do Criador, pois "no princípio não era assim". Jesus sabia também que um homem – que estava fora do cenário – havia compartilhado com ela dessa ruptura da aliança e que ambos haviam se transformado em símbolos de um povo infiel ao amor de Deus.
Jesus a convida a um novo começo. Ele também descobre outros rompimentos da aliança entre os acusadores: "Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra." E escreve no chão várias vezes. Não sabemos com certeza plena o que Ele escrevia. Nesse gesto, podemos descobrir o dedo de Deus reescrevendo seu compromisso de aliança na areia movediça e frágil das decisões humanas.
Que o nosso coração se abra para receber essas lições e também para nos colocarmos como protagonistas desta cena descrita no Evangelho, a fim de que possamos aparar nossas arestas.
+ Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)