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27 de dezembro de 2012

Tempo de Natal: nasceu para nós um Salvador!

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O amor de Deus invisível se faz visível

O que vamos fazer nestes dias do tempo de Natal, já desde a noite em que Jesus nasceu? Voltar os olhos e o coração inteiramente para a figura do Menino envolto nos paninhos que a Mãe trouxe de Nazaré e reclinado sobre as palhas do presépio. Não sentimos desejos de olhar para Ele e Lhe dizer: Meu Senhor e meu Deus!? Porque esse Menino, que vemos na manjedoura, é Deus feito homem, que vem ao nosso encontro para nos salvar. Tanto amou Deus o mundo – dizia Jesus a Nicodemos – que lhe deu Seu Filho único. O Senhor não enviou o Filho ao mundo para condená-Lo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele (Jo 3,16).

Contemplando este mistério da Encarnação do Verbo, estamos no coração da nossa fé cristã. É um mistério que nos dá a certeza de que Deus é amor e nos quer com loucura. Essa é, precisamente, a certeza que fazia o apóstolo São João exclamar: "Deus é amor!" Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado o Seu Filho únicopara que vivamos por Ele (cf. 1 Jo 4,8-9).

Sim, no Natal, o amor de Deus invisível se faz visível. Está aqui, junto de nós, no presépio. São João extasiava-se com essa maravilha da bondade de Deus, que é a vinda do Verbo encarnado, e dizia: 'Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou' (Jo 1,18). E, cheio de júbilo por tê-Lo conhecido, por ter convivido com Ele durante três anos e ter experimentado o Seu carinho, exclamava: 'Nós o vimos com os nossos olhos, nós o contemplamos, nós o ouvimos, nós o tocamos com as mãos…!' (cf. 1 Jo 1,1-3) Por experiência própria, podia afirmar: 'Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor' (1 Jo 4,8).

Jesus é Deus feito homem, que nos ama com toda a força do seu amor divino e humano. Seu amor é grande e verdadeiro, tem os dois sinais claros da autenticidade. Primeiro, é uma doação plena. Amor que não se dá não é amor. Mas não é um dar-se qualquer, é uma doação que visa o nosso bem. E aí está o segundo sinal de autenticidade: todo o verdadeiro amor, ao dar-se, quer bem, ou seja, dá-se procurando o bem da pessoa amada.

E qual é o bem, quais são os bens que Jesus nos traz? Todos os bens! A vida verdadeira, a vida eterna! A felicidade que não poderá morrer! Nessa infinita riqueza de bens divinos, podemos distinguir especialmente três grandes tesouros. O tesouro da verdade, que Ele nos ensina; o tesouro do caminho do Céu, que Ele abre e nos mostra; e o tesouro da vida nova dos filhos de Deus, que Ele ganha para nós na cruz.

Tudo isso resumiu-o Jesus numa só frase: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Será que captamos a importância dessas palavras? Tentemos arrancar, do fundo delas, a grande luz que encerram, meditando um pouco sobre o seu significado. Jesus nos traz, primeiro, a luz da verdade. Vem-me à cabeça agora o pai de São João Batista, Zacarias – o marido de Santa Isabel –, que profetizou o nascimento de Jesus de uma maneira muito significativa. Dizia que a ternura e a misericórdia do nosso Deus nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente, que há de iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz (Lc 1,78-79). Desde antes de nascer, Jesus já é anunciado como o Sol, como a Luz, a Luz da Verdade, que nos guiará para o bem e para a paz, para a paz terrena e eterna.

Isso é o que também diz São João no prólogo do seu Evangelho. Ele era a verdadeira Luz, que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. A luz resplandece nas trevas e estas não a compreenderam (cf. Jo 1,9-11). Que pena se nós não a recebêssemos! Que pena se nós não a compreendêssemos! Porque a verdade que Ele nos traz não é uma verdade qualquer, mas a única verdade-verdadeira, a única verdade que salva: a verdade sobre Deus, sobre o mundo e sobre o homem. Só ela pode dar sentido à nossa vida.

Utilizando-nos de uma comparação do próprio Cristo, podemos dizer que a verdade ensinada por Ele é como a semente na mão do semeador. Pode cair nas pedras ou entre espinhos e morrer; ou pode cair numa boa terra e dar fruto (cf. Mt 13, 4 ss.). Depende de nós. Se procurássemos acolher essa verdade com carinho, seria uma maravilha, seríamos– no empenho por edificar a nosa vida – como o construtor de que Jesus falava: 'Aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha' (Mt 7,24). Nem a chuva, nem o vento, nem as tormentas conseguiriam derrubá-la. Porque essa verdade nos daria – como diz a Bíblia – um amor forte como a morte' (cf. Cânticos 8,6).

Se continuarmos a olhar para Jesus Menino, veremos que Ele nos diz também, como já mencionávamos, "Eu sou o Caminho". Toda a vida d'Ele é exemplo e caminho para nós, é como a sinalização luminosa da estrada que conduz a Deus, o roteiro que devemos seguir para nos realizarmos nesta terra e na eternidade.

É por isso que Jesus diz, muitas vezes: 'Segue-me!'. Compara-nos às ovelhas que Ele, o Bom Pastor, conduz entre brumas e perigos até o pasto que alimenta e o refúgio seguro. Ele é o Bom Pastor que caminha adiante delas, adiante de nós, indicando-nos o caminho; mais: sendo, com o Seu exemplo, Ele próprio o caminho. Acontece que o caminho de Cristo é, essencialmente, o caminho do amor. Caminhai no amor – escrevia São Paulo –, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou (Ef 5,2).

O amor que é caminho é o amor autêntico, com maiúscula, o Amor que vem de Deus (1 Jo 4,7). Não é fumaça cor de rosa, nem é uma teoria ou só uma paixão que arde e se evapora; é um amor vivo, sincero e realista, que se manifesta, no dia a dia, na prática das virtudes que são como o selo de garantia do amor.

Por isso, aquele que ama esforça-se por ser – com a graça de Deus – generoso, compreensivo, dedicado, paciente; e também por ser constante, por ser forte na adversidade, por ser sóbrio e moderado nos prazeres; por ser caridoso, gentil, prestativo; por ser justo, discreto; por dar a Deus cada dia mais amor, e aos irmãos também. Em suma, por levar a sério a prática das virtudes humanas e cristãs.

Nunca percamos de vista: aquele que ama faz, age, não fica só pensando e sentindo. É exatamente isso o que nos diz São João, o grande intérprete do amor de Cristo: "Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade" (1 Jo 3,18). E é claro que isso se aplica tanto ao amor a Deus como ao amor ao próximo. Como diz o mesmo São João: "Temos de Deus este mandamento: quem ama a Deus, ame também a seu irmão" (1 Jo 4,21).

Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/

19 de dezembro de 2012

Uma constelação de famílias

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Famílias respeitadas, sociedades sadias

É conhecida a sentença que, com pequenas variantes, afirma: «Família sadia, sociedade sadia. Família em crise, sociedade em crise». 

Essa afirmação é, sem dúvida, discutível; no entanto, é inegável que encerra um grande núcleo de verdade. Sobre a importância social da família há volumes alentados, análises e estudos muito ponderáveis. Eu desejaria agora, concretamente, frisar apenas uma das razões que, a meu ver, evidenciam o nexo de causalidade existente entre família sadia e sociedade sadia.

Refiro-me ao fato de que, na sociedade, não há nenhum âmbito de crescimento humano e moral, nenhum ambiente educativo, nenhum "coletivo" tão propício e eficaz para o cultivo das virtudes como a família bem estruturada. E isso me parece de suma importância, levando em consideração que, no mundo atual, cada vez parece mais evidente que a sociedade precisa de um oxigênio vital, de virtudes aprendidas, arraigadas, exercitadas e desenvolvidas até a maturidade. Decadência social, ignorância ou desprezo pelas virtudes são a mesma coisa.

A não ser que, hoje ainda, se considerem vigentes as afirmações feitas pelo poeta Paul Valéry, num famoso discurso à Academia Francesa: «Virtude, senhores, a palavra "virtude" já morreu ou, pelo menos, está em vias de extinção [...]. Receio que não exista jornal algum que a imprima ou se atreva a imprimi-la com outro sentido que não seja o do ridículo. Chegou-se a tal extremo, que as palavras "virtude" e "virtuoso" só podem ser encontradas no Catecismo, na farsa, na Academia e na opereta».

Seria de desejar que atitudes desse tipo tivessem ficado enterradas no passado. Quando Valéry falava, virtude sugeria limite, enquadramento, barreira obsoleta num ambiente ébrio do vinho novo da liberdade. A centralidade da virtude, na formação do ser humano, havia cedido o espaço à liberdade sem limites, numa eufórica erupção de individualismo egocêntrico (que paradoxalmente, na primeira metade do século XX, descambou nas duas maiores tiranias da história). A sociedade atual, com suas mazelas, com os preocupantes desvios de uma parte não pequena da juventude (basta pensar nas drogas) é de molde a reacender uma autêntica "saudade das virtudes". Mas, pergunto-me, será isso possível ao mesmo tempo em que se exalta como nunca a "liberdade ilimitada" como único valor moral, ao passo que se desprestigia a família?

Penso que, nos nossos dias, muitas vezes pode ser bom mergulhar um pouco na sabedoria dos antigos. Remontemos, há 2.500 anos, e ouçamos Confúcio dizer: «Para governar deliberadamente um reino é necessário dedicar-se primeiramente a estabelecer a família e o ordenamento que lhe convém… Uma família que responda às exigências humanas e pratique o amor bastará para infundir, no reino, estas mesmas virtudes» (Confúcio: Studio integrale,IX.3. Milão 1960). 

Muito nos pode dizer também a sabedoria dos gregos. Qualquer estudioso da antiguidade clássica sabe que, entre os poetas e filósofos gregos – e, posteriormente, entre seus discípulos latinos – a grandeza do ser humano estava indissociavelmente vinculada à "aretê", conceito de rico conteúdo cuja tradução mais aproximada, na linguagem moderna, é precisamente a de "virtude". O homem vulgar – recorda Werner Jaeger na sua famosa "Paideia"– não tem "aretê". E, nas pegadas de Sócrates, Platão reiterará que a virtude, a "aretê", é a que torna a alma bela, nobre e bem formada, a que abrange e eleva o "humano" em sua totalidade, e irradia depois como glória na vida da comunidade. 

Como é sabido, o conceito clássico de virtude, cinzelado primorosamente pela sabedoria grega, pode resumir-se dizendo que é a elevação do ser na pessoa humana, a potencialização do "ser" humano; ou, com linguagem mais atual, a realização das potencialidades humanas no campo dos valores, a elevação da "qualidade humana".

Pois bem, perante isso, parece preciso perguntar-nos: Onde é que a nossa juventude aprende a "aretê", a virtude que deve ser, acima de tudo, um valor reconhecido e amado pela criança, o adolescente e o jovem, uma convicção enraizada, uma prática exercitada com empenho, da qual depende o bem da pessoa e da sociedade? Será que, hoje, se pode dizer que a virtude se aprende na escola, em qualquer dos seus níveis e graus? É evidente que não. E em casa?

A família, sim, já foi e deveria ser agora o caldo de cultura mais propício para a descoberta, a valorização, o aprendizado e a prática das virtudes. Mas, em que pé está a família entre nós? Será que há algum empenho dos poderes do Estado em fortalecê-la como estrutura vital e moral indispensável para a construção do bem e da sociedade. Creio que não está longe da verdade afirmar que, aparentemente – a julgar pela evolução do direito de família e dos projetos de lei em trâmite –, nota-se mais um empenho, por parte das cúpulas do poder, em desestruturar a família e em desferir-lhe golpes de morte.

Estamos numa encruzilhada, e, além de honesto, é necessário não esconder a cabeça debaixo da asa. Não duvidemos. A futura sociedade brasileira caminha para uma dessas duas possibilidades, apontadas pelo jurista Pedro J. Viladrich: ou ser uma "constelação de famílias", dessas células primárias, vitais, naturais, sadias, que constituem o bom tecido social; ou ser um "aglomerado de indivíduos", preso cada um deles ao interesse particular e ligado aos demais pelo que Gustave Thibon chamava um "egoísmo compartilhado".

Na verdade, é perfeitamente compatível, na prática, ficar apregoando ideais comunitárias e metas sociais – de resto legítimas – e, simultaneamente, viver obcecados pela exaltação idolátrica do "indivíduo" com seu acúmulo de "direitos intocáveis", como hidras que a cada dia criam uma nova cabeça. A maioria vive aos pés de um ídolo nitidamente egoísta, ao qual se sacrifica, como nos ritos pagãos, a família, os filhos, a razão, a moral, a ética, o respeito e a virtude. 

Por isso, pergunto-me se não terá chegado já o momento em que os responsáveis pelos destinos do Brasil, em vez de se dedicarem a lançar lenha na fogueira onde se incineram os valores familiares, voltem a sua atenção para a família, conscientes de que está – em boa parte por culpa deles mesmos – frágil e doente. Eu não duvido de que é na família, na autêntica família, mais do que em qualquer outro quadro de convivência, o "lugar" onde podem ser cultivados os valores, as virtudes e as sábias "tradições", que constituem o melhor embasamento da educação cidadã.

Quando a família for valorizada e defendida como um ideal, quando for uma meta prioritária do poder; quando for protegida e defendida como verdadeira "célula-base" da sociedade, então poderemos confiar em que as nossas crianças e adolescentes consigam aprender, como quem respira, o que significa amar e ser amado, conviver, compartilhar, respeitar, abraçar o desprendimento e conquistar o autodomínio e a capacidade de doação; e, assim, tornarem-se justos, amantes da verdade e da palavra, responsáveis pelos demais… Que consigam aprender, em suma, as virtudes que capacitam as pessoas para serem construtoras de uma sociedade justa e "respirável".

Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/

17 de dezembro de 2012

Arrumar a casa

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A Palavra de Deus pede atitudes novas

Deus nos concedeu a capacidade para expressar o que vai na alma por meio de sinais exteriores. Muda a face de uma cidade como Belém quando é Círio "outra vez". A estação de festas juninas tem seu colorido próprio. Férias têm roupa adequada, viagem preparada, lazer que toma conta do tempo. Festa de aniversário de criança sem bolo, doces, velinhas, parabéns, ficaria sem graça! Por outro lado, não se vai a um velório do mesmo jeito que se vai à praia. E casamento, então? Roupa nova, vestidos deslumbrantes, o terno alinhado... É bom ser assim, ter cara de domingo e jeito de dia de trabalho. A rotina se transforma e a vida fica mais bonita.

Quando vem o Natal, com ele fim de ano, gratidão, festas, enfeites, tudo a ser preparado para ser bem vivido. A Igreja sabe do ritmo humano da vida e o preenche com o que existe de melhor, pois nos oferece o mistério de Cristo vivido nesse tempo. Nossa vida, nossos passos e nossas festas ganham sentido novo.

O final do ano traz consigo o convite à renovação de vida, exame de consciência, propósitos novos, desejo de recomeçar. Para os cristãos não há qualquer perspectiva mágica na mudança do calendário, mas somos chamados à renovação contínua pela graça de Deus, na medida em que o mistério de Cristo é celebrado e acolhido com crescente consciência. O tempo não é um ciclo implacável e cansativo, mas oportunidade privilegiada oferecida por Deus a seus filhos. E a Igreja celebra, neste período, algumas realidades marcantes, correspondentes à ação amorosa de Deus, que nos enviou Seu Filho como Salvador e Redentor.


"Advento" é a primeira palavra
que chama atenção nos dias que correm. O contato com Deus não nos deixa estáticos, imóveis diante de uma realidade fechada. O Senhor é dinâmico em Sua presença e em Seu plano de salvação a favor da humanidade. Foi verdadeira peregrinação o caminho feito com Seu povo no Antigo Testamento. Os profetas foram portadores da mensagem da esperança, ajudando muitas gerações a não perderem a perspectiva dos dons de Deus. E Jesus Cristo, Filho de Deus, Deus verdadeiro e Homem verdadeiro, é alguém que chega, passa pela magnífica e desafiadora realidade da família, num tempo de perseguições e incompreensões, mas "vem", entra nas estruturas do mundo, participa de tudo, menos do pecado, justamente porque veio para salvar do pecado e da morte. O apelo é ao acolhimento da iniciativa de Deus e a resposta alegre ao seu amor.

Daqui a poucos dias, o Natal será a luz para entender os sentimentos humanos e unir pessoas e famílias. O nascimento de um Menino – e que Menino! – continua a deixar o mundo extasiado. O mistério da vida, dom de Deus, permanecerá como farol que ilumina as gerações. Os cristãos se agarrem a esta realidade, tomem posse da bandeira do Natal de Cristo, com Ele apostem na vida e defendam-na, façam tudo para que o sorriso do Menino de Belém se reflita em tantas crianças, de todas as idades, para que não se apague a vida e a esperança.

Logo a seguir, o "palco" do Natal se abrirá para observarmos os detalhes: a Sagrada Família, a Mãe de Deus, os pastores que acorreram a Belém e, enfim, os Magos que vieram, de longe, para desvendar o mistério. É a destinação final de tudo o que se celebra na Igreja neste tempo: abrir os espaços, para que todos, sem exceção, reconheçam Jesus Cristo, Filho de Deus, e n'Ele creiam. Manifestação, Epifania!


Não se vive uma realidade tão significativa sem a devida preparação, como acontece em nossas casas, onde grandes acontecimentos pedem arrumação geral, faxina, decoração nova, ambiente diferente! O convite da Igreja há de encontrar acolhida nos homens e mulheres de boa vontade!


A Palavra de Deus pede atitudes novas, mudança de roupa! Ao povo de ontem e de hoje, pede que se tome a veste da justiça. Na Bíblia, justiça e fidelidade a Deus se abraçam! A glória da cidade só pode vir d'Ele. Nossa sociedade é chamada a se abrir a Deus e à verdade. A secura do deserto só pode ser superada com a abertura dos corações ao Evangelho. Nossa sociedade, com o argumento de uma laicidade levada ao extremo, tem contribuído para que as pessoas separem fé e vida. O resultado é que ficam sem fé e sem vida digna! Arrumar a casa do mundo é buscar um equilíbrio entre os diversos setores da sociedade para que dois nomes se aproximem e sejamos com eles chamados: "Paz-da-Justiça", "Glória-do-culto-a-Deus" (cf. Br 5,1-9).


"É que Deus já mandou cortar todo morro elevado, toda serra antiga para aterrar os lugares mais fundos e aplainar o chão a fim de que Israel possa passar com segurança sob a glória de Deus. Por ordem de Deus todas as árvores e plantas de cheiro hão de fazer sombra para Israel. Assim é que, festivamente, Deus há de conduzir Israel para a luz de sua glória, por força da justiça e da misericórdia que dele vêm" (Br 5,7-9). Quando veio João Batista, precursor do Salvador do Mundo, sua voz ecoou pregando a "arrumação" da casa do mundo e dos corações. Sua palavra pediu conversão, correção de rota.


Abaixem-se, pois, os montes do orgulho e da soberba, preencham-se os vales da falta de amor e solidariedade, nivelem-se as estradas, estabelecendo caminhos de comunicação entre as pessoas! Então, nosso testemunho de homens e mulheres de fé ajudará a que todas as pessoas vejam a salvação de Deus (cf. Lc 3,6).

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

11 de dezembro de 2012

Os nomes de Cristo

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Muitas são as formas de relacionar-se com o Senhor

São muitos os nomes e títulos atribuídos a Cristo por teólogos e autores espirituais ao longo dos séculos. Uns são emprestados do Antigo Testamento, outros do Novo. Alguns são usados e aceitos pelo próprio Jesus; outros lhe foram aplicados pela Igreja no decorrer dos séculos. Veremos aqui os mais importantes e mais conhecidos.
 
Jesus (cfr. Catecismo 430-435), que em hebreu significa 'Deus salva': "Quando da Anunciação, o anjo Gabriel dá-Lhe como nome próprio Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a Sua identidade e a Sua missão" (Catecismo, 430), isto é, Ele é o Filho de Deus feito homem para salvar 'o seu povo de seus pecados' (Mt 1, 21). "O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente na pessoa do Seu Filho (cf. At 5,41;3 Jo 7) feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. Ele é o único nome divino que traz a salvação (cf.Jo 3,18; At 2,21) e pode, desde agora, ser invocado por todos, pois a todos os homens Se uniu pela Encarnação" (Catecismo, 432). O nome de Jesus está no coração da oração cristã (cfr. Catecismo, 435).

Cristo (cfr. Catecismo, 436-440), palavra que vem da tradução grega do termo hebreu 'Messias' e quer dizer 'ungido'. Passa a ser nome próprio de Jesus, "porque Ele cumpre perfeitamente a missão divina que tal nome significa. Com efeito, em Israel eram ungidos, em nome de Deus, aqueles que Lhe eram consagrados para uma missão d'Ele dimanada" (Catecismo, 436). Este era o caso dos sacerdotes, dos reis e, excepcionalmente, dos profetas. Este deveria ser, por excelência, o caso do Messias que Deus enviaria para instaurar definitivamente seu Reino. Jesus cumpriu a esperança messiânica de Israel em sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei (cfr. ibid.). 

Jesus "aceitou o título de Messias a que tinha direito (cfr. Jo 4, 25-26; 11, 27), mas não sem reservas, uma vez que esse título era compreendido, por numerosos dos Seus contemporâneos, segundo um conceito demasiado humano (cfr. Mt 22, 41-46), essencialmente político (cfr. Jo 6, 15; Lc 24, 21)» (Catecismo, 439).

Jesus Cristo é o Unigênito de Deus
, o Filho único do Senhor (cfr. Catecismo, 441-445). A filiação de Jesus, em relação a Seu Pai, não é adotiva como a nossa, mas a filiação divina natural, isto é, "a relação única e eterna de Jesus Cristo com Deus, Seu Pai: Ele é o Filho único do Pai (cf. Jo 1,14.18; 3,16.18) e, Ele próprio, Deus (cfr. Jo 1,1). Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é condição necessária para ser cristão (cfr. At 8,37; 1 Jo 2,23)" (Catecismo, 454). "Os evangelhos se referem, em dois momentos solenes - no batismo e na transfiguração de Cristo -, a voz do Pai, que O designa como Seu «filho muito-amado» (Mt 3,17; 17,5). Designa-se a Si próprio como «o Filho único de Deus» (Jo 3,16), afirmando por este título a sua preexistência eterna" (Catecismo, 444).

Senhor (cfr. Catecismo, 446-451): "Na tradução grega dos Livros do Antigo Testamento, o nome inefável sob o qual Deus Se revelou a Moisés (cfr. Ex 3, 14), YHWH, é traduzido por « Kyrios» («Senhor»). Senhor torna-se, desde então, o nome mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que o Novo Testamento utiliza o título de «Senhor», tanto para o Pai como também – e aí é que está a novidade – para Jesus, assim reconhecido como sendo Ele próprio Deus (1 Co 2, 8)" (Catecismo, 446).

Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras confissões de fé da Igreja afirmam, desde o princípio (cfr. At 2, 34-36), que o poder, a honra e a glória, devidos a Deus Pai, também são devidos a Jesus (cfr. Rm 9,5; Tt 2,13; Ap 5,13), porque Ele é «de condição divina» (Fl 2, 6) e o Pai manifestou esta soberania de Jesus ressuscitando-O de entre os mortos e exaltando-O na Sua glória (cfr. Rm 10,9; 1 Co 12,3; Fl 2,11)" (Catecismo, 449). A oração cristã, litúrgica ou pessoal, está marcada pelo título 'Senhor' (cfr. Catecismo, 451).

José Antonio Riestra
http://www.opusdei.org.br

7 de dezembro de 2012

A Imaculada Conceição

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Alegra-te, ó Toda Cumulada Pela Graça

O tempo do Advento tem, sem dúvida alguma, um sabor mariano. É com a Virgem que melhor aprendemos como esperar o Sol que nasce da Aurora, o Cristo, nosso Deus! Por isso, é muito conveniente celebrar a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, a Virgem.

O que a Igreja crê e celebra neste mistério? A Escritura Santa nos ensina que a humanidade fora criada por Deus para a comunhão com Ele, para ser feliz convivendo com Ele, construindo a vida e o mundo. Mas, infelizmente, desde o início da história humana e até hoje, nossa raça foi dizendo "não" ao sonho de Deus. Quisemos e queremos ainda ser como deuses, conhecedores do bem e do mal (cf. Gn 3,4s); queremos viver a vida de modo autônomo, como se a existência fosse nossa e não um dom recebido do Senhor. Se não dizemos, pensamos muitas vezes: "A vida é minha; faço dela o que eu quero! O resultado dessa atitude tem sido trágico: tornamo-nos uma humanidade ferida, esfacelada num mundo também ferido e esfacelado.

Somos todos presa de um enorme fechamento para Deus, uma desconfiança n'Ele, uma tendência a não percebê-Lo. Por isso somos profundamente desequilibrados no nosso modo de nos ver, de ver a vida, de nos relacionar com os outros e com o mundo. Somos um poço de contradições, de paixões, de anseios desencontrados e sentimentos, muitas vezes, destrutivos. Somos, pois, profundamente feridos de morte, feridos até a morte! É esta situação miserável que a Igreja denomina "pecado original", pecado que já nos marca desde o primeiro momento de nossa existência: "Minha mãe já concebeu-me pecador" (Sl 50,7). É desta situação miserável, sem saída, que Cristo nos arranca com a Sua encarnação, Sua vida, Sua morte e ressurreição com o dom do Seu Espírito: "Todos pecaram e estão privados da glória de Deus, e são justificados gratuitamente em virtude da redenção realizada por Jesus Cristo" (Rm 3,23s).

Pois bem, a Igreja crê, firmemente, que a toda Santa Virgem Maria, desde o primeiro momento em que foi concebida no seio de sua mãe, foi preservada por Deus desta solidariedade com esta situação de pecado. Nós já nascemos marcados de morte; ela, desta marca de pecado foi preservada; nós, precisamos ser arrancados da lama do pecado graças à cruz do Cristo; ela, pela cruz do Cristo foi liberta desde a origem e, sequer, foi tocada por esta lama maldita; nós fomos redimidos, porque lavados desta lama; ela foi ainda mais perfeitamente redimida. porque, pelos méritos da Paixão do Senhor, sequer experimentou esta situação de pecaminosidade.

Desde o ventre materno, desde o primeiro instante de sua concepção, o Senhor a libertou graças aos méritos de Cristo. Ela, a Virgem, pode ser chamada Toda Santa, isto é, Toda Santificada. Ela pode cantar as palavras da profecia de Isaías: "Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me vestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias!"

A Igreja crê nesta Concepção Imaculada da Mãe de Jesus e com ela se alegra. E crê fundamentada na Escritura Sagrada. A Palavra de Deus não afirma que o Senhor colocou uma inimizade de morte entre a serpente e a Mulher, entre a descendência da serpente e da Mulher? Quem é esta Mulher? Não é aquela a quem Jesus chama Mulher em Caná e ao pé da cruz? Não é aquela de quem São Paulo diz: "Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o Seu Filho nascido de Mulher? Como, pois, poderia estar sob o domínio do pecado, fruto da serpente, a Mulher de quem nasceria o Cordeiro sem mancha, que tira o pecado do mundo? 

Estejamos atentos ainda no modo como Gabriel saudou a Virgem no Evangelho: ele lhe muda o nome! Não diz "Alegra-te, Maria!", mas "Alegra-te, Cheia de Graça!". Cheia de graça, kecharitomene, do verbo charitô, agraciar. "Alegra-te, ó Toda Cumulada Pela Graça!", "Alegra-te, ó Mar de Graça, ó possuída totalmente pela graça! Em ti, Virgem Maria, não há o mínimo lugar, a mínima brecha para a "des-graça" do pecado!" – É isto que significam as palavras de Gabriel. Podem crer: Deus juntou toda água um dia e chamou de mar; Deus juntou toda graça, outro dia, e a chamou de Maria! 

A Virgem não é dona da graça; ela a recebeu totalmente. A Virgem não é imaculada por seus próprios méritos, mas pelos méritos daquele que, nascido de suas entranhas benditas, venceu a antiga serpente e destruiu o antigo inimigo. Observemos que esta ideia aparece na segunda leitura da Missa desta solenidade. O que diz o apóstolo? O Pai "nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou por intermédio de Jesus Cristo (Ef 1,4s).

Se todos somos fruto de um sonho eterno de Deus, se todos somos predestinados em Cristo, desde antes da fundação do mundo; se o Senhor conheceu nossos dias antes mesmo que um só deles existisse, pois bem: em Cristo, Deus, o Pai, preservou a Mãe do Seu Filho do pecado, graças ao Seu Filho! Que nossos irmãos protestantes se alegrem conosco pela Imaculada Conceição de Maria: ela é bíblica, ela exalta enormemente a grandeza abundante da graça de Cristo, único Salvador! São Paulo diz que "todos pecaram e estão privados da glória de Deus"; assim estaria a Virgem sem a graça de Cristo; mas disso foi libertada no primeiro momento de sua existência, graças a Cristo!

Esta é a beleza desta festa: o triunfo da graça, celebrar a graça de Cristo que age antes mesmo do nascimento histórico de Cristo! Que graça tão grande, que Salvador tão potente, que Deus tão previdente! E para nós, que alegria contemplar o mistério, vislumbrá-lo, mergulhar nele! Hoje, a Virgem foi concebida livre do pecado; hoje, começou a raiar a aurora do dia sem fim; surgiu a puríssima Estrela d'Alva que anuncia o Sol, que é o Cristo, nosso Deus!

A Igreja, exultante de alegria, tem palavras lindas na celebração litúrgica no dia da Imaculada. No Ofício Divino, ela assim se dirige à Virgem Toda Santa: "Com a vossa Imaculada Conceição, Virgem Maria, um anúncio de alegria percorreu o mundo inteiro" e, mais adiante, no Ofício, continua, admirada: "Toda bela sois, Virgem Maria, sem mancha original! Sois a glória de Sião, a alegria de Israel e a flor da humanidade". E, imaginando a resposta da Virgem, coloca nos seus lábios estas palavras que ela dirige ao Senhor: "Foi nisto que eu vi, porque vós me escolhestes! Porque não triunfou sobre mim o inimigo, porque vós me escolhestes!" Isso mesmo: mais que ninguém, a Virgem é devedora a Cristo: Ele a escolheu, a preservou, sustentou-a e teve por ela uma predileção inigualável!

Alegremo-nos nós também! Em Cristo o pecado pode ser vencido! A Conceição Imaculada de Maria é sinal belíssimo desta vitória! Alegremo-nos, porque a Imaculada Conceição de Nossa Senhora é o feliz princípio e o primeiro albor da salvação que o Senhor Jesus nos traz! Bendita seja a cruz de Jesus, que antes de ser fincada no Calvário, já libertou com seus raios a Virgem de todo pecado! A Jesus, fruto bendito, do bendito ventre da bendita Virgem Maria, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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Dom Henrique Soares da Costa
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5 de dezembro de 2012

Advento, tempo de faxina interior

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Estamos no tempo do cuidado na vida espiritual

As estações da natureza nos ensinam a reconciliar em nosso coração o tempo dos mistérios que abraçam nossa fé. Advento é o tempo da espera. Ainda não é Natal, mas antecipa a alegria desta festa. Viver cada tempo litúrgico com o coração é um jeito nobre de não adiantar um tempo que ainda não chegou. Na sobriedade que este tempo litúrgico exige, vamos tecendo a colcha das alegrias do Cristo que vem ao nosso encontro. 

Esperar é uma alegria antecipada de algo que ainda não chegou. A mulher grávida vive na alma a felicidade antecipada pela vida que, em seu ventre, vai sendo gerada no tempo que lhe cabe. A natureza cumpre o ritual das estações para que cada tempo seja único. Os casais apaixonados esperam o momento do encontro. As famílias organizam a casa no cuidado da espera dos parentes que vão chegar. Esperar é uma metáfora do cotidiano da vida. No contexto do Advento, a espera ganha tonalidades alegres e sóbrias.

Casa mal arrumada não é adequada para acolher os amigos e familiares que irão chegar. Jardim sujo não pode se tornar um canteiro para novas sementes. Esperar é também tempo de cuidado, tempo de organização.

No tempo da espera, o tempo do cuidado na vida espiritual. Chegando ao final de mais um ano, muitos corações se encontram totalmente bagunçados. Raivas armazenadas nos potes da prepotência, mágoas guardadas nas gavetas do rancor, amizades sendo consumidas pelo micro-ondas da inveja, tristezas crescendo no jardim da infelicidade, violência sendo gerada no silêncio do coração.

Enquanto as lojas fazem o balanço, somos convidados a fazer o balanço de nossa situação emocional. No balancete da vida, o amor deve sempre ser o saldo positivo que nos impulsiona a sermos mais humanos a cada dia.

Casa mal arrumada não é local adequado
 para receber quem nos visita. Coração bagunçado dificilmente tem espaço para acolher quem chega. Neste tempo do advento, a faxina da espera deve remover as teias de aranha dos sentimentos que estacionaram em nossa alma. O pó que asfixia o amor deve ser varrido. Tempo novo exige um coração novo.

Jesus, com Seu amor sem limites, adentrava o coração de cada pessoa e fazia uma faxina de amor, abria as janelas da vida que impediam cada pessoa de ver a luz de um novo tempo chegar, devolvia às flores já secas pelas dores e tristezas as alegrias da ressurreição, semeava nos sertões sem vida as sementes do amor e da paz.

No Advento da Vida, as estações do coração se tornam tempo propício para limpar os quartos da alma à espera do Cristo que vem. Se o jardim do coração estiver sendo cuidado, as sementes da esperança irão germinar no tempo que lhes cabe e o Amor irá nascer nas alegrias da chegada.


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Padre Flávio Sobreiro

28 de novembro de 2012

Evangelizar pela arte

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Diante do que é belo nos resta a contemplação


Por vezes, nem mesmo a carência de necessidades básicas, como a falta de alimento, é capaz de extrair da pessoa a total capacidade de se atentar, ainda que por meros segundos, ao atrativo da beleza plástica, pois existe algo no núcleo dessa beleza que responde a um anseio do coração humano.

Afirma o Catecismo da Igreja Católica (27): "Somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar". Nisso existe a evidência de que a grande busca do ser humano não está na possibilidade de dominar as coisas existentes neste mundo, nem mesmo na saciedade de nossas necessidades primeiras, mas em algo que venha revelar a verdadeira grandeza e essência de nós próprios, também revelando assim nossa sede do transcendente.

Felizmente, no íntimo e no significado de uma obra artística podemos vislumbrar, de alguma forma, O Ser Altíssimo, o Criador que tanto ansiamos, "pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor" (Sb 13,5).

O ápice da beleza está no amor de Deus por nós. Ainda que, nem tudo tenha cunho religioso e possamos apreciar coisas bonitas em todas as áreas, todo belo acaba por indicar O Seu Autor. Por isso devemos, mais do que nunca, nesse tempo de tanta modernidade e tantos meios que podem ser empregados, evangelizar por meio de algo que tanto fala ao coração das pessoas.
 
A arte é capaz de emocionar e, em seguida, atravessar as nuvens dos sentimentos e aterrizar na terra firme da razão. Pela arte pode-se introduzir nos corações, os valores, a bondade, a misericórdia e nos ensinar como amar sempre mais, pois ela é o veículo que transporta um significado a mais que o simples entretenimento. Quem aprecia a arte aprende com prazer, adquire instrução no momento de descanso. 

Davi era um homem de guerra (cf. I Rs 5,3), empenhado em lutas e conquistas sangrentas. Poucas vezes, pensamos nesse personagem como um guerreiro, como um general de exército, conhecedor de técnicas de batalha. Imaginamos um menino que, quase numa travessura, deu uma pedrada na cabeça de seu inimigo.

Talvez, numa primeira lembrança, tenhamos até uma imagem amenizada do homem Davi, esquecendo-nos da sua capacidade de dominar e submeter adversários, devido às obras que ele deixou. Ele tocava arpa e era compositor. Grande parte dos Salmos, foi Davi quem nos deixou, ainda orações e cânticos inspirados.

Há um ditado celta que diz: "Nunca dê uma espada a um homem que não sabe dançar". Ou seja, o homem deve ter motivações nobres dentro de si, antes de, se lhe for preciso, empunhar um objeto assim para lutar pela sua defesa e dos seus. E a arte ajuda a alimentar tal sentido.

Quantas vezes, nas coisas de Deus, Ele próprio pediu trabalhos artísticos? "Vede, o Senhor nomeou especialmente Beseleel. Encheu-o do Espírito de Deus, de sabedoria, habilidade e conhecimento para qualquer trabalho como fazer projetos, trabalhar com ouro, prata e bronze, lapidar pedras e engastá-las, entalhar madeira e executar qualquer tipo de obra de arte" (Ex 35,30-33).

O significado do esplendor da obra é que "estes estão a serviço daquilo que é a representação e sombra das realidades celestes, como foi dito a Moisés, quando estava para executar a construção da Tenda: 'Vê, faze tudo segundo o modelo que te foi mostrado' (Ex 25, 40)" (Hb 8, 5). Diante de toda mudança, nestes últimos tempos em que o ser humano tem necessidade da verdade, a evangelização pela arte se faz mais que necessária, ela é urgente!

Devemos desenvolver nossa criatividade, cada um com seu talento, sua habilidade, pois há muita coisa que já foi feita para roubar a verdadeira 'imagem e semelhança' do homem e da mulher através do que pode encantá-los. "Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz" (Lc 16, 8).

Como são belos os pés do mensageiro! O Evangelho é belo por sua essência.

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Sandro Ap. Arquejada
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26 de novembro de 2012

A felicidade pela fé

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Ela nos oferece uma nova forma de ver o mundo

Todos os milagres que Cristo fez, nos corpos ou nos elementos materiais, simbolizam os que Ele faz nas almas mediante a graça do Espírito Santo. Por isso, São João chama sinais os milagres de Jesus.


Dentre eles, as curas dos cegos simbolizam a luz da fé que Cristo traz aos olhos da alma. Assim o lembrava Bento XVI na homilia de encerramento do Sínodo dos Bispos, em 28 de outubro de 2012: «Sabemos que a condição de cegueira tem um significado denso nos Evangelhos. Representa o homem com necessidade da luz de Deus – a luz da fé – para conhecer, verdadeiramente, a realidade e caminhar pela estrada da vida».

Vejamos, brevemente, o "sinal" da cura do cego de Jericó, a que o Papa se referiu nessa homilia. Estava Jesus de passagem pela cidade de Jericó, à porta da cidade achava-se um mendigo cego chamado Bartimeu, pedindo esmola. Ouvindo a multidão que passava – acompanhando Jesus –, perguntou o que havia. Responderam-lhe: "É Jesus de Nazaré que passa". Ele então exclamou: "Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim" (Lc 18,36-38).

Quando os olhos da alma estão cegos e não vemos a luz de Deus, somos semelhantes a Bartimeu. Só temos noções imperfeitas das coisas do Senhor, da vida e do mundo: somos cegos, ainda que pensemos enxergar bem; ficamos parados, ainda que creiamos avançar; não conseguimos usufruir os verdadeiros bens da vida, por mais que procuremos espremer os prazeres até a última gota; e não percebemos que, aquilo conquistado, não passa de migalhas de «mendigo do sentido da vida», como diz o Papa.

Podemos dizer que estamos satisfeitos? Não é verdade que, muitas vezes, na solidão e no silêncio, temos vontade de chorar sem saber por que, pois sentimos um estranho vazio, uma pobreza, uma escuridão inexplicável? Santo Agostinho pode projetar luz sobre a nossa cegueira: «Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em ti».

O Catecismo da Igreja Católica, que Bento XVI aconselha como chave-de-luz para este Ano da Fé, diz uma grande verdade: «O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar» (n. 27).


O Papa, glosando esse texto do Catecismo, na audiência de 7 de novembro de 2012, comentava que, em inúmeras pessoas, esse desejo é inconsciente, mas a graça de Deus pode se servir dele para que as pessoas percebam que só na fé está a verdadeira resposta para a felicidade que seu coração anseia: «Mesmo quando esse desejo caminha por rumos extraviados – dizia o Papa –, quando segue paraísos artificiais e parece perder a capacidade de ansiar pelo verdadeiro bem, mesmo no abismo do pecado, não se apaga no homem aquela faísca que lhe permite reconhecer o bem autêntico, saboreá-lo e começar assim um percurso de subida, no qual Deus, com o dom da sua graça, não deixa nunca faltar a sua ajuda… 


Não se trata, portanto, de sufocar o desejo que está no coração do homem, mas de libertá-lo para que ele possa alcançar a sua verdadeira altura». O primeiro passo para sairmos da cegueira ou da miopia consiste em termos a humildade de reconhecer a nossa indigência: «Condição essencial – dizia o Papa na homilia citada acima – é reconhecer-se cego, necessitado dessa luz; caso contrário, permanece-se cego para sempre (cf. Jo 9,34-41)».

Bartimeu sentia a dor da sua condição de mendigo e desejava ardentemente ver, por isso pediu, insistiu, e não parou até conseguir que Jesus o atendesse. "Que queres que te faça?" –  Respondeu-lhe: "Senhor, que eu veja". Jesus lhe disse: "Vê; a tua fé te salvou". E, imediatamente, ficou vendo, e seguia Jesus, glorificando a Deus (Lc 18,41-43).

Você quer pedir: "Senhor, faz com que eu veja"? Então, creia, pois não há ninguém que O tenha pedido com sinceridade e tenha ficado sem uma resposta. Santo Agostinho, antes da conversão, rezava assim: «A ti, meu Deus, se elevam meus suspiros, e peço-te uma e outra vez asas para subir até ti. Se tu me abandonares, logo a morte se abaterá sobre mim…» (Solilóquios, n.6).

Pedia, porque reconhecia sua necessidade de Deus, ainda que não tivesse a coragem de abraçar a fé e de seguir-lhe o caminho. Da mesma forma, São Clemente de Alexandria, citado pelo Papa, fazia a seguinte oração: «Até agora andei errante na esperança de encontrar Deus, mas porque tu me iluminas, ó Senhor Jesus, encontro Deus por meio de ti, e de ti recebo o Pai, torno-me herdeiro contigo, porque não te envergonhaste de me ter por irmão. Cancelemos, portanto, cancelemos o esquecimento da verdade, a ignorância…» (Protréptico, 113 ss.)

Nos tempos modernos, vale a pena evocar a conversão do Beato Charles de Foucauld. Esse aristocrata ateu foi um devasso esbanjador; estudou a carreira militar na Academia de Saint Cyr, e foi oficial, explorador científico e aventureiro no norte da África. Após anos de vida intensa e de toda a sorte de experiências, o vazio da sua alma revelou-se-lhe de maneira aguda e o derrubou (Deus agia na noite do seu coração). Voltou à França e, estando em Paris, em 1886, sentiu um tremendo puxão interior que o impelia, mesmo descrente, a ir a uma igreja. «Comecei a ir à igreja sem ter fé, Experimentei que só me sentia bem lá, ficando longas horas a repetir essa estranha prece: "Meu Deus, se tu existes, faz com que eu te conheça"».

A graça da fé o invadiu um dia e, com a ajuda do padre Huvelin – o qual teve a coragem de lhe dizer que, para receber o dom da fé, precisava antes confessar-se –, converteu-se e entregou-se totalmente a Deus. Viveu bastantes anos, pobre, paupérrimo, desprendido de tudo, como monge eremita, exercendo a caridade no meio das tribos tuaregs do Saara. Ninguém o acompanhou. Hoje, milhares de cristãos em todo o mundo o têm como mestre e padroeiro.

Agradecido pelo dom recebido, fazia esta oração: «Como és bom, meu Deus, como me guardaste, como me agasalhaste à sombra das tuas asas quando eu nem acreditava na tua existência! … Como estou feliz! Meu Senhor Jesus, tu puseste em mim esse amor por ti, tão terno e crescente, esse gosto pela oração, essa fé na tua Palavra, esse sentimento profundo do dever da caridade, esse desejo de imitar-te, essa sede de oferecer-te em sacrifício o melhor que eu puder dar-te… Como tens sido bom! Como sou feliz!


Padre Francisco Faus
http://www.padrefaus.org/

20 de novembro de 2012

O Filho do Homem virá!

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Nossa esperança está na vinda do Senhor

Estamos no penúltimo semana do Ano Litúrgico. No Domingo próximo, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo encerrará este ano da Igreja. Pois bem, neste Domingo a Palavra de Deus, nos recordou que, como o ano, também a nossa vida passa, e passa veloz… Assim, o Senhor nos convida à vigilância e nos exorta a que não percamos de vista o nosso caminho neste mundo e o destino que nos espera. Nossa vida tem um rumo, caríssimos; o mundo e a história humana têm uma direção, meus irmãos!

A nossa fé nos ensina, amados no Senhor, que toda a criação e toda a história humana caminham para um ponto final. Este fim não será simplesmente o término do caminho, mas a sua plenitude, a sua finalidade, sua bendita consumação. O universo vai evoluindo, a história vai caminhando… Onde o caminho vai dar? Com palavras e idéias figuradas, a Escritura Sagrada nos ensina que tudo terminará em Jesus, o Cristo glorioso que, por sua morte e ressurreição, tornou-se Senhor e Juiz de todas as coisas. Vede bem: a criação não vai para o nada; a história humana não caminha para o absurdo! Eis aqui o essencial, que o evangelho de hoje nos coloca com palavras impressionantes:

"Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória!" Ou seja: tudo quanto existe caminha para Cristo, aquele que vem sobre as nuvens como Deus, aquele que é nosso Juiz porque, como Filho do Homem, experimentou nossa fraqueza e se ofereceu uma vez por todas em sacrifício por nós! Vede, irmãos: o nosso Salvador será também o nosso Juiz! Aquele que está à Direita do Pai e de lá virá em glória para levar à consumação todas as coisas é o mesmo que se ofereceu todo ao Pai por nós para nos santificar e nos levar à perfeição! Repito: nosso Juiz é o nosso Salvador! Quanta esperança isso nos causa, mas também quanta responsabilidade! Que faremos diante do seu amor? Que diremos àquele que por nós deu tudo, até entregar a própria vida para nossa salvação? Que amor apresentaremos a quem tanto e tanto nos amou? Pensai bem!

As leituras deste Domingo advertiu: tudo estará debaixo do senhorio de Cristo! Por isso, numa linguagem de cores fortes e figuras impressionantes, Jesus diz que a criação será abalada pela sua Vinda: "O sol vai escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas". Que significa isso? Que toda a criação será palco dessa Revelação da glória do Senhor, toda a criação será transfigurada e alcançará a plenitude no parto de um novo céu e uma nova terra onde a glória de Deus brilhará para sempre! O Senhor afirma ainda que também a história chegará ao fim e será passada a limpo. Cristo fala disso usando a imagem da grande tribulação, isto é, as dores e contradições do tempo presente, que vão, em certo sentido se intensificando neste mundo. Por isso mesmo, a primeira leitura, do Profeta Daniel, fala em combate e em tempo de angústia… É o nosso tempo, este tempo presente, que se chama "hoje".

Amados em Cristo, estas leituras são muito atuais e consoladoras, sobretudo nos dias atuais, quando vemos o Cristo enxovalhado, o cristianismo perseguido e desprezado, a santa Igreja católica caluniada… Pensem no Código da Vinci, pensem nas obras de arte blasfemas e sacrílegas frequentemente expostas sem nome de uma pérfida liberdade, pensem nas freiras das porcas novelas da Globo, pensem no ridículo a que os cristãos são expostos aqui e ali, com cínicas desculpas e camufladas intenções, pensem nos valores cristãos que vão sendo destruídos, nas famílias destruídas pelo divórcio, pela infidelidade, pela imoralidade, pensem nos jovens desorientados pela falta de Deus, pela negação de todas as certezas e o desprezo de todos os valores, pensem, por fim, na vida humana desrespeitada pelo aborto, pela manipulação genética, pelas imorais e inaceitáveis experiências com células-tronco embrionárias com pretextos e desculpas absolutamente imorais… Não é de hoje, caríssimos, que a Igreja sofre e que os cristãos são perseguidos, ora aberta, ora veladamente… Já no longínquo século V, Santo Agostinho afirmava que a Igreja peregrina neste tempo, avançando entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus… O perigo é a gente perder de vista o caminho, perder o sentido do nosso destino, esfriar na vigilância, perder a esperança, abandonar a fé…

Caminhamos para o Senhor, caríssimos – tende certeza disto! O mudo vai terminar no Cristo, como um rio termina no mar; a história vai encontrar o Cristo, tão certo quanto a noite encontra o dia; nossa vida estará diante do Senhor, tão garantido quanto o vigia cada manhã está diante da aurora! Por isso mesmo, é indispensável vigiar e trazer sempre no coração a bendita memória do Salvador, a firme esperança nas suas promessas, a segura certeza da sua salvação! Vede bem: na Manifestação do nosso Senhor, ele nos julgará! Na sua luz, tudo será posto às claras: se é verdade que sua Vinda é para a salvação, também é verdade que todos quantos se fecharam para ele, perderão essa salvação.

Caríssimos, nosso destino é o céu, mas estejamos atentos: o inferno, a condenação eterna, a danação sem fim, o fogo que devora para sempre, são uma real possibilidade para todos nós! Haverá um Juízo de Deus em Jesus Cristo, meus amados no Senhor: "Muitos dos que dormem no pó a terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno. Nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem escritos no Livro". Caríssimos, não brinquemos de viver, não vivamos em vão, não sejamos fúteis e levianos, não corramos a toa a corrida da vida! É o nosso modo de viver agora que decidirá nosso destino para sempre!

Por isso mesmo, Jesus nos previne: "Em verdade vos digo: esta geração não passará até que tudo isto aconteça!" Em outras palavras: não importa quando ele virá – ele mesmo diz: "Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai" -; importa, sim, que estejamos atentos, importa que vivamos de tal modo que, quando ele vier no momento de nossa morte, estejamos prontos para comparecer diante dele e diante dele estar no último Dia, quando tudo for julgado! O juízo que nos espera é um processo: começa logo após a nossa morte, quando, em nossa alma, estaremos diante do Cristo e receberemos nossa recompensa: o céu ou o inferno! E no final dos tempos, quando Cristo se manifestar em sua glória, nosso destino também será manifestado com toda a criação e o nosso corpo, ressuscitado no fim de tudo, receberá também a mesma recompensa de nossa alma: o céu ou o inferno, de acordo com o nosso procedimento nesta vida!


Meus caros, quando a Escritura Sagrada nos fala do fim dos tempos não é para descrever como as coisas acontecerão. Isso seria impossível, pois aqui se tratam de realidades que nos ultrapassam e que já não pertencem a este nosso mundo. Portanto, palavras deste mundo não podem descrever o que pertence ao mundo que há de vir… O que a Escritura deseja é nos alertar a que vivamos na verdade, vivamos na fé, vivamos na fidelidade ao Senhor… vivamos de tal modo esta nossa vida, que possamos, de fé em fé, de esperança em esperança, alcançar a vida eterna que o Senhor nos prepara, vida que já experimentamos hoje, agora, nesta santíssima Eucaristia, sacrifício único e santo do nosso Salvador que, à Direita do Pai nos espera como Juiz e Santificador.

A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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Dom Henrique Soares da Costa
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13 de novembro de 2012

Conheça mais sobre a Palavra de Deus

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Dei Verbum: Um documento sobre a Revelação

Um documento importantíssimo do Concílio Vaticano II é a Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação. Nossa tentação é pensar logo que este documento fala sobre a Bíblia. Errado! Para o Cristianismo, a revelação não é a Bíblia, não é um livro, mas uma Pessoa: Jesus Cristo, rosto e Palavra de Deus para nós, cheio de graça e de verdade. E mais, não um Jesus qualquer, fruto simplesmente de uma pesquisa ou da opinião de algum erudito. O Jesus Cristo real, vivo e vivificante é aquele crido, adorado, vivido e testemunhado pela Igreja. É ele a Revelação! A Dei Verbum compõe-se de um proêmio, isto é, uma introdução e seis capítulos. Vamos a eles.

Já na sua introdução, o documento deixa claro que o Concílio (e a Igreja) coloca-se debaixo da Palavra de Deus, que é Jesus Cristo (cf. DV 1). Depois, no capítulo I, passa a tratar do que é a Revelação Divina: Deus, livremente no Seu amor e sabedoria, quis revelar-se aos homens por meio de Jesus Cristo para chamá-los a participar da vida divina. Então, o Senhor Deus não quer revelar coisas, mas deseja revelar Seu coração amoroso.

A Revelação é um diálogo de Deus com a humanidade por meio de Sua Palavra eterna feita carne: Jesus. Este diálogo é para nos levar à vida com Deus, à vida eterna, nossa plenitude (cf. DV 2). Depois, a Dei Verbum mostra como a Revelação foi sendo preparada ao longo da história, preparando para Jesus: na própria criação, o Senhor já se manifesta pela sua amorosa providência, na eleição de Abraão, nosso Pai na fé, na aliança com Israel e na palavra dos profetas. Assim, o Senhor foi preparando Israel e a humanidade para Jesus Cristo (cf. DV 3). Finalmente, chega Jesus, plenitude da revelação: Ele é a própria Palavra de Deus feita gente, feita carne. N'Ele, o Senhor se deu a nós totalmente (cf. DV 4).

Ainda neste capítulo, primeiro coloca-se a questão: como receber esta revelação de Deus? Qual a nossa atitude, a nossa resposta? A Dei Verbum responde: "A Deus revelador, é devida a obediência da fé!" (DV 5). Em outras palavras: a Revelação deve ser acolhida com fé, com aquela abertura amorosa e disponível que atinge e engloba a pessoa como um todo. A Revelação não é um conjunto de informações para a inteligência, mas Alguém que vem ao nosso encontro e a quem devemos acolher com todo o nosso ser. No entanto, a Revelação inclui também verdades reveladas que devem ser cridas, porque foram reveladas por Deus (cf. DV 6).

O capítulo II trata da transmissão da Revelação. Eis as ideias mais importantes: Cristo, Revelação do Pai, confiou-a aos apóstolos que pregaram, viveram e, por inspiração do Espírito Santo, colocaram por escrito a mensagem salvífica. Para que essa mensagem de salvação continuasse viva na Igreja, os apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores e guardiões da verdade salvífica, contida na tradição oral e na Sagrada Escritura (cf. DV 7). Quanto à tradição apostólica, ela abrange tudo aquilo que coopera para a vida santa do povo de Deus e para o aumento da sua fé. Onde está a tradição? Na doutrina, na vida e no culto da Igreja, que é guiada pelo Espírito Santo.

Compete aos bispos, em comunhão com o Papa, o discernimento da tradição apostólica, a qual vai sempre progredindo na Igreja sob a inspiração do Santo Espírito (cf. DV 8). Ainda quanto à tradição, ela está intimamente unida à Sagrada Escritura, pois ambas dão testemunho do mesmo Cristo. Escritura e tradição devem ser recebidas e veneradas com igual reverência (DV 9). Compete aos bispos, em comunhão com o Papa, a interpretação última seja da Escritura seja da tradição: eles receberam autoridade de Cristo para isso e nesse discernimento são guiados pelo Espírito Santo (cf. DV 10).

O capítulo III afirma que a Escritura é toda ela inspirada por Deus, pois os seus autores escreveram por inspiração do Espírito Santo, de modo que, mesmo que cada autor dos livros bíblicos tenha seu estilo e sua visão, o autor final da Escritura é o próprio Deus e a Bíblia é realmente palavra d'Ele que nos transmite a verdade para a nossa salvação. Não se trata de verdade científica ou histórica, mas a verdade sobre o Senhor, sobre o homem e sobre o sentido da vida e do mundo (cf. DV 11).

Por isso mesmo, a interpretação correta da Palavra de Deus requer que se conheça a cultura do povo da Bíblia, a mentalidade e intenção do autor sagrado, bem como o gênero literário em que tal ou qual obra foi escrita. Sem contar que toda interpretação deve estar de acordo com o Magistério da Igreja (cf. DV 12). Uma coisa é certa: seja o simples crente, seja o estudioso erudito, deve procurar o sentido último da Escritura em Cristo e procurar interpretá-la no mesmo Espírito Santo que a inspirou e a entregou à Santa Igreja (cf. DV 21).

Depois, no capítulo IV, a Dei Verbum recorda que o Antigo Testamento é Palavra de Deus e prepara para o Cristo e, por isso, somente pode ser bem compreendido à luz de Cristo. No capítulo V, fala do Novo Testamento, mostrando que ele é mais excelente que o Antigo, porque é o cumprimento em Cristo daquilo que o Antigo anunciava. Ensina também que os evangelhos são de origem apostólica e contêm uma interpretação segundo a fé e inspirada pelo Espírito da vida, palavras e missão de Jesus Cristo.

Finalmente, o capítulo VI recorda a veneração que a Igreja tem pelas Sagradas Escrituras como Palavra de Deus e exorta os fiéis a que se alimentem dessa Santa Palavra para o bem de sua vida espiritual e da sua vida moral. Também recorda que a Sagrada Escritura deve ser a alma da Teologia. Exorta os ministros sagrados a que preguem a Palavra, sobretudo cuidando bem das homilias na Santa Missa. A celebração da Eucaristia é o lugar por excelência para se proclamar e escutar a Palavra de Deus, pois aí, a Palavra anunciada, que é Jesus Cristo, faz-se carne que alimenta e dá vida. A salvação anunciada na Escritura é celebrada na Páscoa Eucarística.

Eis, em linhas gerais, a belíssima Dei Verbum.

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Dom Henrique Soares da Costa
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10 de novembro de 2012

Radicalidade

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Não corremos atrás de ideias, mas seguimos uma pessoa

A experiência autêntica da fé, posta em luz pela convocação de um ano destinado a fazer crescer nos cristãos a consciência de suas convicções e a testemunhá-las corajosamente, traz consigo consequências a um tempo consoladoras e exigentes. Jesus Cristo não é um escritor de obras famosas, como muitos de todos os tempos, até porque a única vez que o vemos escrevendo foi na areia, no conhecido episódio da mulher adúltera (cf. Jo 8). 

O vento apagou logo seus poucos escritos, mas nada apaga o que ele é, tanto que muitos escreveram o que disse e fez para conhecermos a solidez dos ensinamentos (cf. Lc 1,4). Seria muito pouco considerá-lo apenas um mestre, ainda que tenha arrebanhado, atrás de si, discípulos, dentre os quais queremos também ser reconhecidos. Ele é Redentor, Salvador, Filho de Deus! Não corremos atrás de ideias, mas seguimos uma pessoa, nada menos do que o Verbo de Deus feito carne. Diante dele todo joelho se dobre e toda língua proclame que é "o" Senhor (cf. Fl 2,5-11).

Homens e mulheres de todas as raças, povos, línguas e nações (cf. Ap 7,9-10) o seguem e o reconhecem Deus verdadeiro, o Cordeiro que tira o pecado do mundo, aquele que tem a chave para abrir o livro da vida (cf. Ap 5,1-14) de todas as pessoas humanas e da história. Encontrá-lo e aderir a Ele, na fé, dá sentido à existência e possibilita entender os intrincados caminhos da aventura humana nesta terra.

Tudo isso é magnífico e ecoa altissonante pelos caminhos da história. No entanto, viver a fé cristã é algo que se expressa na simplicidade do dia a dia, com gestos que podem parecer prosaicos, mas são densos de sentido. Não se trata, em primeiro lugar, de fazer grandes coisas, mas de realizar com alma grande os pequenos gestos. A aventura cristã no mundo é marcada pela radicalidade no seguimento corajoso de Jesus Cristo. Aquele que não se apegou a si mesmo, mas deu tudo, tomando a forma de escravo, tornando-se semelhante ao ser humano (Fl 2,7), pede a resposta e a reciprocidade da entrega de vida de cada cristão. Dizer "eu creio" é povoar o horizonte da existência com gestos que revelem esta radicalidade.

No Evangelho de São Marcos, verdadeiro documento de identidade de Jesus Cristo (cf. Mc 1,1), o leitor é provocado a ir ao encontro do Senhor, para reconhecê-Lo como Filho de Deus. Mas os modelos oferecidos por Jesus surpreendem pela simplicidade e eloquência de seus gestos e atitudes. Um deles é apresentado pela palavra proclamada nas missas do presente final de semana (Mc 12, 38-44). A prática religiosa de muitos, aos quais havia sido confiada justamente a responsabilidade pela orientação do povo, tinha se reduzido à competição, carreirismo, exploração e exterioridades estéreis. 

A plebe ignara era relegada à margem, os pobres e tanta gente simples considerados massa sobrante diante dos privilegiados da sociedade e da religião. De repente, vem Jesus Cristo, depois de uma viagem pelas margens do Jordão, Jericó e o deserto de Judá, e entra em sua cidade de Jerusalém, acolhido com hosanas pelo povo. Radicaliza-se o confronto com as autoridades, vistas como figueira que não dá fruto (Mc 11,14), purifica o templo, enfrenta o bombardeio de perguntas que são verdadeiras armadilhas (Mc 12,13-34) e contempla, tranquilo, os gestos das pessoas que fazem suas ofertas.


Uma pessoa chama a atenção e é escolhida como um dos modelos privilegiados, uma pobre viúva que versa no cofre das esmolas apenas duas moedinhas, tudo aquilo que tinha para viver (Mc 12,42-44). Deu mais, porque deu tudo! Jesus tem um modo radicalmente diferente para entender as pessoas e a vida. Acreditar nele é mudar a mentalidade e enxergar o sentido profundo de gestos semelhantes ao da viúva. Provavelmente, só no céu ela soube que sua atitude percorre os séculos e se torna referência para tantas gerações!

O convite da Palavra de Deus nos despoja de falsas pretensões, desejo de publicidade fácil e orgulho estéril. É necessário olhar ao redor para identificar quantas viúvas pobres ou tantas pessoas aparentemente insignificantes, para descobrir os imensos tesouros de generosidade que edificam a vida e a Igreja. Por outro lado, trata-se agora de converter-nos à simplicidade, olhar ao nosso redor para que ninguém passe em vão ao nosso lado, não desperdiçar qualquer oportunidade para fazer o bem. E em relação a Deus, o olhar quase furtivo para o Sacrário, o sinal da Cruz bem feito, as orações mais simples que sabemos, o desabafo da oração espontânea, a renovação espontânea da fé, tudo conta, pois o Senhor acolhe os gestos mais singelos, já que no Céu estão escritos os nossos nomes! (cf. Lc 10,20)

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

8 de novembro de 2012

O verdadeiro amor é eterno

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Não nos contentemos com os amores passageiros

Nos dias de hoje, o amor se apresenta a nós de forma cada vez mais distorcida, pois se apela cada vez mais para os sentimentos, as paixões, os sonhos, as fantasias. Esse falso amor se apresenta nas músicas, nos filmes, nos videoclips, na fotografia. Esse amor irreal também faz parte da vida de muitas pessoas, no "ficar", no namoro e até mesmo no casamento. Hoje em dia, muitas pessoas vivem anestesiadas pelas paixões, pelos falsos amores, pois desconhecem o verdadeiro amor.

O falso amor é convidativo, sedutor, pois explora as fantasias, as imagens, os sentimentos. Estes dão uma falsa impressão de amor, que se confunde com a paixão, o desejo, a luxúria. Essa caricatura de amor se faz presente principalmente nas novelas, nos filmes, nas séries e minisséries que assistimos. Isso faz com que, inconscientemente, façamos da nossa vida um prolongamento da vivência desse falso amor, movido somente pelo desejo, pelas paixões, pela fantasia.

Cada vez mais nos deparamos com pessoas feridas, machucadas por causa do engano desse "amor" que destrói amizades, relacionamentos, casamentos, famílias. Não podemos ficar indiferentes diante desse fenômeno, o qual, se não tomarmos consciência, fará parte de nossas vidas sem que o queiramos. Não deixemos que nossos relacionamentos sejam influenciados por um romantismo vazio, próprio de um amor falso e passageiro, pois fomos criados pelo amor de Deus, e somente Ele é capaz de nos realizar.

O verdadeiro amor se manifestou a nós em Jesus Cristo. "De fato, Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho único para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). O Pai enviou Seu Filho ao mundo pela Virgem Maria e é por ela que temos acesso ao verdadeiro amor de forma mais perfeita. Nossa Senhora nos ensina a acolher o amor de Deus encarnado, que é Jesus Cristo em nossas vidas. Consagremo-nos a Maria de todo o coração para que por ela conheçamos o amor que foi até as últimas consequências, no Calvário, no alto da cruz, por amor de nós.

Com a Virgem Santíssima, coloquemo-nos junto da cruz de Jesus, oferecendo nossas dores, nossos sofrimentos, mas também nossas alegrias e esperanças, unindo-nos ao único e eterno sacrifício de Cristo, pois, na cruz, conhecemos o amor verdadeiro, aquele não foge diante do desprezo, da humilhação, do sofrimento. Ao contrário, o verdadeiro amor, que se manifesta também em nós, assume a cruz da angústia e da dor, pois o sacrifício é próprio dele. Não nos enganemos, mas acolhamos o verdadeiro amor, Jesus Cristo Nosso Senhor, que veio ao mundo pelas mãos maternas da Virgem Maria. Por ela, Jesus vem a nós todos os dias até a consumação dos séculos e também no Reino dos Céus, pois o verdadeiro amor é eterno.

Natalino Ueda - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/tododemaria

6 de novembro de 2012

O compromisso com a felicidade do outro

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No matrimônio aprendemos que somos o canal de felicidade

Muitas pessoas se sentem desacreditadas em seus relacionamentos, por não terem aquilo que os contos de fadas ou romances descrevem como a felicidade completa. Tanto para aqueles que vivem um relacionamento ou para outros que esperam vivenciar esse momento, todos têm em comum o desejo de serem felizes… Julgam merecedores da felicidade e, realmente, os são. Entretanto, algumas vezes, correm o risco de antecipar momentos, abreviar etapas ou romper valores, simplesmente, para não deixar vazar pelos dedos das mãos, aquilo que vemos como uma oportunidade de realização de um sonho.

Ouve-se muito dizer que o casamento tira a liberdade da pessoa, que são formalidades que geram custos e que não garantem a união estável do casal. Então, alguns casais de namorados, quando apaixonados – mesmo que o tempo de namoro seja apenas de alguns meses -, assumem morar juntos. Desse modo, aquelas disposições que foram assumidas por nossos pais ou avós – a respeito das fases do envolvimento – em razão da incredulidade dos casais mais "modernos", as classificam como algo não mais aplicável!

As justificativas para defender a ideia de morar com a (o) namorada (o) são muitas. Dentre elas, existem aquelas que esperaram o favorecimento das condições para a oficialização do casamento. Outros casais acreditam que morar junto, possa ser uma forma, mais confortável, de identificar se vai dar certo a convivência com a (o) namorada (o), além de gozar dos privilégios da vida a dois.

Há também aquelas pessoas que após tal experiência, não têm intenção de repeti-la. Pois, dessas, acabaram saindo frustradas ao perceber que apesar de estar vivendo sob o mesmo teto, seu parceiro ainda se comportava como alguém "solteiro (a)". Não será difícil encontrar relatos de pessoas dizendo que foi um período no qual foram apenas um colega de quarto, com quem dividia as despesas, cuidava de suas roupas, alimentação etc…. E, aqueles momentos de uma felicidade avassaladora – que foi motivo para a tomada de decisão de viver juntos – , esvaziou-se, com a falta de comprometimento com aquilo que foi, anteriormente, objeto dos planos do casal.

A dúvida sobre o verdadeiro sentimento que sentia pelo outro ou a deterioração do mesmo, fizeram com que o relacionamento durasse apenas o período de uma estação ou enquanto ardia o fogo da paixão. Desses amores "doloridos", as pessoas reclamam de não ter vivido a sensação de sentir-se importante para a outra pessoa.

Por um lado, se os namorados conseguiam calar o clamor dos hormônios, que diziam ser a "química da relação", eles não conseguiam alimentar o desejo daquela pessoa que ansiava encontrar alguém que seria o seu complemento. Infelizmente, tal situação também é vivida com aqueles que assumiram o sacramento conjugal. Entretanto, percebe-se que a falta de interesse em retomar o relacionamento é maior entre aqueles que assumiram viver como "namoridos".

Na vivência do sacramento do matrimônio
vamos aprendendo que somos o canal que promove a felicidade do outro. Isto é, a maneira como nos comportamos e agimos nessa empreitada de vida comum, é que trará aos resultados daquilo que almejamos para o compromisso a dois. Assim, as atitudes no dia a dia, e as manobras para vencermos os obstáculos comum do desafio conjugal,  precisa ter como foco o bem estar da outra pessoa.

Contudo, muitos casais não querem seguir as primícias estabelecidas de um relacionamento a dois. Mesmo que tenham uma vaga idéia sobre a vida comum, insistem em viver seus caprichos, e o compromisso com a felicidade, muitas vezes, fica preso na condição do egoismo, da autorealização e muito longe do vínculo com a pessoa que se diz amar.

Um abraço

1 de novembro de 2012

Ressuscitou ao terceiro dia

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Esta é a grande certeza de nossa fé

"Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé" (1Cor 15,14). A Ressurreição é a confirmação de tudo o que Ele fez e nos ensinou. Ao ressuscitar, Jesus deu a prova definitiva de sua autoridade divina.

A fé na Ressurreição tem como base um acontecimento historicamente atestado pelos discípulos que viram, muitas vezes, o Senhor Ressuscitado e transcendente e representa a entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus por toda a humanidade. Jesus "ressuscitou dentre os mortos" (1Cor 15,20). Aquele sepulcro vazio e os panos de linho no chão mostraram aos apóstolos e às mulheres que o corpo d'Ele escapou da morte e da corrupção, e os preparou para vê-Lo vivo.

A Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento histórico. No §639, o Catecismo afirma: "O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: "Eu vos transmiti (...) o que eu mesmo recebi: 'Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas e, depois, aos Doze'" (1Cor 15,3-4). O Apóstolo fala da viva tradição da Ressurreição.

A Ressurreição de Jesus foi a base de toda a ação e pregação dos apóstolos e foi muito bem registrada por eles. São João afirma: "O que vimos, ouvimos e as nossas mãos apalparam isto atestamos" (1 Jo1,1-2). Jesus ressuscitado apareceu a Madalena (Jo 20, 19-23), aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-25), aos apóstolos no Cenáculo com Tomé ausente (Jo 20,19-23) e, depois, com Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24), no Monte na Galiléia (Mt 28,16-20). Segundo São Paulo "apareceu a mais de 500 pessoas" (1 Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).

"Deus ressuscitou esse Jesus e disto nós todos somos testemunhas" (At 2,32), disse São Pedro no dia de Pentecostes. "Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o constituiu Senhor (Kýrios) e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes" (At 2,36). "Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos" (Rm 14,9). No Apocalipse, São João arremata: "Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos e tenho as chaves da morte e da região dos mortos" (Ap 1,17s).

Toda a pregação dos discípulos estava centrada na Ressurreição de Jesus. Diante do Sinédrio, Pedro dá testemunho da Ressurreição de Jesus (At 4,8-12). Em At 5,30-32 repete. Na casa do centurião romano Cornélio (At 10,34-43), Pedro faz uma síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus como ponto central. São Paulo, em Antioquia da Pisídia, faz o mesmo (At 13,17-41).

Jesus ressuscitado caminhou com os apóstolos ainda quarenta dias; a fé no Ressuscitado não foi uma invenção fictícia dos discípulos do Senhor. A primeira experiência destes com Cristo Ressuscitado foi marcante e inesquecível: "Jesus se apresentou no meio dos apóstolos e disse: "A paz esteja convosco!" Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito, mas ele disse: "Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho". Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: "Tendes o que comer?". Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o, então, e comeu-o diante deles". (Lc 24,34ss)

Os apóstolos não acreditavam a princípio na Ressurreição do Mestre. Amedrontados, julgavam ver um fantasma. Jesus, então, pede que O apalpem e verifiquem que tem carne e ossos. Nada disto foi uma alucinação nem miragem, nem delírio ou mentira, nem fraude dos apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram da Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram, pois o próprio Cristo teve de falar a Tomé: "Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso como me vedes possuir" (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam decepcionados, porque "nós esperávamos que fosse Ele quem restaurasse Israel" (Lc 24,21). A fé na Ressurreição do Senhor não surgiu "mais tarde" como querem alguns na história das primeiras comunidades cristãs, mas é o resultado da missão de Cristo acompanhada dia a dia pelos apóstolos. Eles eram um grupo de pessoas abatidas, aterrorizadas após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a um autoconvencimento da volta de Cristo. Na verdade, renderam-se a uma experiência concreta e inequívoca.

Impressiona também o fato de que os Evangelhos narram que as primeiras pessoas a verem Cristo são as mulheres que correram ao sepulcro. Isto é uma mostra clara da historicidade da Ressurreição; pois as mulheres, na sociedade judaica da época, eram consideradas testemunhas sem credibilidade, já que não podiam se apresentar ante um tribunal. Ora, se os apóstolos, como afirmam alguns, queriam inventar uma nova religião, por que, então, teriam escolhido testemunhas tão pouco confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas estivessem preocupados em "provar" ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais teriam colocado mulheres como testemunhas.

Os chefes dos judeus tomaram consciência do significado da Ressurreição de Jesus e, por isso, resolveram apagá-la: "Deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro..." (Mt 28,12-15). A ressurreição corporal de Jesus era professada tranquilamente pela Igreja nascente sem que os judeus ou outros adversários a pudessem apontar como fraude ou alucinação. Os apóstolos só podiam acreditar na Ressurreição de Jesus pela evidência dos fatos. Eles não tinham disposições psicológicas para "inventar" a notícia da ressurreição de Jesus ou para forjar tal evento.

A pregação dos apóstolos era severamente controlada pelos judeus, de tal modo que qualquer mentira deles seria imediatamente denunciada pelos membros do Sinédrio (tribunal dos judeus). Se a ressurreição de Jesus, pregada pelos apóstolos não fosse real, se fosse fraude, os judeus a teriam desmentido, mas eles nunca puderam fazer isto. Jesus morreu de verdade, inclusive com o lado perfurado pela lança do soldado. É ridícula a teoria de que Ele estivesse apenas adormecido na cruz. Os vinte longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram baseados na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do que a própria Ressurreição do Senhor.

Será que em nome de uma fantasia, de um mito, de uma miragem, milhares de fiéis enfrentariam a morte diante da perseguição romana? Será que em nome de um mito, multidões iriam para o deserto para viver uma vida de penitência e oração? Será que em nome de um mito, durante já dois mil anos, multidões de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao Senhor ressuscitado? Será que uma alucinação poderia transformar o mundo? Será que uma fantasia poderia fazer esta Igreja sobreviver por 2 mil anos, vencendo todas as perseguições (Império Romano, heresias, Nazismo, Comunismo, racionalismo, positivismo, iluminismo, ateísmo etc.)? Será que uma alucinação poderia ser a base da religião que, hoje, tem mais adeptos no mundo (2 bilhões de cristãos)? Será que uma alucinação poderia ter salvado e construído a civilização ocidental depois da queda de Roma?  Isto mostra que o testemunho dos apóstolos sobre a Ressurreição de Jesus era convincente e arrastava, como hoje o faz.

Na verdade, a grandeza do Cristianismo requer uma base mais sólida do que a fraude ou a debilidade mental. É muito mais lógico crer na Ressurreição de Jesus do que explicar a potência do Cristianismo por uma fantasia de gente desonesta ou alucinada. Como pode uma fantasia atravessar dois mil anos de história, com 266 Papas, 21 Concílios Ecumênicos e, hoje, com cerca de 4 mil bispos e 417 mil sacerdotes? E não se trata de gente ignorante ou alienada; muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores.

Este é o quarto artigo de uma série de outros doze, explicando, resumidamente, cada um dos artigos do 'Credo'.

5 - Desceu à mansão dos mortos 
6 - Está sentado a Direita do Pai