Eles participam das nossas tristezas e alegrias
Todas as religiões sempre se valeram dos préstimos de coordenação dos líderes religiosos. Encontramos gurus, pastores, sacerdotes, pajés, levitas, mães de santos, feiticeiros... Na maior parte dos casos, trata-se de gente de boa fé, querendo prestar serviços à humanidade diante do mundo divino. Até entre os ateus encontramos "apóstolos" que promovem a "evangelização" e querem libertar a raça humana de vãos temores.
Não lhes nego a possibilidade de reta intenção, mas sabemos que todos esses líderes ocupam posições frágeis. A membrana que separa a verdade da mentira, a retidão da injustiça, a honestidade da exploração, é muito tênue e porosa. Não é fácil passar por tudo isso sem, ao menos, chamuscar as vestes.
Na Santa Igreja, temos uma figura que, em muitos aspectos, participa de eventuais características de fragilidade dos líderes religiosos. Alguns o chamam carinhosamente de padre, de presbítero, de sacerdote, de clérigo ou até de levita. Dentro da economia de salvação, trazida pelo Sumo-Sacerdote Jesus Cristo, a pessoa central na Igreja é o bispo, sucessor dos apóstolos.
No dia-a-dia da vida da comunidade, a pessoa fulcral é o padre. É ele quem está em contacto permanente com os fiéis, participa de suas tristezas e alegrias, chama as ovelhas cada uma pelo nome, distribui-lhes os tesouros da salvação, organiza a vida religiosa e lhes ministra a Palavra Sagrada.
Nada a estranhar que o povo espere de seus presbíteros uma grande santidade de vida. Posso garantir aos meus amigos que a preparação dos padres é séria e se estende por vários anos. Mas quero mostrar também que - muitos talvez não o saibam - uma vez ordenados, os sacerdotes passam por uma formação permanente com cursos, reuniões, planejamentos, retiros, dias de estudo e de oração.
Ademais, uma coisa que muitos veem, mas pouco se comenta é que os padres são pessoas quase únicas, pois eles têm a coragem de apostar sua vida nessa nobre missão; deixam de formar uma família para se tornarem pais de uma grande comunidade, pela qual empatam tudo. "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos" (Jo 15,13).
Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo Emérito de Uberaba, MG