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30 de novembro de 2011

Novo horizonte para a vida

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Ser bom é alavancar projetos que fecundam valores
A reconhecida maestria de Jesus nos Seus ensinamentos, com a particularidade de Sua presença, com Sua força incomparável de interpelação, tocava sempre os espaços mais recônditos dos corações. O evangelista Marcos narra um diálogo de Cristo com Seus discípulos que causou grande espanto. Jesus descreve a cena de alguém que corre na direção d'Ele e, quando se aproxima, pergunta: "Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?" O diálogo se desenvolve aprofundando o que é ser bom e o que fazer para ser bom, admitindo convictamente que a conquista da plenitude do ser humano só se faz quando se encontra e se percorre o caminho da bondade.

Depois de falar dos mandamentos para aquele que estava interessado em ganhar a vida eterna, Jesus, fitando-o com amor, afirma: "Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me". O interessado na vida eterna ficou pesaroso e foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens, conta o evangelista Marcos, que também descreve o espanto dos discípulos ao ouvirem estas palavras de Cristo. Pedro, então, intervém dizendo: "Olha, nós deixamos tudo e te seguimos".

Jesus não estava fazendo contas de números naquele diálogo. Sua maestria não se prendia, na verdade, a quantidades de bens. Ele tocou no núcleo central interior que rege os rumos dados à vida: a capacidade de discernimento e escolha, a competência para produzir sentido, a convicção simples e determinante de que é bom ser bom.

Ser bom é ser honesto. É alavancar projetos que produzem vida e fecundam a cidadania com valores, que não se reduzem às posses. Trata-se de princípios que alargam horizontes. O desafio maior, em todos os tempos, inclusive agora, na cultura contemporânea, é superar uma compreensão da vida que a reduz aos números e aos bens materiais. Aliás, esse desafio é ainda mais urgente no tempo em que vivemos, porque há uma avalanche de mudanças, intensificada pelo universo virtual da informação.

Manter a serenidade indispensável e alavancar-se na sabedoria necessária não é fácil. Fácil é perder o rumo. Vive-se uma oscilação entre a impotência da crítica e a onipotência da opinião. Esta oscilação provoca inevitavelmente a perda de referências e de valores. O Papa Bento XVI adverte aos fiéis de que a cultura contemporânea corre riscos de excluir Deus, fonte única e inesgotável de princípios, dos próprios horizontes.  Assim, a humanidade segue caminhos equivocados, receitas destrutivas. Sem Deus no horizonte, o que se constata é a primazia da instabilidade no lugar da verdade. A informação, com sua fluidez, passa a ser fonte de todas as fontes.

É preciso saber que não basta estocar, organizar e distribuir informações múltiplas. Mesmo diante dessa grande oferta de conteúdo, pergunta-se: o que no mundo de hoje é justo, bom, verdadeiro? Não encontrada a resposta, experimenta-se o peso da existência. A vida fica à mercê de relatos sobre relatos, prostrando os humanos na insatisfação, tornando-os insaciáveis. Mas, ávidos não dos valores que sustentam e devolvem a serenidade. Em cena, de novo e sempre, a necessidade da permanente busca e do reger-se por princípios. Um movimento que dá sustentação à cultura, caminha na direção da correção de descompassos. É saída na superação da violência, correção para a ganância que gera o veneno da corrupção e a loucura da posse.

Este é o permanente desafio diante de um cenário que causa medo e que mina a convicção simples de que é bom ser bom. Vale lembrar, mais uma vez, o Papa Bento XVI quando diz que o encontro com uma Pessoa, Jesus Cristo, dá novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva. É hora do diálogo com Jesus, para iluminar gestos que fazem a diferença.

Dom Walmor Oliveira Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)

28 de novembro de 2011

A teologia da medalha milagrosa

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O amor imenso do Salvador e de sua Mãe por todos os remidos
Em 1830, no dia 27 de novembro, deu-se a aparição de Maria a Santa Catarina Labouré, da Congregação das Filhas da Caridade, à Rue du Bac 140 em Paris. Nessa ocasião a Mãe de Jesus mostrou o modelo da medalha que ela desejava fosse cunhada como sinal de grandes graças que ela obteria junto de seu divino Filho.

Esta Medalha traz inúmeras mensagens e a primeira delas é atinente a Imaculada Conceição de Maria, dogma que seria proclamado dia 8 de dezembro de 1854, por Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus. As mãos abertas da Medianeira de todas as graças é outra grande lição. É o resumo do papel da Virgem Maria na história da salvação, no Evangelho. Adite-se a cruz de Cristo nela, sacrificado pelos homens e Maria exemplo de fé ao pé da cruz, representada pelo M de seu nome.

O coração de Jesus e de Maria a atestar o amor imenso do Salvador e de Sua Mãe por todos os remidos. As doze estrelas lembrando a mulher do Apocalipse (cf. Ap 12,1). Ela é aquela que deu nascimento ao corpo humano de Cristo e à Igreja, que dá nascimento aos batizados que formam o Corpo Místico de Jesus. Como as 12 estrelas lembram também as 12 tribos de Israel e os doze apóstolos, a medalha milagrosa tem um aspecto também profundamente missionário. Adite-se que no século XIX imperava por toda parte a negação de Deus com o endeusamento da Ciência, que pretendia responder a todas as questões religiosas e filosóficas.

A literatura da época estava impregnada de ateísmo, levando as mentes ao irracional e ao fantástico. Além disso, quando, em 1830, ia se instalar um regime político antirreligioso, desenvolvendo uma forma de capitalismo liberal particularmente materialista, a Virgem então propõe não um objeto científico, mas um objeto simples, uma medalha a falar das realidades celestes. A difusão dessa peça se dá no momento também de uma renovação do Catolicismo social com Frederico Ozanam e as Conferências de São Vicente de Paulo.

Ocorria uma vitalidade da reflexão universitária e literária católica. Tudo isso era reforçado com a medalha que mostrava a intervenção de Deus na história não só da França, mas de todo o mundo.

O Arcebispo de Paris, a quem Catarina Labouré levou o pedido de Nossa Senhora para que se cunhassem as medalhas, percebeu a riqueza doutrinária que ela continha. Em 1832 houve a primeira distribuição dessas peças por ocasião da epidemia da cólera que dizimava a capital francesa. As primeiras 20 mil medalhas foram confeccionadas em 1830, ano em que esta epidemia, vinda da Rússia através da Polônia, irrompeu em Paris a 26 de março, ceifando vidas, num imenso cântico fúnebre. Num só dia houve 861 mortes.

No total foram registradas oficialmente 18.400 mortes, porém, na realidade, houve mais de 20 mil. As descrições da época são aterradoras: em quatro ou cinco horas, o corpo de um homem em perfeita saúde reduzia-se ao estado de um esqueleto.

Como se fora num abrir e fechar de olhos, jovens cheios de vida tomavam o aspecto de velhos carcomidos, e logo depois não eram senão cadáveres. Nos derradeiros dias de maio, a epidemia parecia recuar. Na segunda quinzena de junho, no entanto, um novo surto da doença redobra o pânico do povo. Mas, finalmente, no dia 30 de junho, a Casa Vachette entrega as primeiras 1.500 medalhas, que são distribuídas pelas Filhas da Caridade e abrem o cortejo sem fim das graças e dos milagres: Curas maravilhosas se deram e a epidemia foi debelada.

Houve depois a conversão de Alfonso Ratisbona do Judaísmo para o Cristianismo e ele se pôs a trabalhar para a aproximação dos judeu-cristãos.

A Igreja falava na santa medalha, mas o povo logo a chamou de medalha milagrosa. Quando Santa Catarina Labouré faleceu dia 31 de dezembro de 1876 já um bilhão de medalhas tinham sido distribuídas. Cumpre se lembre sempre que a Santa Igreja chama de "sacramental" alguns objetos abençoados pelo sacerdote, tais como: as medalhas milagrosas e de São Bento, o escapulário de Nossa Senhora do Carmo e o terço. Não transmitem por si mesmos a graça como os sacramentos, mas penhoram as bênçãos divinas e ajudam os cristãos a progredir na fé, na esperança, na prática das outras virtudes e na vida de oração.

Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

25 de novembro de 2011

Terapia do abraço

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Estamos nos condicionando a ter o mínimo de contato com o ser humano
Vivemos em tempos de medo! Muito do que empreendemos tem por conta o zelo pela nossa segurança. Os homens querem cercar-se de garantias para estar a salvo: da vida afetiva, profissional e econômica à integridade física.


É tanta cautela, que todos esses procedimentos tomados têm cada vez mais afastado as pessoas e formado um ser humano desequilibrado e frio. São grades que engaiolam crianças, blindagens contra a liberdade, ensinamentos que não transmitimos por medo de perder o cargo, mãos que não selam acordos. Estamos nos condicionando a ter o mínimo de contato com o ser humano.

Somos seres dotados de afetividade. Afetividade é o que afeta, interfere no íntimo da pessoa. O gênero humano tem por aspiração o ser comunitário. Precisamos viver juntos, necessitamos uns dos outros.

Sentimentos e afetos são parte do todo do ser humano. São faculdades que proporcionam cor e intensidade a cada momento e circunstância da nossa vida e trazem significado em nosso interior sobre pessoas e acontecimentos. Juntamente com o lado racional, as emoções também são alicerces para tomadas de decisão.

Daí, a importância de cultivarmos boas emoções, estarmos sadios afetivamente. E isso acontece por meio do relacionamento, das conversas, da procura da concórdia, dos gestos que demonstram carinho e consideração. Contudo, depois daquele agradável encontro ou ao ser gerada uma boa impressão a respeito de alguém, quando entendemos que amamos e somos amados, o que vem a ser o penhor e coroar todo tipo de relacionamento são as diversas formas de contato, como o toque, o aperto de mãos, o abraço, o beijo, o afago, entre outros. Gestos muito importantes na construção de nossa afetividade, que geram homens e mulheres sadios emocionalmente, pois ao sentirmos o amor pelo calor humano conectamos a impressão psicológica e espiritual ao que experimentamos fisicamente.

Então a partir daí todo gesto de amor que recebemos pode ser sentido pelas três instâncias do ser: Física, Psiquica e Espiritual.
Um exemplo é quando um indivíduo sabe que sua família o ama pelas palavras proferidas ou pelo sustento que lhe garantido, mas se não há o carinho físico, fica faltando uma dimensão.

O amor manifestado para o todo (três dimensões) do ser humano gera segurança e autoconfiança. Sentir a mão de quem amamos nos passa a sensação concreta de porto seguro. Dá uma percepção palpável do amor que antes intuímos pelo lado racional e na alma.

Jesus tocava os doentes e abraçava as crianças e, um dia, disse ao fariseu que O convidou para jantar: "Não me deste o ósculo (beijo); mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés" (Lc 7, 45). Em referência àquela pecadora que, em seu gesto, demonstrou um amor no qual o anfitrião não o manifestava (cf. Lc 7, 47). Da mesma forma os apóstolos também tocavam nos enfermos e assim ministravam a cura "quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados" (cf. Mc 16, 17-18).

Quem sabe hoje não precisemos abraçar alguém que há muito não trazemos para perto do coração e deixemos calar as mágoas passadas num gesto que é imprescindivelmente humano? Talvez até pessoas da nossa família, de dentro de nossa casa que há tempos não sentimos o calor nem o perfume, porque não mais nos aproximamos.

Diminuamos as distâncias e construamos pontes de amor que nos liguem a outras pessoas. Não tenhamos medo de apertar a mão ou envolver com um abraço aquele(a) que não é ainda parte do nosso círculo de amizades. Este gesto pode salvar uma alma. Há muita gente por aí precisando de um abraço, nos hospitais, prisões, asilos ou talvez no trabalho, na escola, alguém que esteja próximo fisicamente de nós. Vidas gritam por isso!


Um grande abraço a você!

Deus o abençoe!

Sandro Ap. Arquejada-Missionário Canção Nova
sandroarq@geracaophn.com

23 de novembro de 2011

Mudança de ano

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Todo final de ano é oportunidade de revisão
Na Festa de Cristo Rei, quando Jesus é proclamado Rei do universo, normalmente no mês de novembro, terminamos o Ano Litúrgico. O domingo seguinte é o primeiro do Advento, de preparação para o Natal. Portanto, iniciando novo tempo, um novo ano, que começa com a preparação e o nascimento de Jesus Cristo.


Todo final de ano é oportunidade de revisão, de analisar o passado com olhar de esperança, porque temos em vista um futuro a ser construído. Olhar principalmente as atitudes de negligência praticadas quando deveríamos agir com determinação na construção do bem e de um mundo mais digno e fraterno para todos, sem distinção de classe ou raça.

É hora de colocar a nossa confiança toda em Deus.

A história de cada pessoa vai tomando rumos que têm de ser trabalhados em diversas dimensões: social, religiosa, política, econômica, psicológica, entre outras. É um caminho de libertação, que só tem plena realização numa confiança plena em Cristo, que é Rei e Salvador do universo.

Jesus Cristo é o Pastor que cuida do rebanho, busca a ovelha que estiver perdida e a apascenta com carinho e justiça. O Senhor não tolera exploração de uma ovelha sobre a outra e as trata com respeito. Assim dever fazer todo aquele que está à frente de uma comunidade, de um povo, com o objetivo de prestar serviço.

No tratamento com as pessoas, duas palavras são determinantes e ajudam no relacionamento. Uma é a vigilância, a preocupação constante e o cuidado feito com responsabilidade por quem de direito. Outra é a insensatez, as práticas de irresponsabilidade, que desabonam a autenticidade de quem age.

Devemos entender que a justiça se confunde com a prática de amor ao próximo. Ela cria espaço de convivência e de relacionamento fraterno entre as pessoas, possibilitando um mundo melhor e um novo ano de vitórias. O reino de Jesus Cristo é de amor, de paz, de justiça e fraternidade. Aí não pode haver lugar para o egoísmo. Que o novo ano litúrgico seja de acolhida fraterna.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto.

21 de novembro de 2011

Cristo Rei

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Optar por Cristo é a decisão mais inteligente que qualquer pessoa possa fazer
"Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente". Assim reza a Igreja na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.


Há um plano de Deus para o mundo, como o projeto de um artista, que quer elaborar sua obra prima. De fato, nada foi feito para ser destruído ou cancelado, mas tudo para a felicidade de todos os seres humanos. É privilégio para todos nós tomar consciência de que a criação de Deus chegou ao seu ponto mais alto quando, na descrição lindamente poética e verdadeira dos primeiros capítulos do Livro do Gênesis, foi no último dia que Deus fez o homem e a mulher à sua imagem e semelhança: inteligência, vontade e capacidade para amar! Imagem e semelhança da Trindade Santa, Deus que, desde toda a eternidade, é Pai e Filho e Espírito Santo.

Em Cristo, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele, no amor. Ele nos fez conhecer o mistério de sua vontade, segundo o desígnio benevolente que formou desde sempre em Cristo, para realizá-lo na plenitude dos tempos: restaurar tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra. (Cf. Ef 1, 1-14). Todas as realidades humanas encontram em Cristo sua realização e seu aperfeiçoamento. A nós, homens e mulheres cristãos, cabe fazer tudo para que toda a criação se encontre em Cristo e nele se realize plenamente. De fato, toda a criação espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus (Cf. Rm 8, 19).

Jesus veio para a Galileia, proclamando a Boa Nova de Deus: "Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa-Nova" (Cf. Mc 1, 14-15). Cristo é em primeiro lugar rei dos nossos corações e chama a uma mudança de mentalidade, conversão. Seu poder não se equipara aos de qualquer lugar do mundo ou época da história, mas supera todos eles e lhes dá a possibilidade de se transformarem em instrumento de serviço ao bem comum.

Chama-se "Reino de Deus" a paixão de Jesus Cristo, que perpassa o Evangelho, ilumina as parábolas "do Reino", contadas por ele, coloca-o diante dos poderes de seu tempo, com a força para dizer que não é do mundo o "seu" Reino (Jo 18, 36). Não é do mundo, mas atua e transforma o mundo! Este Reino não terá fim, e, já presente aqui e agora, chegará à sua plena manifestação quando Deus for tudo em todos! Para lá caminhamos, este é o nosso sonho, é o projeto que catalisa todos os esforços dos cristãos, para que sejam atuantes na história do mundo.

Optar por Cristo é a decisão mais inteligente que qualquer pessoa possa fazer. Quando existem homens e mulheres renovados no Espírito Santo, estes serão agentes de mudança, suscitando crescimento qualitativo no relacionamento ente as pessoas. Esta escolha abre estrada para a libertação das muitas amarras que escravizam as pessoas. Quem segue Jesus Cristo escolhe valores diferentes daqueles que comumente norteiam as ações de muitas pessoas. A Missa da Solenidade de Cristo Rei no-los descreve: "Reino eterno e universal, reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz".

Tais pessoas servem à majestade de Deus. Ainda que as imagens dos palácios de todos os tempos possam influenciar na compreensão da expressão, trata-se, sim, de prostrar-se diante de Deus e servi-lo. E servir a Deus é reinar e transformar o relacionamento entre as pessoas. É sair do círculo vicioso da incansável luta pelo poder de todos os tempos. Só quando nos inclinamos diante do poder de Deus é que descobrimos a estrada da realização plena da humanidade. A glorificação eterna de Deus é meta e caminho. Sem escolher a Deus como Senhor de nossas vidas, os reinos que disputam dentro e em torno de nós continuarão a ganhar as porções de nossa dignidade e de nossa felicidade.

Venha a nós o vosso Reino! Vinde, Senhor Jesus!

Foto Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

18 de novembro de 2011

O risco da responsabilidade

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O medo do risco nos paralisa
A parábola que Jesus nos propõe, em Mateus 25, 14-30, fala-nos do medo do risco e da busca de seguranças. É o caso do empregado que recebeu só um talento. O medo do risco nos paralisa e nos faz projetar uma imagem falsa de Deus: "Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence."


Naquele tempo, esconder dinheiro no chão era a maneira mais segura de guardá-lo. Esse empregado buscava segurança na luta pela justiça que provoca a vinda do Reino. Era mais fácil e cômodo enterrar o talento do que investir.

A parábola não fala do risco enfrentado pelos empregados que receberam cinco e dois talentos, mas o risco existia e ainda existe. Basta que pensemos nos desafios que a justiça do Reino de Deus proporciona aos que lutam por ela em nossos dias.
A busca de segurança faz pensar nos conservadores do tempo de Jesus e de hoje. No tempo de Jesus, a onda conservadora era provocada pelos doutores da Lei e fariseus e a "justiça" deles impedia o acesso ao Reino do Céu. E hoje, quando os desafios da justiça são mais graves, o que ganhamos? O empregado conservador criou uma teologia própria, fazendo de Deus um patrão cruel, um ídolo.

E hoje? Projetamos imagens distorcidas de Deus?

Não nos esqueçamos de que o patrão chama de "mau, preguiçoso e inútil" àquele que, com medo do risco e buscando seguranças, enterrou parte dos bens de Deus.

A parábola mostra a grandeza e a fragilidade de Deus. Sua grandeza está em "entregar Seus bens" às pessoas. Nada retém para si. Tudo o que tem é entregue. Sua fragilidade apresenta-se em forma de risco. De fato, falando com o empregado mau e preguiçoso, dá a entender que conhecia o modo certo de multiplicar esses bens sem a colaboração das pessoas: "Você devia ter depositado meu dinheiro no banco para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence". Bem que o empregado mau poderia ter-lhe respondido: "E por que você próprio não fez isso?" A resposta parece evidente na parábola: confiando nas pessoas, Deus arrisca perder. Contudo, confia e entrega. Sua fragilidade ressalta Sua grandeza.

A parábola também representa a comunidade cristã empenhada em suas várias atividades. A distribuição desigual dos "talentos" sublinha a diversidade de tarefas que o Senhor entrega a cada um. Deus se serve de nós como Seus cooperadores para a realização dos planos d'Ele. Ele age por meio de pessoas e quer que elas correspondam generosamente às expectativas d'Ele. A vocação cristã não deve ser um capital improdutivo, um depósito morto. É um dom que devemos fazer frutificar com
habilidade, sabedoria e amor, tendo sempre em vista a comunidade. É assim que colaboramos na construção do Reino de Deus, que começa no testemunho e se concretiza definitivamente na eternidade...

Dom Eurico S. Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

16 de novembro de 2011

Você conhece os Mártires do Brasil?

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O culto desses mártires foi confirmado por Pio IX em 1854
Creio que poucas pessoas sabem que o Brasil é berço de muitos mártires que morreram por defender a fé católica em solo brasileiro. Nem todos eram nascidos no país, mas evangelizavam aqui e por isso morreram pela fé católica. Mártir, para a Igreja, oficialmente, é só aquela pessoa que foi beatificada pelo Papa e declarada por ele mártir, após um longo e rigoroso processo. Infelizmente se tem usado a palavra "mártir" na Igreja indevidamente. Não podemos nos adiantar à decisão da Instituição criada por Cristo.


Vejo pessoas chamarem Dom Romero de mártir, por ter lutado pela justiça na sua pátria; outros chamam padre Józimo de mártir da terra, padre Rodolfo Lukenbein, defensor dos índios contra posseiros no Mato Grosso, etc. Nem mesmo um processo de beatificação existe instalado no Vaticano sobre eles, então, não podemos chamá-los de mártires, embora possam ter sido grandes cristãos e terem sido assassinados. Só é considerado mártir pela Igreja quem morre explicitamente em defesa da fé, e não por causa social e política como Martin Luther King, Robert Kennedy, Tiradentes, entre outros. Não se pode querer definir as coisas na Igreja sem o Sumo Pontífice.

Mas no Brasil houve grandes mártires no Rio Grande do Norte na época (1630-1654) em que os holandeses protestantes calvinistas ocuparam alguns lugares no país e quiseram obrigar o povo católico  a se tornar calvinistas. Morreram em defesa da fé católica e por isso os que foram identificados foram beatificados pelo Papa. O primeiro grupo de católicos massacrados pelos calvinistas, cerca de 70 pessoas aproximadamente, foi trucidado na capela da Vila de Cunhaú, Rio Grande do Norte. O segundo grupo de mesmo número foi chacinado em Uruaçu. Esses mártires foram beatificados no ano 2000.  Dom Estevão Bettencourt narrou bem os fatos sobre esse assunto em sua revista (PR, Nº 451, 1999, pg. 530).

Os holandeses invadiram o Nordeste do Brasil e dominaram a região desde o Ceará até Sergipe, de 1630 a 1654. Eram protestantes calvinistas e vieram com seus pastores para doutrinar os índios. Isso gerou uma situação difícil para os católicos da região, porque foi proibida a celebração da Santa Missa. Em Cunhaú, RN, um pastor protestante prometeu poupar a vida a todos, caso negassem a fé católica, o que a população não aceitou. Então, no domingo, 16 de julho de 1645, festa de Nossa Senhora do Carmo, na capela da Vila de Cunhaú concentravam-se aproximadamente setenta pessoas para participar da Santa Missa.

Padre André de Soveral, com seus noventa anos de idade, iniciou a Santa Missa. Os soldados holandeses, armados de baionetas, chefiando um grupo de índios canibais invadiram a capela, em grande algazarra, logo após a consagração do pão e do vinho. Fecharam-se as portas da capela e começaram a massacrar os fiéis, impossibilitados de fugir. O sacerdote foi morto a golpes de sabre. O chefe da carnificina foi um alemão a serviço dos holandeses com o nome de Jacob Rabbi. Terminado o massacre, os algozes se retiraram, deixando os cadáveres estendidos no chão da capela. Um relato da época diz que os índios canibais devoraram as carnes das vítimas.

Outro grupo, mais numeroso, cerca de setenta pessoas, sem contar os escravos e as crianças, foram para um local às margens do Rio Grande (Rio Uruaçú), onde construíram um abrigo fortificado e tomaram o nome de Comunidade Potengi. Essa comunidade foi atacada por índios armados, comandados por Jacob Rabbi e um famoso chefe indígena e acompanhados por soldados holandeses. Mataram todos os habitantes da fortaleza, inclusive padre Ambrósio Ferro e muitas pessoas de Natal. Relatam os cronistas que a uns cortaram os braços e as pernas, a outros degolaram, a outros arrancaram as orelhas ou arrancaram a língua antes de os matarem. Alguns cadáveres foram esquartejados: a Mateus Moreira arrancaram o coração pelas costas; antes de morrer ainda pôde gritar em alta voz: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento!".

Esta é a versão dos fatos como se encontra no livro "O Valoroso Lucideno" de autoria de Frei Manuel Calado, publicado em Lisboa no ano de 1648. Frei Manuel escreveu na mesma época em que tudo ocorreu. Existe outra versão do episódio, idêntica à anterior e com mais detalhes. Encontra-se no livro "Os Holandeses no Brasil" de monsenhor Paulo Herôncio.

Um outro fato que merece menção é o martírio de padre Inácio Azevedo e seus companheiros. Ele foi a Portugal buscar reforços para a evangelização dos índios no Brasil. No dia 5 de junho de 1570, o sacerdote e 39 companheiros, na caravela mercante "São Tiago" partiram de volta para o solo brasileiro. A caravela foi alcançada pelo corsário francês Jacques Sourie, calvinista, que partira de La Rochelle para capturar os jesuítas. Esses foram friamente degolados; o número de mártires foi 40. O culto desses mártires foi confirmado por Pio IX em 1854. (Sgarbosa, 1978, p. 224) e a memória litúrgica deles é dia 17 de julho.

Esses fatos formam uma triste "inquisição" desconhecida e que não é contada.

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

11 de novembro de 2011

A comunhão dos santos

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A Igreja é comunhão dos santos
O Sermão da Montanha é o programa do Reino dos Céus. É o Reino proclamado por João Batista e, depois, pelo próprio Jesus. Em Mateus, Jesus faz a Sua proclamação no alto de uma montanha, como momento inaugural do Seu ministério na Galileia. Moisés, também no alto da montanha, recebeu de Deus as Tábuas da Lei e os Mandamentos. Agora, é Jesus, que, no Seu anúncio do programa do Reino, transmite as oito bem-aventuranças aos discípulos que vêm a Ele, no alto.


O estado de felicidade, associado à prática dessas bem-aventuranças, enche de esperança e atrai quem ouve Jesus. Nas bem-aventuranças, encontramos valores universais, que podem ser estendidos e acolhidos por todos. Ser bem-aventurado é ser santo. A Igreja, segundo o Catecismo da Igreja Católica, é comunhão dos santos. Essa expressão designa, primeiro, as coisas santas, ressaltando, antes de tudo, a Eucaristia, que une os fiéis em Cristo. Em segundo lugar, designa a comunhão das "pessoas santas" em Cristo, que "morreu por todos".

Cremos na comunhão de todos os fiéis em Cristo, dos que são peregrinos na terra, dos que faleceram e estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando todos, juntos, uma só Igreja e cremos também que, nesta comunhão, o amor misericordioso de Deus e de Seus santos estão sempre à escuta de nossas orações.

Todos os santos e todas as santas de Deus, rogai por nós que recorremos a vós!

Dom Eurico S. Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

9 de novembro de 2011

Tecnologia e sabedoria

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A humanidade se reconhece cada vez mais uma única família.
Colhi de uma agência de notícias na INTERNET a seguinte afirmação: "Steve Jobs foi homenageado até mesmo por veículos ligados ao Vaticano". Note o leitor que o "até mesmo" pode ser interpretado negativamente, pois atrás da expressão poderia estar a ideia de que a Igreja se opõe ao avanço das novas tecnologias, o que não é verdade. "A maior contribuição que Steve Jobs nos deixou é a de sentir a tecnologia como algo que faz parte da vida de todos os dias. Deixou de ser um assunto apenas para técnicos", comentou a Rádio Vaticano.


Recentemente participei de um Seminário de Comunicação para bispos, promovido pelo Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais da Santa Sé, no qual, além das análises sócio-culturais do impacto das novas tecnologias de comunicação, procuramos pensá-las à luz da fé, sobretudo por meio de uma rica exposição com o seguinte título: "Espiritualidade e Elementos para uma Teologia da Comunicação em Rede". Apenas para o leitor fazer uma ideia do significado que a Igreja atribui à Internet, cito um breve trecho da conferência do teólogo: "A rede, colocada ao alcance da mão (também no sentido literal), começa a incidir sobre a capacidade de viver e de pensar. De seu influxo depende de algum modo a percepção de nós mesmos, dos outros e do mundo que nos cerca e daquilo que ainda não conhecemos". Uma nova cultura se instala por intermédio da Internet. A humanidade se reconhece cada vez mais uma única família.

As novas tecnologias estão aí. O que faremos delas? Espaço de relações verdadeiras ou praça de guerra? Espaço de circulação da verdade ou de relações falsas? Com certeza, Steve Jobs, em seu empenho criativo, pensava estar colocando a serviço da humanidade poderosos meios de comunicação. Sua história, por ele mesmo interpretada em discurso de formatura na Universidade de Stanford, em junho de 2005, nos deixa preciosas lições sobre o significado da Vida.

Na primeira parte, que ele designa como "ligar os pontos", descreve como os aparentes contratempos da existência, passado o tempo, se ligam harmoniosamente e afirma: "claro que era impossível conectar os pontos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas ficou muito claro olhando para trás, dez anos depois. Você só pode conectar os pontos de algum jeito olhando para trás" e acrescenta: "Então você tem que confiar que os pontos de algum jeito vão se conectar no futuro".

Na segunda parte, que ele denomina "Amor e Perda", Jobs testemunha que sua demissão da empresa, que ele mesmo fundara, a Apple, significou um grande vazio, mas que, mesmo assim, ele continuava amando o que fazia e decidiu recomeçar tudo de novo e afirma que a demissão, vista depois, "foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. Deu-me a liberdade para começar um dos períodos mais criativos de minha vida", quando criou duas empresas a NeXT e a Pixar e "em que me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa". Ao narrar essa parte ele diz aos formandos: "Às vezes a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé". Amor ao trabalho e às pessoas é o segredo de viver contente. Na terceira parte, Steve narra o diagnóstico do câncer no pâncreas que, finalmente, o levou à morte e passa a refletir sobre a morte.

Começa por lembrar-se de ter lido, aos 17 anos, em algum lugar: "Se você viver cada dia como se fosse o último, algum dia provavelmente você vai acertar". Levou a sério o que lera e afirma ter mudado várias vezes de direção por se perguntar: "se fosse hoje o último dia de minha vida, eu iria querer fazer o que vou fazer hoje?" E assevera: "lembrar que eu logo vou estar morto é a ferramenta mais importante que eu já encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida, porque quase tudo, toda expectativa exterior, todo orgulho, todo o medo de dificuldades, de falhas, estas coisas simplesmente somem em face da morte, deixando apenas o que realmente é importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que conheço para evitar a armadilha de achar que você tem algo a perder. Você está nu. Não há razão para não seguir seu coração".

Mais adiante o fundador da Apple diz que ninguém quer morrer mesmo crendo no céu "e mesmo assim a morte é o destino que todos compartilhamos. Ninguém nunca escapou dela. E é como deveria ser, porque a Morte é muito provavelmente a melhor invenção da Vida. É o agente de mudança da vida. Ela tira o que é velho do caminho para dar espaço ao novo". E dirigindo-se aos jovens: "Seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo  a vida de outra pessoa [....]. Não deixe o ruído da opinião alheia sufocar sua voz interior [...] tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição" [...], tudo o mais é secundário". E termina: "Stay Hungry, Stay Foolish", "continue faminto, continue ingênuo", ou seja, nunca desista, acredite sempre.

Dom Eduardo Benes
Arcebispo de Sorocaba - SP

7 de novembro de 2011

A sociedade dos perfeitos

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Aqueles que exigem perfeição dos outros exigem algo que também não têm
Na sociedade dos perfeitos, ser imperfeito está fora de moda. Ao ligarmos a televisão ou acessarmos a internet, encontramos protótipos de pessoas perfeitas. Seres humanos imperfeitos maquiados com aparência sagrada. Uma forte tendência dos tempos atuais é a exigência de que o outro seja perfeito. Esta marca de nossa época vem disfarçada com o nome de "falta de paciência": "Não tenho paciência com as pessoas de minha família", "Sou extremamente impaciente com meus colegas de trabalho", "Meus pais não são do jeito que eu quero"... Frases como estas são mais comuns do que ousamos imaginar.

Exige-se a perfeição do outro a qualquer custo. Pessoas que se consideram perfeitas exigem que seus irmãos e irmãs também o sejam. Caso isso não ocorra, as brigas e decepções acontecem em níveis agressivos.

No tempo de Jesus não era diferente. Os fariseus, escribas e mestres da Lei, responsáveis pelo cuidado do templo e, consequentemente, pela formação religiosa do povo, consideravam-se perfeitos. Julgavam ter atingido um grau de plenitude tal que se achavam no direito de catalogar as impurezas do povo de acordo com normas e critérios religiosos que oprimiam o ser humano.

Jesus percebeu a hipocrisia contida nos gestos e atitudes destes pretensos perfeitos. Estes exigiam que os fiéis carregassem pesados fardos e cumprissem normas que beneficiavam apenas a eles próprios.

Aqueles que exigem perfeição dos outros se esquecem de que também são imperfeitos. Muitas vezes exigem algo que nem eles próprios conseguem cumprir. Ocupam, inconscientemente, o lugar de Deus. Tornam-se juízes: julgam, condenam e decretam a sentença. O outro, raras vezes, tem a chance de defesa, tendo em vista que, na maioria dos casos, o julgamento vem embrulhado em presentes perfeitos.

Quando falamos de imperfeição entramos em contato com nossas próprias imperfeições. Esbarramos em nossos próprios limites e falhas. Uma atitude farisaica descarta a imperfeição e se reconhece canonizado. Os grandes santos nunca se consideraram santos em vida. O que os tornou santos foi a humildade com que se revestiram. Reconciliados com sua própria humanidade, estes homens e mulheres que hoje são venerados nos altares, transformaram as imperfeições em degraus para a santidade. No pecado que estava impresso em seu DNA humano, eles se revestiram da força de Cristo. Viram no Mestre o caminho para a humildade, o serviço e a doação ao próximo.

Respeitar o processo de caminhada de cada pessoa é fundamental para quem deseja construir hoje seu caminho de santidade. Quem não aprendeu a respeitar as imperfeições do outro, dificilmente irá conhecer o caminho da humildade que o guiará à paz interior.

Jesus compreendia as imperfeições humanas. Ele sabia que a natureza que nos reveste precisava ser purificada não por rituais de exclusão, mas sim por rituais de inclusão. Cristo incluía no Seu amor os excluídos do amor dos outros.

Somente quem compreendeu que tão imperfeito quanto o outro é ele mesmo, descobriu o caminho para o amor e a santidade manifestada no cotidiano dos sentimentos.

Pe. Flávio Sobreiro
Vigário da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Cambuí (MG)
Padre da Arquidiocese de Pouso Alegre(MG)
Bacharel em Filosofia pela PUCCAMP

4 de novembro de 2011

Cultive as boas amizades

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Uma amizade só é verdadeira se baseada na fidelidade
Não preciso falar aqui da importânica de cultivar as boas amizades para ser feliz. Milan Kundera diz que "toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. Os amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contraído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão."


A verdadeira amizade nos socorre quando menos esperamos! Podemos esquecer aquele com quem rimos muito, mas nunca nos esqueceremos daqueles com quem choramos. Os corações que as tristezas unem permanecem unidos para sempre.

Na prosperidade, os verdadeiros amigos esperam ser chamados; na adversidade, apresentam-se espontaneamente. A fortuna faz amigos. A desgraça prova se eles existem de fato. É preciso saber fazer e cultivar amizades. Isso depende de cada um de nós; antes de tudo, do nosso desprendimento e fidelidade ao outro. Para conquistar um amigo é preciso criar um "deserto" dentro de si, aceitando que o outro venha ocupá-lo.

Acolher o amigo é, em primeiro lugar, ouvi-lo. Alguns morrem sem nunca ter encontrado alguém que lhes tenha prestado a homenagem de calar-se totalmente para ouvi-los. São poucos os que sabem ouvir, porque poucos estão vazios de si mesmos, e o seu "eu" faz muito barulho. Se você souber ouvir, muitos virão lhe fazer confidências.

Muitas pessoas se queixam da falta de amigos, mas poucos se preocupam em realizar em si as qualidades próprias para conquistar amizades e conservá-las.

Se você quiser ser agradável às pessoas, fale a elas daquilo que lhes interessa e não daquilo que interessa a você. A amizade é alimentada pelo diálogo; que é uma troca de ideias em busca da verdade; muito diferente da discussão, que é uma luta entre dois, na qual cada um defende a sua opinião.

A verdadeira amizade não pode ser alimentada pela discussão, somente pelo diálogo.

Em vez de demonstrar exaustivamente que o amigo está errado, ajude-o a descobrir a verdade por si mesmo; isso é muito mais nobre e pedagógico.

Se você quiser agir sobre seu amigo, de verdade, para que ele mude, comece por amá-lo sincera e desinteressadamente.
A amizade também exige que se corrija o amigo que erra; mas devemos censurar os amigos na intimidade; e elogiá-los em público. Nada é tão nocivo a uma amizade como a crítica ao amigo na frente de outras pessoas; isso humilha e destrói a confiança. Nunca desista de ajudar o amigo a vencer uma batalha; não há nem haverá alguém que tenha caído tão baixo que esteja fora do alcance do amor infinito de Deus e do nosso socorro.

Uma amizade só é verdadeira e duradoura se é baseada na fidelidade. Cuidado, pois para magoar alguém são necessários um inimigo e um amigo: o inimigo para caluniar e um "amigo" para transmitir a calúnia.

(Trecho extraído do livro "Para ser feliz")

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

3 de novembro de 2011

Tu és pó e ao pó deves voltar

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A morte cria situações irrevogáveis
Padre Eliano reflete sobre o Dia de Finados, momento em que a Igreja Católica Apostólica Romana reza por todos os seus fiéis defuntos.

A morte nos garante a oportunidade de refletir sobre o valor da vida, mas sabemos que há pessoas que não gostam de fazer essa reflexão.
Na vida cristã, precisamos entender que, para aqueles que creem, a vida não lhes é tirada, mas transformada. Isso é importante, porque cremos na vida eterna, que a morte não vai acontecer dentro do nosso contexto terreno; por isso temos a morte como o meio que transforma a nossa vida.

Essa reflexão faz com que a pessoa se distingua de outras no mundo. Somos finitos e, a partir do momento que nascemos, já começamos nossa caminhada ao encontro da morte. E nessa dimensão a vida recebe um carater de urgência de seriedade no seu sentido. Quando contemplamos a dimensão da morte na nossa vida, levamos mais a sério a nossa realidade atual, nossos relacionamentos.

No Antigo Testamento, a morte é tratada naquilo que ela é na vida do indivíduo, pois, o antigo Israel sabia que a morte era universal e, assim, cria situações irrevogáveis. (Conf. II Sm 14,14).
No dia de finados, precisamos nos perguntar se realmente temos um coração que anseia pela eternidade, pela vinda do Senhor. Qual o meu desejo? Qual a minha esperança?

 

Padre Eliano - Fraternidade Jesus Salvador
http://blog.cancaonova.com/padreeliano/