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18 de junho de 2009

Um Deus mocinho ou bandido?

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Quando o sofrimento é do outro, tudo se explica

No meu ministério de atendimento aos sofredores de modo geral, uma coisa tem me intrigado: por que a maioria das pessoas atribui a Deus a "culpa" pela sua situação difícil? Isso seria consequência de uma formação religiosa superficial ao ensinar que, em vários sentidos, Deus é origem de todos os movimentos sobre a face da terra? Seria uma indevida aplicação da terceira lei de Newton com relação à espiritualidade, fazendo-nos pensar que, aí também, todo efeito tem uma causa? Seria essa mentalidade provocada pelo senso comum da narrativa literária ocidental ao afirmar que em toda história tem de haver necessariamente um mocinho e um bandido?

É incrível, mas pessoas piedosas e com grande abertura para o bem e para a paz, quando são assoladas pelo sofrimento, migram para o infrutífero lugar de vítima. Parece que enquanto o sofrimento está no outro, tudo se explica e se consola a poder de reza, tudo se encaixa na ordem do mundo espiritual e fica fácil falar em coisas perigosas como "os desígnios de Deus"; e é automático recorrer à imensa gama de clichês bíblicos que tentam impor a resignação. Mas quando o sofrimento chega pela porta dos fundos, ou seja, quando seu destinatário são essas mesmas pessoas piedosas, então nada daquilo que foi dito para o outro serve para si mesmas, todas as certezas parecem ruir e todo sólido discurso religioso parece dissolver-se no ar.

Muitos cristãos não conseguem assimilar o sofrimento como algo que faz parte da vida, mesmo sendo esse segredo o que há de melhor no Cristianismo. Tão familiarizados com a dor que mana do crucifixo e tão acostumados a reler Jesus alertando que a dor faz parte do nosso caminho – "no mundo, tereis aflições", "renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz", "bem aventurados os que choram", entre outros –, nós às vezes sofremos como pagãos, como os que "não têm esperança" (cf. 1Ts 4,13).

Podemos nos colocar frente ao sofrimento pelo menos de duas formas bem distintas. Podemos considerá-lo uma espécie de "boletim de ocorrência" que precisa ser investigado até que se encontre o culpado (e quase sempre já iniciamos a investigação tendo Deus como único suspeito). Ou podemos encará-lo como um mistério; e ninguém ousa interrogar mistérios, porque soa desrespeitoso e inútil. Mistérios nós apenas contemplamos e nos deixamos tomar por eles. Se possível, buscamos encontrar neles alguma beleza ou algum aprendizado, para que não passem por nós em vão. Não há nada mais a fazer. O resto é silêncio, paciência e espera em Deus.

A Escolástica nos ensinou que Deus é sumamente imutável, impassível e feliz: nada pode abalar Seu estado de espírito, nada pode impeli-Lo de coisa alguma. Ensinou-nos também que o Altíssimo é Onipotente e pode absolutamente tudo. E que, se Ele pode tudo e não o faz, é certamente porque não o quer. Logo, o sofrimento de uma pessoa seria claramente vontade divina. Esse é o conhecimento teológico necessário para se formular a imagem de um Criador frio e indiferente. Portanto, é urgente acrescentar a tudo isso o maior atributo do Todo-poderoso: a compaixão. A natureza divina não sofre em si mesma, porque é perfeita e completa. Mas o Senhor sofre, sim, em relação aos outros. Ele sofre por amor a nós. Essa é a face de Deus Pai revelada por Jesus: um Deus que sofre com os que sofrem e chora com os que choram.

Amar não significa impedir, a todo custo, o sofrimento do amado, mas sim, manifestar-lhe companhia e apoio quando surgir o infortúnio inevitável. Se uma mãe estivesse determinada a impedir qualquer sofrimento de se aproximar de seu filho, ela não o deixaria sair do útero, nem cortaria o cordão umbilical, tampouco o deixaria brincar, ir à escola, entre outros. Isso, claro, não seria amor, e sim, absurdo egoísmo, "fagocitose" afetiva. Porque é impossível crescer e ser feliz sem experimentar o sofrimento, consequência natural do confronto de liberdades humanas.

Entender isso no geral é até fácil. Difícil é aplicá-lo concretamente na dor particular, no drama de um momento pontual. Também há desníveis na forma de encarar os diversos tipos de sofrimento: físico, psicológico, moral, acidental, provocado, e assim por diante.

Padre Juliano R. Almeida - Cachoeiro do Itapemerim
julianorial@gmail.com

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