30 de abril de 2009

A Inveja

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Ela se entranha até mesmo nas obras e nos filhos de Deus

Diz o livro da Sabedoria que é por causa da inveja que o demônio levou a pecar os nossos primeiros pais no início da história da humanidade. "É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão" (Sb 2,23-24).

Santo Agostinho dizia que "a inveja é o pecado diabólico por excelência". E se referia a ela como "o caruncho da alma, que tudo rói e reduz ao pó".

A inveja é companheira daquele que não suporta o sucesso dos outros e que não se conforma em ver alguém melhor do que ele mesmo. Fica torcendo pelo mal do outro; e quando este fracassa, diz no seu interior: "Bem feito!"

O primeiro pecado dos filhos de Adão e Eva foi cometido por inveja: Caim matou o irmão Abel (cf. Gen 4). Pior do que um homicídio (assassinato de um homem), o crime de Caim, movido pela inveja, foi um fratricídio (assassinato de um irmão). Também por causa da inveja os filhos do patriarca Jacó venderam o seu filho caçula, José, para os mercadores do Egito. Também por causa da inveja, vimos o rei Saul odiar a Davi e caçá-lo como se fosse um animal a ser morto (cf. 1Sm 18,8;19,1).

O caso mais triste que as Escrituras nos relatam, por causa da inveja, é o da morte de Jesus. O evangelista São Mateus deixa claro: "Pilatos dirigiu-se ao povo reunido: Qual quereis que eu vos solte: Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo? Ele sabia que tinham entregue Jesus por inveja" (Mt 27, 18).

Diante disso temos que nos acautelar diante dela; uma vez que movidos por ela somos levados a praticar muitas injustiças.

Quantas fofocas, maledicências, intrigas, brigas, rivalidades, calúnias, ódios, etc., acontecem por causa de uma inveja. O pior de tudo para nós cristãos é constatar que ela se entranha até mesmo nas obras e nos filhos de Deus. Podemos dizer seguramente que muitas rivalidades e disputas que surgem também no coração da Igreja, tristemente, são causadas pela inveja, ciúme e despeito.

Em vez de se alegrar com o sucesso do irmão no seu trabalho para o Reino de Deus, muitas vezes se fica remoendo a inveja, porque não se consegue o mesmo sucesso. O que importa afinal é o meu sucesso, o sucesso do outro ou o crescimento do Reino de Deus e a salvação das almas? A inveja é uma perversão.

Santo Agostinho nos ajuda a entender a gravidade desse mal: "Terrível mal da alma, vírus da mente e fulminante corrosivo do coração é invejar os dons de Deus que o irmão possui, sentir-se desafortunado por causa da fortuna dos outros, atormentar-se com o êxito dos demais, cometer um crime no segredo do coração entregando o espírito e os sentidos à tortura da ansiedade; destroçar-se com a própria fúria!"

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

28 de abril de 2009

E quando bate o desânimo espiritual?

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Sabemos que não somos perfeitos, mas não podemos nos acomodar

Encontramo-nos novamente para conversar um pouco mais sobre a vida espiritual. No texto anterior vimos que, para que haja uma vida espiritual, é preciso que aconteça uma luta. Vimos a importância dessa luta e que sem ela não há espiritualidade. Elas – a vida e a luta espiritual – estão ligadas.

Seguindo esse raciocínio, vamos pensar sobre os momentos nos quais desanimamos na nossa vida espiritual, na maioria das vezes, justamente por causa dessas lutas interiores que precisamos travar e porque, às vezes, somos derrotados nesses duelos.

São Paulo nos diz na Carta aos Filipenses no capítulo 3 versículo 16: "Contudo, seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente".

Vemos que o próprio apóstolo por vezes também era derrotado nas suas lutas espirituais quando lemos na Carta aos Romanos: "Não faço o bem que quero e faço o mal que não quero" (Rm 7,19). Mas é ele também que nos encoraja para seguirmos adiante: "importa prosseguir decididamente"!

Lá em Minas Gerais conheço um sacerdote que faz um trabalho maravilhoso com os jovens. E com frequência ele diz aos que ele orienta: o importante é que na nossa caminhada o saldo seja positivo. O sacerdote ensina que pode acontecer, por exemplo, de na nossa caminhada darmos cinco passos para frente e dois para trás. Então o saldo é de três passos adiante, ou seja, saldo positivo de três.

Também aprendemos com o apóstolo dos gentios que não somos perfeitos: erramos, pecamos e, por vezes, fazemos o mal que não queremos fazer, ou como nos ensina o sacerdote de que lhes falei: damos alguns passos para trás. Mas isso não pode fazer com que desanimemos ou com que desistamos da vida espiritual. Pelo contrário, tem de nos tornar mais fortes e determinados.

Precisamos agir como São Paulo, que mesmo não conseguindo fazer sempre o bem, ainda assim, nos encoraja a prosseguir e a não fazê-lo de qualquer jeito, mas de modo decidido. Sendo assim, mesmo que erremos, que pequemos, que andemos alguns passos para trás, como ensina o grande apóstolo, não podemos desistir de perseguir o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo.


Foto Denis Duarte
contato@denisduarte.com

23 de abril de 2009

Acredite na sua grandeza

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Só o homem é capaz de pensar, de chorar, de decidir livremente, de rezar e adorar...

Para ser feliz é imprescindível que você acredite no valor que você tem. Nada é mais belo e mais perfeito do que o ser humano. As invenções mais fantásticas são como brinquedos infantis se comparados à grandeza do ser humano. Nada chega perto da grandeza de uma alma imortal e de uma inteligência capaz de projetar e construir tantas maravilhas da técnica moderna. Nada se compara à nossa liberdade, vontade, memória, capacidade de amar, de cantar, de projetar, construir...

Só o homem é capaz de pensar, de chorar, de decidir livremente, de rezar e adorar. Só ele tem consciência de si mesmo e do bem e do mal que faz. Todo o universo "não sabe que existe"; não tem alma, não tem inteligência, não tem vontade, e não tem consciência.

Você as tem, por isso é mais importante do que todo o Cosmos. Você é mais importante do que os bilhões de estrelas... Você é mais belo do que o Sol, mais brilhante do que a Lua, mais fantástico do que tudo o que os seus olhos veem...

Um grito de júbilo explodiu no universo quando a vida se tornou consciente, inteligente, dotada de vontade e liberdade.

Podemos dizer como o poeta que o Cosmos "chorou" de alegria quando viu você surgir das mãos de Deus.

Você veio ao mundo depois de bilhões de anos de preparação, para ser rei deste universo. Então você não pode se arrastar como um escravo; você não pode viver como uma águia criada em galinheiro e que nunca aprendeu a voar; a sua dignidade não permite isso. Cada um de nós sintetiza no seu ser todo o universo criado; temos no corpo a matéria do universo e temos na alma o espírito dos anjos.

Você é a meta de toda a criação. Você é a voz e a alma do universo. É através de nós que a matéria bruta, a planta silenciosa e o animal selvagem dão glória ao Criador.

Eles olham para você... Não os decepcione!

Há bilhões de anos Deus preparou a nossa chegada. Desde o primeiro átomo de hidrogênio, que foi criado há bilhões de anos, Ele já pensava em cada um de nós. E, quando você foi gerado por seu pai, de todos aqueles trezentos milhões de espermatozóides, só um fecundou aquele óvulo bendito de sua mãe: daí nasceu você. Isso não foi mera coincidência ou sorte; foi a vontade do Criador; Ele nos ama e nos chamou à vida.

E ninguém jamais será igual a você, porque o Criador trabalha com exclusividade. Não aceita repetir as Suas obras.

Entre os mais de seis bilhões de pessoas do Planeta, não há dois que tenham o mesmo código genético (DNA) ou as mesmas impressões digitais. Não é fantástico?

As mulheres querem roupas exclusivas, sem que outras as tenham iguais, o Criador deu isso de graça a todos, não nas roupas, mas no ser. A roupa exclusiva acaba, mas você não!

Você é um indivíduo, isso quer dizer: único, irrepetível, singular. Sua vida é única, não houve e não haverá outro igual a você na história deste mundo! Já pensou nisso? Você é o artista principal da vida.

Professor Felipe Aquino

20 de abril de 2009

Como vencer a violência?

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Quando Deus é retirado de cena, o homem ocupa o lugar d'Ele

Neste ano, a Campanha da Fraternidade enfoca o problema da violência, suas causas e os meios para superá-la. O documento da Conferência Nacional dos Bispos da Brasil (CNBB) traz subsídios para essa reflexão: promover a cultura da paz, ampliar ações educativas, melhorar o sistema penal e judiciário, denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, economia e gestões públicas, cuidar de quem sai das prisões, entre outros.

A Igreja ensina as razões profundas da violência; acima de tudo está num coração sem Deus, sem amor ao irmão, que não é visto como "imagem e semelhança de Deus". E quando Deus é retirado de cena, o homem ocupa o lugar d'Ele e a dignidade humana já não é mais respeitada. O "não" dito a Deus acaba se transformando em um "não" dito ao homem, por isso vemos hoje a pior de todas as violências, o aborto e a eutanásia, o sacrifício da vida humana; além dos assaltos, sequestros, roubos, corrupções de toda ordem, pedofilia, estupros, incestos, violência nos lares contra as crianças, etc.

Não basta encher as nossas ruas de policiais armados e bem equipados para acabar com a violência – embora isso seja necessário para lhe dar combate imediato –, é preciso mais. É preciso a "educação para a paz". Essa educação exige que se ensine às crianças e aos jovens, nos lares e nas escolas, a dignidade de todo e qualquer ser humano. A moral cristã tem como base essa dignidade. Tudo aquilo que a Igreja condena como imoral é porque fere a dignidade da pessoa. A base da violência está na falta da vivência moral e na relativização do que seja o bem; o mal tem gerado muitas formas de violência.

Um fator de importância máxima na questão da violência é a família, pois ela é a "escola de todas as virtudes", e é nela que a criança deve aprender com os pais e os irmãos a respeitar e a ser respeitada. Mas como vai a família? Infelizmente mal; a imoralidade tem destruído a família e seus valores cristãos. Muitas estão destruídas e muitos filhos sem a presença imprescindível dos pais para educá-las. Milhares de adolescentes e jovens ficam grávidas sem ao menos terem um lar para receber seus filhos. Como disse o saudoso Papa João Paulo II, no Brasil há milhares de crianças "órfãs de pais vivos". Que futuro terão essas crianças? Muitas delas acabarão na rua e no mundo do crime e da violência. Sabemos que quase a totalidade dos nossos presos são jovens.

E por que tantos jovens acabam no mundo do crime? Porque lhes faltam um pai e uma mãe que lhes ensinem o caminho da honradez, da virtude, da escola e do trabalho. O trabalho é a sentinela da virtude.

Hoje quase não faltam escolas para as crianças, nem mesmo catequese nas paróquias, mas faltam os pais que as conduzam à escola e à igreja. Portanto, sem a reestruturação da família, segundo o coração de Deus, na qual não existam o divórcio, a traição, o incesto, as brigas, o vício, o estupro, a pedofilia, etc., não se poderá acabar com a violência na sociedade.

Sem Jesus, sem o Evangelho, sem a vivência moral ensinada pela Igreja de Cristo, não haverá paz verdadeira e duradoura. Sem isso será inócuo lutar pela paz. Diz o salmista que "se não é Deus quem guarda a cidade, em vão vigiam os seus sentinelas" (Sl 126, 1).

Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

15 de abril de 2009

O amor humano, sinal do Amor de Deus!

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O ser humano é chamado à existência e, pelo amor, à coexistência

O amor humano é algo fascinante. É símbolo do amor de Deus, amor este que, por sua vez, é modelo para todo amor humano. Dentre os amores humanos, o mais encantador é o do casal. Tanto é que o Senhor usa desse nobre sentimento para falar do Seu amor para conosco. Chega a dizer, por intermédio dos profetas, que o amor d'Ele por nós chega ao ciúme.

O amor de um casal nasce do que chamamos de harmonia pré-estabelecida, daí chegarmos a falar até em almas gêmeas. Somos tomados por um afeto inesperado com relação ao(à) outro(a). Somos como que roubados pelo(a) outro(a) e tudo só passa a ter sentido se ele(a) estiver junto. No começo é um desconhecido que se torna hóspede e de hóspede passa a ser dono da casa. É o amor mais forte do que a morte! Esse amor dá sentido à nossa história. O ser humano é chamado à existência e, pelo amor, à coexistência, na doação de si. É isso que dá sentido à vida. Bom, para algo tão importante é preciso se preparar. O matrimônio cristão envolve um para sempre. A união é pública, estável e indissolúvel. A graça de Deus vem em socorro do casal, pelo sacramento do matrimônio, para que sejam fiéis às promessas feitas e aos compromissos assumidos.

O que chamamos de "Encontro de Noivos", na Igreja, visa suprir qualquer deficiência nessa preparação para a vida conjugal e familiar. A preparação em si deve vir desde o berço; o momento com os noivos deveria ser só o coroamento de um caminho já feito. Nesse encontro procuramos interpretar o amor do casal como sinal do amor de Deus, a importância da família para a transformação da sociedade e para a edificação da comunidade eclesial, o responsável planejamento familiar, os desafios que serão enfrentados, enfim, uma série de temas que chega até à celebração religiosa. Uma experiência que vale a pena.

Num mundo marcadamente individualista e egoísta, o casal é o caminho do humano e o caminho do humano é a comunhão. Todas as promessas e compromissos daquele dia único e marcado pelo Eterno convidam à comunhão de vida. O compromisso é selado por um Deus que conhece as fraquezas do humano e o socorre com Sua graça. O amor é para sempre ou não é amor. Não é possível alguém dizer "eu te amo até daqui a pouco".

Amor não tem prazo de validade, se apresentar algum prazo, repito: não é amor, vai ser apenas um compromisso momentâneo para realizar a satisfação de um ou outro. O saudoso Papa João Paulo II dizia: "O futuro da humanidade passa pela família e por sua adequada preparação". Na prática, nós sabemos disso e experimentamos na pele seus efeitos.

Deus abençoe aos noivos que tiverem este artigo em suas mãos. Que este momento marcado pelo céu coroe o amor de vocês com o Amor-Doação-Comunhão do Deus, que nos criou à Sua imagem, segundo a Sua semelhança!

Pe. Rinaldo Roberto de Rezende
Cura da Catedral de São Dimas - S.J. Campos- SP

11 de abril de 2009

Deus não desiste de você

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O inimigo não quer que você retome sua caminhada

Apesar do seu pecado, Deus não desiste de você, nunca desistiu. Nas famílias, aquele filho, o mais arteiro, aquele que está bebendo, cheirando [cocaína]... o pior dos filhos é para quem a mãe dá mais amor, não é verdade? Pai e mãe não nos conhecem? Para eles precisamos falar que estamos tristes? Eles conhecem nossa voz ao telefone. Deus é igual a esse pai e a essa mãe e conhece todos os nossos erros; até os que nós fizemos na semana passada, eles já sabem, pois nos conhecem. Deus o ama e quando vê você o ama do jeito que é.

Quantas decepções em sua vida? Muitas vezes, em nossas vidas, as pessoas que mais amamos nos ofenderam e disseram: "Você não vale nada! Não presta! É um mau filho". Deus o acolhe do jeito que você está: você que perdeu o amor próprio e que se acha indigno do amor do Pai. Talvez você se veja hoje como a pessoa que menos mereça o amor do Senhor. Ninguém merece mesmo, isso prova de que maior é o amor.

Durante muito tempo eu ia comungar e ficava naquela crise, pensando: "Senhor, eu sou pecador. Eu confessei ontem e já pequei de novo". Mas, mesmo assim, eu ia para a procissão da comunhão, rezando: "Não comungo porque mereço, isso eu sei, ó meu Senhor, comungo, pois preciso de Ti. Quando faltei à Missa, eu fugia de mim e de Ti. Mas agora eu voltei, por favor, aceita-me".

O demônio faz você sentir que não merece Deus e o afasta da Eucaristia. Na verdade, você está fugindo de sua consciência, fugindo do Senhor. Quando a pessoa está com anemia o que ela mais precisa fazer é comer, e é o que ela menos quer fazer. O pecado faz isso: você peca e não vai mais à Missa, é como dizer: "Eu não vou ao hospital, porque estou doente".

Deus nos dá sempre uma nova chance. Faz anos que acompanho monsenhor Jonas, e vendo meus erros, meus limites, muitas vezes, eu quis ir embora. E por causa do amor de Deus, por causa de um abraço de um irmão, eu não fui. O demônio vai querer isolá-lo, fazer com que você falte à Celebração Eucarística e não procure a Deus Mas é em comunidade que você vai crescer e amadurecer.

O Senhor quer uma atitude sua. Não o estou acusando, mas não posso negar que Deus está me usando para que você saia do marasmo que está sua vida. Jovens tão bonitos, mas sem vida, porque não perdoam, porque estão secos por dentro.

Deus está levando você a ter um encontro com a cruz. E, diante dela [cruz], coloque todas as pessoas as quais você precisa perdoar e também as que você matou em seu coração. Entregue sua vida para Jesus hoje!

(Artigo produzido a partir de pregação em 28/02/2008)

Diácono Nelsinho Corrêa

8 de abril de 2009

Como saber se tenho uma vida espiritual

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Vida espiritual se traduz em luta

"Não faço o bem que quero e faço o mal que não quero" (Rm 7,19).

São Paulo nos mostra, por meio desse versículo, muito claramente como funciona esse processo que todos nós necessitamos: uma vida espiritual. Veja bem: o apóstolo dos gentios afirma que em determinados momentos ele não consegue fazer o bem que quer fazer e que acaba fazendo o mal que não quer [fazer]. Há uma luta declarada aí. Uma luta interior entre fazer o bem ou fazer o mal. Nisso consiste, segundo Santo Inácio de Loyola, a nossa vida espiritual. Para o grande santo da Igreja se existe luta, há um conflito interior, por isso existe aí uma vida espiritual. Ou seja, a vida espiritual se traduz na luta.

Você pode se perguntar: "E eu? Como vou saber se tenho uma vida espiritual?" A partir das dicas de São Paulo e Santo Inácio você pode começar por identificar se, por vezes, acontece dentro de você essa luta, esses conflitos interiores. Se você, como o grande apóstolo, com certa freqüência, fica nessa briga entre fazer o bem ou o mal, então, você tem, sim, uma vida espiritual.

E caso você perceba que dentro de você não há essa luta, então é hora de começar a se questionar se possui realmente uma vida espiritual. Pois essa ausência de luta pode significar que, espiritualmente, sua vida está morna, parada, estagnada. A espiritualidade é peça fundamental para que nos realizemos como pessoas, como seres humanos.

Uma vantagem em saber que vida espiritual se traduz em luta é que dessa maneira você não irá mais cair no desânimo por causa das suas lutas interiores e dos conflitos que, às vezes, o atordoam.

Use isso a seu favor. Nessa hora é preciso perceber que – se existe essa luta – é porque você tem uma vida espiritual que o faz, sobretudo, experimentar e viver com o auxílio da graça de Deus. E essa graça é muito maior do que qualquer falha, defeito ou imperfeição que você possua. A graça de Deus é maior que tudo isso.

Que Deus nos abençoe!

Foto Denis Duarte
contato@denisduarte.com

3 de abril de 2009

Ser ouvido, mas não compreendido

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Quando não se chega a um termo satisfatório

Relacionamento, ao mesmo tempo em que é sentido de vida, preenchimento interior, é ponto de conflitos entre os seres humanos. Somos predispostos a viver próximos, mas quem nunca se desapontou na vida? É natural esse tipo de sentimento quando temos boa imagem de uma pessoa, seja à primeira vista ou pela impressão causada no convívio, mas que, de repente, se desfaz quando somos surpreendidos por uma atitude contrária à que causava nossa admiração.

Faz parte de um relacionamento maduro, fundamentado na verdade, quando houver essa ruptura no sentimento, o recorrer ao diálogo. Quanto maior a proximidade das pessoas, mais deveriam ser óbvias a transparência e a liberdade em dizerem o que não foi bom. Assim avançamos em diversos tipos de convívio: no trabalho, na amizade, no namoro, no casamento.

O problema é quando, mesmo com diálogo, ainda não se chega a um termo satisfatório para ambos os lados.

Você já teve a sensação de ser ouvido, mas não ser entendido? Por mais que fale, argumente e esteja certo, nada parece penetrar o entendimento, a razão e o perdão do outro.

Quando as partes dialogam, mas num primeiro instante não existe consenso, é imprescindível saber que ao se procurar entender com alguém é mais importante ouvir do que falar. Exercite a arte da escuta. Mesmo que seja você quem tenha de dar explicações, deixe que a outra parte primeiro esgote sua indignação.

Tanto para passar a sua ideia quanto para absorver o conteúdo do outro é importantíssimo notar o que as palavras não dizem. No desabafo de uma pessoa existe muito mais que argumentos, aí também estão seus sentimentos, os quais nem sempre são completamente expressos por palavras. É preciso buscar fora daquilo que simplesmente ela aparenta ser, quais os seus anseios, planos, cultura e até sua concepção e história de vida. Experiências do passado condicionam-nos a agir e a pensar segundo o que aprendemos, cada qual com seu conceito.

É preciso detectar os sentimentos presentes em você e no outro e nomeá-los, para saber o que está acontecendo no interior de quem está envolvido. Por vezes, será necessário simplesmente chegar a esta conclusão: "Suas emoções são diferentes das minhas diante do fato acontecido". E a partir daí buscar um meio-termo. Por fim, é normal que seres humanos não estejam de acordo em tudo.

A perfeição do amor não está em juntar o que é igual, mas em transcender a expectativa mesmo sabendo que se é diferente. O que é verdadeiro supera as barreiras da incompreensão, traz a certeza de ser assumido, mesmo sabendo que na alma da outra pessoa existe a consciência de que aquele com quem se caminha junto não é perfeito. Somos mais amados quando somos acolhidos, apesar de nossas deficiências, não pelas nossas belezas. Amar quem não está pronto é amar verdadeiramente, pois não busca compensações em dar de si.

Abra o coração para aqueles que você ama, vá disposto, no diálogo, a ouvir e a se desfazer dos próprios conceitos em favor da reconciliação.

E então? Está pronto a abrir os ouvidos?

Deus o abençoe.

Sandro Ap. Arquejada
sandroarq@geracaophn.com