Todos nós em geral gostamos de fazer compras. Sentimo-nos merecedores dos presentes que nos damos. Mas, quando estamos angustiados, insatisfeitos ou nervosos, muitas vezes saímos para fazer compras como uma espécie de desforra.
E nesse caso perdemos o senso crítico e agimos por compulsão. Passado o instante da compra e o sabor da novidade, voltamos à estaca zero da insatisfação. É que a compulsão de comprar serviu apenas de paliativo e nos desviou momentaneamente a atenção dos nossos verdadeiros problemas, da verdadeira causa de nossa insatisfação.
Mas existem pessoas que vivem permanentemente em estado de compulsão consumista. Elas compram por comprar e estão sempre indo atrás de novidades. Adoram passear em lojas e shopping centers. Sentem-se felizes fazendo compras. Mas invariavelmente se cansam das aquisições e partem para outras, como se sofressem de uma espécie de vício.
Nesse caso, o problema é mais sério, e mostra que a pessoa carrega uma insatisfação crônica. Ela pode estar transferindo para os objetos uma grande carência que sente em relação às outras pessoas. Pode estar tentando dar a si mesma o afeto que não se sente capaz de receber nem de dar.
E a compulsão de comprar lhe serve apenas de paliativo momentâneo. É como o caso da pessoa que está com dor de dente, mas, em vez de ir ao dentista, toma analgésico. Quando o efeito passa, ela precisa de outras doses, numa história sem fim.
A pessoa consumista entra no mesmo círculo vicioso e continua sempre insatisfeita. Isso acontece porque ela está fugindo de um problema interior. E, como não resolve a causa, continua sempre com o mesmo problema. Várias razões levam as pessoas a sentirem uma espécie de insatisfação crônica. Pode ser uma história passada de privações e necessidades e aí a pessoa que melhorou de vida procura desforrar no consumismo, estabelecendo uma espécie de diálogo com os fantasmas de seu passado.
Mas existem pessoas que usam o consumismo para se sentir importantes e poderosas. Ostentam suas posses e gostam de ser paparicadas e servidas pêlos vendedores. E como se estivessem comprando o fingido afeto dos vendedores junto com as mercadorias.
Em todos os casos, as pessoas estão jogando dinheiro fora. Querem comprar uma coisa que não está à venda. Se têm posses, poderiam estar usando o dinheiro para coisas mais úteis, inclusive para ajudar os outros e construir um mundo melhor para todos.
E, se a pessoa não tem dinheiro, acaba se endividando para sustentar o consumismo. Acaba fazendo crediário e gastando até o dinheiro que ainda vai ganhar. E pode até precisar da ajuda financeira da família para sair dos buracos onde se mete. Mais grave ainda é quando o consumismo leva as pessoas ao roubo. Elas expõem a própria reputação e, às vezes, não conseguem controlar o impulso de conseguir as coisas "na marra". É o caso dos cleptomaníacos, que sofrem de um tipo sério de neurose.
O consumista é como a pessoa que come desmedidamente, prejudicando a saúde e ficando cada vez mais insatisfeita. E comendo cada vez mais. Tanto o consumista como a pessoa gulosa estão procurando compensar fora aquilo que precisam buscar dentro delas mesmas.
E a mesma coisa acontece com os que se entregam à bebida, ao jogo, ao hábito de fumar. Eles fazem rituais para fugir da infelicidade e do desequilíbrio. E podem até mergulhar no vício das drogas ou no sexo permissivo, com resultados tão inúteis quanto catastróficos.
O consumismo é um desequilíbrio. E para fazer frente a ele, precisamos nos organizar por dentro, pôr para fora as coisas negativas e substituí-las por coisas boas. Ninguém é plenamente feliz. Nós estamos neste mundo imperfeito para conquistar a felicidade, para lutar por ela.
Para os fortes, a própria luta traz suas compensações. Mas os frágeis se acovardam. E se enganam nos caminhos ilusórios do consumismo. Aí o desequilíbrio tende a piorar: evolui progressivamente das pequenas para as grandes coisas, dos pequenos problemas para os grandes problemas. Há até casos de suicídios que começam com esses sintomas banais e inocentes. Mas terminam com a pessoa perdendo o gosto pela própria vida.
Diante de comportamentos mecanizados como o consumismo, a melhor atitude a tomar é parar para pensar. Analisar o que está acontecendo e perguntar o que estamos buscando, qual a insatisfação que está servindo de base para isso. No começo, pode até parecer penoso, mas é o caminho da sabedoria e da vitória sobre as limitações da vida - mesmo que essa vitória seja o reconhecimento e a aceitação dessas limitações.
As pessoas normais costumam ter todas as emoções - angústia, raiva, alegria, tristeza - em escala maior ou menor, dependendo da idade, das circunstâncias, da educação, da carga espiritual. Esse fenômeno acontece também com o medo. Ele varia desde um medo pequeno ao medo desmedido, incontrolável, recebendo, quando atinge esse estágio de descontrole, o nome de fobia ou síndrome do pânico.
A sensação de medo diante de algo novo e desconhecido é normal e faz parte da vida. Há quem tenha medo de baratas, de viajar de avião, de andar de elevador e de metro, de ficar no escuro ou trancado em algum lugar, de multidão - e a ladainha continuaria interminável se fossem enumerados os tipos de medo existentes e a forma pela qual se manifestam.
O medo é uma reação normal, possível de ser enfrentada com menor ou maior facilidade. Há dias em que estamos cheios de coragem e até desafiadores. Em outros, com o emocional abalado por um problema qualquer, somos a fragilidade personificada diante do mínimo contratempo. Geralmente, é nesses momentos que o medo toma vulto, as angústias, frustrações, incertezas se apossam de nós - e todo o negativo interior existente vem à tona.
Vale aqui uma comparação. Há pessoas que têm medo de contrair doenças incuráveis. Num momento de maior fraqueza física ou emocional, esse medo se avoluma de tal forma que elas passam a sentir os sintomas da doença simplesmente porque estão com dor de cabeça. Mas, quando o físico e o psíquico estão bem, nada atrapalha a vida. Tudo é superado com a maior facilidade. O mesmo ocorre com o medo.
Ao se falar em fobia, é preciso distinguir os medos domináveis dos incontroláveis. Mas são tantos os ingredientes que compõem essa distinção, que só através do diálogo com os atingidos por tais males é possível conhecer sua história e a razão pela qual chegaram ao extremo de não se controlarem quando os maus sentimentos os assaltam. Assim é mais fácil traçar uma diretriz ou alternativa para desbloquear e desneurotizar suas atitudes, para ajudá-los a levar uma vida normal.
A fobia nada mais é que um medo exacerbado. Quando ele é concreto e sua causa conhecida, é possível vencê-lo através da conscientização. Mas se é um medo abstrato, descomunal, incontrolável, acarretando crises seguidas, é hora de se tomar providências. Quem se encaixa nessa definição deve procurar um especialista para se conhecer melhor, saber suas verdades e descobrir as causas desse pavor irracional, para não comprometer sua vida por causa dessas emoções. Chegar aos limites do medo é perigoso. Aliás, tudo é perigoso quando não sabemos as causas do que acontece conosco e não tentamos, de alguma forma, resolver o problema.
Seres humanos que somos, jamais conseguiremos superar todas as nossas limitações. E importante, no entanto, não se acomodar, mas procurar saber as razões que levam a adotar determinados comportamentos prejudiciais, para não se deixar dominar por eles. Só assim os mais medrosos perceberão que os medos manifestados das mais variadas formas não passam de justificativas para se eximirem de enfrentar sentimentos mais profundos ali misturados.
Há também os que se escondem atrás do medo, justificando com isso sua inércia e comodismo por faltar-lhes garra e coragem para enfrentar os desafios da vida. Alguns casos têm atenuantes: problemas físicos, psíquicos e emocionais. Mas grande número de pessoas não trabalha seu medo para não se desinstalar da posição conquistada. Sair do comodismo requer luta, e é bem mais fácil esconder-se atrás de uma justificativa do que desacomodar-se. Nesse caso, o perigo de um comportamento negativo fossilizar-se reside na falta de consciência, que permite a instalação co-modista de atitudes negativas diante da vida, tornando a pessoa escrava de suas próprias emoções.
Os que se interessam em melhorar usam a inteligência para informar-se através de leituras, conversas, programas de rádio e televisão, a fim de conhecer-se mais. Através desse expediente, conseguem vencer as limitações de forma bastante positiva. Para tomar qualquer iniciativa basta querer. Também no campo psíquico essa máxima tem valor.
Se o problema do medo que acomete uma pessoa for sério e profundo e se tornou uma neurose, é preciso a ajuda de um profissional competente para ela sair dessa situação. Mas a pessoa de boa vontade consegue vencer sozinha 70% dos seus problemas, quando pára, analisa e tenta encontrar soluções. Esconder-se atrás deles é uma forma de fechar as portas da superação.
MARIA HELENA BRITO IZZO é psicóloga e terapeuta familiar.
Fonte: Revista Família Cristã.